Fanfics Brasil - 3 Capítulo `Anel da Vingança [DyC]

Fanfic: `Anel da Vingança [DyC]


Capítulo: 3 Capítulo

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Dulce entrou no apartamento. Ainda tremia
devido ao encontro com Chris.


Tinha sido muito pior do que imaginara —
embora temesse isso desde que soubera, há algumas semanas, que teria de
confrontá-lo.


Desabou em cima da cama, que acabou
cedendo, mas a jovem nem percebeu. A horrível quitinete alu­gada, onde morava,
não lhe importava. Dulce deixa­ra de notar sua condição desagradável há algum
tem­po. Sentia falta do pequeno mas belo apartamento na antiga casa de estilo
vitoriano, em um bairro frondo­so, nos arredores de Londres. Mas não lamentava
sua venda por uma quantia tão pequena. Tinha que ser as­sim. E foi.


Somente uma coisa lhe importava agora —
algo que a preocupava nas últimas cinco semanas. Fazer com que Chris se casasse
com ela.


Ela realmente achava que aquilo seria
possível? Fitava o vazio, cada momento martirizante daquela cena horrível se
apresentava dentro da cabeça como um CD que não parava de tocar.


O estômago se contorcia como se estivesse
repleto de serpentes, e as mãos ainda estavam presas à bolsa. Soltou-se e jogou
a bolsa em cima da colcha surrada. Baixou os olhos em direção ao carpete puído.


Tudo tinha sido em vão. Plano ridículo!
Como imaginou que Chris aceitaria aquela proposta para reaver as esmeraldas?
Concordar com algo tão absur­do como casar-se com ela? Mesmo temporário e limi­tado.


Nem mesmo recuperar as esmeraldas valia
tanto sacrifício de Uckermann.


Devia estar maluca ao pensar nisso... Não era loucura, pensou, cerrando os olhos. Era
angústia, desespero para fazer qualquer coisa que deixasse Blanca
feliz...


A dor a consumia. Não conseguia evitar —
nem havia tentado porque, se fizesse isso, não daria certo. Levantou-se para
apanhar o celular que estava na bolsa. Sabia o número do telefone de cor,
discando-o automaticamente. Quando atenderam, suas palavras também foram
automáticas.


— Olá. Quem fala é a filha de Blanca
Graham. Como ela está? — Dulce esperou enquanto as infor­mações eram checadas.
A mesma resposta neutra foi dada. Balançou a cabeça, concordando, murmurou
obrigada, e desligou.


Estável. Nenhuma mudança. Aquela ladainha
fa­miliar perfurava-lhe a cabeça. Nada era suficiente para esconder a única
palavra que era a verdade sobre a mãe dela. Agonizante.


A depressão abateu-se sobre Dulce. A
jovem mo­via-se de forma lenta e arrastada pela quitinete. Despiu com cuidado o
traje elegante e o pendurou em um local que servia de armário.


Outra emoção tomou conta da jovem. Rancor
por ter gastado tanto, do dinheiro tão escasso, naquele plano sem propósito.
Deveria ter economizado! Como pensara que o fato de usar roupas elegantes
ajudaria a persuadir Chris a aceitar aquela condição ri­dícula? Como poderia?
Tomá-la como esposa era uma maldição para ele, não importava o traje que a
jovem estivesse usando!


Caia na real, zombara dela, e estava certo. En­tregara-se a uma
fantasia patética, pensando que as esmeraldas podiam ser um incentivo, o
suficiente para que o italiano concordasse com aquele plano ab­surdo.


Ouviu novamente, em pensamento, as
palavras insolentes de Chris rasgando-lhe a fantasia idiota em ti­ras pequenas!


Quantas vezes Uckermann terá que lhe
dizer coisas desprezíveis até que você aprenda a lição?


Se tivesse sido esperta, o primeiro
insulto que lhe atirara, quando tinha 14 anos, teria sido o último! Se tivesse
sido mais sagaz, nunca teria lhe dado uma se­gunda chance.


Mas não tinha sido astuta, pensou.
Entregara-se a um conto de fadas idiota. Tentou parar, mas não teve sucesso. A
lembrança voltou, deixando-a trêmula, le­vando-a de volta ao passado que ainda
era como uma praga na sua vida, mesmo depois de tantos anos.


Dezoito anos. Uma idade perigosa. Idade
para so­nhos e contos de fada.


O período de provas havia terminado, e
duas se­manas de férias de verão, longe da escola, tinham sido concedidas à
turma sênior como um prêmio. As amigas Jenny e Zara a levaram para Roma.
Passariam 15 dias no apartamento da empresa do pai de Jenny. Dulce ficara
apreensiva, mas também muito excita­da. Embora fosse uma das garotas mais
velhas, sabia que era a menos esperta.


Não dissera nada à mãe. Blanca e Enrico
estavam no iate do empresário, fazendo um cruzeiro pela Ri-viera Francesa. Ao
menos era isso que o último pos­tal dizia.


Depois de anos sendo uma aluna exemplar,
no rí­gido internato, a inquietação tomou conta da menina. Dulce ansiava algo
mais do que apenas estudar e ter aulas de esporte e de música. Desejava
aventura. Ro­mance.


Um frio percorreu-lhe a espinha diante da
lem­brança. Romance? Ansiava por romance — mas o que encontrara foi algo
muito diferente...


Se eu não tivesse ido para Roma. Se
não tivesse ido àquela festa na noite da chegada. Se Chris não ti­vesse ido.
Se...


Mas a menina tinha ido. Trajava um dos
vestidos de noite de Jenny, que deixava parte do corpo à mos­tra, o que a
deixara um pouco chocada. A maquiagem e o penteado tinham sido feitos por Zara.
Uma cascata dourada caía nas costas nuas, os olhos grandes, os lábios
exuberantes.


Uma Dulce Saviñon totalmente diferente da
garota que sempre tinha sido. Pensara que estivesse tão so­fisticada, madura, crescida... Mas agira como uma criança. Brincara com jogos que nem conhecia.


Se eu não tivesse ido àquela festa...


Mas tinha ido, assim como, por azar, Chris.
E o ra­paz aproveitou a oportunidade que lhe fora dada, de mão beijada, por uma
garota boba, ingênua, de 18 anos. Uma idade tão vulnerável. Não tinha qualquer
tipo de defesa contra Uckermann.


Tudo o que Chris tivera que fazer foi
olhá-la. Aque­les lindos lábios pecaminosos sorrindo para Dulce. Os olhos
negros dominando-a, dizendo-lhe que ela o agradava.


Uckermann passara a festa inteira ao lado
dela. E, para Dulce, Chris tinha sido a única pessoa na sala. Toda a atenção
dela estava voltada para ele.


A garota o reconhecera logo e gelara.
Mas, por mi­lagre, parecia que o rapaz não fizera o mesmo. Sabia que, depois de
quatro anos, devia parecer bem dife­rente daquela garota palerma, de 14 anos.
Além do mais, ainda usava o sobrenome do pai, não o da mãe. E será que Chris
alguma vez soube o primeiro nome dela? Perguntava a si mesma se deveria lhe
dizer quem era, mas com o passar da noite, soubera que não poderia. Não
suportaria arriscar que o jovem a dispensasse de forma tão cruel como fizera
quatro anos antes.


Chris tinha sido como um sonho que se
tornava rea­lidade. Uckermann a levara embora da festa para dar uma volta por
Roma, à noite, em um conversível. E a garota olhava atentamente a beleza e a
excitação da Cidade Eterna, extasiada com a Escadaria da Praça de Espanha —
repleta de turistas não importava a hora. Depois, a Via Corso e o Panteão.
Passearam ao longo do monumento a Victor Emanuel. E, depois, através do antigo
Fórum Romano até alcançar o Co­liseu.


Mas não tinha sido apenas Roma que a
cativara. O ávido olhar também se destinava a Chris, não acredi­tando que o
rapaz fosse uma fantasia que se tornara humana — aqui, agora, ao lado dela.


Quando o rapaz a deixou no apartamento de
Jenny, depois da meia-noite, Dulce presumira que nunca mais o veria. Mas Chris
aparecera no dia seguinte, de­pois do café da manhã, e a levara novamente para
ver Roma.


Jenny e Zara ajudaram a amiga a se
arrumar. E, mais uma vez, a garota tivera a alegria de ver Chris sorrindo, de
saber que ela o agradava apesar da pouca idade, do jeito inglês e da óbvia
falta de sofisticação e experiência.


Tinha sido como um conto de fadas. Duas
semanas magníficas tendo Chris todinho só para ela. Durante esse tempo,
aproveitara bastante. Parecia flutuar en­quanto o rapaz lhe mostrava Roma e a
adorável zona campestre do Lazio com seus pinhais e lagos, e o lito­ral. Tudo
tinha sido tocado com magia.


Olhar extasiado, torcicolo, diante do
teto da Cape­la Sistina, pintado por Michelangelo. Caminhando pelas avenidas
dos Jardins Borghese, vendo as crian­ças brincarem. E o ritual obrigatório de
todo turista, jogar uma moeda, de costas, por sobre um dos om­bros, como a
tradição manda, para dentro da majesto­sa Fonte de Trevi. Ao virar-se, a volta
a Roma garan­tida, um dos braços de Chris se posicionara em um dos ombros de Dulce,
guiando a jovem através da multi­dão de turistas que se reunia ao redor da
fonte, câmeras em ação, guias dando explicações, idiomas di­versos.


A sensação de um dos braços de Chris ao
redor dela quase fez com que Dulce desmaiasse de alegria. O rapaz estacionou
perto de uma sorveteria, e a garota hesitara diante da infinidade de sabores a
escolher. Então, ambos com uma casquinha de sorvete nas mãos, caminharam de
volta à Via Corso à procura do Panteão.


Uckermann lhe contara tudo sobre Roma
sorrindo, fe­liz, e Dulce se encantara. A garota ficara cega, inca­paz de ver o
que o rapaz estava fazendo.


Havia uma pista que a menina deveria ter
notado. Mas não dava para uma garota de 18 anos, tola e inex­periente como Dulce,
perceber.


Durante todo o tempo que passaram juntos,
Chris mal a tocou. Nada além daquele braço ao redor de um dos ombros dela, na
Fonte de Trevi. Ou um toque de dedos acidental quando o rapaz lhe entregou o
sorvete. Ou o toque em um dos braços dela enquanto apon­tava para o Fórum
Romano. Nada além disso. Até aquela última noite fatal.


A angústia tomou conta da moça. Puxou a
cortina surrada que cobria a alcova que servia de armário, e foi para a pequena
cozinha para colocar água na cha­leira.


Não queria lembrar-se daquela noite, a
última que passaria em Roma. Em vez de levá-la de volta ao apartamento do pai
de Jenny, como sempre fizera to­das as noites, depois do último café em uma das
ve­lhas praças, Chris a levara para um elegante edifício, aonde se localizava o
apartamento dos Uckermann. Lá, com toda a habilidade e experiência do completo
amante italiano, o rapaz a seduzira.


Dulce sentia uma dor apertar-lhe. Fora
fácil sedu­zi-la. A moça tinha ido para os braços dele, para a cama, extasiada,
ofegante. A boca da menina se der­retia com os beijos de Chris que dissolveram
a frágil resistência ao playboy.


Mas que garota de 18 anos teria resistido
a Uckermann? Poderia ter resistido àquele corpo esbelto, rosto escultural,
cabelo negro, olhos com cílios longos, e aqueles experientes lábios
pecaminosos?


Em duas semanas de sonho, apaixonara-se
por Chris, sentindo-se tão indefesa que entregar-se àquele rapaz tinha sido um
ato de adoração. Abraçara-o con­tra si, enquanto as carícias doces lhe abriam
um pa­raíso que a menina nem sabia existir. E, na manhã seguinte, a lançara ao
inferno. Dulce nunca imaginara que poderia sentir tanta dor.


Acordara nua nos braços dele, depois que
o play­boy a conduzira aos portões do paraíso. Então, o hor­ror a
atacou. Ouvira o barulho da porta da frente abrindo, e vozes. Sentiu Chris
ficar tenso. Então, como um lento e infindável pesadelo, a porta do quar­to se
abriu e a mãe dela entrou.


Dulce viu, como se em câmera lenta, a mãe
fran­zindo as sobrancelhas diante das cortinas fechadas, virando a cabeça para
ver os corpos nus na cama. E o horror estampado no rosto de Blanca ao
reconhecer a filha.


Ainda hoje, sete anos depois, podia
sentir o horror de tudo aquilo, o suor gelado percorrendo-lhe a espi­nha. A mãe
gritando, furiosa. Enrico entrando às pressas no quarto, exigindo saber o que
estava acon­tecendo. Dulce agachando-se, mortificada, embaixo dos lençóis que
cobriam sua nudez, querendo morrer.


E Chris. Sem um pingo de vergonha,
insensível. Levantou-se da cama, sem se preocupar por estar nu, e virou-se para
Blanca. Tão cruel. Dulce podia ouvi-lo agora. Sempre o ouviria.


— Seduzi-la? — disse em inglês de forma
que a menina entendesse. — Nem precisei. Ela estava lou­ca para se deitar
comigo.


A água escorreu por entre as mãos de Dulce,
sacudindo-a de volta ao presente. Fechou os olhos, ten­tando bloquear o
passado.


Mas não podia. Aquelas palavras
desprezíveis causavam-lhe uma dor tão intensa como naquela ter­rível manhã,
oito anos atrás, quando percebeu o que Chris fizera o tempo todo. O playboy vinha
aprovei­tando-se da inocência daquela menina de 18 anos. Desejava levá-la para
a cama com apenas um objeti­vo: tirar-lhe a virgindade. E, fazendo isso, atacar
a mulher que ele abominava.


As palavras de Blanca, proferidas em
seguida, quando pai e filho se foram, a feriram como se fos­sem um chicote.


— Meu Deus, Dulce. Você é uma idiota! Não
dava para ver o que ele estava fazendo? Não achou nem um pouquinho
suspeito que um homem como Chris demonstrasse interesse por uma menininha de
colégio? Ele não desperdiça seu precioso tempo com ninguém que não seja uma
super-modelo ou uma es­trela de cinema! Não imaginou que não havia possi­bilidade de ele estar interessado em você?


A mãe sacudira os ombros da filha.


— Chris a levou para a cama para me atingir!
Sabe o quanto me preocupo em protegê-la! Então, pensou que seria muito
divertido seduzi-la. Esse rapaz me odeia — faria qualquer coisa para me
atingir!


Qualquer coisa — até forçar-se a fazer
sexo com uma menina de colégio, virgem. Que estava morta de desejo...


Não!


Bloqueou o pensamento e acendeu o fogo
para fa­zer chá. Não pensaria sobre o que se passara há sete anos, nem sobre o
que acontecera duas horas atrás.


Como pude ir até Chris e pedir-lhe
para casar-se comigo?
Deveria estar
louca em pensar que podia forçá-lo a fazer isso. A angústia voltou a tomar
conta de Dulce. Mas eu tinha que tentar! Ao despejar a água fervendo em
cima do saquinho de chá, que caíra na xícara lascada, uma das mãos tremia e
ondas de aflição e culpa a inundaram.


A mãe estava morrendo. Deitada na cama de
um hospital, o rosto e o corpo danificados pelas células nocivas que a
devastavam, consumindo-a. O câncer se espalhara rapidamente. A químio e a
radioterapia necessárias tinham sido tão agressivas que Dulce sa­bia que Blanca
estava perdendo a batalha pela vida.


A imagem do rosto danificado da mãe
apareceu vi­vida em sua mente. Antes, um rosto tão belo. Agora, desolado devido
à dor e à doença. E, junto com a for­ça da aflição, veio a amargura da culpa.


Nos anos seguintes àquele desastre em
Roma, quando Chris usara Dulce, de forma insensível, como uma arma contra Blanca,
uma rival odiada, a filha se afastara quase que completamente da mãe. Blanca ti­nha
sido veemente ao requisitar que Enrico forçasse o filho a se casar com Dulce. A
moça tinha sido uma donzela vitoriana desonrada, `arruinada` pelo resto da
eternidade sem a salvação de uma aliança de casa­mento.


Claro que Enrico se recusara a ouvir as
reclama­ções da amante — e a risada zombeteira de Chris tinha sido ainda pior.
Nenhum dos dois dera a menor importância ao fato de Dulce ter perdido a
virgindade. E para ela, o linguajar bombástico da mãe tinha sido ainda mais
humilhante do que a forma como o rapaz a tratara. Será que Blanca não vira
isso?


Mas a mãe ficara obcecada com a
determinação de que Chris deveria se casar com a menina que seduzira. Não
importava o quanto tudo aquilo tivesse sido ter­rível e humilhante para Dulce.


Dulce acabou voltando para a Inglaterra —
mas não para a escola. Foi para a casa da tia, com quem a mãe raramente tinha
contato, por considerar irritante o humilde estilo de vida da velha senhora.
Arranjou um emprego, servindo mesas em uma cafeteria em Brighton. Prometeu a si
mesma que não dependeria financeiramente de Blanca. E isso significava ser in­dependente
de Enrico. Além disso, tinha ainda uma razão mais forte para romper os laços
com a mãe...


A mente desviou-se das lembranças. Já tinha
afli­ção suficiente, além de culpa — ambas caminhavam de mãos dadas. Dulce
remexeu o saquinho de chá com uma colher. Depois, abriu a pequena geladeira e
tirou uma caixa de leite, despejando-o na xícara e continuou a mexer. A moça
fazia as coisas de forma automática. A mente estava tumultuada de pensa­mentos
e emoções.


A culpa a consumia, acentuando a aflição
até que a mistura fosse inaceitável, levando-a a fazer as coisas mais insanas.
Assim como forçar Chris ao casamento apenas para aliviar a dor da mãe que
estava à beira da morte.


Segurando a xícara com cuidado, Dulce
voltou para a sala, indo à janela. As cortinas de filo escon­diam a viela
embaixo, com latões de lixo e larvas de moscas.


Não se sentira culpada por eliminar Blanca
da vida dela. Por quê deveria? Partira com Enrico para viver como uma
prostituta de luxo. Com a certeza puritana de uma adolescente, Dulce soubera
que não havia nem romance, nem remorso para suavizar o adulté­rio.


Dulce bebeu um gole do chá quente, sem ao
me­nos degustá-lo. Como estivera tão errada em relação à mãe. Mas não soubera
disso até Blanca adoecer. So­mente então, a filha passou a vê-la sob uma luz
dife­rente.


— Fiz tudo por você, minha querida — a
mãe sus­surrara. Os poderosos analgésicos faziam com que a mente dela vagasse.
E, ao mesmo tempo, aliviassem o desprendimento emocional que impusera a si mes­ma
durante toda a vida de Dulce.


— Queria que você tivesse algo mais do
que eu tive! Seu pai a renegou, me desprezou! Pensava que eu fosse algum tipo
de prostituta, boa o suficiente para o sexo, mas nada mais! Eu o odiei por
isso! En­tão, queria que você crescesse para ser o tipo de pes­soa que ele não
pudesse nunca desprezar! Queria que tivesse a melhor educação e convivesse com
pessoas do nível do seu pai. Foi por isso que lhe dei o nome dele — apesar do
fato de não ter podido colocá-lo na certidão de nascimento. Sabia que eu nunca
reivindi­caria nada! Fiquei feliz quando ele se despedaçou na­quele carro! Foi
punido pelo que fez a você, a mim, recusando-se em ser seu pai, rindo na minha
cara por eu não ser boa o suficiente para me casar com ele!


Uma das mãos de Blanca agarrou a da
filha. An­gústia queimava nos olhos de Dulce.


— Por que nunca fui boa o suficiente para
casar? Por que só servia para o sexo? Enrico nunca quis que eu fosse outra
coisa a não ser amante! Eu o amava tanto! E ele nunca me amou, nem por um
segundo! Eu era somente a amante. Tentei nunca demonstrar que me importava. Uckermann
se irritava se eu demons­trasse. Pensava que eu estava tentando pressioná-lo a
divorciar-se da esposa! Mas eu sabia que ele nunca faria isso.


Dulce permanecia agora, com a xícara na
mão, olhando fixamente para o nada. Sentiu raiva pela mãe. Mais lembranças
golpeavam a cabeça da jovem. Blanca ali deitada, olhos esbugalhados e tensos na­quele
rosto desolado. A voz baixa e angustiada en­quanto falava com a filha,
apertando-lhe uma das mãos.


— Queria que você fosse o tipo de mulher
com a qual os homens se casariam. Queria que fosse boa para algo mais do que
sexo. Quando Chris a seduziu eu quase morri...


Os olhos de Blanca se fecharam, exaustão
e fracas­so no rosto da mãe.


— Eu sonhava que Chris se casasse com
você... já que Enrico nunca se casou comigo. Eu a via como uma noiva Uckermann,
com as esmeraldas ao redor do seu pescoço!


Os olhos da mãe se abriram, excitados,
brilhantes.


— Foi por isso que eu as peguei! Estavam
em Roma, no apartamento ao qual Chris a levou para ten­tar transformá-la em
alguém como eu — boa o sufi­ciente para o sexo e nada mais! Eu me encontrava lá
quando Enrico teve um ataque cardíaco. E, depois que a ambulância o levou
embora, nunca mais o vi. O filho deu ordens para que não me deixassem entrar no
hospital. Nem mesmo para dizer adeus. Nem mesmo para dizer-lhe que o amava...
embora Enrico não qui­sesse o meu amor, somente o meu corpo. Depois, Chris me
expulsou do apartamento de Roma. Voltei para a quinta. E, então, três dias
depois, o medo me consumia pelo que estava acontecendo a Enrico. Quando
telefonava para o hospital, não me davam nenhuma notícia. Chris dera ordens
para que não me dissessem nada! Um furgão preto apareceu na quinta. O jornal do
dia tinha finalmente publicado que Enri­co Uckermann da Uckermann Industriale
morrera no dia anterior, em Roma, com o filho e a `querida esposa` ao lado da
cama dele! E eu, a `querida amante`, nem sabia. Até Chris me expulsar da
quinta.


Blanca encheu os pulmões de ar novamente.
E Dulce sentou-se, segurando-lhe uma das mãos, o cora­ção despedaçado, enquanto
ouvia a mãe desabafar.


— Mas Chris não sabia que eu levara as
esmeraldas para a quinta. E, quando me expulsou, carreguei-as comigo. São suas,
para quando você se tornar uma noiva Uckermann.


Dulce tentou protestar. Mas a mente de Blanca,
entorpecida devido à morfina, criara uma nova reali­dade, baseada em uma
esperança final.


— É a única coisa que desejo para você —
sussur­rou, os olhos grandes, nos quais fluía um amor maternal que, durante
tanto tempo, foi reprimido. — Se pu­desse vê-la noiva de Chris... oh, minha
querida garotinha ... então, morreria feliz...


Lágrimas brotavam nos olhos de Dulce.
Poderia ter sido louca ao pensar que conseguiria forçar Uckermann ao casamento,
nem que fosse por pouco tempo, o mesmo que restava à Blanca. Mas, apesar do
fracas­so patético dessa tarde, sabia que estivera certa em tentar. Podia ter
sido em vão, tão insano quanto Chris zombara. Mas não teria descansado se não
tivesse tentado realizar o último desejo da mãe.


A morte muda tudo, pensou. Cria uma nova
reali­dade e destrói a antiga, apresentando novos imperati­vos. Tudo o que era
importante para Dulce agora era o curto tempo que restava à mãe. Nada nem
ninguém mais.


A noite de novembro estava fria e triste
quando a filha voltou do hospital. Cada visita era dolorosa. Mas naquele dia,
depois de tentar fazer com que o úl­timo desejo da mãe se tornasse realidade, a
visita tinha sido ainda mais penosa. Blanca parecera mais fraca, e uma das
enfermeiras deixara escapar as pala­vras que Dulce tinha pavor de ouvir — asilo
de doentes terminais.


A jovem voltou a sentir um aperto no
peito ao en­trar no apartamento miserável. Era tão curto o tempo que lhes
restava juntas — e tinham desperdiçado tan­to. Mesmo agora, apesar de saber o
motivo pelo qual a mãe a despachara para o colégio, a vira tão pouco enquanto
crescia, tudo ainda machucava demais.


— Não queria você associada a mim! — Blanca
lhe dissera, e o coração de Dulce ficou despedaçado. — Não queria você
contaminada pelo meu relaciona­mento com Enrico! E não queria Chris perto de
você.


Dulce cortou as lembranças ruins. Agora,
depois de rever Chris Uckermann tantos anos mais tarde, a dor era exacerbada.
Como a mãe estivera certa em man­tê-la longe dele...


E, ainda que a razão lhe mostrasse isso,
o coração a traía. Rever Chris tinha sido agonia e êxtase. O ita­liano não
mudara e, para Dulce, sempre seria o ho­mem mais bonito do mundo.


Além da angústia diante da doença da mãe,
outro sentimento surgiu. Aos 18 anos, nem imaginava o que era. Agora, aos 25,
sabia. Desejo por um homem que a fez ansiar por aquele corpo másculo contra o
dela, por aquela boca pecaminosa...


Como você pode querer um homem que
sempre a desprezou? É vergonhoso, patético, imperdoável!


Mas saber e sentir isso eram duas coisas
diferentes. Se eu não tivesse ido lá hoje! Se não o tivesse visto novamente!


Um desejo doentio tomou conta da jovem,
envergonhando-a. Dulce forçou-se a livrar-se disso. Nun­ca mais veria Chris. Ao
menos, não ficaria com um peso na consciência de que não tinha tentado conce­der
o último desejo da mãe, mesmo sabendo ser im­possível! Fracassara mas tudo
havia acabado.


Com o coração despedaçado, Dulce preparou
um jantar barato e rápido. Depois de ter se forçado a co­mer, a jovem pegou o
laptop.


Nunca fora para uma universidade de
prestígio. Em vez disso, teve aulas na faculdade local, custeando-as com o
salário como garçonete até que tivesse qualificações para conseguir um emprego
no depar­tamento de marketing de uma companhia internacio­nal. Ganhara o
suficiente para dar entrada em um pe­queno, mas confortável apartamento em
Londres. O mesmo que vendera para pagar o tratamento hospita­lar da mãe.


Sorriu com amargura. Depois do luxo no
qual En­rico mantivera Blanca, as finanças da mãe não anda­vam bem,
esgotavam-se rapidamente. O custo do hospital particular era alto, mas Dulce
não se inco­modava. A mãe viveria confortável pelo resto da vida...


Abriu o laptop e começou a trabalhar,
traduzindo literatura relacionada a marketing em espanhol e francês. Encontrara
trabalho freelance e estava agra­decida por isso. Não era muito bem
remunerado, mas era flexível. E lhe permitia passar o tempo que pudes­se com a
mãe enquanto ainda podia.


O som do interfone a perturbou — quem a
procu­raria àquela hora?


— Quem é? — perguntou, cautelosa.


— Chris Uckermann — veio a resposta.




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Autor(a): ninnafervondy

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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 53



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  • maby Postado em 03/04/2011 - 21:08:29

    Nova leitora... posta por favor:)

  • fabiana Postado em 28/03/2011 - 17:48:52

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  • fabiana Postado em 28/03/2011 - 17:48:51

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  • fabiana Postado em 28/03/2011 - 17:48:51

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  • fabiana Postado em 28/03/2011 - 17:48:51

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  • fabiana Postado em 28/03/2011 - 17:48:48

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  • fabiana Postado em 28/03/2011 - 17:48:18

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  • fabiana Postado em 28/03/2011 - 17:48:18

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  • fabiana Postado em 28/03/2011 - 17:48:17

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  • fabiana Postado em 28/03/2011 - 17:48:17

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