Fanfic: Inimigos de uma aposta

O lugar era imundo e tinha filas e filas de prateleiras em ordem alfabética. Dieguinho passou para ela a lista e logo os dois foram reunindo os ingredientes. Precisava cozer tudo num caldeirão por nove minutos e depois despejar o objeto qualquer para ativar o feitiço.

Juntando tudo, Roberta e ele foram para a sala de poções, aproveitando que era hora do almoço, e puseram tudo o que haviam pego dentro duma caldeira, que agora fervia com a água de assalown, que constava na lista.

- Que feitiço é esse? – perguntou ela, enquanto mexia o caldeirão.

- O do prisioneiro. Que serve para aprisionar algo ou uma pessoa a um voto. Quem quebrar o voto, recebi uma das lamentações do prisioneiro. É bem sinistro.

- E no que você pretende usar isso? – Roberta o olhou, desconfiada, mas não recebeu resposta. Em vez disso, o viu tirar uma caixinha da mochila e jogar no caldeirão.

- Agora você precisa repetir as palavras no fim da lista, Roberta – disse o loiro, pegando uma das mãos dela e entrelaçando seus dedos.

- Tem certeza? – ela olhou para o caldeirão que agora estava expelindo uma forte luz dourada.

- Tenho! Anda!

Sem esperar mais, a garota começou a proferir o verbo e Dieguinho a acompanhou, olhando as mãos que estavam unidas. Do caldo que fervia, começou a emergir dois objetos brilhantes, que pareciam alianças. Roberta ficou desconcertada e de um segundo ao outro, sentiu o dedo anelar da mão direita, queimando. E se separou bruscamente de Diego. Olhou para o anel que antes estava no caldeirão, agora preso no anelar.

- O QUE VOCÊ FEZ?! – perguntou ela, furiosa.

- Apenas selei a nossa aposta, com o voto do prisioneiro. Quando um de nós disser às palavras que você usou para o feitiço, o anel se quebrara e então…

- Eu ou você teremos ganhado… e por que essa coisa absurda?!

- Tinha que se tornar oficial. Assim ficamos no direito de exigir o prêmio, porque senão a maldição do prisioneiro cairá sobre nós.

- Que feitiço mais sacana! – disse Roberta, morrendo de nojo da cara de seu namorado idiota. – Não acredito que eu te ajudei nisso!

- Agora é tarde para reclamar!

- Em pensar que há meia hora atrás, eu estava rindo com você… - disse ela, numa espécie de decepção.

- Hei, foi para garantir o trato! Do jeito que você tem andado lesa ultimamente… fiquei até com medo de que fugisse e eu não pudesse receber o meu pagamento.

- Da onde você tirou que ganhará a aposta? – o encarou com fúria.

- Por que eu sempre venço!

- Veremos, Shynaider!

Preferindo não olhar o sorriso de desprezo no rosto do loiro, Roberta apanhou a mochila e saiu correndo da sala. Agora estava presa a esse infeliz, asqueroso, FDP! Havia caído numa armadilha e isso era imperdoável.

Depois do curso do ACORAN, Davi, Daniel e Roberta saíram da sala, sorridentes, conversando sobre aquela primeira aula e sobre o vídeo do Magincian mais amaldiçoado de todos os tempos: Anúbis Haati. Que era um antigo mago egípcio e o causador principal da tragédia.

Sentaram-se enfrente ao enorme campo de esportes e ficaram olhando o sol indo embora.

Dificilmente conseguiriam explicar a bela da amizade, muito menos quando eram apenas seres cheios de sentimentos.

- Eu gostei muito da aula. Estimulou-me bastante a descobrir mais sobre Anúbis. Acho que ele teve problemas ou um complexo. Não sei… - disse Daniel, esticando as pernas.

- Achei meio ego centrista o Anúbis – mencionou Davi, deitando a cabeça na mochila.

- Como o Diego Shynaider. Os dois dariam certinhos! – disse Roberta, escorando-se na árvore.

- Você ama o Diego, não é? – perguntou Daniel, fitando-a.

- Não… - Davi arregalou os olhos. – Quero dizer… eu gosto “muito” dele… mais não é amor – sussurrou quase que para si mesma.

- Toda vez que estão juntos, parece que vai explodir uma guerra – disse Davi, cínico.

- Ah, como se eu pudesse controlar o humor do Shynaider – refutou ela, brincando com a ponta da gravata. – Mas, voltando ao assunto anterior… o vídeo parece ser um pouco velho, não é mesmo?

- Pra mim foi gravado quando os dois amigos dele ainda estavam do seu lado. É misterioso o real motivo que levou Anúbis a usar magia antiga – disse Davi.

- Nem tanto. Pelo que se sabe, ele fez isso por causa de sua namorada, que na época, foi humilhada por uma classe de Magincian inferior – Daniel falara, antes de apontar dois dedos para o ar – Olhem isso… a minha magia consegue produzir cenas…

No ar começaram a surgir pessoas, como se fosse uma pequena tela de TV. Tinha o fundo preto e dava pra se ver as miniaturas gesticulando coisas. Os três riram quando apareceu uma mulher obesa e esmagou o pequeno homem que cantava algo inaudível.

- Como foi que fez isso? – perguntou Roberta, quando sumiu a cena.

- Meu pai era ilusionista e me ensinou alguns truques. Não que eu seja bom, mas da pra distrair alguns com isso.

- Você consegue transfigurar alguém inteiro? Como um… holograma? – perguntou Davi, impressionado.

- Não… ainda não. Sou muito novo pra fazer isso. Precisasse de um tempo usando magia. Há alguns feitiços que podem melhorar essa função, mas acho arriscado mexer com o que não conheço.

- É, vou me lembrar disso… - murmurou Roberta.

- Ah… desculpa perguntar, Roberta, mas… cadê o Dieguinho? – quis saber Davi, encarando a amiga.

- Não sei. Depois… que o professor nos expulsou da sala… fiquei só vinte minutos e BOOM! Ele sumiu! – disse ela, sorridente.

- Mentirosa! Você deve ter transformado ele num camundongo! – brincou Davi, fazendo Daniel e ela rir.

- Tá certo que ele me irrita, mas não é pra tanto…

- Esse anel é de compromisso? – perguntou Daniel, fitando a mão dela.

- Verdade, Roberta. Eu fiquei em duvida se perguntava ou não – comentou Davi.

- Ah… não sei o que deu nele… veio com essa história de que todo namorado deve ter um símbolo… ah… só sei que ele me deu! – mentiu ela, sentindo a face corar.

- Ele te trata bem? – Daniel a fitou nos olhos.

- Tanto que um dia vamos nos casar, não é amor? – disse o loiro, encima da árvore que Roberta se escorava, fazendo os três se assustar.

- Dieguinho! Desde quando está ai? – perguntou Roberta, o encarando com recente mal-humor.

- Desde muito antes de vocês chegarem. Então, o curso foi tão bom assim? – perguntou ele, entediado.

- Você sabe qual é a resposta, já que estava nos espionando – respondeu a garota.

- Hei, Davi, como anda cara? Não temos nos falado muito – Diego mudou de assunto rapidamente.

- Ah… eu vou bem. Você eu nem preciso perguntar… - sorriu Davi com malicia.

- Não sabia que eram amigos – disse Daniel, olhando para os meninos.

- Desde quando éramos crianças – respondeu Diego, descendo da árvore e ficou de pé, escorado na mesma, com braços e tornozelos cruzados. Jogou um beijo para Roberta, que o fitava com desdém. – Você joga no time dos Willian não é? – perguntou a Daniel.

- Sim. Mas antes eu jogava pra escola – disse o garoto.

- Vi alguns jogos seus. Não deveria jogar pra eles. Você é bom!

- Obrigado.

- Mas então, por que está querendo se formar em Magia campestre, se você é um ilusionista? – perguntou Diego, cheio de cinismo.

- A minha família passou por dificuldades financeiras e… foi à única coisa que consegui garantir na escola – respondeu Daniel, meio ultrajado.