Fanfics Brasil - `Esposa de Ocasião [DyC]

Fanfic: `Esposa de Ocasião [DyC]


Capítulo: 4? Capítulo

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Dulce sentiu o rosto empalidecer. Estava de volta
ao passado, e Chris Uckermann a estava atacando com suas garras afiadas. Ela
tentara se defender, mas isso fora impossível. Ele não lhe dera a menor chance
de defesa.


Bem, desta vez ela nem iria tentar. Não iria se
rebaixar a esse nível.


Mas estar aqui, cara a cara com aquele homem
opressor, se revelava muito mais difícil do que ela esperara. Era como uma
pressão intensa esmagando-a, tentando destruí-la.


Mas não, ela não seria destruída tão facilmente!


Dulce sobrevivera ao seu primeiro ataque hediondo,
que pusera um ponto final na farsa de seu casamento.


Aquele conflito podia ter servido ao seu propósito,
mas isso não significava que ela poderia esquecer ou perdoar a cena brutal, e
as opiniões que ele expressara.


E agora, agarrando-se a uma coragem que ela
precisara cavar fundo para encontrar, ela enfiou as mãos nos bolsos das calças,
reequilibrou o peso de seu corpo e, com o rosto paralisado numa expressão de
frieza, olhou para ele. Ao falar, sua voz também saiu fria.


— Não estou aqui para falar do passado, Chris.
Estou aqui para receber o dinheiro que você se recusa a me dar. Não dou a
mínima para como nosso casamento terminou, apenas que ele terminou. E que você
tem uma dívida comigo.


Ao terminar, ela teve a estranha sensação de que
havia acendido o estopim, mas que o foguete não decolara. Em vez disso, alguma
coisa deslizou pelo rosto dele, quase como se o limpando de qualquer expressão
ou emoção. Ela o vira assim muitas vezes, em geral ao conversar com pessoas,
mas sem revelar o que se passava em sua mente. Ele usara essa expressão muitas
vezes ao falar com ela.


— Nós já estabelecemos que você não tem nenhum
direito a esse dinheiro -— disse Chris num tom levemente mais brando. Porém...
— Ele a fitou enquanto a mantinha em suspense. — Talvez eu esteja disposto a
mudar de idéia. Diga-me, para o quê você quer o dinheiro?


A pergunta pegou Dulce de surpresa, mas de jeito
nenhum ela iria lhe contar que o motivo pelo qual ela queria o dinheiro
envolvia Devy. A lembrança do ataque verbal de Chris, dois anos antes, ainda
era profunda demais, e pronunciar o nome de Devy seria como brandir uma
bandeira vermelha para um touro.


— Isso não é da sua conta — retrucou Dulce, ainda
mantendo o tom de voz frio e determinado.


Ela percebeu a raiva causada por sua resposta. Chris
Uckermann era um homem que gostava de fazer as coisas a seu jeito — ela
aprendera isso na própria pele. Chris em geral conseguia tudo que queria.


Mesmo quando era pessoal.


Especialmente quando era pessoal.


E ele não conhecia limites para conseguir o que
queria...


Ela conteve seus pensamentos. A mente era perigosa,
muito perigosa. Era muito mais seguro ter Chris zangado com ela. Sua raiva
podia ser um ataque de fúria selvagem, ou o poder frio, contido e implacável de
um homem muito rico. Mas era mais fácil lidar com ambas as sensações do que
com...


Não. Ela conteve novamente suas
memórias.


Concentre-se! Concentre-se no que você quer aqui o seu
dinheiro. Foi para isso que você veio. Para isso e mais nada!


Absolutamente mais nada.


Mas se isso era verdade, por que seus olhos
continuavam querendo correr pelo corpo alto e esbelto a uma pequena distância à
sua frente? Por que ela queria ficar olhando para aquele belo rosto masculino,
como um animal faminto há muito privado de alimento?


Ele estava falando agora, e ela se forçou a
escutar.


— E uma quantia substancial. Você não está
acostumada a lidar com tanto dinheiro. Você pode se tornar o alvo de operadores
inescrupulosos que queiram uma parte dele. — Sua voz estava suave, e a raiva
sumira sem deixar vestígios.


Mas Dulce permanecia cautelosa — ela sabia que
deveria ter todos os motivos para isso.


— Vou depositar no banco, só isso. Quero gastar um
pouco numa casa, e o resto permanecerá no banco.


Era uma resposta evasiva, e ela sabia disso.
Verdadeira em algum sentido, mas implicando, falsamente, que ela queria comprar
uma casa, e não reformar uma, e que depois restaria algum dinheiro para
guardar. Mas ela não devia a verdade a Chris Uckermann. Ela não lhe devia nada.


— Muito prudente — murmurou ele num tom que fez Dulce
suspeitar se ele estava realmente tão calmo quanto aparentava. Mas por que ela
deveria se preocupar com isso? Ela precisava apenas se preocupar em conseguir
seu dinheiro. Só isso.


— Muito bem. Vou liberar o dinheiro.


As palavras caíram no vazio entre eles — e havia
muito espaço entre eles, muito mais que os poucos metros que os separavam. Por
um segundo ela permaneceu imóvel, sem acreditar que tivesse escutado direito.
Então seus olhos se iluminaram — ela não podia impedi-los.


— Mas é claro que haverá condições — disse ele num
tom ainda sereno.


A luz nos olhos de Dulce aumentou para chamas de
fúria.


— Você não tem nenhum direito de... Ele levantou
abruptamente a mão.


— O que eu tenho é algo que você quer, e se você
quiser esse algo, terá de aceitar minhas condições.


— E elas são...? — inquiriu, sobrancelhas
levantando com a mesma determinação fria com que falara há pouco.


— Elas são muito simples. Você vai retornar comigo
para a Grécia, e para a minha cama.


— Você não pode estar falando sério! — exclamou,
precisando de todo o ar em seus pulmões para fazer isso. Seus olhos haviam
arregalado como os de um coelho que vê um predador à sua frente.


— Nunca falei tão sério — disse sem a menor
perturbação na voz. — Se você quer o dinheiro, vai cooperar.


— E ultrajante!


— Assim como o adultério. — Sua voz estava fria
como aço.


— Não farei isso — disse, rangendo os dentes. Ele
deu de ombros.


— Se não há mais nada a ser dito, você pode ir
embora. Mas se você for, não se dê ao trabalho de me procurar novamente. Você
deve decidir agora o que pretende fazer.


Ela estava paralisada, fitando-o com horror. E por
trás do horror vinham lembranças, marchando em frente, uma atrás da outra, como
os quadros da película de um filme, avançando em cores vividas e torturantes...
Lembranças que ela jamais se permitia ter.


Não posso! Deus, eu não posso!


— E então?


Ela sentia o estômago ardendo como ácido.


— Não! Meu Deus, é claro que não vou fazer
isso! Você deve ser louco, se pensou que eu aceitaria!


— Muito bem. — Ele começou a caminhar até a porta.
— Se essa é a sua decisão...


— Quero meu dinheiro! — Sua voz era um grito de
raiva, frustração... E horror.


— Então aceite as minhas condições. — A voz dele
era fria e impessoal.


Chris nem olhou para trás. Simplesmente saiu para o
corredor e abriu a porta de seu apartamento.


Ela caminhou atrás dele, ácido ainda queimando seu
estômago.


Por quê?  Por que você quer que eu...?


Ela não conseguia dizer aquilo — era impossível.
Tão impossível quanto acreditar que ele dissera aquilo para ela!
                                                             


Ele se virou. Por um momento, ficou absolutamente
imóvel.


Ela se levantou, estômago ardendo. De repente,
antes que Dulce tivesse uma chance de entender o que Chris pretendia, ele
estendeu a mão até ela.


Dedos compridos deslizaram em torno de seu queixo
introduzindo-se em seus cabelos. Aqueles olhos afundaram nos dela, causando
arrepios em seu corpo inteiro.


Com insolência calma, ele correu o polegar pelo
lábio inferior de Dulce. O toque deixou-a com as pernas trêmulas.


— Gosto de terminar o que começo — disse ele. Ela
não conseguia se mover. Estava paralisada,


coração batendo forte no peito.


Então ele sorriu. O sorriso de um predador. E recolheu
a mão.


— Amanhã voarei para Atenas ao meio-dia. Você tem
até lá para decidir o que vai fazer.


Ele abriu a porta e aguardou que ela se retirasse. Dulce
saiu, pernas tremendo.


 


Durante algum tempo Dulce perambulou pelas ruas
escuras de Londres, a paisagem fluindo ao seu redor como um rio invisível. Em
algum momento ela deve ter descido ao metrô, entrado num carro, mudado de
linha, emergido, e caminhado de volta até seu apartamento minúsculo. Na cozinha
preparou uma xícara de chá, também sem quase perceber o que fazia.


Num impulso desesperado, Dulce serviu-se de uma
taça de vinho branco, tomou um gole grande enquanto caminhava até a sala, e
desabou no sofá. Ali ficou olhando para o vazio, sentindo o coração bater forte
no peito.


Não quero pensar nisso. Quero apenas fingir que não
o encontrei hoje à noite. Negar isso completamente. Apagar isso do meu cérebro,
da minha memória, da minha consciência. Mas não posso fazer isso. Preciso tomar
uma decisão.


Quando bebeu um segundo gole do vinho, outra voz
soou em seu cérebro.


Como assim, precisa tomar uma decisão? Não deve
tomar decisão nenhuma! Não pode pensar em outra coisa! O que ele disse é
impensável
é repugnante e ultrajante. Ele merece ir para
o inferno apenas por ter dito isso!


Por outro lado, ele dissera que essa era a única
forma de conseguir o dinheiro...


A outra voz disse: Bem, você terá de se virar
sem esse dinheiro!


Ela engoliu em seco. Se virar sem esse dinheiro.
Mas eles não podiam. O problema era esse. Sem o dinheiro que prometera a Devy,
a casa não estaria pronta para o verão — o que significava pelo menos mais uma
estação sem poder receber crianças. O projeto inteiro dependia de que ela
conseguisse o dinheiro.


Nós precisamos do dinheiro!


Estava furiosa novamente. Chris não tinha direito àquele dinheiro! Não importava o que a lei dizia; ela deveria ter recebido
o dinheiro no fim daquele casamento estúpido e insano. Ele estava lhe negando
isso por vingança!


Tomou outro gole de vinho. Ele estava correndo por
seu organismo, deixando-a nervosa e agressiva.


Era um casamento de conveniência. A questão inteira
era essa! Um casamento apenas para deixar Aristides feliz, para fazer com que
aceitasse a ajuda de Chris Uckermann sem ter seu orgulho ferido. Foi apenas por
causa disso que eu aceitei o acordo! E foi o que Chris disse, também! Um
casamento temporário de conveniência, para o bem de meu tio.


Indignação ardia em suas veias.


Fora um casamento de conveniência, baseado
unicamente em termos comerciais, e, portanto era óbvio, óbvio, que a
fidelidade era irrelevante!


Mas não para Chris Uckermann. Ele era um dinossauro
de garras afiadas, que a reduzira verbalmente a retalhos antes de terminar com
ela!


Com raiva, ela respondeu mentalmente a ele, da
forma como fizera naquele terrível dia em que os dois haviam discutido.


Foi um casamento de conveniência, Chris! Não foi de
verdade! Era apenas uma fachada, que não significava nada... Absolutamente
nada! E você deveria tê-lo tratado como tal, em vez de... Em vez de...


Não, não e não! Ela não devia pensar
nisso... Jamais. Proibido. Fechado. Para jamais ser aberto.


Exceto pelo fato de que esta noite Chris abrira
essa porta e a fizera olhar para dentro.


Toda expressão abandonou seu rosto. Ela sabia o que
Chris queria. Suas palavras insolentes formavam-se em seu cérebro: "Eu
gosto de terminar o que comecei."
Mas não era por esse motivo que Chris
impusera aquela condição ultrajante. Ele não queria terminar nada. Ele queria
uma coisa completamente diferente.


Vingança.


E ele sabia exatamente, exatamente, como
consegui-la.


Um arrepio atravessou o corpo de Dulce.


Adultério — esse fora o crime que Chris atribuíra a
ela. Tão injusto!


Ela poderia ter se defendido em termos que ele
teria aceitado. Mas se ela tivesse feito isso...


Não, isso era impossível! Tinha sido impossível
antes, e era impossível agora.


E pelo mesmo motivo.


Crispou os dedos no cálice de vinho, ameaçando
quebrá-lo. Ela não devia permitir que sua mente seguisse nessa direção. Não era
apenas perigoso... Era suicida.


Tentou puxar sua mente para fora do precipício no
qual estava caindo. Adultério não era o único crime que ela cometera aos olhos
de Chris. Houvera outro, muito pior, e pelo qual ele também queria vingança.


E a vingança que Chris queria extrair dela seria a
humilhação. Sua humilhação.


Não posso aceitar isso! Não-vou suportar a
humilhação. Não vou suportar que Chris se vingue de mim!


Levantou abruptamente e encheu de novo o cálice.
Tomou outro gole grande e começou a olhar para o apartamento ao seu redor. Ele
ficava a um universo de distância da vida que ela tivera em Atenas como a sra. Chris
Uckermann.


Não posso voltar para lá!


Para início de conversa, não poderia fazer isso a
seu tio. Não via Aristides desde que deixara a Grécia tão precipitadamente. Dulce
escrevera-lhe uma carta curta e simples, na qual explicara que seu casamento
com Chris Uckermann "acabara irreversivelmente". Desde então não
recebera nenhuma resposta ou comunicação de seu tio. Sabia por quê. Chris
dissera-lhe o motivo pelo qual ele resolvera acabar com o casamento.


Mas por que Chris agira daquela forma? Ele não
tivera nenhuma necessidade de fazer aquilo!


Mas a acusação jamais chegara a público, e mesmo
que tenham corrido comentários pela sociedade ateniense, jamais passou disso:
comentários.


Chris poderia simplesmente ter dito ao tio de Dulce
que o casamento chegara ao fim, sem lhe explicar o motivo. Afinal, esse sempre
fora o plano. Ela havia simplesmente precipitado seu divórcio, e nada mais.


Simplesmente...


A palavra caçoou dela. Não houvera nada
"simples" em tudo aquilo.


Nem para ela e nem para Chris.


E agora ele queria vingança.


Por que esperara tanto?


A resposta lhe ocorreu
imediatamente.


Porque você lhe entregou a possibilidade numa
bandeja de prata ao exigir seu dinheiro! Se quiser o dinheiro, terá de fazer o
que ele deseja.


A vingança de Chris seria a humilhação em suas
mãos.


Um sorriso sinistro contorceu os lábios de Dulce.
Vingança?


Bem, vingança era uma faca de dois gumes. Chris
pretendia desferir um gume dessa faca contra ela. Mas Dulce poderia usar o
outro para seus propósitos.


Não vingança. Uma coisa que lhe era muito, muito
mais importante.


Ela bebeu todo o vinho no cálice. O álcool nadava
em suas veias, e ela apreciou a sensação. Coragem de bêbada? Talvez, mas o fato
era que ela estava obtendo a determinação da qual precisava. Determinação para
enfrentar o que jazia à sua frente. Mas se ela o fizesse, teria de suportar o
ultraje que Chris estava planejando perpetrar contra ela. Mas depois que isso
passasse, ela iria emergir com uma coisa que jamais possuíra antes.


E isso não tinha nada, absolutamente nada, a ver
com o dinheiro que ela queria.


Eu posso fazer isso. Eu posso. E quando tiver
acabado, partirei com o dinheiro, que é meu por direito, e Chris Uckermann
poderá ir para o inferno!


Pôs o cálice vazio na pia.


Eu posso fazer isso, repetiu
para si mesma. Eu posso. Eu devo.


Por que se ela conseguisse... Emoção correu por
suas veias como uma corrente elétrica.


Se ela conseguisse, então finalmente, finalmente, ela estaria livre do homem com quem casara. Livre em todos os sentidos da
palavra.


Eu posso fazer, repetiu. Eu posso...


 


Era um mantra que ela teria de repetir para si
mesma por horas. Senão jamais teria forças para ir até o campo de pouso onde o
jato particular de Chris Uckermann estaria esperando para levá-lo para casa com
rapidez e conforto.


Ela foi mal vestida de propósito, com calças jeans
gastas, suéter barato e mochila. Estava com os cabelos presos num coque frouxo,
e sem maquiagem. Apesar do tempo frio e nublado, estava de óculos escuros — mas
não era do sol que estava se protegendo. Dulce não tinha a menor intenção de
correr o risco de manter contato visual com Chris.


Mas mesmo protegida pelos óculos escuros, olhar
para ele seria um sacrifício. Por um terrível momento, quando viu o corpo alto
e másculo caminhar em sua direção, Dulce teve de reunir todas suas forças para
não girar nos calcanhares e sair correndo o mais rápido possível.


Não havia nada nos olhos de Chris quando ele a
fitou. Nem satisfação por ela haver cedido aos seus termos desprezíveis, nem
desdém por sua aparência desleixada.


Ele se limitou a dizer alguma coisa em grego ao
rapaz ao seu lado. Este imediatamente caminhou até ela.


— Eu sou Demetrious Xanthou, assistente do Sr. Uckermann.
A senhora precisa de alguma coisa para o vôo?


Dulce não lembrava de tê-lo visto antes. Apesar dos
modos educados, seu rosto não revelava qualquer emoção. A palavra
"discrição" definia-o completamente.


— Estou bem, obrigada.


Bem, se Chris queria tratá-la como a mulher
invisível, ela não iria se importar. Quanto a ela, tentaria tratá-lo como o
homem invisível.


Porém, isso era quase impossível. Quando embarcaram
no avião, Chris permitiu que ela entrasse primeiro, num gesto que não envolvia
consideração pessoal, mas o mero hábito social, fazendo Dulce sentir-se
incomodada por saber que ele estava logo atrás dela, muito, muito perto. O
interior do jato, com suas grandes poltronas de couro e mesas de mogno,
despertou memórias de aviões particulares, iates gigantescos, carros de luxo e
roupas assinadas por estilistas — a matéria da qual eram feitos os sonhos de
muitas pessoas.


Mas não os dela. Para Dulce, aquela vida tinha se
tornado um pesadelo.


Sentou na poltrona onde esperava ficar o mais
distante de Chris, e deixou a mochila cair aos seus pés. De um bolso lateral da
mochila retirou um livro. Fechou o cinto de. segurança e começou a ler. Desviou
os olhos do livro apenas para assistir à decolagem pela janela.


Chris estava sentado do outro lado do corredor
amplo, conversando com Demetrious nos tons delicados da linguagem do pai de Dulce.
Desde o fim de seu casamento, Dulce evitava a língua grega como a uma praga.
Embora jamais tivesse aprendido mais do que o suficiente para ler e conversar
um pouco, ouvir as instruções de Chris ao seu auxiliar fez com que ela
recordasse de palavras. E palavras que eram muito mais do que meros termos
comerciais...


Sentiu um arrepio. Toda a coragem falsa reunida na
noite anterior desaparecera por completo. Toda sua determinação de virar esta
situação ultrajante para seu próprio benefício havia desaparecido. Permanecia
apenas o pânico. Estava sentada no avião de Chris, sendo conduzida de volta à
Grécia.


Ele vai fazer sexo comigo, e eu consenti! Minha
simples presença neste avião é o meu consentimento!


Ela devia estar louca! Se tivesse juízo, fugiria
assim que o avião aterrissasse. Usaria o cartão de crédito para comprar uma
passagem de volta no primeiro vôo!


Mas se fizesse isso, jamais teria seu dinheiro.


Devy jamais conseguiria o dinheiro. A Granja Pycott
não conseguiria abrir suas portas naquele verão. Crianças que precisavam dela
desesperadamente deixariam de ser beneficiadas. E Dulce não conseguiria aquilo
que na noite passada finalmente parecera ao seu alcance.


Sua liberdade definitiva do poder que Chris Uckermann
exercia sobre ela. O poder que ela temia mais do que qualquer coisa no mundo.


Você precisa fazer isso. É a única maneira. Apenas
não pense nisso até que seja absolutamente necessário.


Apressada, vasculhou sua mochila em busca de sua
música. Colocando fones de ouvido, deixou-se levar pelas melodias intrincadas
de Bach, silenciando instantaneamente o resto do mundo ao seu redor. Também se
forçou a continuar lendo.


Quando uma aeromoça sorridente veio lhe perguntar o
que queria beber, Dulce pediu café, recusando o champanhe oferecido. Só de
pensar em álcool o seu estômago já reclamava. E o mesmo se dava com a comida.


Mas ela não devia deixar que Chris percebesse isso!
Não podia dar mais essa satisfação a ele.


Pelo menos Chris não estava em sua linha de visão,
e ela não ouvia mais sua voz grave. Dulce tentou acalmar-se bebericando seu
café enquanto admirava a paisagem de nuvens e ouvia Concertos de
Brandenburg.
Depois de uma noite insone, a manhã fora tão corrida que ela
não tivera tempo de fazer nada além de enfiar artigos básicos na mochila.


Quanto a Devy... Ela mudara de idéia meia dúzia de
vezes quanto a telefonar ou não para lhe dizer que estava partindo em busca do
dinheiro. Por um lado Dulce queria acalmá-lo; por outro, tinha medo de que ele
lhe fizesse perguntas sobre como ela finalmente conseguira fazer Chris mudar de
idéia.


Devy jamais deveria saber. Jamais. Ele ficaria
ultrajado, e com razão. Não, ela não devia pensar a respeito de Devy. Devia
mantê-lo na ignorância para seu próprio bem. Assim como ela não lhe contara
nada sobre a forma brutal como Chris terminara o casamento. Fizera isso em
parte para proteger Devy, mas também porque temia que ele fosse procurar Chris
para intervir por ela. E então Chris saberia...


Não! Ela interrompeu abruptamente seus pensamentos.
Devy precisava ser mantido fora desta situação. Isto era entre ela e Chris. Ela
e Devy se conheciam havia muito tempo, e ele era de uma importância vital para
ela, mas Dulce não queria envolvê-lo na confusão que fora o fim da farsa de seu
casamento.


Farei o que tiver de ser feito. Conseguirei o que
pretendo conseguir. Depois voltarei para casa, darei o dinheiro a Devy, e
jamais direi uma palavra sobre o que tive de fazer para consegui-lo.


O que terei de fazer...


Embalada por Bach, voltou a recitar mentalmente seu
mantra:


Eu posso fazer isso. Eu posso. Eu devo.


Era um mantra que a impedia de pensar em qualquer
outra coisa, especialmente o que "isso" realmente significava.


Sentiu que não conseguia resistir ao sono; a noite
sem dormir finalmente estava cobrando seu preço.


Ela afundou num sonho vivido. Estava na ilha.
Naquela ilha mágica, cujo céu azul-claro descia para um mar azul-cobalto. Um
mundo particular e secreto, onde o mundo exterior não existia, onde tudo e
todos eram reduzidos aos elementos do quais eram compostos.


Céu e pedra, areia e mar, ar e água, luz e
escuridão. Carne e sangue.


E calor. Calor que descia do sol e se espalhava por
suas veias. Como uma chama que ela não conseguia apagar, acelerando sua
pulsação.


Dulce acordou — olhos atentos, coração batendo
forte.


Aterrorizada.


Palavras gritavam em sua mente.


Não posso fazer isto! Não posso! Não posso!


 


Chris ouvia Demetrious colocá-lo a par de uma dúzia
de assuntos diferentes em sua agenda sempre lotada. Mas sua mente estava em
outro lugar.


Então Dulce viera, impulsionada por sua crença no
que era justo. Sua crença no direito ao dinheiro de seu tio. O tio que ela
insultara e envergonhara, que ainda carregava o fardo do que ela fizera. E era
essa crença que mais enfurecia Chris.


E como Dulce podia ter feito o que fizera, e ainda exigir
que ele lhe entregue placidamente o dinheiro? Ele correu os olhos para a
poltrona de Dulce, num ângulo que só lhe permitia enxergar a beirada de seu corpo,
que lhe estava totalmente à vista. Sentiu novamente uma pontada de fúria. Mas
essa emoção foi imediatamente contrabalançada por outra.


Será que ele deveria ter realmente feito aquela
oferta? Por que tinha lhe dado a chance de conseguir o dinheiro que ela tanto
desejava? Será que ele não deveria ter continuado a ignorar a existência de Dulce,
como vinha fazendo desde que a expulsara de sua casa, censurando-a da forma que
ela tanto merecia?


Cada grama de bom senso lhe dizia que era isso que
ele deveria ter feito. Mas ele não estava disposto a escutar o bom senso. Ele
iria fazer o que prometera a Dulce na noite anterior, quando sentira novamente
o toque de sua pele.


Afinal, como lhe dissera, ele tinha com ela
negócios não concluídos.


E depois que tudo estivesse acabado com Dulce, ele
iria expulsá-la definitivamente de sua vida.


Sigam: @NinnaFer (Yo) e @LinyLuz (minha adaptadora 


Caipiira)





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Autor(a): ninnafervondy

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Enquanto o avião descia, Dulce sentiu seu estômago queimar novamente. Não apenas porque o tormento que a aguardava estava muito próximo. Não apenas por causa das memórias que começavam a ocupar seu cérebro, despertadas pelas paisagens gregas ao seu redor. Mas porque pensara em mais duas coisas que poderiam aumentar ...


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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 57



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  • fabiana Postado em 28/03/2011 - 17:36:31

    menina cade? assim você me mata!quero++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++

  • fabiana Postado em 28/03/2011 - 17:36:30

    menina cade? assim você me mata!quero++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++

  • fabiana Postado em 25/03/2011 - 07:47:05

    ++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++ +++++++++++++++++++++++++++++++++++++++

  • fabiana Postado em 25/03/2011 - 07:47:04

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  • fabiana Postado em 25/03/2011 - 07:47:04

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  • fabiana Postado em 25/03/2011 - 07:47:04

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  • fabiana Postado em 25/03/2011 - 07:47:03

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  • fabiana Postado em 25/03/2011 - 07:46:42

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  • fabiana Postado em 25/03/2011 - 07:46:21

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  • fabiana Postado em 25/03/2011 - 07:46:21

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