Fanfic: Divida de Sangue [TERMINADA]

Na caçada, May, depois de beber um andarilho, me chamou para uma conversa particular, longe de nossos irmãos e de seus ouvidos aguçados.

-o que foi? –perguntei, realmente intrigado.

-eu achei a cura. –May me disse, com um meio sorriso.

-cura de que? –perguntei confuso.

-Ucker, esse seu amor e proteção por Dul não é normal. Sabemos que é coisa de Martin ou seus descendentes. Sabia que a esposa de Martin era bruxa? –ela não me deu tempo para responder. –Bem, pois ela deve ter feito o feitiço. E eu finalmente desvendei esse mistério. Sei o que temos que fazer pra você voltar a ser –ela hesitou. –normal! –concluiu.

Eu senti um arrepio. Eu realmente não queria ser uma marionete em meio a um feitiço bruxo, mas eu não queria fazer mau a Dul de nenhuma maneira. E provavelmente, quando eu me livrasse do feitiço ela voltaria a ser uma simples humana, descendente de Martin, e a divida estaria valendo novamente. Teria eu sede de seu sangue ao me livrar do feitiço?

-como May? –finalmente perguntei.

-é simples. É um antigo feitiço cigano. –fiz uma careta, feitiços ciganos envolviam sacrifícios. May notou minha careta. –não se preocupe. Ninguém jamais fará mau a Dul. Esse feitiço não envolve sacrifícios. –ela respondeu.

-mas –dei uma pausa pra organizar os pensamentos. –você não deveria ter parado de pesquisar há alguns anos? –a repreendi!

-sim. Deveria! –ela confessou. –mas a Dul é mais perigosa do que imaginamos. Não me leve a mau, eu gosto dela. –ela se explicou. –mas gosto mais de vocês, minha família de séculos. E eu não hesitaria em protegê-los. Não importa a que preço. E você também era assim. Até que foi enfeitiçado. Eu sinto saudades de você como antes. E também, não podemos esquecer que Dul é uma descendente de Martin. E ele também cresceu em uma casa cheia de vampiros! –ela me lembrou.

-eu sei, mas a Dul não vai se tornar uma caçadora de vampiros e nos matar! –eu a repreendi novamente. Dulce jamais faria isso!

-o que nos garante? –fiz outra careta. Ela notou. –olha Ucker, já disse que gosto de Dul. Mas ela já está querendo que mudemos nossos hábitos alimentares. E esse, provavelmente, é só o começo! –ela ameaçou.

-você está insinuando que matemos a Dulce? –perguntei entre os dentes.

-não! Eu só quero que você volte a enxergar claramente. Aí você decide o que é melhor pra família. –ela explicou.

-a Dulce também é família! –eu a lembrei.

-não tanto como nós. –ela retrucou.

Eu comecei a ficar com raiva de May. E depois percebi que eu nunca tinha tido raiva de alguém da minha família, pelo menos não antes de conhecer Dul e atacar até meu próprio pai. A partir do momento em que eu tinha visto aquela garotinha, há 10 anos, as coisas mudaram. Eu mudei. Eu já não era mais eu mesmo!

May percebeu, pelo meu silêncio e meu rosto, que estava tendo sucesso.

-Ucker? –ela me chamou.

-qual o ritual? –perguntei com raiva.

-não é bem um ritual. É um feitiço mesmo. –ela contou.

-e você já planejou quando fazê-lo? –perguntei entre dentes, pois ainda estava com raiva. Só de pensar que ela pensava em fazer algum mau a Dulce.

-siga-me. E não se preocupe, isso não fará nenhum mau a Dulce. Apenas fará bem a você. –ela prometeu.

E eu segui May até uma caverna no meio da floresta. Ela me contou que guardava ali suas coisas ciganas. Ela mandou que eu me deitasse em uma enorme mesa de pedra no centro da caverna. Eu já não estava gostando daquilo, mas obedeci. E ela colocou uma pedra verde e que brilhava sob meu peito. Peito nu, já que ela mandou que eu ficasse só de calça, descalço, inclusive. E ela proferiu palavras ciganas enquanto passava a pedra por meu corpo, sem realmente tocá-lo. Quando ela chegou à região onde deveria estar meu coração, proferiu as palavras com mais intensidade e afundou a pedra no local. No momento em que a pedra realmente tocou a minha pele, no lugar onde deveria estar meu coração, o mundo parou. Eu senti a pior dor da minha vida. Doeu mais do que me transformar em vampiro. Eu senti todo meu corpo ser puxado só pelo local onde deveria estar o coração. Como se aquele fosse o centro do meu corpo, o centro do mundo. A dor era intensa, mas durou pouco. Quando a pedra começou a brilhar mais ainda e lançou May longe, a dor parou.

Alguns minutos depois e eu já estava recomposto. A dor que havia me torturado, havia também me libertado. Eu pensava com clareza, sentia com clareza… Eu era eu de novo!

May, que foi lançada para um canto da caverna, riu ao ver-me levantar.

Eu estava mais forte do que nunca, mais rápido do que nunca, mais inteligente do que nunca. 

Durante os últimos 10 anos eu havia sido prisioneiro de um amor incondicional que eu não compreendia, mas agora eu estava livre.

E eu só pensava em ir pra casa e encarar Dulce Maria, para ver o que eu iria sentir ao fazer isso.