Fanfic: `Encanto Secreto [DyC]

- Como assim, permanecer na
presidência?

O tom era rude e irritado. Mas por respeito ao homem com quem falava,
com mais que o dobro de sua idade, Christopher Von Uckermann controlou a raiva.

- A situação mudou - o respondeu homem sombriamen­te. Ele estava na
biblioteca de sua mansão em Roma.

Christopher respirou fundo. Trajava um terno exclusivo de um estilista
italiano famoso, seu cabelo negro bem cuidado emoldurava um rosto cujos traços
podiam pertencer a um ator de cinema. Tinha cílios longos, maçãs proeminentes,
um nariz elegante e uma boca bem desenhada, que na­quele momento parecia tensa
e hostil.

- Ficou subentendido que você se afastaria em meu fa­vor...

- Só por você, Christopher. Nunca assumi nenhum com­promisso legal. Você
simplesmente concluiu que quando Stefano morresse... - A voz falhou por um
momento, mas ele se recompôs e continuou: - E, como eu disse, a situação mudou
de um modo que jamais imaginei.

Por um momento o olhar sombrio se perdeu e ele balan­çou a cabeça,
parecendo ter mesmo 70 anos.

- Eu jamais podia imaginar... Christopher franziu o cenho, impaciente.

- Não podia imaginar o quê?

- Stefano escondeu completamente de mim. Só descobri agora, quando tive
coragem de arrumar os objetos pessoais dele. O que achei me abalou
profundamente. - Ele parou de novo, parecendo se recompor, depois continuou: - As
cartas têm mais de 25 anos. Não sei por que ele as guardou. Não pode ter sido
por motivos sentimentais, pois a última deixava claro que quem escreveu entendeu
que Stefano não responderia. Mas, por alguma razão, ele as guardou. E este fato
muda tudo.

A expressão de Christopher estava fechada.

- Como? - perguntou. Havia cansaço e suspeita em sua voz. Tomaso estava
sendo evasivo, e Christopher perdia a paciência. Desde que o filho de 45 anos
de Tomaso, Stefano, solteirão convicto, sofrera um acidente fatal de barco há
dez meses, Christopher fora designado para deixar de ser o bem-sucedido
diretor-geral da Pardo-Uckermann, empresa fundada por seu falecido pai e por
Tomaso Pardo, para ser presidente com plenos poderes. Ele dera a Tomaso tempo
para superar o luto e até aceitara que fosse presidente temporário depois do
choque pela morte de Stefano.

Mas já bastava. Tomaso dera várias razões para acreditar que se
aposentaria antes do fim do ano e passaria o controle da empresa para Christopher.
Ele estava frustrado. Tinha de comparecer a certos lugares, fazer certas
coisas, executar certos planos, e ir até lá não estava na agenda. Dio, ele podia pensar em dezenas de
lugares onde preferia estar. A começar pelo apartamento de Delia Dellatorre,
cujo charme volup­tuoso estava reservado exclusivamente para sua diversão.

Ele avaliou Tomaso e concluiu que este envelhecera desde o acidente.
Stefano não correspondera às expectativas como filho, pois sua vida de playboy
fora cheia de loucuras e vaidades, mas a morte dele fora um choque terrível.

E agora parecia que Tomaso sofrera outro choque, inten­so o bastante
para distraí-lo do assunto da presidência da Pardo-Uckermann.

- Como, Tomaso? - Christopher perguntou novamente. Ele queria saber o
que o afastava da presidência.

Os olhos de Tomaso adquiriram uma expressão estra­nha.

- Como sabe, Stefano jamais quis casar, pois preferia sua vida
desregrada. - Havia reprovação na voz de Tomaso. - Eu tinha poucas esperanças
de dar continuidade à minha linha­gem. Mas naquelas cartas descobri que houve
uma mulher. Uma jovem inglesa implorava que Stefano a encontrasse, ou que pelo
menos respondesse as cartas. A razão para es­crevê-las...

Ele parou de novo, e Christopher viu emoção no rosto marcado.

- Ela teve uma filha de Stefano. Minha neta. - As mãos dele apertaram os braços da poltrona.
Olhou diretamente para Christopher.

- Quero que a encontre e a traga aqui.