Fanfic: `Encanto Secreto [DyC]
Christopher partiu durante a
tarde, mas Dulce não percebeu. Pensava em outras coisas.
O que fizera? Baixara a guarda com o homem que decidira impedir de
entrar em sua vida.
Mas ela sabia, no fundo do coração, o que fizera. Aceitara Tomaso Pardo
como avô.
E ficaria com ele, mas só por um tempo. Até que ele melhorasse. Fazer
isso não a mataria, não é?
Quando ele foi levado para casa no dia seguinte, ela se comoveu com a
frágil figura. Os olhos dele se iluminaram ao vê-la.
- Você não foi embora.
A garganta dela parecia fechada.
- Não - ela conseguiu dizer. - Como se sente?
Ele deu um sorriso amargo.
- Melhor ao ver você, criança.
Ele a chamou no meio do dia. Estava no que parecia um quarto de palácio,
com uma enorme cama com dossel e móveis antigos. Ela achou o quarto exagerado,
mas ele parecia gostar. Tomaso a viu rindo enquanto olhava em volta.
- Acha exagerado, não? - disse ele.
- É o oposto de meu avô. - Ela parou sem graça. - Meu outro avô. Ele era
simples. Achava que só estrangeiros gostavam de decoração luxuosa.
Tomaso aparentou humor melancólico.
- Sou estrangeiro, deve ser por isso. - Ele bateu na cama e, sem pensar,
Dulce foi se sentar lá. - Quando garoto, fui muito pobre. Morava em um
apartamento frio no subúrbio de Turim, com mobília vagabunda. Sempre prometi a
mim mesmo as coisas boas da vida.
Ele olhou em volta, e Dulce pôde ver a satisfação pelo que possuía. E o
orgulho também.
- Você começou mesmo do nada?
- Nada além de minha coragem e confiança - respondeu ele prontamente.
Ele parecia melhor. Não estava mais ligado a aparelhos, apesar de haver
um monitor cardíaco ao lado da cama.
- Eu estava determinado a ganhar muito dinheiro, e ganhei! - ele
prosseguiu.
- Meu outro avô nunca falava de dinheiro. Era como um tabu.
- Ah - disse Tomaso com perspicácia. - É sempre assim com quem nasce
rico. E nunca com quem ganha dinheiro sozinho. O pai de Christopher era igual,
achava que "lucro" era palavrão. Mas aproveitava bem o dinheiro que
ganhamos.
- Por que ele entrou no negócio? - perguntou Dulce, inconscientemente,
curiosa para saber mais da família de Christopher.
- Ele estava falido - disse Tomaso com simplicidade. - Então
graciosamente concordou em ser meu sócio quando o procurei. Ele seria muito
útil, pois podia abrir portas que estariam fechadas para mim com seus amigos da
alta sociedade, principalmente os envolvidos com bancos e finanças. Mas nunca
se interessou pelo negócio como eu. Já o jovem Christopher... - A voz de Tomaso
mudou. - Ele é muito diferente.
- Ele parece trabalhar o tempo todo. O rosto está sempre escondido atrás
do laptop ou de papéis.
- Ele quer meu cargo. E a empresa também. Ele via como o pai tinha pouco
poder dentro da empresa por vontade própria. Mas Christopher sempre se
ressentiu, mesmo sabendo que o pai não estava interessado em controlar a
empresa. Assim como Stefano.
Uma sombra cobriu o olhar de Tomaso e Dulce sentiu desconforto pela
menção a seu pai.
Tomaso levantou a mão como se quisesse afastar a sombra.
- Se Stefano estivesse vivo, Christopher daria um jeito de fazer um
acordo: ficaria no controle da empresa e deixaria Stefano se ocupar de suas
amadas e mortais lanchas. Stefano teria concordado. Não tenho ilusões. Como
falei, ele só se interessava em gastar dinheiro. Mas será que eu teria
concordado? - Ele balançou a cabeça. - Talvez sim. Afinal, o que aconteceria
com a empresa depois da minha morte? Claro que se Stefano tivesse se casado...
Ele parou. Dulce sentiu uma emoção despertar. Os olhos de Tomaso estavam
nela. De repente ele não parecia frágil nem doente, muito menos velho.
- Não se engane, criança. Se eu soubesse que ele deixou sua mãe grávida,
ele teria casado com ela no dia seguinte. Eu o teria obrigado.
Dulce mordeu o lábio e engoliu em seco.
- Deve ter sido por isso que ele escondeu de você. Obviamente não tinha
vontade de casar.
A voz de Tomaso ficou tensa novamente.
- Ele era um namorador. Um playboy. Vivia uma vida louca e egoísta.
Muitas vezes deixei claro que esperava que ele se casasse e providenciasse um
herdeiro. Nem a mãe dele conseguiu convencê-lo, apesar de nunca achar mulher
alguma boa o bastante para ele!
Ele ficou em silêncio e afastou os olhos de Dulce.
Eles não eram felizes, ela se pegou pensando. Apesar
do dinheiro, não eram felizes. Nenhum deles.
Os olhos dele voltaram para Dulce. Parecia cansado e velho.
Ela ficou de pé.
- Eu cansei você. A enfermeira disse para ficar apenas cinco minutos.
Um gesto altivo desconsiderou a ordem.
- Ela fala porque é paga para isso. - De repente ele falou: - Quanto Christopher
pagou para você vir aqui?
A pergunta surgira sem aviso, e Dulce sentiu o rosto enrubescer.
Respondeu na defensiva:
- O suficiente para me persuadir, é claro!
O olhar de Tomaso brilhou.
- Está certa. Não revele o que não é preciso. - Havia aprovação na voz
dele. - Não importa quanto foi, para Christopher foi pouco. Há muito em jogo.
Ele está contra a parede e sabe disso.
Dulce franziu o cenho. Christopher Von Uckermann não parecia um homem
que estivesse contra a parede. A não ser que se apoiasse nela com uma elegância
que faria as mulheres correrem para ele!
Tomaso esclareceu.
- Ele quer meu cargo. Sou presidente da Pardo-Uckermann, e isso o
atormenta. Mesmo sendo diretor-geral, não pode fazer nada sem meu consentimento,
e isso o frustra. Ele quer ser o único no controle, e supõe que com a morte de
Stefano, eu sou o único obstáculo. Dei uma tarefa a ele, trazer você para mim.
Agora ele espera a recompensa.
Ele olhava para ela com especulação.
- Dulce, você joga xadrez?
- Um pouco.
- Ótimo. Jogaremos depois do jantar.
Foi um período estranho. Dulce se sentia irreal, como se o universo onde
vivera pelos últimos 24 anos tivesse mudado de dimensão.
O mundo da família do pai era estranho, diferente. Mas aos poucos ficava
cada vez menos.
A jornada era lenta, e ela seguiu lentamente. Cautelosa. Insegura.
Desajeitada. Mas, passo a passo, prosseguiu. A cada dia, com Tomaso ganhando
mais forças, a vida ia se tornando mais familiar e menos traumática.
Ela sabia que teria de voltar a Wharton, mas não agora. Tomaso estava
melhor, mas ainda estava acamado, visivelmente fraco, e ainda agradecido pela
sua presença. Os olhos dele se iluminavam a cada vez que ia vê-lo.
Ele perguntou sobre Wharton, mas Dulce só falou em termos gerais, sem
mencionar as despesas. Não queria que ele oferecesse nada. Pensamentos
desprezíveis sobre compensação por gastos durante a infância não estavam mais
na sua mente. E ela sabia que seu avô materno jamais teria aceitado dinheiro da
família Pardo.
Os dias passaram preguiçosamente. Havia uma piscina coberta na mansão e
o terreno era lindo, mas com o tempo ela foi ficando ansiosa para voltar a
Wharton. A hipoteca precisava ser resolvida e os consertos agendados, e Dulce
estava ávida para se envolver com o trabalho pela frente.
Ela mencionou o assunto uma tarde enquanto jogavam xadrez na biblioteca.
- Preciso voltar para casa em breve - disse ela. O olhar dele vacilou.
- Eu tinha esperanças de que você acabaria encarando esta aqui como sua
casa, criança - respondeu ele.
Ela ficou consternada. Como podia dizer não, mas como podia dizer sim?
Tomaso percebeu a reação dela e pressionou mais:
- Pelo menos espere até que Christopher volte no fim de semana. Temos
negócios a discutir de natureza importante para ele.
Não havia nada que ela pudesse dizer. Dulce não tinha vontade de rever Christopher,
nem de ouvir sobre as ambições dele de controlar a empresa, mas parecia rude
dizer isso ao avô.
- Está bem - concordou. — Mas depois precisarei ir.
- Certo. - Tomaso pegou uma peça de xadrez. - Agora vou mostrar seus
erros para que aprenda para o próximo jogo. Não deve nunca perder um jogo, Dulce.
Sempre jogue para ganhar! Fiz isso minha vida toda, e nunca perdi. Nem uma vez!
Na vida, assim como no xadrez, devemos planejar. Eu sempre planejo, faço os
movimentos necessários, e depois ganho!
Ele sorriu, e pareceu a Dulce que era um sorriso satisfeito. Ela
imaginou por que, mas depois voltou a atenção para sua derrota no xadrez, e o
pensamento lhe escapou.
Christopher serviu-se de uma taça de champanhe e deixou os pensamentos
vagarem. Não pensava na festa onde estava. Pensava no fato de ainda não ser
presidente da Pardo-Uckermann. Tomaso ainda não deixara o cargo. Ele sentia
raiva e ressentimento. Tomaso o estava enganando, e não estava gostando disso.
Ele pensara que seu humor melhoraria ao voltar para Roma, longe de
Tomaso e da sua desagradável neta. Ansiava pela companhia de Delia. No
entanto, assim que chegou ao apartamento, ela casualmente avisara que o
deixaria.
- Vou para Granadinas. Guido Salvatore me convidou para uma festa no
iate dele. Pego o avião esta noite.
Christopher tomou um grande gole de champanhe, esperando que subisse à
cabeça o bastante para melhorar seu humor. Além de Tomaso não se pronunciar,
ele se ressentia de mais uma noite solitária.
- Chris, ciao...
Seu pensamento foi interrompido por Luc Dinardi, que cobiçara Delia
Dellatorre e não perderia a oportunidade de fingir lamentar o fato dela tê-lo
abandonado. Ele se preparou para a zombaria.
Mas ele não falou sobre Delia.
Os olhos de Luc brilharam de malícia.
- Conte-me, Chris, devo dar pêsames ou parabéns? Segundo a imprensa,
devo dar parabéns, mas os jornalistas são muito sentimentais. A realidade
costuma ser diferente.
Christopher franziu a testa. Do que Luc estava falando?
- Talvez seja o caso de dar parabéns e pêsames. Parabéns por conseguir o
que tanto queria. Pêsames pelo modo que encontrou para isso. Quando vamos
conhecê-la?
A voz de Christopher soou neutra.
- Conhecer quem?
Luc sorriu.
- Pare com isso, Chris. Sua noiva, a neta de Tomaso Pardo.
Sigam: @NinnaFer e @LinyLuz
Autor(a): ninnafervondy
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Comentários da Fanfic 72
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fabiana Postado em 28/03/2011 - 17:44:57
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fabiana Postado em 28/03/2011 - 17:44:57
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fabiana Postado em 28/03/2011 - 17:44:56
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fabiana Postado em 28/03/2011 - 17:44:56
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fabiana Postado em 28/03/2011 - 17:44:55
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fabiana Postado em 28/03/2011 - 17:44:55
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fabiana Postado em 28/03/2011 - 17:44:55
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fabiana Postado em 28/03/2011 - 17:44:54
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fabiana Postado em 28/03/2011 - 17:44:54
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fabiana Postado em 28/03/2011 - 17:44:54
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