Fanfics Brasil - `Anel da Vingança [DyC]

Fanfic: `Anel da Vingança [DyC]


Capítulo: 2? Capítulo

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Onze anos mais tarde, a voz dele
continuava áspera, o sotaque italiano permanecia duro.


— Então, decidiu tirar proveito do seu
último bem. — Os olhos dele continuavam examinando-a, com­pletamente sem
expressão. Mas, bem no fundo dos olhos daquele homem, havia um lampejo dourado.


Uma certa emoção a atingiu como se fosse
uma bala disparada por um atirador de elite. Um disparo fatal. Aquele lampejo
dourado aparecera somente em dois momentos. O primeiro foi quando o empresário
se manteve atrelado àquela raiva que podia atacar violentamente com um poder letal
de devastação.


Fizera isso com as primeiras palavras que
usara ao falar com Dulce.


Se na época ela tivesse qualquer instinto
de sobre­vivência, então, teria feito com que aquelas tivessem sido as últimas
palavras que o rapaz teria lhe dito.


Mas aquela garota estúpida, de 14 anos,
não tivera tal instinto. Somente um para abarcar, com certeza, com uma precisão
fatal, a própria ruína.


Dulce sentiu as unhas cravarem
abruptamente no couro macio da bolsa de mão. E era por isso que tinha
consciência do outro momento quando surgiu aquele lampejo dourado no olhar
dele.


De repente, depois dos últimos sete anos
suprimin­do de forma cruel, implacável, qualquer sentimento relacionado àquele
homem que se encontrava senta­do ali, distando não mais de três metros dela,
veio uma lembrança que não deveria ter ressurgido. Não! Forçava para
manter a lembrança distante.


Você está aqui somente por causa de
uma coisa. Um objetivo. Um propósito. Uma simples transação comercial.


Não sinta nada. Não lembre de nada.


Ele permanecia sentado ali, esperando que
ela o persuadisse. Sabia que faria isso. Foi o que ele a dei­xara fazer. Era a
única justificativa para que conti­nuasse existindo no pensamento dele. Não
existia de outra forma.


Será que existi alguma vez? A pergunta veio de forma traiçoeira, sem propósito.
Não, nunca existira para aquele homem. Não ela, não Dulce Saviñon.


Não a pessoa que era — sua alma, sua
personalida­de, seus gostos e desgostos — nada sobre a pessoa que a jovem era
existia para Uckermann.


Nem mesmo meu corpo existiu para ele.
Pensei que tivesse existido, na minha inocente estupidez. Pensei que, ao menos,
meu corpo existia.
Mas não. Somente
uma coisa sobre a jovem importava para o empresário.


Ao longo dos últimos 11 anos, as palavras
dele ecoavam na mente de Dulce. Sei exatamente quem você é a filha
bastarda da vadia que anda com o meu pai...
Era assim que Chris Uckermann a
considerava. Era tudo o que tinha sido. Tudo o que sempre seria.


Então, em meio à velha amargura, um novo
pensa­mento apareceu, tornando-a perversa, com uma satis­fação repentina. A
jovem seria mais para Chris Uckermann, se o empresário quisesse
negociar.


— Há condições — Dulce começou a
explanar.


Chris permaneceu quieto. Era essencial
manter cada músculo do corpo sob controle.


Se não tivesse imposto tal controle tão
cruel ao próprio corpo, este o teria arremessado da cadeira, fa­zendo-o passar
por cima da mesa. E as mãos dele te­riam se curvado ao redor dos ombros da
mulher que ousava permanecer ali, oferecendo-lhe condições. O empresário
a teria sacudido...


O pensamento dele o criticava
severamente, per­mitindo-lhe ver que a imagem era letal. Era preciso assumir o
comando. Em vez disso, continuava senta­do ali, imóvel. Observava Dulce Saviñon
surgindo, de­pois de sete anos, para ganhar vantagem sobre uma situação.


Os olhos de Chris notavam cada detalhe. O
cabelo, o traje, as unhas, os acessórios. Calculou um preço pelo visual
completo. Quinhentas libras? Facilmente outras cem se os sapatos e a bolsa
fossem incluídos. De onde a jovem estava conseguindo o dinheiro?


A resposta atravessava sua cabeça,
tornando a per­gunta desnecessária. Outros homens. Aliviou a re­pentina
e inexplicável tensão dos ombros enquanto a resposta se formava na mente dele.
A jovem tinha em quem se inspirar. Uma profissão da família...


Chris a observava. Finalmente,
amadurecera. Dulce atingira o auge dos seus atrativos físicos. E sabia como se
apresentar.


A lâmina da faca parecia atravessá-lo
novamente, mas ele a ignorava. Era tão incompreensível quanto irrelevante.
Voltou a observar os atrativos físicos da jovem. Dulce não ostentava
imponência, aquele ca­belo louro, aqueles olhos grandes, obcecados, e a boca
suave... Não! Uma lâmina cortava-lhe o pensa­mento. Bom. A moça parecia
esplêndida, resplande­cente, fantástica.


E daí? Agora, vá em frente. Nada
relacionado a Dulce Saviñon tinha a ver com Chris. Nunca teve e nun­ca teria
nada a ver. Somente uma coisa sobre ela im­portava para Chris. O preço que ela
pretendia exigir.


— E qual é seu preço? — Nem se incomodou
em esconder o desprezo que havia em sua voz.


A jovem respondeu no mesmo tom de voz com
que falou da primeira vez.


— Não disse "preço". Mencionei
"condições". Aquela raiva repentina o gelou novamente. A


moça tinha a insolência de ir até
lá, forçando aquela situação! Chris tentara, durante três anos, de todas as
formas possíveis, reaver o que era de/e! Os advoga­dos do empresário tinham
sido inúteis, imbecis! Um presente, lhe disseram, era um presente. Isso
conferia título legal ao destinatário. E o pai dele tinha, afinal de contas,
dado muitos presentes à amante. Coisas de valor, caras, incluindo jóias...


Chris cortara aquela conversa tola com
uma pro­messa.


— Meu Deus, quer comparar as bugigangas
que meu pai deu àquela mulher com a jóia que roubou dele?


Os advogados pareciam ainda mais
incapazes e inúteis.


— Será difícil garantir, no tribunal, que
ela fez isso, sr. Uckermann — ousou dizer um deles, constran­gido.


O empresário o destratou impiedosamente.


— Cretino! Claro que ela o roubou! Meu
pai não era um idiota! Nem ao menos lhe deu a quinta! Por que lhe teria dado
algo muito mais valioso?


— Talvez como um sinal de... ah...
apreço... em vez da... ah... quinta?


Chris ficara quieto. Um olhar mortal
surgiu em seu semblante. Com uma voz suave e letal que fez com que o advogado
recuasse automaticamente, o empre­sário disse.


— Acha isso? Então, diga, que homem dá à
aman­te o presente de casamento da esposa? Que homem dá a uma qualquer as
esmeraldas da família?


As esmeraldas Uckermann.


Dulce ainda podia vê-las. Isso acontecera
há nove meses. A mãe insistira que a filha a acompanhasse ao banco. Exigiu que
entrasse em uma sala pequena, afastada. Um funcionário trouxe um pacote fechado
e o colocou em cima da mesa, junto com um formulá­rio. Mãe e filha ficaram
sozinhas, e Blanca tirou o fio enrolado no pacote, desembrulhando o papel de
cor marrom até aparecer uma caixa de jóias.


A filha arfava. Uma onda verde brilhante
reluzia. A mãe tirou a jóia de dentro da caixa e sentou-se, sa­tisfeita. Blanca
deixou que as pedras escorregassem por suas mãos e suspirou profundamente.


— É incrível! — Dulce exclamou. A mãe
sorriu.


— Sim.


Havia algo estranho no tom de voz. Não
somente prazer por ter tal tesouro. Mais do que isso. E Dulce reconheceu o que
era. Triunfo.


— As esmeraldas dos Uckermann — disse Blanca.
— E são minhas. — A mãe fitou a filha com um olhar estranho. — Serão a sua
herança.


Chris recostou-se à cadeira que ocupava
como pre­sidente e chefe executivo da Uckermann Industriale. A companhia estava
no mercado há apenas três gera­ções, mas os Ukermanns eram conhecidos há muito
mais tempo. Tinham sido príncipes comerciantes du­rante o período do
Renascimento. E, embora a fortu­na da família tenha oscilado severamente ao
longo dos séculos, agora, graças à sagacidade, ao empenho e ao brilhantismo de
Enrico, a fortuna voltava a cres­cer. A tarefa de Chris era simplesmente
conduzir a Uckermann Industriale em direção à economia global que se expandia
no século XXI.


Contudo, embora os Uckermann se voltassem
para o futuro, Chris não havia esquecido o passado. Nem o passado longínquo —
quando surgiram as esmeraldas da família no século XVIII. Nem o passado re­cente
— o qual deixara cicatrizes em sua juventude, graças à presença venenosa de Blanca
Graham na vida do pai dele. Uma peçonha da qual Chris ainda não conseguira
livrar-se. A última gota daquele veneno ainda tinha de ser extraída. E a filha
de Blanca estava ali, oferecendo-lhe a chance de livrar-se daquele mal.


— Condições? — perguntou, sem alterar a
fisio­nomia. — Com isso, você quer isenção do processo por roubo. — A voz de Chris
era uniforme.


Dulce mexeu-se ligeiramente. A tensão que
sen­tia estava lhe dando dores nas costas. Mas, ao retru­car, sua voz foi tão
uniforme quanto a dele.


— Se houvesse uma justificativa para
levar o pro­cesso adiante, você teria feito isso — respondeu. — Minhas
condições são bem diferentes.


A jovem observou o rosto de Chris à
espera de algu­ma reação. Não houve nenhuma. Nem mesmo raiva por lembrar do
quanto tinha se sentido impotente por não poder reaver legalmente o que
considerava ser seu por direito. A sita. Saviñon sabia que o empresário não
teria hesitado em fazer isso se fosse possível. Chris Uckermann teria usado de
todo o poder legal que dispusesse para reaver suas posses.


Afinal de contas, aquele italiano já
fizera isso uma vez. O que Chris Uckermann queria, sempre conseguia. Não
importava o que, quem, nem qual fosse o mo­tivo.


Dulce o observava. Fitava o homem ali
sentado, aquele que quase a destruiu. Eu era jovem, boba, in­gênua. Não
era nada disso agora. E Chris Uckermann não significava nada para ela. Assim
como a srta. Saviñon não significava nada para o empresário. Nunca signi­ficara
nada para aquele homem.


Agora, somente uma pessoa tinha alguma
impor­tância para Dulce. Viera tarde, mas chegara. E era por esse motivo que a
moça estava ali, diante de Chris Uckermann, oferecendo-lhe algo que o
empresário que­ria — a única coisa que tinha valor para o italiano.


Mas você nunca teve valor para ele nunca! Nem uma vez sequer! Não passou de uma
idiota para ser usada.


Os olhos de Chris estavam sombrios como a
noite. Por um segundo, Dulce queria acreditar que tudo não passara da própria
imaginação, uma dor tomou conta da jovem, agonia.


Pois
clara te evoquei, jurei-te pura


És
negra como o inferno, sombria como a noite.


Os versos dolorosos do soneto de
Shakespeare a emocionaram. Com esforço, livrou-se da aflição, desviando o
pensamento daquela tristeza.


Chris Uckermann queria coisas diferentes
das quais quisera uma vez, quando Dulce ainda era uma meni­na, boba, ingênua.
Agora, o que ele queria pertencia a ela.


Mas, diferentemente da última coisa que Chris
qui­sera dela, dessa vez, Dulce iria querer receber algo em troca.


Nada de dinheiro. Isso não lhe servia.


O que ela queria era muito diferente.


Chris cerrara um pouco os olhos, mas
estes perma­neciam inexpressivos. Ela fez o mesmo.


— Então? — questionou, fitando-a. Dulce
sentiu o olhar de Chris perfurando-a. Recuperou o fôlego.


— É muito simples. Quero que se case
comigo. Por um segundo, silêncio total e absoluto. Depois, ele começou a rir. A
jovem sentiu-se como se estives­se sendo esfolada. Aquela risada de desdém era
insolente.


Então, Chris parou de rir. Com um olhar
sombrio e peçonhento, inclinou-se para a frente.


— Nos seus sonhos — zombou.


A voz de escárnio daquele italiano a
forçou a ter consciência da verdade que ele lhe dissera.


Casar-se com Chris Uckermann teria sido a
realização de um sonho. Mas isso foi em outra época. Quando Dulce era uma
pessoa diferente. Sim, tão inocente que eu deveria ter sido avisada disso! Mas
não houve nenhum aviso do quanto Chris poderia ser perigoso.


Depois daquele horrível primeiro encontro
à pisci­na, quando tinha 14 anos, nunca pensara que voltaria a vê-lo. A mãe, ao
chegar depois de almoçar com En­rico, ficara furiosa ao descobrir que Chris
tinha apare­cido na quinta. O pai dele também não parecera satis­feito.


Dulce permanecera na área da piscina
mesmo de­pois de ouvir o carro chegar e concluir que se tratava da mãe e de
Enrico voltando. Mas não foi capaz de bloquear as vozes irritadas ecoando pela
casa, culmi­nando com o barulho da partida do carro.


Após alguns instantes, a mãe veio à
procura da filha. Blanca descia as escadas, apressada, tensa, distraída. As
bochechas estavam coradas, isso era visível apesar da maquiagem. Aos 34 anos, a
mãe podia perfeitamen­te passar por uma mulher quase dez anos mais jovem. Mas,
naquele dia demonstrava sua idade.


— Você está bem, mãe? — Dulce perguntou. Blanca
parecia impaciente.


— Chris esteve aqui, espalhando discórdia
como sempre! Enrico está chateado.


— Quem é Chris? — Dulce perguntou, embora
ti­vesse certeza de que sabia a quem a mãe se referia.


— O filho de Enrico. Veio até aqui para
informar ao pai que a mãe partiu para o chalé nas montanhas, depois de mais um
daqueles ataques nervosos! Será que Chris realmente pensa que Enrico vai correr
atrás dela? Só está aqui há dois dias. Aquele garoto não tem a menor idéia do
quanto o pai trabalha! A única coisa que Chris sabe fazer é gastar dinheiro e
curtir a vida em Roma! O típico playboy latino! — De repen­te, Blanca
aguçou o olhar. — Você o viu? Antes que Enrico e eu voltássemos?


— Ele... ele passou pela piscina — a
menina con­fessou, murmurando.


A fisionomia da mãe ficou séria.


— Bem, ao menos não vai voltar agora. Foi
embo­ra para tomar conta da mãe, que vive desmaiando. É ridículo o estardalhaço
que faz por causa disso!


Havia um certo tom de preocupação na voz
de Blanca ou era somente acusação? pensou Dulce. O que quer que fosse, isso só
fazia com que tivesse vontade de estar a milhões de quilômetros dali.


Durante a temporada que passou na Itália
fez o melhor que podia para ficar longe, indo nadar no mar da praia particular
da quinta ou, tomando banho de sol e lendo à beira da piscina.


A mãe e Enrico passavam a maior parte do
tempo fora, o que a deixava feliz. Não se sentia à vontade na companhia de
Enrico. Tudo e todos giravam em tor­no dele — principalmente, Blanca.


Dulce odiava vê-los juntos. Até agora
aceitara o relacionamento dos dois. Já durava seis anos. Ao par­ticipar de uma
conferência em Brighton, Enrico Uckermann entrara na butique mais cara da
elegante Lanes, gerenciada por Blanca, a fim de comprar algo para a amante dele
na época. Foi quando decidiu que Blanca Graham lhe serviria melhor. Dulce foi
despachada. Primeiro, para a casa de uma tia viúva. Depois, foi para um
internato. E a mãe logo partiu rumo à Itália.


A filha sempre soubera que a mãe se
tornara aman­te de Enrico Uckermann, diretor da gigantesca Uckermann
Industriale. Aquela era a luxuosa quinta onde vivia, o mundo dourado para o
qual entrou. Sabia também que, graças àquele homem, estudara em um internato
dispendioso, e que sua tia Jean vivia agora em um bangalô confortável nos
arredores de Brighton. Quando ficava com a mãe em Londres, também era Enrico
quem custeava todas as despesas.


Blanca não se incomodava com a
ilegalidade da­quele relacionamento.


— Na Europa, essas coisas são
compreensíveis — dissera a Dulce, com voz firme. Perdera por comple­to o
sotaque. O inglês que falava agora era quase tão bom quanto o da filha cujos
estudos tinham sido tão caros. — Em um país católico, uma esposa nunca pode se
divorciar. Então, os homens não têm outra escolha a não ser permanecerem
casados. É um acor­do perfeitamente aceitável, e ninguém condena isso. Assim
como ninguém me condena pelo fato de seu pai e eu não termos sido casados.


A mãe parecera tão convincente que Dulce
havia acreditado nela. Até o momento em que o filho de Enrico destruiu-lhe a
ilusão, com um punhado de pa­lavras maldosas, tão horrendas quanto verdadeiras.


Entretanto, a feiúra das palavras não
tinha sido su­ficiente para fazê-la esquecer a beleza do homem que as
proferira. Daquele dia em diante, Dulce esconde­ra um segredo vergonhoso
naquele coraçãozinho adolescente. Todo homem que aparecia no seu cami­nho, na
realidade ou na tela do cinema e da TV, era comparado a Chris. Mesmo com o
passar dos anos, e a rotina da escola imperando, ainda assim, nos recan­tos
escuros do inconsciente, sabia que nunca poderia apagar a imagem daquele
italiano descendo as esca­das com graça, agilidade, assim como um deus more­no,
lindo, jovem.


Nunca dissera a ninguém — Chris
permanecera como um pecado secreto. E pagou caro por isso. So­nhos que se
transformaram em pesadelo assim como aquele olhar sombrio enquanto lhe dizia
quais eram as condições para desistir das esmeraldas. Uckermann voltou a
sentar-se.


— Caia na real — disse.


Dulce podia sentir o desprezo, o
escárnio, que a açoitavam do outro lado da mesa, como a ponta cruel de um
chicote. Viu quando o empresário abriu uma das gavetas, tirando um
porta-cheques de couro e uma caneta de ouro.


— Pagamento à vista. É a moeda corrente
para mulheres como você e sua mãe. Dinheiro alto. Mas nem pense em tentar me
extorquir. Pode ter um mi­lhão de euros em troca das esmeraldas. Nem um cen­tavo
a mais. E pegar ou largar. — E começou a preen­cher o cheque.


— Não se trata de uma venda. — A voz de Dulce
demonstrava muito controle. Tinha que ser assim.


Chris nem parou de escrever, continuou,
rabiscan­do "um milhão de euros" no local apropriado.


— Não me ouviu, certo? — questionou Dulce.
Será que a voz demonstrava menos controle? Não permitiria isso. Muita coisa
dependia do fato da jo­vem manter o controle absoluto.


Chris ergueu o olhar, o semblante repleto
de amar­gura.


— Ouvi você fazer uma piada de tão
péssimo gos­to que nunca imaginei que pudesse se rebaixar tanto. — Assinou o
cheque, destacou a página do talão, jo-gando-a na direção dela.


Dulce nem olhou para o cheque.





__Não era uma piada. Se quer as
esmeraldas de volta, case-se comigo. É tudo. É pegar ou largar.


Não resistiu e devolveu-lhe as palavras
antes usa­das pelo empresário. Isso ajudou a suavizar a tensão que a torturava
tanto que pensou que pudesse perder o controle a qualquer momento.


Chris pousou a caneta.


— Prefiro me casar com qualquer mulher
despre­zível menos com você.


As bochechas de Dulce foram ficando
vermelhas.


— Não estou sugerindo um casamento real. Só
quero uma aliança sua por um certo tempo. Seis me­ses, não mais do que isso.
 


— Já lhe dei minha resposta. Você
acrescenta me­mória seletiva a todos os seus outros... defeitos? In­cluindo,
claro, estupidez. Imagina que eu me casaria com você?


— Sei o que pensa sobre mim, Chris, não
preciso que diga.


— Então, se sabe, questiono ainda mais a
sua sani­dade em vir aqui dessa forma. Ousando me vender de volta o que a
maldita da sua mãe nunca deveria ter tomado da minha família!


— Não fale dela dessa forma!


— Sua mãe colocou as garras gananciosas
sobre o meu pai e não o largou! Desgraçou a vida da minha mãe!


As palavras dele foram bruscas demais. Dulce
fe­chou os olhos. Como poderia negar aquilo? Como ar­gumentar contra as
palavras que lhe atirara? Ainda assim, ouvir falar de sua mãe, naqueles termos,
lhe revirava o estômago. Uma visão da última vez que vira Blanca a incomodava. Dulce
teve que abrir os olhos novamente para livrar-se daquela imagem. Mas não podia
livrar-se da angústia que acompanhava a visão.


— Isso é irrelevante. Se quer as
esmeraldas de vol­ta, as condições são as que estabeleci. Quero uma aliança de
casamento. Não mais do que alguns meses. Pode ter suas preciosas esmeraldas de
volta no dia do casamento. Não vai precisar de dinheiro.


Chris a fitava. O semblante era de frieza
e repulsa.


— Por quê? — perguntou, calmamente, mas
não havia suavidade na voz dele, somente um tom de ameaça. — Por quê? — indagou
novamente. Relaxou os ombros, recostando-se à cadeira, mas não deixou de
observá-la.


Ela sacudiu-se, constrangida. O que
estava aconte­cendo? Por que Chris a fitava daquela maneira?


— Por que não quero dinheiro pelas esmeraldas?


— Não. Por que imagina que eu aceitaria a
sua... proposta?


— Porque você quer as esmeraldas de
volta. E é a única forma de consegui-las.


Algo cintilou nos olhos de Chris.
Levantou-se, er­guendo uma das mãos.


— Basta! Essa idiotice já foi longe demais!
Estou disposto a comprar de volta as esmeraldas à vista, mas não para perder
nem mais um segundo com essa farsa! Pegue o cheque ou saia daqui!


— Se eu for embora agora, nunca mais
terá suas esmeraldas de volta! — Dulce tentou proferir essas palavras com
veemência, mas acabaram saindo trê­mulas.
                                                                     


— Nunca é um tempo muito longo — retrucou
ele com sarcasmo. — Um dia você as venderá. Somente para se dar conta do valor
delas. E se não as vender para mim, vou comprá-las não importa para quem as
tenha vendido.


— Minha mãe nunca as venderá! — Uma
imagem de Blanca manuseando as pedras, com uma satisfa­ção de triunfo por
possuí-las, tomou conta do pensa­mento da filha. — Nunca!


— Então, pode enterrá-las com a sua mãe! Dulce
ficou pálida.


— Filho da puta — sussurrou. Chris
permanecia implacável.


— Não... você é que é. Lembra?


Isso acabou com a moça. Entorpecida,
virou-se, caminhando de volta em direção às portas que se en­contravam fechadas
e que pareciam estar a cem metros de distância. A vontade de correr, sair dali,
era esmagadora. Somente à porta é que a jovem encon­trou o último vestígio de
coragem. Segurou a maça­neta, equilibrando-se. Então, virou-se. Estava pálida.


— Vá para o inferno, Chris Uckermann!


Dulce virou-se, abrindo as portas, e foi
embora. Entrou logo no elevador antes que as pernas fraque­jassem. Estragara
tudo. Aquela idéia impetuosa, es­túpida, insana falhara por completo. O
desespero to­mou conta dela.


No escritório, Chris permaneceu
inflexível por um longo e derradeiro momento. Uma fúria tão esmaga­dora que o
empresário pensou que explodiria, mas conseguiu refreá-la, mantendo-a sob
rígido controle.


Como ousara ir até ali! Perambular
pelo escritório e, com frieza e insolência, apresentar condições para o retorno
de algo que pertencia aos Uckermann? E que condições... O empresário cerrou os
olhos com raiva, descrente.


Será que Dulce realmente imaginara que Chris
aceitaria sua exigência? Será que era assim tão insa­na? Aparecer três anos
depois que ele, finalmente, ar­rancara as garras de Blanca Graham dos cofres da
fa­mília Uckermann, e pensar que o empresário pagaria tal preço pelas
esmeraldas que tinham sido furtadas?


De que sórdida toca saíra? E por que
agora? Será que os tempos estavam difíceis para mãe e filha? Chris se
assegurara de que Blanca tivesse saído com o mí­nimo possível que pudesse ser
saqueado, quando a despachou após a morte de Enrico. Mas uma mulher como aquela
teria armazenado capital por anos. A não ser que mandasse advogados atrás de Blanca
Graham para dela extrair o troféu que carregara con­sigo, Uckermann deixaria
aquela mulher apodrecer. O empresário estava feliz por ter conseguido tirá-la
da Itália. Não sabia e nem se importava para onde Blanca tinha ido. Ficaria
surpreso se a mulher tivesse con­seguido outro protetor — a juventude dela
desapare­cera e sua cotação no mercado era zero.


Outro pensamento causou-lhe dor.


Será que levara a filha a seguir o mesmo
caminho? Usurpar homens afortunados em troca de dormir com eles? Dulce estava
vestida como se um ricaço tives­se custeado sua aparência...


Mesmo depois desse pensamento, algo ainda
o in­comodava. Então, viu-se acionando o interfone para falar com a assistente.


— Mande seguir a mulher que deixou meu escritó­rio
agora



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Autor(a): ninnafervondy

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Dulce entrou no apartamento. Ainda tremia devido ao encontro com Chris. Tinha sido muito pior do que imaginara — embora temesse isso desde que soubera, há algumas semanas, que teria de confrontá-lo. Desabou em cima da cama, que acabou cedendo, mas a jovem nem percebeu. A horrível quitinete alu­gada, onde morava, não lhe importav ...


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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 53



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  • maby Postado em 03/04/2011 - 21:08:29

    Nova leitora... posta por favor:)

  • fabiana Postado em 28/03/2011 - 17:48:52

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  • fabiana Postado em 28/03/2011 - 17:48:51

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  • fabiana Postado em 28/03/2011 - 17:48:51

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  • fabiana Postado em 28/03/2011 - 17:48:51

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  • fabiana Postado em 28/03/2011 - 17:48:18

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  • fabiana Postado em 28/03/2011 - 17:48:17

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  • fabiana Postado em 28/03/2011 - 17:48:17

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