Fanfic: ~Fazendo ela sofrer

Chris comprou dois picolés de uva. Foram comendo até chegar às bancadas onde vários alunos já estavam sentados, alguns com a camisa de suas escolas. Havia grupinhos espalhados, meio que invadindo a quadra, mas sem chamar atenção. Dulce começou a sentir aquele estranho sentimento de medo que tinha cada vez que estava em lugares públicos. A garota não era muito segura de como se portar em meio de tanta gente. Suas bochechas foram se tingindo de rosa, graças a vergonha que a abordou. Virou-se para trás, para fugir, correr, mas em vez disso ficou paralisada pelo bloqueio que o corpo de Christopher causou. O garoto havia terminado o picolé e tinha os lábios roxos e um pouco maiores. Ele sorriu de lado. Dulce corou ainda mais, e cravou o olhar no peito dele.

- O que foi, CDF? - ele perguntou confusamente sarcástico.

- N-n-nada... - a ruiva parou de repente fechando os olhos com força. Era mico de mais, além de quase sair correndo, estava gaga! Oh, não! Por que justamente com ela?

- Você se sente bem, Dulce? - perguntou Christopher estranhando seu jeito estático.

Até haveria uma resposta se ele não tivesse segurado o rosto dela com ambas as mãos, fazendo a ruiva abrir os olhos assustada e encarar seu olhar singelo. Seus ouvidos ficaram trancados a qualquer barulho que não fosse da respiração de Christopher. Ele parecia estar cada vez mais perto, entretanto, tudo acontecia de forma vagarosa, igual um filme em câmera lenta. Mas tudo se esfumaçara quando um professor no meio da quadra apitou, obrigando todos a escutarem seu recado.

O garoto não soltou Dulce totalmente. Pegou em uma das mãos dela, levando-a para algum lugar da bancada. Dulce tinha o coração muito acelerado. Não tinha coragem de olhar para Christopher, com medo de encontrá-lo encarando-a, querendo prosseguir com fosse lá o que fosse que tinham iniciado.

O jogo começou muito bem. Os times estavam concentrados na partida, apesar do auê que a galera provocava. Era muita algazarra, folia, e Christopher gritava "Vai... passa essa bola!", na maior empolgação. Várias vezes a ruiva sentiu o corpo dele mais perto.

O celular de Christopher tocou no fim da partida, onde os times ficaram no zero á zero.

- Fala, minha gata - disse ele com um sorriso enorme, e Dulce desviou sua atenção para o chão do asfalto. Eles caminhavam tranquilamente pela calçada, iluminada pelos postes de luz. O céu começava a se encher de estrelas e havia grilos cantando, e também alguns carros passando por ali. Nenhum dos dois tinham se dado conta das horas que voaram. - É ah Jhenny - ele informou para ela.

Dulce assentiu, ainda quieta.

- Eu vi o Matheus jogar, mas nem fui falar com ele...

- Aff, vocês não estão de treta, estão?

- Sai dessa. Eu sou de paz - disse o garoto rindo, fez uma careta ao pensar em Jhenny. - Acho que ele vai chegar estressado.

- Ai, eu até esperava por isso - confessou Jhenny calmamente. - Ele anda preocupado, mas eu não sei com o quê.

- Bom... Seja lá o que for, acho que tu podes resolver - a forma com que falara foi tão maliciosa que ela percebeu.

- Ah, seu safado! - Christopher riu. - O.k. amor, agora eu preciso desligar. Beijo.

- Beijo.

- Te amo - e desligou.

Apesar do clima estranho Christopher não estava nem um pouco tímido. Ele sabia aonde precisava chegar, o que teria de conquistar para pisar naquele grêmio. Suas reações estavam ficando fortes. Não queria ir com muita cede ao pote, antes faria Dulce confiar nele plenamente, para depois, alcançar seu maior objetivo naquela "amizade".

Olhou-a de relance, analisando o que tanto gostava na companhia da garota. A ruiva não era tão bonita quanto outras, mas tinha algo. Talvez fosse porque, além de estudar pra caramba ela ainda tinha tempo de ser legal.

- Gostou do jogo hoje? - perguntou Chris para quebrar o silêncio.

- É, eu achei bacana ter vindo... - Dulce limpou a garganta.

- Àquela hora você pensa em ir aonde?

- Que horas? - ela franziu o cenho, fingindo não saber do que ele falava, mas na verdade ficou envergonhada pela atitude de antes.

- Er... quando a gente se chocou - Christopher começou a estralar os dedos. - Praticamente na hora do jogo.

- Eu não sei - respondeu a garota envergonhada, logo o olhou brevemente. - Você e a Jhenny são muito amigos, não? - mudou de assunto para não ficar ainda mais transtornada.

- É. A gente se conhece há um tempão.

- Estudavam juntos?

- Jhenny e eu nos conhecemos de criança. Temos essa liberdade um com outro, mas não passamos de amigos. - ele sorriu. - Muitas pessoas não vêem assim.

- Por que vocês parecem namorados...

- Tá, mais... - Christopher encolheu os ombros, meneando a cabeça. - Eu não acho nada de mais a gente ser carinhoso um com o outro.

- Só que as pessoas pensam diferente, Chris - falou Dulce simbolicamente. - Esse jeito que vocês demonstram carinho, é... "diferente", sabe? O Matheus, a gente sabe, ele odeia isso.

- É, já me falaram - disse o garoto sem graça, mas logo estalou a língua. - Quer saber? Foda-se Matheus e o resto do mundo. Não vamos deixar de ser assim só por que terceiros "acham" um abuso. - Dulce ficou calada, vendo o sobrado onde morava cada vez mais perto. - Você, por exemplo, se ficasse agarrada ao seu amigo que veio te buscar hoje, com certeza as pessoas iriam ver coisas onde não existem...

- Eu não dou esse tipo de liberdade, Christopher, sinto muito - ela respondeu firmemente e o olhou. - O seu caso não se aplica ao meu.

- Você também pensa igual a eles, né? - disse Christopher estreitando os olhos, confuso por um lado sem saber por quê.

- Penso. Sinceramente eu penso.

- E vai me julgar por isso? - eles estavam no portão da casa de Dulce.

- Não.

- Você não foi com a cara da Jhenny, não é?

- Chris, eu não convivo com ela, não posso dizer uma coisa agora pra me arrepender depois - respondeu Dulce erguendo os braços em sinal de inocência.

- Que bom – ele acariciou a bochecha dela com os dedos, deixando a garota muito vermelha. – Adorei o dia de hoje, sério mesmo… - ela o olhou nos olhos.

- Também gostei… de sair um pouco da rotina.

- Será que a gente pode repetir?

- Bom, sim.

- Você é linda, sabia? – Christopher não falava da boca pra fora, ele realmente estava vendo isso.

- Me cantando, Christopher? – brincou Dulce rindo.

- Dizendo a verdade… - e de um segundo ao outro, ela foi surpreendida pelos lábios carinhosos do garoto. A ruiva abriu muito os olhos, ainda estranhando a atitude de Christopher, percebendo que estava sendo beijada. Fez um movimento involuntário com a boca e logo sentiu a textura dele, o seu sabor de menino, e fechou os olhos, se entregando ao beijo. Ele sentiu essa entrega, colocando as mãos na cintura da garota, enquanto sem pressa, provava sua boca. Ali poderia estar acontecendo qualquer tipo de comunicação, não igual a de duas pessoas que se amavam a primeira vista. Não, era outra coisa. Um tipo de selo. Uma marca selando um futuro sombrio, onde pessoas, mais de duas, corações, mais de dois, vidas, algumas vidas, sairiam machucadas. Dulce se arrepiou profundamente e afastou-o dela. – Quê? – Christopher perguntou, colocando uma mexa de cabelo atrás da orelha dela.

- Boa noite – ela disse simplesmente, entrando no portão.

- Até amanhã na escola.

Dulce deu um sorriso amargo e sumiu.

O começo de um sofrimento?