Fanfics Brasil - `Esposa de Ocasião [DyC]

Fanfic: `Esposa de Ocasião [DyC]


Capítulo: 3? Capítulo

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Como eu pude fazer isso?


A pergunta ainda ardia em sua mente. Como podia
ter-se casado com Chris Uckermann? Mas o fato era que ela se casara, pelo melhor
dos motivos, e ao fazer isso cometera o maior erro de sua vida.


Lembrava claramente do momento em que seu tio abriu
o jogo com ela, informando que Chris Uckermann estava pedindo sua mão em
casamento. Meu Deus, o que sua vida havia se tornado? Um romance vitoriano?


— Toda mulher em Atenas quer casar com ele! —
dissera Aristides com um sorriso.


Bem, elas podem ficar com ele, pensou Dulce
enquanto fitava seu tio, completamente incrédula enquanto ele glorificava as
virtudes de um homem a quem ela mal conhecia. Mas o pouco que conhecia já
bastava para que o temesse. Desde o concerto de Mozart, ela estivera com Chris Uckermann
apenas algumas vezes. Mas fora o fato de ser rico, atraente, e, a julgar pelas
poucas conversas que tivera sobre assuntos não triviais, inteligentíssimo, ele
ainda era um completo estranho.


Nada mais que um conhecido de seu tio, e uma pessoa
que ela queria evitar a qualquer custo. E agora seu tio estava lhe dizendo que
ele queria casar com ela?


Era inacreditável — absolutamente inacreditável.


Tão ridículo que lhe dava vontade de rir. Porém, à
medida que observava seu tio, Dulce percebeu que havia alguma coisa por trás de
suas palavras entusiasmadas a respeito daquele homem. Alguma coisa
perturbadora.


Ele estava falando sério, sério mesmo.


O coração de Dulce gelou.


No rosto de seu tio estava a mesma tensão que ela
vira ao chegar em Atenas. E algo mais que apenas tensão: medo.


Por trás de seus sorrisos e elogios entusiásticos a
Chris Uckermann, o medo assombrava os olhos de seu tio. Por trás dos argumentos
dele, de que todas as mulheres iriam invejá-la por ter Chris Uckermann como
esposo, ela podia ouvir uma mensagem muito mais prosaica.


Um casamento dinástico. Uma coisa absolutamente
comum nos círculos nos quais seu tio e seu pretendente se moviam. Um casamento
para unir duas famílias ricas, duas proeminentes corporações gregas.


Aristides não disse isso com todas as palavras. Ele
usou termos como "muito propício". Mas Dulce entendeu tudo. E mais.
Seu tio não apenas queria que ela se casasse com Chris Uckermann. Ele precisava disso.


O frio aumentou em seu coração.


Ela aguardou, nervos à flor da pele, até que o
discurso terminasse. Agora seu tio estava olhando para ela com uma antecipação
que denotava não apenas esperança, mas temor. Ela escolheu suas palavras com o
máximo de cuidado.


— Tio, esse casamento seria vantajoso para o senhor
sob um ponto de vista comercial?


— Bem, você sabe que, infelizmente, minha esposa
não foi abençoada com filhos — começou o tio, depois de alguma hesitação. —
Assim, sempre houve a questão: o que acontecerá às empresas Saviñon depois que
eu morrer? Ter você, minha sobrinha, casada com Chris Uckermann, cujos
interesses comerciais hão se chocam com os de minha empresa, seria uma resposta
a essa pergunta.


— Isso significa que haveria uma fusão entre as
duas empresas?


Um olhar evasivo tremulou no rosto de Aristides.


— Talvez. Algum dia. — E então, num tom mais
animado: — Mas não é isso que uma linda jovem deve pensar quando um homem quer
se casar com ela! Não quando se trata de um homem tão bonito quanto Chris Uckermann!


Era o sinal de que ele não iria se desviar mais do
conto de fadas que estava tecendo para ela. Dulce não iria conseguir mais
nenhuma informação sobre o verdadeiro motivo por trás da idéia inacreditável de
Chris Uckermann querer casar com ela. Apenas a ansiedade que sentia sobre o que
vira brevemente no rosto de seu tio, e o respeito por sua gentileza e
generosidade, impediram-na de dizer que jamais ouvira nada tão absurdo em toda
sua vida.


Com o máximo de autocontrole que conseguiu reunir,
comentou:


— Estou... Surpresa.


— Claro, claro! — exclamou Aristides. — Uma coisa
tão maravilhosa surpreenderia qualquer mulher!


Dulce murmurou algo sobre uma prova de vestido que
precisava fazer na cidade e se retirou da sala. Sua mente girava.
                                                           


O que estava acontecendo?                                   


Seu tio podia não querer lhe dar respostas, mas ela
conhecia alguém que podia. Embora esse alguém fosse a última pessoa que ela
quisesse ver.
                 


Ele não pareceu surpreso em vê-la. Recebeu-a na
suíte executiva de seu novo prédio comercial, levantando-se de uma enorme
cadeira de couro por trás de uma mesa ainda maior. Ao vê-lo usando um terno de
corte impecável que caía perfeitamente em seu corpo, Dulce mais uma vez sentiu
o arrepio com o qual começava a se acostumar.


— Não vai se sentar? — perguntou no seu tom grave e
sensual.


Ela odiava a forma ridícula com que seu corpo ,
sempre reagia a esse homem. Fora exatamente assim durante o concerto de Mozart,
quando permanecera sentada em silêncio durante a música, e falara o mínimo
possível no intervalo. Todo o tempo ela temera! que ele a convidasse para
jantar depois, e ficara grata quando ele simplesmente a levara de volta à casa
do tio, desejando-lhe formalmente boa noite.
               


Desde então vira-o mais algumas vezes, a cada
encontro ficando mais fascinada com sua masculinidade. A companhia desse homem
a perturbava, e ela evitava o máximo possível qualquer conversa que o tivesse
como tópico. Também se esforçava ao máximo para ignorar as expressões
especulativas e murmúrios que eram dirigidos a eles quando estavam juntos.


Agora ela sabia sobre o que as pessoas vinham
especulando.


Bem, era hora de colocar um fim nesse absurdo.


Ela sentou na cadeira indicada por Chris Uckermann,
diante de sua mesa, e cruzou as pernas, subitamente desejando que a saia que
estava usando fosse mais longa e folgada.


— Creio que seu tio falou com você.


Ela o fitou. Seu rosto manteve-se impassível
enquanto ele sentava de novo em sua cadeira, mas seus olhos pareciam atentos.


Dulce fez que sim. Respirou fundo.


— Não quero ser rude, mas que diabos está
acontecendo? — Falar com franqueza parecia a melhor estratégia, mas demandava mais
energia do que ela esperara.


Ele a fitou por um momento, como se a estivesse
avaliando, e ela sentiu ainda mais dificuldade de manter os olhos fixos nos
dele. Então, depois do que pareceu uma eternidade, ele falou:


— Se você fosse completamente grega, ou se tivesse
sido grega, não faria essa pergunta. — Ele levantou uma das sobrancelhas. — Na
verdade, você nem estaria aqui neste momento, sozinha comigo em meu escritório,
Mas sei que devo fazer concessões devido às suas circunstâncias.


Dulce automaticamente sentiu os pêlos de seus
braços eriçarem-se, mas ele prosseguiu, sentado na cadeira como se fosse um
trono.


— Vou explicar exatamente o que está acontecendo.
Diga-me, o quanto você está familiarizada com a imprensa comercial grega?


Ela manteve os olhos fixos nos dele, mas não
respondeu.


— O que presumi — disse Chris Uckermann. — Então
você não está ciente de que no momento existe no mercado uma oferta hostil pela
empresa do seu tio. Para não entediá-la com os mecanismos do mercado de ações,
vou colocar que existe uma forma de defesa contra esse tipo de ataque. Outra
empresa deve empreender uma aquisição não hostil da empresa-alvo. No presente
momento, eu e seu tio estamos discutindo isso.


— A sua empresa vai fazer isso? — indagou Dulce
abruptamente.


— Como disse, eu e seu tio estamos discutindo isso
— retrucou.


— Eu não entendo o que essa negociação tem a ver
com a conversa insana que acabo de ter com ele! — atreveu-se.


Teria ele franzido ligeiramente a testa?


— Seu tio é um tradicionalista — observou Chris Uckermann.
— Como tal, ele considera apropriado que relacionamentos financeiros sirvam de
base a relacionamentos familiares. Um casamento Saviñon Uckermann seria a
conclusão óbvia. Dulce respirou fundo.


— Sr. Uckermann, essa é a coisa mais estúpida que
ouvi em toda a minha vida. Dois completos estranhos não se casam simplesmente
porque um deles está fazendo acordos financeiros com o tio do outro! Ou está
acontecendo mais alguma coisa que eu não consigo ver, ou você é tão...
irreal... quanto o meu tio! Por que diabos você simplesmente não empreende a
ação financeira que acha por bem fazer? Eu não tenho nada a ver com isso!


A expressão dele mudou. Ela finalmente podia ver
uma reação em seu rosto.


— Infelizmente esse não é o caso. — Sua voz estava
mais ríspida, quase abrupta, e seus olhos tinham perdido todo o brilho. — Se
puder, responda-me uma pergunta. O quanto você é apegada ao seu tio?


— Ele tem sido muito gentil comigo, e fora a minha
mãe, ele é meu único parente consangüíneo vivo.


Dulce sentia-se sob ataque e não sabia por quê...
Mas sabia que não gostava.


— Então veja bem o que você está fazendo em troca —
foi a resposta abrupta. Ele se curvou para frente, e automaticamente Dulce se
flagrou recuando para o fundo de sua cadeira. — Aristides Saviñon é um tradicionalista,
como eu disse. É também um homem orgulhoso. Sua empresa está sob ameaça grave e
iminente de uma aquisição hostil, e ele dispõe de parcos recursos para evitar
que isso aconteça. Para colocar em termos simples, a Uckermann Corp. pode
salvar a companhia de seu tio com uma demonstração de confiança e força
financeira que deixará seus principais acionistas mais seguros. Pessoalmente,
estou mais do que feliz em fazer isso, por uma variedade de motivos. Aquisições
hostis raramente são saudáveis para a empresa adquirida, e a empresa que
pretende fazer isso é uma conhecida desmanteladora de empreendimentos. Ela irá
desmembrar o grupo Saviñon para maximizar rendas e brindar aos seus diretores
com imensos aumentos salariais e opções de ações. Em suma, ela vai mergulhar na
Saviñon como uma ave de rapina, e eu não desejaria isso para nenhuma empresa,
quanto mais para a Saviñon. Contudo, meus motivos para impedir esse ataque
também são de caráter pessoal. Meu pai era amigo íntimo de Aristides, e esse
motivo é suficiente para fazer com que eu não queira ficar parado, assistindo-o
perder sua empresa para esses carniceiros.


— Mas por que isso precisa envolver alguma coisa
mais do que um acordo financeiro entre você e meu tio? — persistiu Dulce.


— Como você se sentiria em aceitar caridade?
Aristides Saviñon não quer aceitar meu apoio financeiro para sua companhia sem
me oferecer algo em troca.


— Que tal oferecer a você algumas ações da Saviñon?
— perguntou Dulce.


A expressão de Chris Uckermann permaneceu indecifrável.


— O seu tio quer oferecer mais. — Chris Uckermann
fez uma pausa dramática, e então voltou a falar, como se estivesse escolhendo
com extremo cuidado suas próximas palavras. — O seu tio não tem herdeiros. Você
é sua parenta mais próxima. É por causa disso que ele está retribuindo minha
oferta de apoio neste momento com a oferta de eu me casar com você.


— Você está querendo casar-se comigo para poder
ficar com a empresa de meu tio quando ele morrer? — inquiriu Dulce. Se houve
escárnio em sua voz ela não se deu ao trabalho de escondê-lo.


Os olhos negros faiscaram, e a boca esculpida
contraiu-se visivelmente.


— Estou disposto a me casar com você para facilitar
que Aristides aceite minha oferta de salvar sua empresa da ruína. — A expressão
sardônica estava de volta aos seus olhos. — Creia em mim quando digo que eu
preferiria que seu tio aceitasse incondicionalmente a minha oferta. Contudo...
— Estendeu abruptamente a mão. — O orgulho e a auto-estima de seu tio já
sofreram um severo golpe ao ver sua empresa ser exposta a tamanho perigo. Eu
não gostaria de parecer ingrato com o que ele está me propondo. Para Aristides,
esta é a solução perfeita. Seu orgulho é salvo, sua auto-estima permanece
intacta, sua empresa é defendida, seu futuro é assegurado. E quanto a você...


— Os olhos negros reluziram de novo, e Dulce sentiu
uma sensação muito estranha em suas entranhas. — O seu futuro também será
garantido de um modo que seu tio, que se vê no lugar de seu falecido pai,
considera ideal: estará casada com um homem a quem ele pode confiá-la com
segurança.


Dulce se virou.


— Sr. Uckermann, você deve viver em outro planeta
se imagina que eu...


— Sente-se — ordenou ríspido.


Dulce sentou-se abruptamente, e então ficou
irritada consigo mesma por tê-lo feito.


— Thespinis Saviñon... Em algum lugar entre a sua
reação descomedida, os desejos completamente compreensíveis de seu tio e a
minha recusa em ficar parado enquanto a empresa de sua família é encampada, nós
podemos chegar a um acordo aceitável para todos. Portanto, eu lhe proponho o
seguinte. — Ele fitou profundamente os olhos de Dulce enquanto plantava as mãos
nos braços de sua cadeira. — Nós entramos num casamento formal em cartório, mas
acertamos por entendimento mútuo que ele será de duração limitada, suficiente
apenas para ajudar seu tio a sair desta crise e satisfazer decências públicas e
sociais. Acredito que quando estiver com sua empresa em segurança novamente o
seu tio irá aceitar a dissolução de nosso breve casamento. E então faremos
outros acordos para o futuro em longo prazo do Grupo Saviñon. Se você nutre
realmente alguma consideração por seu tio, concordará com este acordo.


Emoções apertaram o peito de Dulce. Uma era
ressentimento por estar sendo tratada como idiota e ingrata. A outra era mais
complexa... E ao mesmo tempo muito mais simples.


Ela não queria casar com Chris Uckermann. Não
queria casar com ele por nada no mundo, e ponto final. A simples idéia era
absurda, ridícula e insana. E também era...


Desviou seus pensamentos. Afastou os olhos dele.
Não gostava de ficar sentada ali, tão perto dele, sozinha em seu escritório
imenso. Chris Uckermann a perturbava, e ela não gostava disso. Não gostava
disso nem um pouco.


Forçou-se a olhar para ele de novo. Ele ainda
estava fitando-a com aqueles olhos impassíveis e ilegíveis, mas ela podia ver
que bem no fundo deles havia um certo brilho.


Ela se levantou abruptamente. Desta vez Chris não
mandou que ela voltasse a sentar. Ela apertou a bolsa contra o peito e falou:


— Eu não acredito que não exista uma forma
diferente de lidar com isso. Tem de haver.


E saiu da sala.


Mas uma coisa era marchar de queixo erguido para
fora do escritório de Chris Uckermann, e outra bem diferente era encarar
novamente seu tio. Na opinião dele, Dulce deveria se casar com o homem que
salvaria sua companhia. O problema era que, se não tivesse ido visitar Chris e
ouvido sua explicação dos fatos, Dulce não teria tido o menor problema em dizer
educadamente a Aristides que não podia aceitar a idéia de casar com um homem
que era virtualmente um estranho.


Mas agora que sabia o quanto era vital para seu tio
retribuir a ajuda de Chris Uckermann com um casamento dinástico, ela não
conseguiria fazer isso.


Mas como seria possível concordar com um
casamento como esse? Estava fora de questão! Mesmo que fosse limitado ao
casamento de conveniência temporário proposto por Chris Uckermann.


Não posso casar com ele! É absurdo, ridículo...


Contudo, Dulce podia sentir sua resistência
diminuir. Quanto mais estudava o rosto do tio, mais podia ver a ansiedade e o
medo em seus olhos. Para ele, tudo dependida de que Dulce aceitasse esse pedido
de casamento.


Na visão de seu tio, Chris Uckermann era o marido
ideal: um homem milionário e atraente, desejado por todas as mulheres e
estimado por todos os homens.


Era um choque de mundos. O mundo moderno de Dulce,
no qual se casava por amor e romance, e o mundo de seu tio, no qual se casava
por família, segurança financeira e posição social. Um choque que não podia ser
resolvido... Ou explicado. Todos os instintos de Dulce diziam que ela não
deveria fazer o que seu tio queria. Porém, se ela recusasse o pedido de
casamento — mesmo nos termos que Chris Uckermann estava lhe oferecendo —, as
conseqüências para o seu tio seriam catastróficas.


Não posso permitir a ruína de meu tio! Mas não posso
me casar com um homem que não conheço, seja qual for o motivo!


O dilema continuou girando em sua cabeça, tornando
o jantar uma provação excruciante.


Dulce passou a noite em claro. Na manhã seguinte,
foi com alívio imenso que recebeu um telefonema de Londres.


Mas seu prazer em ouvir a voz de Devy rapidamente
mudou para desespero. Dulce deixara a administração da Freshstart por conta
dele enquanto estava na Grécia, mas antes do final do telefonema ela percebeu
que cometera um erro. Devy era maravilhoso trabalhando com as crianças — era
capaz de estabelecer contato emocional até com os adolescentes mais
problemáticos —, mas apresentava muitas falhas como organizador e
administrador.


— Sinto muito mesmo, Dulce, mas não apresentei o
formulário de patrocínio e o prazo esgotou. Agora só poderemos nos candidatar
novamente no ano que vem. O pessoal daqui precisou de ajuda com as crianças —
explicou. — Quando vi, tinha passado o prazo para apresentar os documentos.


Dulce conteve um suspiro de irritação. Mesmo com o dinheiro
deixado pelo pai, a caridade precisava de cada centavo que pudesse arrecadar, e
eles tinham contado com esse patrocínio para se manterem por muito tempo.


Agora Dulce tinha ainda mais motivos de
preocupação, além da situação inacreditável na qual se encontrava com o tio.


Assim que acabou de falar com Devy, Dulce recebeu
outro telefonema.


Era Chris Uckermann.


— Gostaria que almoçasse comigo — informou sem
preâmbulos, e lhe disse o nome do restaurante e a hora que ela deveria estar
lá. Então desligou.


Embora estivesse indignada, Dulce apresentou-se no
local e hora designados, e sentou em sua cadeira enquanto Chris Uckermann
levantava-se para saudá-la. Instintivamente, Dulce evitou qualquer contato
visual com ele e ignorou os vários olhares especulativos voltados para os dois.


O grego foi direto ao ponto.


— Não quero importunar você, mas é urgente que tome
uma decisão — começou. — A empresa acaba de adquirir mais uma cota de ações da
empresa de seu tio. Os outros acionistas estão desesperados. A não ser que seja
emitido um sinal muito claro de que estou me aliando a Aristides, eles vão
começar a vender suas ações em volumes críticos. Assim... — Os olhos negros
pousam nela. — Mais uma vez devo perguntar se você está preparada para aceitar
a proposta que lhe fiz ontem.
                                                          


— Tem de haver outra maneira... — começou Dulce.


— Não há — interrompeu-a Chris Uckermann. — Se
houvesse outra maneira, eu iria adotá-la. Porém, se você ainda está pensando da
mesma forma que na tarde de ontem... — Mais uma vez Dulce percebeu aquele
irritante tom de condenação crítica na voz de Chris Uckermann. — Então permita
que eu mencione uma coisa que foi omitida em nossa conversa.


Ele fez uma pausa, durante a qual Dulce fitou os seus
olhos. Eles estavam opacos, mas com uma característica ainda mais perturbadora
que de costume. Ela quis desviar o olhar, mas se esforçou para não fazer isso.


Ele prosseguiu:


— Devido à sua criação na Inglaterra, compreendo
que o conceito de matrimônio dinástico lhe é muito estranho. Contudo... — Ele
fez uma nova pausa, como se decidindo se deveria prosseguir. — Há outro aspecto
nesses arranjos, e me vejo na obrigação de esclarecê-lo. É a questão do acordo
matrimonial. Embora seja um assunto complicado pela ameaça à empresa de seu
tio, ele é simples no sentido da vantagem que você obteria. Entenda, você
receberia uma quantia na forma de, podemos colocar assim, um dote. Não, não me
interrompa. Compreendo que você considere o termo arcaico, mas isso é irrelevante.


Chris Uckermann calou-se quando o sommelier trouxe
o vinho que ele escolhera para o almoço. O grego realizou todo o ritual de
apreciar o vinho, aprovando-o com um sotaque carregado. Quando voltou a falar,
tinha na voz um tom diferente. Falava agora de um jeito mais brando, agindo
como um ungüento nos nervos de Dulce.


— Deve ter sido difícil ser recebida por seu tio e
perceber, talvez pela primeira vez, como sua vida teria sido diferente caso seu
pai não tivesse uma aptidão filantrópica em tamanha proporção. Diante disso, e
da soma de dinheiro a qual me referi, que, no caso de um casamento normal
permaneceria comigo, estou disposto a liberar essa soma para você na ocasião da
dissolução de nossa breve união. — Aqueles olhos misteriosos fitaram demoradamente
Dulce. — E também estou disposto a lhe oferecer um adiantamento desta soma no
começo de nosso casamento temporário. A cifra que tenho em mente é a seguinte.


Ele pronunciou uma quantia que fez Dulce engolir em
seco. Era aproximadamente três vezes o valor do patrocínio ao qual ele deixara
de se candidatar.


Os pensamentos corriam na mente de Dulce. Com esse
dinheiro eles poderiam...


Afastou os pensamentos das coisas nas quais a
Freshstart poderia aplicar o dinheiro e os focou no homem sentado à sua frente,
em seu terno de grife, com cabelos negros e olhos ilegíveis que, ainda assim,
faziam a eletricidade correr pelo corpo de Dulce.


— Então?


Ela abriu a boca, mas a fechou novamente.


— A quantia final que lhe será emitida quando nosso
casamento terminar será o dobro dela — disse Chris para uma Dulce distante.


O dobro?                                                            


O que poderíamos fazer com esse dinheiro!           


Por um momento Dulce fitou o vazio, alheia à figura
perturbadora à sua frente. O que seu pai teria feito? Embora não conseguisse
lembrar do pai, sua mãe contara-lhe muito sobre ele.


Ele abriu mão de sua herança para aqueles que
necessitavam dela. Ele não pensou duas vezes antes de fazer isso.


As palavras da mãe ecoaram na mente de Dulce. O que
ela deveria fazer? Se prosseguisse com esta idéia insana ela não apenas
salvaria a empresa do tio, mas injetaria na instituição de seu pai uma quantia
que iria ajudar muitas crianças carentes.


Mas eu teria de me casar com Chris Uckermann...  


Lentamente ela fitou os olhos do homem sentado à sua
frente. A eletricidade voltou a varar seu corpo.


Se ele ao menos fosse uma pessoa comum, eu
poderia...
                                                                 


Mas ele não era; esse era o problema. Ele era um
homem totalmente diferente de todos que ela havia conhecido. Um homem a quem
ela reagia de maneiras que também lhe eram completamente desconhecidas.


É muito perigoso...


Não. — Não precisava ser perigoso! Na verdade, era
absurdo pensar nessa palavra. Absurdo porque não importava que ela
reagisse tão fortemente a Chris Uckermann. A questão era que ele não
estava reagindo a ela! Era tudo por conta dela, e se ela conseguisse bloquear
completamente tudo que ele lhe provocava, então ela poderia simplesmente
prosseguir com a idéia e...


Inalou profundamente.


Meu Deus, estou realmente pensando isso?


Ela estava realmente considerando prosseguir com
este plano insano?


— Por quanto tempo permaneceríamos casados? —
perguntou, quase sem perceber.


O telefone na mesa de Dulce tocou. Resgatada do
passado, Dulce trouxe seus pensamentos de volta para presente... O presente no
qual frustração e raiva amarga guerreavam em proporções iguais.


Por quanto tempo permaneceríamos casados?


A pergunta fatídica que ela formulara naquele dia
durante o almoço reverberava em sua mente. Aquele fora o momento que aceitara
mentalmente a idéia de aceitar o tipo de casamento que Chris Uckermann lhe
propusera.


E ele começara a trapacear naquele exato momento!
Porque o casamento deles não fora nada parecido com o que ele prometera!


Ele trapaceou desde o começo... E continuou
trapaceando até o fim! O fim brutal e implacável...


Ela se viu novamente tomada pela raiva. Sim, Chris Uckermann
podia ter-lhe dado o dinheiro que, segundo ele, tratava-se do adiantamento da
soma que ele iria lhe pagar quando eles finalmente pudessem dar fim ao
casamento. Mas quanto ao resto...


É meu! Ele me prometeu! Não pode guardar com ele!


Ele não tem nenhum direito sobre ele! Só porque
eu...


O insistente toque do telefone finalmente rompeu a
cadeia de pensamentos furiosos.


— Alô? — disse ríspida.


— Aqui é Demetrious Xanthou. Sou assistente de Chris
Uckermann. Ele me instruiu a informar que receberá a senhora hoje à noite. Se
puder me dar seu endereço, providenciarei um carro para as vinte horas.


Durante dez segundos Dulce ficou imóvel. Mas as
emoções que guerreavam dentro dela não arrefeceram.


Com dificuldades para manter a concentração, ela
gaguejou o endereço. Com a mão tremendo de leve, pôs o telefone no gancho.


Ela finalmente ficaria cara a cara com o homem que
a eviscerara com suas palavras selvagens. Bem, ela não se importava mais com
isso. Dulce tinha agora um único objetivo.


Quero aquele dinheiro. E meu. Eu o quero. Preciso
dele.


E vou fazer com que ele me dê... Custe o que
custar!


Era o único pensamento que ela iria se permitir.


Qualquer outra coisa seria muito perturbadora.


Muito perigosa.


Chris Uckermann estava à janela de seu apartamento
em Londres, olhando para um de seus parques históricos. Não havia qualquer
expressão em seu rosto, mas sob aquela máscara impassível, uma emoção se
sobressaía.


Ele repousou os olhos na mulher à sua frente.


Ao contrário de como estivera vestida ao tentar
abordá-lo no dia anterior, ela usava apenas calça jeans e uma blusa simplória.
Isso era proposital. Ontem ela interpretara o papel de sra. Chris Uckermann —
embora ela não tivesse mais nenhum direito a esse nome, pensou com raiva. Esta
noite ela escolhera a imagem de uma mulher comum.


— E então? — disse ela.


Ele pressionou os lábios. Como ela ousava entrar
aqui e falar com ele nesse tom?


— Você quis falar comigo. Então, fale.


Ele a observou estreitar os olhos. Depois de tudo
que fizera a ele, ela ainda se julgava no direito de exigir alguma coisa.


— Eu quero meu dinheiro.


— Seu dinheiro? — repetiu as palavras, olhos
penetrando os dela. — Seu dinheiro? A lei pensa de forma diferente, e
você sabe muito bem disso. O acordo que Aristides fechou comigo é muito claro.
O dinheiro é meu.


Ver a fúria tomar o rosto daquela mulher o fez
sorrir. Isso apenas a irritou ainda mais.


— Você me prometeu! Você me disse que o dinheiro
seria meu quando o casamento terminasse! Isso é traição!


— Como ousa me chamar de traidor?


— O dinheiro é meu! E você está com ele! Isso é
trapaça, é pura traição!


Christou, você é realmente estúpida a
ponto de imaginar que eu teria a mínima consideração em permitir que
você ficasse com aquele dinheiro? Depois do que fez? Você não merece nada... E
nada é tudo que terá! O que mais uma esposa adúltera merece?





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Autor(a): ninnafervondy

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Dulce sentiu o rosto empalidecer. Estava de volta ao passado, e Chris Uckermann a estava atacando com suas garras afiadas. Ela tentara se defender, mas isso fora impossível. Ele não lhe dera a menor chance de defesa. Bem, desta vez ela nem iria tentar. Não iria se rebaixar a esse nível. Mas estar aqui, cara a cara com aquele homem opres ...


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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 57



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  • fabiana Postado em 28/03/2011 - 17:36:31

    menina cade? assim você me mata!quero++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++

  • fabiana Postado em 28/03/2011 - 17:36:30

    menina cade? assim você me mata!quero++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++

  • fabiana Postado em 25/03/2011 - 07:47:05

    ++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++ +++++++++++++++++++++++++++++++++++++++

  • fabiana Postado em 25/03/2011 - 07:47:04

    ++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++ +++++++++++++++++++++++++++++++++++++++

  • fabiana Postado em 25/03/2011 - 07:47:04

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  • fabiana Postado em 25/03/2011 - 07:47:04

    ++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++ +++++++++++++++++++++++++++++++++++++++

  • fabiana Postado em 25/03/2011 - 07:47:03

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  • fabiana Postado em 25/03/2011 - 07:46:42

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  • fabiana Postado em 25/03/2011 - 07:46:21

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  • fabiana Postado em 25/03/2011 - 07:46:21

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