Fanfic: `Amor por Conveniência [DyC]
Ela estava
parecendo uma mulher da vida!
Horrorizada, Dulce
olhou-se no espelho da cômoda em seu minúsculo quarto. Estava maquiada demais e
seus longos cabelos escuros estavam amontoados em volta do rosto. Seus olhos
pareciam buracos negros, os cílios estavam pesados de rímel e sua boca parecia
uma tromba vermelha. Brincos longos e brilhantes pendiam de seus lóbulos e
voltas de correntes igualmente brilhantes envolviam seu pescoço caindo pelo
colo exposto.
Examinou o
vestido de lamê prateado com uma faixa que prendia seus quadris e um decote que
deixava seus seios quase totalmente expostos. Tremeu. Esta era a última coisa
que escolheria para vestir. Não foi escolha sua.
— Aqui — Dana
lhe disse — trouxe um de meus vestidos para você, Os seus seios são maiores,
mas deve servir. Você vai ficar sexy... é o que Guillermo vai querer.
Ele adora ter atrações à sua volta. Como todos os sujeitos ricos. E você, Dul,
é muito atraente. Aliás, demais — sorriu — mas sei que não preciso me preocupar
com você tendo idéias sobre Guillermo.
Dulce tinha
tanta certeza sobre isso quanto Dana. Definitivamente era a última coisa que
passaria em sua mente. Nem queria ficar perto do namorado de Dana — cujo
principal atrativo era a sua riqueza e a forma com que a esbanjava com Dana —
mas não pôde recusar-lhe o pedido de favor. Dana havia corrido em seu socorro
quando mais precisou e o que estava pedindo esta noite era pouco comparado ao
que fez por ela, mas mesmo assim Dulce estava relutante.
— Tudo o que
preciso que faça — Dana lhe disse — é que cuide de Guillermo e mantenha as
outras garotas longe dele! Isso as impedirá de me substituírem caso tenham uma
chance! — Gemendo e apertando o estômago, continuou — Deus, eu juro que nunca
mais comerei lagosta. Vomitei o dia todo!
Olhando a sua
imagem refletida no espelho, Dulce sentia o próprio estômago revirando.
Realmente não queria fazer aquilo. Se aproximar do estilo de vida amoral de Dana
também significava fechar o café cedo e perder as gorjetas com as quais
contava, para aumentar o seu magro salário. Porém, o trabalho mal pago vinha
com um quarto de graça em cima do café e aquilo valia muito para uma expatriada
como ela, que precisava recontar cada euro que ganhava.
Uma sombra
passou pelo seu rosto. Dinheiro. A incansável necessidade de dinheiro dominava
a sua existência e a fazia trabalhar cada hora em que não estava dormindo
ficando sem tempo para mais nada. Certamente sem tempo para se enfeitar e
desfilar à noite.
Claro que Dana
a achava uma tola.
— Deus, Dul,
com a sua aparência você devia estar vivendo como uma rainha! Devia pensar
melhor e se juntar a mim! Existem sujeitos por todos os lados como o Guillermo,
que se esvaem em dinheiro. Você poria a sua vida em ordem se pensasse melhor e
"pegasse mais leve"!
Dulce sabia
que "pegar leve" queria dizer dormir com os sujeitos ricos como Dana
fazia.
Aquilo nunca
seria para ela. Tremia só de pensar em dar seu corpo aos homens em troca de
favores. Dulce ficou envergonhada. Devia ser grata a Dana, que veio em seu
socorro quando estava completamente desesperada. Não tinha o direito de
julgá-la.
Nem de recusar
o favor que ela havia lhe pedido, pensou. Pegou a bolsa de noite prateada de Dana
e foi para a porta com o coração pesado. Mesmo hesitante.
Os lábios de Chris
Uckermann se contraíram ligeiramente enquanto ele observava o grupo em volta da
mesa de vinte-e-um.
— Guillermo Ochoa
— murmurou o homem ao seu lado mantendo a voz baixa. — Drogas, contrabando de
armas, extorsão, venda de proteção... devo continuar?
O seu patrão
meneou a cabeça em rápida negativa.
— Vamos
tirá-lo daqui. Dê-me um tempo para alimentá-lo, como sempre, depois se faça
visível... mas não demais.
O chefe da
segurança de Chris Uckermann assentiu com a cabeça. Era uma estratégia que já
haviam usado antes. Uma manobra geralmente eficaz.
— Ele não vai
gostar — avisou ao patrão. — Está ganhando.
Chris deu de
ombros.
— Que pena. —
Por um momento ele desejou poder lidar com o seu cliente indesejado como queria,
com seus punhos. Escória como Ochoa não era bem-vinda no El Paraíso ainda que,
generosamente quisessem esbanjar suas riquezas conseguidas ilicitamente. Porém,
aquilo não era adequado para a área luxuosa do cassino e resort. Era melhor se livrar de gângsters como Ochoa sem destruir a
decoração...
Chris abriu
caminho pelo salão apinhado parando para saudar empresários conhecidos e
valiosos, admirando suas convidadas e mantendo-as a uma distância adequada,
desse modo, mesmo sentindo-se de certa forma atraído por elas, ele não se
distrairia ainda que elas quisessem. Chris parou para retribuir o cumprimento
de um dos visitantes habituais do cassino, um rico profissional aposentado de
golfe, interessado em fazer negócios e seu olhar passou por sobre o ombro do
homem. Ochoa e sua turma ainda dominavam uma das mesas de vinte-e-um. O gângster
ria alto, triunfante, vencendo outra mão, o seu prazer imitado pelos seus
acompanhantes. Os homens estavam rodeados pelas garotas de sempre.
Os lábios de Chris
se contraíram novamente. Aquele era um outro bom motivo para tirar Ochoa dali.
Garotas como aquelas também não eram desejadas por lá. O cassino podia passar
sem elas. Com certeza ele gostava que belas mulheres fossem vistas ali, era bom
para os negócios. Homens ricos sempre gostavam de olhos açucarados em volta
deles quando iam gastar seu dinheiro.
Mas Chris não
pretendia deixar que o cassino ganhasse a fama de ser freqüentado por mulheres
a um passo dos bordéis.
Mesmo sendo
deslumbrantes.
Como aquela...
Seus olhos
escuros brilharam momentaneamente sobre uma das mulheres próximas a Ochoa. A
garota era muito mais atraente do que as outras do grupo, com um perfil que
atraía a sua atenção. Na verdade, ele se viu pensando que apesar de sua
desaprovação ela era realmente uma das mulheres mais estonteantes que já havia
visto.
Desperdício.
A beleza
natural estava arruinada pelo excesso de maquiagem e o vestido de lamê
prateado, totalmente sem gosto, que prendia seus quadris. Um dos acompanhantes
de Ochoa colocou o braço em volta dela e a puxou para si desarrumando seu
vestido, cujo decote deixou grande parte de seu seio exposto. A garota pareceu
não perceber ou então não se importou. Se ela se importasse com pequenas
graciosidades, dificilmente se exibiria ao lado de lixo como aquele.
Hora de se
livrar dela. De se livrar de todos eles. Afastando-se educadamente do
aposentado jogador de golfe, Chris se aproximou dos convidados indesejados.
Dulce tentou
parar de tremer. Gyorg, o homem que a segurava apertado, mantinha a mão pousada
de modo possessivo em seu ombro e acariciava sua carne. Quando Guillermo Ochoa
venceu novamente a banca, Gyorg falou algo em voz alta em seu próprio idioma e
apalpou-a. Ó Deus, deixe-me sair daqui!
Seu apelo não
foi ouvido. Dulce soube, no momento em que se apresentou, no bar do hotel na
cidade, aos empresários do leste europeu vestidos de modo espalhafatoso, que
aquela noite ia ser tão ruim quanto havia imaginado que seria.
Mas não estava
em condições de dizer não a Dana.
Por isso é que
ainda estava ali sendo apalpada. Por isso ainda estava se contendo e sorria até
seu queixo doer, ria quando alguém ria, enquanto internamente contava os
minutos que faltavam para tudo terminar.
Silenciosamente
repetiu o conselho de Dana para si. Você só precisa sorrir e ser gentil.
E Dulce
continuaria assim. Sorrindo e sendo gentil.
Até aquela
noite infernal terminar.
Só não estava
conseguindo fazer o que Dana queria, pensou — manter as mulheres longe de Guillermo.
As outras duas garotas pareciam abelhas em sua volta. Ele pareceu gostar, tanto
que passou-a para Gyorg.
Enquanto
tentava não inalar o cheiro forte e enjoativo da colônia do homem, percebeu que
o croupier, um senhor magro e inexpressivo, acompanhava com o olhar
alguém que parecia vir em sua direção. Dulce virou ligeiramente a cabeça para
ver.
A respiração
parou em sua garganta. O homem a quem o croupier acompanhou com o olhar
aproximou-se de Guillermo e puxou conversa. Dulce não conseguia desviar seus
olhos.
Sem dúvida era
espanhol. A pele escura, morena, os olhos e cabelos ainda mais escuros e os
longos cílios apenas aumentavam a sua masculinidade exibindo a sua herança
hispânica. Era alto, talvez um metro e noventa e tinha aquela elegância quase felina,
que tantos de seus compatriotas possuíam. Todos eles tinham aquele toque de
ancestral mouro, o nariz aquilino, olhos cheios de personalidade, a boca
perfeita e sensual como se tivesse sido esculpida.
Dulce sentiu o
rosto corar. Desde que chegou a Espanha viu muitos homens bonitos, mas nenhum
tão incrivelmente atraente ao ponto de fazê-la não conseguir parar de olhá-lo
fixamente, de boca aberta...
Ele não era
apenas o homem mais belo que já tinha visto. Havia alguma coisa nele, algo
perigoso que a fez saber instintivamente, que não era um homem com quem devesse
arrumar confusão e a quem os outros homens sempre tratariam com atenção e
respeito.
Exatamente
como as mulheres sempre iriam querer que ele as levasse para a cama...
Ignorando o
terrível cheiro da colônia de Gyorg, inalou com força se reprovando. Que diabos
ela estava pensando? Normalmente não pensava em sexo, cinco segundos depois de
olhar para um homem! Com ele pensou...
Não! — Seus
lábios contraíram-se — Pare com isso. Agora. Ele é apenas um homem
incrivelmente belo, nada mais. E, dificilmente esta é uma ocasião para
pensar em homens! A única coisa que você tem que fazer é pensar em como
controlar-se, para passar o resto da noite sem fugir correndo!
Enquanto ela
lutava contra seus hormônios percebeu que a tensão entre os europeus
subitamente era palpável. Eles pareciam sombrios. E infelizes.
O espanhol
continuou a conversa. Ele falava em voz baixa, mas desta vez — se concentrando
no que falava e não em sua aparência — Dulce conseguiu entender as palavras.
Conversava em inglês, provavelmente o único idioma em comum entre eles e sua
voz forte acentuava seu sotaque.
— ...está fora
do meu alcance — ele disse lançando um rápido e significativo olhar para alguém
na multidão.
Dulce observou
Guillermo Ochoa acompanhar o olhar do espanhol e viu o seu rosto tenso.
— Está vendo?
— O espanhol murmurou. Dulce viu alguém abrindo caminho na direção deles. Um
homem de aspecto duro, de rosto determinado.
O espanhol
tirou uma caderneta do bolso do paletó. Falou breve com o croupier em espanhol,
que respondeu-lhe também sucintamente, depois, escreveu um número com uma
seqüência de zeros e rubricou. Passou o papel para Guillermo.
— Com os
comprimentos da casa — falou.
O apostador
pegou o papel e ao lê-lo a expressão de desprazer em seu rosto desapareceu.
Chris sabia.
Ia sair caro livrar-se do gângster, mas valia a pena — cada centavo. Dobrar o
que o homem estava ganhando era um pequeno preço a pagar para demovê-lo da
idéia de permanecer no cassino, o que Chris conseguiu alertando-o sobre o fato
da polícia espanhola ter detetives à paisana espalhados pela casa, pois
suspeitavam de dinheiro ilícito sendo lavado, com isso Chris esperava não vê-lo
de volta tão cedo.
Acreditando, Ochoa
sinalizou com os dedos para seus acompanhantes e levantou-se. Chris relaxou por
um instante. Quando o fez, seus olhos deslizaram novamente pela garota.
Gostaria de não tê-lo feito. De perto, ela era ainda mais estonteante do que
pensou. Seu rosto, de um oval perfeito era ainda mais bonito que seu perfil.
Nariz delicado, lábios perfeitos e um par de olhos verdes como esmeraldas.
Quanto ao seu
corpo...
Era alta para
uma mulher, mas não um tipo musculoso, de ossos largos. Era delicada — uma
linda curva da cintura aos quadris, acentuada por aquela justa atrocidade
prateada que vestia e seios fartos demais para o decote desalinhado como
estava. Mas, ele pensou divertidamente, aquilo permitia que ele visse quase
tudo de um pêssego, exceto o mamilo.
Sentindo o
corpo reagir, o que era previsível, ele afastou a luxúria. Não se interessava
por garotas como ela. Ela e as outras passariam como doces naquela noite, por Ochoa
e seus companheiros — bens de consumo, usando um termo gentil.
Duas manchas
rosadas apareceram de leve sob a maquiagem, nas bochechas de Dulce. O espanhol
a observava — e ela sabia exatamente o que ele estava vendo.
Está vendo
uma mulher da vida.
O que mais a
entristecia é que não podia culpá-lo por pensar aquilo. O que mais pensaria
sobre ela e as outras garotas, cujos nomes nem sabia, mas cujos tipos eram das
que sempre estão rodeando homens ricos pelo que podem tirar deles?
Afastou o
olhar. Não havia nada a fazer, não foi sua escolha estar ali — Dana lhe pediu
um favor e jamais poderia negar-lhe ajuda.
Eles estavam
saindo. Gyorg, com o braço em volta dela, seguia Guillermo. Uma das garotas
estava pendurada no braço de Guillermo perguntando de forma intrometida sobre o
que estava acontecendo. Ele a ignorou dizendo algo aos seus compatriotas. Foram
em direção ao caixa e Dulce esperou Guillermo receber o que pareceu ser uma
montanha de notas, que ele contou e depois guardou no paletó.
Tanto dinheiro
— Dulce mal conseguia evitar o olhar fixo...
Enquanto se
dirigiam para o enorme saguão do cassino, Dulce sentiu que o espanhol ainda os
olhava.
Pensou que ele
devia ser o detetive ou segurança do cassino e que estava se garantindo de suas
saídas. Talvez tivesse avisado Guillermo Ochoa que algum rival nos negócios o
havia localizado e o espreitava na intenção de vingar-se de algo. O que fosse,
definitivamente fez com que Guillermo não quisesse ficar ali.
O ar frio da
noite a atingiu quando saíram do cassino. Ela tremeu e sentiu Gyorg apertá-la
mais.
— Eu a
mantenho quente — ele sorriu, o ouro brilhando generosamente em seus dentes, o
hálito cheirando a uísque.
O inglês dele
não era bom e tinha forte sotaque, mas o seu olhar mostrava suas intenções. Dulce
esboçou um sorriso falso e não respondeu. Com os olhos se ajustando à luz viu o
belo e alto espanhol pela porta aberta. Por um segundo sentiu seus olhares se
encontrando.
E sentiu o
desprezo dele passar por ela.
Abaixou o
rosto não querendo vê-lo e quando olhou novamente, ele tinha sumido.
Uma imensa
limusine preta estacionou diante do grupo. Um dos companheiros de Guillermo
abriu a porta.
— Aonde vamos?
— Ela se ouviu perguntando rispidamente.
— Hotel —
Gyorg ofereceu esperançoso. — Suíte do Sr. Ochoa. Temos uma festa lá.
Ela se
afastou. Não conseguiu evitar.
O homem
pareceu pensar que era uma brincadeira. Puxou-a de volta mais para perto, com
sua mão gorda e forte. Encostou a boca em sua orelha.
— A suíte tem
banheira quente. Ficaremos todos limpos! — Deu uma risada rouca e esfregou a
mão gorda no braço de Dulce. — Vou esfregá-la toda — riu novamente, rouco —
Todo seu corpo adorável nu!
Dulce gelou do
alto da cabeça à ponta dos pés.
Chris ergueu a
mão agradecendo o rapaz do estacionamento que trouxe seu carro e sentou-se.
Estava contente por ir embora. A noite deixou um gosto amargo em sua boca.
Afastar os gângsters foi simples, mas não gostou de tê-los por lá. Enquanto
dava a partida olhou para o grande pórtico do cassino. Quanto tempo levou
criando aquele lugar? Às vezes — pensou exausto — sentia como se tivesse levado
uma vida, ainda que tenha se tornado dono de um dos principais resorts da costa em menos de doze anos.
Doze duros anos transformando o pobre formando que era em um empresário
bem-sucedido.
Não que tenha
sido difícil. A costa espanhola do Mediterrâneo é uma mina de ouro para quem
estiver alvejando, tanto os turistas com um orçamento para gastar, quanto
aqueles em que ele se focalizou — os visitantes sem problemas de orçamento, que
só querem queimar dinheiro ostensivamente com tudo, de iates a campos verdes.
Virou seu
carro conversível pela via de palmeiras, cruzando a paisagem arborizada do El
Paraíso e passou pela bifurcação levando ao luxuoso hotel aninhado sobre uma
praia particular com suas fileiras de piscinas e casas de veraneio que dão
vista para a marina — onde milionários ancoram seus iates antes de irem perder
seu dinheiro no cassino El Paraíso ou jogar golfe no clube exclusivo, anexo ao
hotel.
O resort cheirava a dinheiro — assim como
o resort gêmeo, em Maiorca, e o do
Algarve. Chris sentiu a mente deslizar para terreno conhecido — a expansão dos
negócios. Onde abrir o próximo El Paraíso? Talvez Menorca, ou uma das ilhas
Canárias? Em Costa de Luz, na costa espanhola do Atlântico, que se desenvolvia
rapidamente? Ou quem sabe na costa norte, onde a aristocracia eduardiana adora
apostar os lucros da cidade e os aluguéis dos imóveis?
Sorriu
levemente. Uns cem anos e a Espanha ainda era uma Meca para os europeus do
norte famintos de sol. A fome deles trouxe prosperidade, mas a um preço. A
antiga Espanha estava mudando, desaparecendo para sempre. A pobreza também,
assim como as tradições, a cultura, as diferenças que separaram a Espanha do
resto da Europa por séculos, quando os dias de glória se afastaram como o ouro
inca gasto.
Afastou o
pensamento. História sempre foi um assunto que o fascinou, mas o tempo em que
queria ser professor havia passado há muito. Perseguiu o dinheiro e foi mais
bem-sucedido nisso do que jamais sonhou. Agora o dinheiro o perseguia.
Assim como as
mulheres.
Um brilho
cínico apareceu em seus olhos escuros enquanto se dirigia para a estrada
costeira principal e aumentava a velocidade. As mulheres sempre vinham com
facilidade para ele — especialmente as do norte, que pareciam ficar loucas por
sexo quando chegavam à Espanha!
Fazer dinheiro
tinha sido diferente. A expressão cínica aumentou, enquanto apertava mais o acelerador.
Ainda lembrava-se de seu primeiro choque verdadeiro ao perceber, que quando um
homem tem dinheiro pode ter qualquer mulher que quiser. A costa estava cheia de
mulheres buscando por um homem rico; velho, feio, gordo — mulheres como aquelas
não se importavam.
Aprendeu isso
quando percebeu que elas achavam sua carteira mais sexy do que ele.
Mudou a marcha
e forçou o motor. Bem, pelo menos aprendeu depressa. Atualmente era cínico o
bastante para escolher as mulheres que tinham a melhor aparência — nunca ficava
muito tempo com elas. Sempre havia um lote fresco do qual escolher, quando
queria.
Seus lábios se
contraíram. Seria assim para sempre? Apenas um desfile de lindas mulheres em
sua vida? Um sorriso debochado passou pelos seus lábios — do que estava reclamando?
A maioria dos homens o invejava.
Além do mais,
sabia que um dia encontraria a mulher certa. Só não sabia quando. De muitas
maneiras, era uma existência vazia. Pensou em seus pais já falecidos e o quanto
tinham trabalhado. Funcionários públicos trabalhando duro e ganhando pouco,
fazendo o melhor para dar a ele um bom começo de vida. Eram céticos quanto à
decisão dele de não prosseguir com uma carreira acadêmica. Porém, um verão
trabalhando para uma empresa de desenvolvimento empresarial abriu seus olhos
para a imensa oportunidade que a nova Espanha se tornou para pessoas
ambiciosas. Ele seria um tolo se rejeitasse aquilo.
A expressão em
seu rosto tornou-se sóbria. Seus pais tinham vivido o bastante para ver o filho
começar a montar seu império de resorts,
mas seu pai se preocupava com o enorme risco financeiro e sua mãe lamentava por
ele não se interessar pelo casamento. Tinham morrido num acidente de carro, uns
cinco anos antes, deixando-o sozinho no mundo. Então, dedicou toda sua energia
e tempo para montar o El Paraíso.
A única pausa
no trabalho contínuo foi para encontrar um lugar nas montanhas longe do
desenvolvimento da costa, para morar e compartilhar sua vida com a mulher certa
quando a encontrasse — o mítico momento que ainda não havia acontecido, mas que
ele antevia vagamente.
O olhar cínico
voltou. Claro que além de trabalho tinha outra diversão — mulheres. Nunca
deixou que atrapalhassem o trabalho, mas claro que gostava de relaxar com elas.
Mudou
novamente a marcha. No momento estava em fase de troca. A última foi uma loira
nórdica divorciada, incrivelmente inventiva entre os lençóis, embora a
conversação com ela fosse bem ilimitada, exceto quando o assunto era sobre ela
casar-se novamente deixando claro que ele seria um ótimo segundo marido. Como
ele não concordou, ela não ficou muito feliz. Lisa Tronberg amava o seu
dinheiro, não ele.
Claro que
tentou esconder — não deixar óbvio demais — mas ficou claro para ele. Ela bem
poderia ser uma daquelas mulheres penduradas no braço daquele gângster, com um
preço estampado ma testa.
Uma ruga
apareceu entre seus olhos. Não devia estar pensando naquelas mulheres,
principalmente naquela que atraiu seu olhar.
Uma pena. Ela
tinha alguma coisa rara, algo que ele gostaria de explorar mais — talvez ela
nem sempre tivesse sido como agora. Não, ele não devia estar pensando nela, uma
mulher que provavelmente estava agora nua, rolando com aquele bando de gângsters,
em turnos...
Ao se
aproximar do cruzamento ele diminuiu a velocidade. Mesmo depois de meia-noite o
tráfego ainda era intenso na estrada, nas duas direções. El Paraíso fica apenas
a oito quilômetros da cidade, mas a distância é cortada pelas urbanizações e
hotéis, então para chegar ao campo fez o que sempre costuma fazer — virar para
o norte, na direção das montanhas atrás da costa.
Quando
atravessou o cruzamento, algo no acostamento chamou a sua atenção. Ou melhor,
alguém.
Automaticamente
enfiou o pé no freio, surpreso.
Dulce franziu
o rosto em expressão de dor. Tinha tirado seus ridículos saltos altos quase
dois quilômetros atrás e andado de meias — agora esburacadas — o que doía — e
ainda tinha um bom caminho a percorrer. O vestido longo enfim teve alguma
utilidade, sendo mais decente andar com ele cobrindo os buracos das meias.
Estava
furiosa. Não com Guillermo Ochoa ou seus compatriotas, mas consigo mesma. Em
primeiro lugar, raiva por ser tão idiota, por concordar em ir a qualquer lugar
com ele. Qualquer favor que Dana podia esperar dela não incluía ficar em grupo
numa banheira de água quente!
Ela podia
sentir a náusea aumentando e também — o medo — ao pensar no que teria
acontecido se não tivesse se recusado a entrar na limusine. Guillermo não ficou
satisfeito, lógico, mas ela se manteve firme. Então, dizendo alguma imprecação
para Gyorg, Guillermo empurrou-lhe uma das duas garotas que estavam com ele.
Todos entraram na limusine e se afastaram deixando Dulce na pista, trêmula e
arrepiada.
Sem dinheiro
para um táxi e sendo tarde para os ônibus, iniciou a maratona a pé para casa.
Uma pedra
cortou seu pé e ela gemeu de dor. Ainda teria que andar uns seis quilômetros,
já que qualquer um que parasse para oferecer-lhe carona, dificilmente seria por
motivos altruístas...
O carro
freando diante dela fez com que parasse. Temerosa, olhou-o, indo
automaticamente para o lado. Continuou andando. Não pare, continue a andar,
disse a si mesma. Se ele falar com você, não pare.
Apertou os
sapatos nas mãos. Se precisasse usaria os saltos como arma. Estava tensa. Um
homem saiu do carro. Ela notou a altura e o smoking. De relance percebeu que o
carro era esportivo.
Carros rápidos
não são raros nesta parte rica da costa e aquele modelo era dos mais rápidos.
Baixo, compacto.
Continue
andando.
— Señorita?
A voz do homem
era baixa.
E familiar.
Dulce olhou de
lado incapaz de se conter e parou.
Era o homem do
cassino. O que foi falar com Guillermo Ochoa e tirou sua respiração com sua
aparência estonteante. E que a desprezou como se ela fosse uma mulher da
vida...
E que agora
falava com ela numa estrada vazia, a seis quilômetros da cidade, à uma hora da
manhã.
Sentiu o
perigo.
— Precisa de
uma carona?
O tom irônico
da voz deixou-a irritada. Afinal, qualquer mulher andando pela estrada
principal, num vestido de noite, sem sapatos, não estava fazendo aquilo para
manter a forma.
— Não,
obrigada — respondeu com voz entrecortada e voltou a andar.
Dando um passo
para o lado dela, ele pôs a mão em seu braço interrompendo-a.
— Não seja
ridícula — o tom irônico de sua voz a irritou.
— Tire a mão
de mim ou enfiarei meus saltos em sua cabeça! — Dulce falou entre dentes.
Ele a soltou
afastando as mãos.
— Não precisa
ter medo — ele falou num tom de reprovação e divertida ironia. — Muito
provavelmente você será assaltada se continuar andando — agora sua voz mostrava
apenas reprovação. — Se estiver indo para a cidade eu a levo.
Ela virou a
cabeça desafiadoramente
— Por quê?
Ao virar ela
pôde finalmente vê-lo inteiramente e sentiu seu estômago revirar. Deus do céu,
ele era devastador! Mesmo na penumbra, tirava o fôlego. Por que era tão
atraente? Os homens espanhóis sempre foram belos — mas este a atraía como nunca
aconteceu antes. Algo neste homem a fazia pensar em coisas bem pouco
acadêmicas.
Os lábios dele
— lindamente torneados — se ergueram num rápido sorriso divertido. Mesmo com o
que pensava da garota não podia deixá-la ali sozinha.
— Bem, digamos
que não vai ser bom para o cassino o seu corpo aparecer violentado e
assassinado amanhã cedo; farão perguntas embaraçosas sobre a sua noite. Não
seria o tipo de publicidade que eu gosto.
Dulce fungou.
— Como sabe
que eu estava no cassino? — Ela perguntou-lhe estranhando, afinal, apesar de
terem ficado lado a lado, ele apenas prestou atenção em Guillermo Ochoa e
quando passou o olhar sobre ela foi com desdém, desprezo e muito rápido para
guardar sua fisionomia.
Ele encolheu
ligeiramente os ombros.
— De onde mais
você podia vir? Não há outro lugar longe assim que atrairia uma mulher como
você. Além do mais... — a voz dele ficou um pouco rouca, fazendo coisas
estranhas com os nervos dela. — Eu a reconheço. Diga-me... — subitamente a voz
endureceu. — Por que não partiu com o seu grupo? A limusine era grande o
bastante! Ou será que decidiram liquidá-la?
O rosto dela
gelou ao entendê-lo e conteve um tremor violento. Se tivesse sido estúpida o
bastante para entrar na limusine, poderia muito bem ter encontrado o destino
horrível que ele sugeriu. Uma sombra de medo bruto fez com que visse a loucura
que tinha feito esta noite.
— Eu os
liquidei! — Ela devolveu.
Dedos
acariciaram suas costas nuas.
— Eles não
eram do seu agrado, señorita! — A voz do espanhol era baixa causando-lhe
sensações incríveis, assim como o roçar das pontas de seus dedos em sua pele.
Então,
subitamente, a cautela voltou.
— Tire as mãos
de mim!
Ela se afastou
olhando para ele, segurando os sapatos diante dela, como se para protegê-la.
— Veja Sr.
Detetive Particular do Cassino, ou seja lá quem for, apenas deixe-me sozinha!
Estou cansada, aborrecida e muito longe de casa. Assim, suma e deixe-me em paz.
Virou-se e
recomeçou a andar. Mas quando deu o primeiro passo doloroso, seu pé bateu numa
pedra especialmente afiada fazendo-a gritar e parar. Instantaneamente, o homem
chegou ao seu lado.
— Seus pés
estão em frangalhos — ele censurou seriamente. — Se tiver o mínimo de bom senso
aceitará a minha oferta de carona de volta à cidade. Acredite-me, ficará mais
segura comigo do que aqui sozinha. Nem todo mundo que oferece carona para uma
linda mulher, señorita, tem as mesmas boas intenções. E além do mais...
— sua voz tinha novamente um toque de humor — dificilmente você terá uma oferta
de carona num carro mais rápido...
Dulce olhou
para o carro parado no acostamento como um tigre armando o bote.
— Ok, então,
você pegou emprestado o carro do chefe e deseja exibi-lo. Ótimo. — Uma súbita
certeza passou por ela. Estaria protegida com o detetive do cassino El Paraíso.
Era um dos resorts mais exclusivos da
costa e os seus seguranças dificilmente arriscariam seus empregos assaltando
turistas, não é? E ela estava tão cansada, tão chateada... sem
falar que seus pés estavam em agonia...
Foi na direção
do carro, abriu a porta e se jogou no acento de couro. Jogou os sapatos no chão
e se recostou erguendo o queixo imperiosamente.
— Café Raven,
na Rua das Américas — ordenou — fica ao longo do velho porto. E pise fundo,
está bem?
Autor(a): ninnafervondy
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Por um momento a tensão foi quase palpável. Com um gesto ríspido ele fechou a porta dela e passou diante do carro se acomodando no acento do motorista. Dulce olhou-o de relance e percebeu a enfezada expressão em seu rosto; definitivamente ele não gostou do modo com que ela falou com ele. Havia sido dura, sabia, mas não tinha p ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 48
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fabiana Postado em 28/03/2011 - 17:40:00
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fabiana Postado em 28/03/2011 - 17:39:23
suas webs são mara não demora tanto para postar estou ansiosa
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fabiana Postado em 25/03/2011 - 07:49:11
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fabiana Postado em 25/03/2011 - 07:49:11
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fabiana Postado em 25/03/2011 - 07:48:49
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