Fanfic: Inimigos de uma aposta

   As pessoas circulavam tranquilamente entre o meio do salão e as mesas, tão elegantemente decoradas, quanto o palco e o ambiente. Haviam tomado todas as providências para que esta noite fosse inesquecível, pois um grande Magincian, por assim o dizer, estava se despedindo de seu mundo e mergulhando na aposentadoria. Então, as várias famílias de classe alta, compareceram especialmente homenagear o velho Mister Johan Lonwebothons.

No requinto se encontraram os principais clãs de legendários Magincian, entre eles estavam os Shynaider, Brown, Smith, Scott, Catrovickts, Oconel, Barreto, entre outras. Todas estavam em traje a rigor, assim como os demais e levavam o brasão de suas famílias estampados em suas capas (feita de cetim e veludo). Como nobres que eram, representavam toda a elegância, a majestade e uma união, que não fazia parte do complexo mundo humano.

Como em toda sociedade, também existia certa rivalidade entre muitos membros do clã. Mais nada disso os impediu de comparecer a está festa.

Conversavam brevemente entre si, discutindo sobre os problemas sociais, a política, a magia… enfim, estavam todos muito bem situados e avançando nos petiscos.

Havia música instrumental, que a orquestra estava empolgada tocando, mais era um som tranqüilo, igual à de um lago no deserto.

Os jovens estavam do outro lado do grande salão e falavam avidamente com seus companheiros de escola e amigos. Numa certa mesa, Davi Scott e Diego Shynaider trocavam algumas idéias sobre seus romances adolescentes.

- Ah, as garotas não me resistem. Isso é fato. De certo, gostavam de contar vantagens para as amigas enquanto estão comigo – disse Diego, tomando um gole de seu drink. O amigo sorriu para ele.

- Você tem toda razão, porque, uma vez eu estava saindo com uma garota e ela só queria falar sobre você – comentou Davi com sarcasmo e Diego o fitou.

- O que está querendo dizer com isso?

- Ora essa… que você é bem famoso na boca das garotas – dissera.

- Sério? – perguntara Diego e sorriu. – Bem, não me estranha. Sou muito atraente e popular. Todas querem um pouco de mim.

- Há, mais veja só senão é o convencido do Shynaider! – exclamou uma voz feminina e os dois focaram a atenção nela. Davi levantou.

- Que bom te ver de novo! – ele exclamou, dando um abraço caloroso nela. – Senta aqui com a gente.

- Há não! Eu me recuso a respirar o mesmo ar que essazinha… - disse Diego, apontando-a com desdém.

- Escuta aqui, Shynaider, se dependesse de mim, nem nas mesmas festas que você vai eu me atrevia a pisar. Tenho horror a você. Horror! – ela disse com raiva, igRobertando o olhar assassino dele e se sentou ao lado de Davi. – E nem todas as meninas pensam em você, Shynaider. Para de ser convencido ou vai morrer sozinho – Davi riu.

- Você e seu mal-humor – ele dissera. – Quando vai deixar de implicar com o Dieguinho?

- Há Davi meu amor, nunca na minha vida eu vou perder a oportunidade de irritar esse…

- Esse? – incentivou-a Diego, para que terminasse.

- Verme! – ela espetou e Davi caiu na risada.

- Verme? – balbuciou Shynaider com desdém. – E você sua oferecida! Tenho ouvido comentários muito preocupantes da sua reputação.

- A minha “reputação”, cabe a mim, Shynaider. Não sei por que está tão preocupado.

- Não me preocupo com lixo.

- Ótimo! Porque eu não estou falando da sua fama de homossexual – ela disse com rebeldia e ele ficou vermelho de ódio.

- O que te faz pensar que um garoto tão popular e gostoso como eu, possa ser homossexual?

- Gente… vamos parar – pediu Davi. Mais nenhum deu atenção.

- Como eu não vou pensar? Você tem tantas garotas caídas aos seus pés e não fica com nenhuma. Mais é claro que tem algum problema.

- Você ficou louca! Eu sou muito enjoado. Preciso escolher bem… é só isso – disse ele, ficando sério.

- Tsss… como se eu acreditasse – disse ela, revirando os olhos.

- Pense o que quiser – Diego resmungou indiferente.

- OK, se já pararam com as brigas… - Davi fitou a amiga. – E então, Roberta, alguma novidade? – a garota sorriu.

- Mudei de casa. Agora não moro mais com meu tio Eros… - disse Roberta e Shynaider a interrompeu.

- Também, uma garota com falta de dignidade, quem vai querê-la por perto? Nem seu tio te agüenta – dissera Diego e ela o fuzilou com os olhos.

- Cala boca, Shynaider! Eu não dirijo a palavra a você.

- Gente… calminha ai… estamos em público! – lembrou-lhes Davi.

- Bom, voltando ao assunto. Mudei-me para a casa de minha prima Bianca e ela me matriculou em Ghotorandy!

- O QUÊ? – os garotos exclamaram e Roberta ficou confusa.

- Algum problema?

- Não! – disse Davi.

- Mais é claro que tem! – se indignou Shynaider. – Eu estudo lá!

- Oh, só o que me faltava – a garota suspirou. – É, fazer o quê. Vou ter que ver essa sua cara pálida todos os dias, Shynaider.

- Nem morto! Você pode ir pedindo transferência. Eu não vou conviver com você! Nunca, jamais!

- Oh, Dieguinho, pega leve, estamos no meio de uma festa – o repreendera Davi e fitou os amigos. – Eu também estudo lá e adorei a noticia, Roberta. Tenho certeza que vamos aprontar muito pelo colégio.

- Há, você me conhece… sabe que eu gosto de uma bagunçinha – os dois riram. – Mais, o loiro ai tem razão… nem morta eu quero cruzar com ele todos os dias – afirmou Roberta e pegou o primeiro copo de bebida que viu sobre a mesa. Sorveu um gole e logo Shynaider arrancou o copo da mão dela com brutalidade.

- Ficou louca?! Essa é minha bebida! – ele rosnou.

- ECA! – Roberta fez cara de nojo e pôs-se a cuspir figurativamente. – Que horror! Agora peguei seus fungos! Eca, eca, eca! – Ele bufou.

- Nem exagera. Sou eu quem vai pegar seus germes!

Davi olhou para os dois que voltavam a discutir sobre os “vermes” da bebida. Eles precisavam entrar num acordo ou seria impossível conviverem na mesma escola. Pareciam duas crianças briguentas e isso não era bom para a reputação de nenhum. Roberta era do tipo de garota que ninguém notava, se ela não fizesse confusão. Já Diego era o popular e não havia menina que não se derretesse por ele. Se Davi pudesse juntar os dois, iria ser uma explosão.

- Olha aqui, Shynaider, eu não vou ficar aturando suas graçinhas! – Roberta já estava vermelha de raiva e Diego tinha o rosto em chamas.

- VOCÊ É UMA FRESQUINHA, OFERECIDA!

- E VOCÊ É UM TARADO SEXUAL AFEMINADO.

- O QUE VOCÊ SABE SOBRE MIM?!

- O QUE VOCÊ SABE SOBRE MIM?!

- EU SEI QUE VOCÊ NÃO VALE NADA!

- E A MIM SEMPRE ENSINARAM QUE LUGAR DE LIXO É NO LIXO!

- IDIOTA!

- IMBECIL!

- NOJENTA!

- BABACA!

- VIADO!

E antes que os dois continuassem com as ofensas, Davi chutou a canela de Shynaider e apontou para o palco. Iria começar a despedida. Diego e Roberta se olharam mais uma vez, dando a entender que a “conversa” ainda não tinha acabado.

No meio do palco, surgiu uma adorável moça e pegou o microfone. Agradeceu a presença de todos, citou algumas famílias que contribuíram e chamou o dono da festa.

De trás das cortinas, apareceu um velho senhor, de cabelos tão brancos, quanto seu rosto pálido. As vestes eram inconfundíveis, eram as de um Magincian e pareciam ser recém elaborada.

Johan Lonwebothons foi recebido com aplausos e olhares de admiração. Ele acenou meigamente, antes de tomar o microfone em mãos. Olhava-os com carinho e já sentindo saudades.

- Boa noite, meus queridos… agradeço de coração por está festa. É muito importante pra mim a presença de todos vocês. Bem, não é novidade que irei me aposentar, mas quero que saibam que um Magincian jamais deixará de ser útil. Jamais. Por tanto, não fiquem aflitos. Quem sabe, ainda volto à ativa – e ouve alguns risos de compreensão. – Ah… divirtam-se e o mais importante: fiquem bem.

E assim, ele deixou o palco e muitas pessoas vieram falar com ele.

- Não sei por que todo mundo gosta desse velho decrépito! – disse Diego, estralando os dedos. Os amigos o olharam recriminando-o. – O que foi? Eu tenho o direito de pensar o que bem entender.

- Você é tão escroto, Shynaider – disse Roberta.

- E você é uma qualquer…

- Ah, gente… vocês já estão me enjoando com esse papinho de vocês! – refutou Davi, realmente aborrecido com eles.

- Trégua! – pediu ela e Shynaider fez um gesto sem importância.

E uma música agitada começou a tocar, chamando a atenção de alguns jovens, que logo foram dançá-la. Tudo estava muito animado e nada poderia ser mais perfeito, do que estar junto de todos os clãs que haviam sobrevivido a ACORAN!

Davi viu que nem Shynaider e nem Roberta se olhavam, evitando assim entrar em confronto um com o outro. Ele achou engraçado o jeito que os dois se comportavam e era ainda mais engraçado ver a cara de repugnância que a amiga fazia, toda vez que uma menina passava e cumprimentava Diego. Eram duas figuras!

- Vamos dançar? – perguntou Davi, animado.

- QUE?! – exclamaram os dois ao mesmo tempo.

- Ah… vamos, estão todos na agitação! Anda, vamos nos divertir.

Mesmo sobre protestos os inimigos concordaram e foram para o meio do salão. A música mudava de uma hora pra outra, mais estava bem animada. Os garçons passavam por perto, oferecendo bebida e logo os três estavam com suas taças na mão. Muitas meninas se esfregavam em Shynaider, passavam à mão, tentavam beija-lo e Diego se aproveitava para tirar uma casquinha de todas, sem exceção. Já Davi está sossegado dançando com uma garota morena e muito bonita por sinal. Roberta estava sozinha, curtindo o som sem dar importância para os demais, pareciam que estarem se divertindo mil vezes mais que ela.

Quando começou uma música lenta, quase romântica, a maioria dos jovens voltaram aos seus lugares e Roberta ia fazer o mesmo, até que alguém a puxou pelo braço e pôs as mãos em sua cintura, obrigando-a a dançar.

Olharam-se com fúria, mais ainda não entendiam o porquê de tal de atitude.

- Você é um completo idiota, Shynaider – ela afirmou com desdém.

- Calminha, Oconel. Eu só estou fazendo um ato de caridade – disse ele com ironia.

- Sem graça. Me solta! – Roberta pediu, mas ele não obedeceu.

- Vamos dançar essa. Eu não mordo…

- Oh, sim! Isso me deixou menos preocupada, valeu! Mais eu vi o que você estava fazendo há segundos atrás.

- Ah, então comprovou que eu realmente sou muito requisitado pelas mulheres? – disse Shynaider, em tom convencido e ela bufou.

- Francamente, você me dá pena!

- No geral, eu causo outro impacto no sexo oposto, jamais pena.

- Pra você vê como não me afeta – disse Roberta com orgulho, mas ele não percebeu.

- Sabe… acho que o nosso ódio merece ser tratado com mais voracidade.

- O que está querendo dizer? – o fitou totalmente confusa.

- Proponho uma aposta… na qual, temos o direito de infernizar um ao outro, até que um de nós desista e assim, dê o direito de quem ganhar pedir o que quiser.

- Uma aposta? – as palavras brincaram nos lábios de Roberta. – E que aposta seria essa?

- Eu proponho que nos tornemos namorados.

- O QUÊ?! PIROU DE VEZ?! – Roberta ficou horrorizada.

- Hei, calma… me deixe terminar de explicar – a fitou com raiva. – Posso?

- Ta…

- Quem desistir primeiro do namoro, o ganhador terá o direito de exigir qualquer coisa. E as regras são as seguintes: Vale infernizar o outro, sem medir as conseqüências, para que um de nós desista.

Roberta o olhou por alguns instantes, pensando nessa aposta e no conteúdo da mesma. Odiava Shynaider mais que tudo nesse mundo e poder extravasar seu ódio, descontar todo o rancor que estava reprimido há anos, dentro de si, iria ser o primeiro passo para sua vingança.

Respirando fundo, mais ainda em duvida, ela respondeu:

- Aposta feita.

E Shynaider sorriu, beijando-a rudemente na frente de todos.