Fanfic: Além das Palavras - DyC

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Enquanto Luís dirigia em direção a minha casa em silêncio, eu aproveitei pra ficar apenas olhando pela janela. Estava ansiosa pra chegar logo em casa e poder parar de fingir sorrisos. Não ter que dizer que estava gostando da noite quando na verdade estava odiando.

- Chegamos - Ele estacionou o carro em frente a minha casa e tirou o sinto de segurança, se virando pra mim.
Suspirei desanimada. É óbvio que ele esperava que agora eu o convidasse pra entrar.

- Hum, obrigada pelo jantar. - Falei enquanto tirava o sinto também.
- Que tal um café? - Ele disse sorrindo, se convidando para entrar.
- Seria ótimo, mas está tarde já. Fica para outro dia, ok? - Forcei um sorriso e me inclinei para lhe dar um beijo na bochecha. Luís virou o rosto de propósito e nossas bocas se encontraram.
Ele me beijou e eu correspondi automaticamente. Não senti absolutamente nada.
Nos separamos e eu ainda fiquei por um tempo o fitando com uma certa esperança que algo acontecesse, que meu coração começasse de repente a bater loucamente e eu percebesse que estava apaixonada por ele. Mas nada disso aconteceu.

- Boa noite - Foi só o que consegui dizer e sai do carro antes que ele sequer pudesse me responder.

Entrei em casa e fechei a porta, me escorei de costas da parede ao lado e fiquei por um tempo em silêncio de olhos fechados. Por que era tão dificil? Por que eu simplesmente não me apaixonava por Luís e esquecia DELE??

- Dona Dulce?

Abri meu olhos e vi Rosa, a baba de Lara, me olhando curiosa.

- Oi Rosa, tudo bem por aqui? - Perguntei.
- Tudo bem, Lara já está dormindo. Tava tão feliz antes, a senhora precisava ver. - Disse carinhosa.
- É?Qual o motivo da felicidade?
- Falou com o pai por telefone.

Então finalmente eu senti o que minutos atrás gostaria de ter sentido quando estava com Luís. Meu coração parecia ter dado um salto.

- Com o pai? Ah....
- É, ela pediu pra mim ligar para ele. - Rosa comentou, aparentemente sem perceber como eu ficara desconcertada só dela falar dele.
-Ela sente falta dele - Falei, minha voz um tanto estranha. "Eu também sinto" admiti em pensamento e imediatamente movi a cabeça como se quisesse espantar esse tipo de confissão para longe...

- É, isso vai melhorar agora né?
- Como assim? - Perguntei confusa.
- Ué, agora que ele voltou para o México vai poder passar mais tempo com a filha e...
- Voltou para o México? - Perguntei espantada.

Rosa me olhou, pareceu confusa também.
- Ele não disse pra senhora? - Perguntou surpresa.

- Não nos falamos a muitos meses, Rosa. Quando ele vem pro México pra ver a Lara é você que o atende, lembra?
- É, bem, mas enfim... Depois de falar com a Lara ele me disse rapidamente que estava de volta no México e dessa vez para ficar.

Eu não consegui falar nada.Não esperava que ele voltasse para cá algum dia, havia ido para os EUA a quase um ano... Lembro que foi uns dias depois de nos separarmos...

- Sei que nesse momento você deve estar me odiando - Ele disse com a voz rouca, sem se aproximar muito de mim. - E que o que eu faço ou deixo de fazer da minha vida pouco te importa...

Eu virei as costas pra ele, pra esconder as lagrimas que já enchiam meus olhos. Como ele podia ser tão burro?Como não percebia que o que ele fazia da sua vida ainda me importava? E será que era tão cego que não percebia que o que eu sentia por ele estava longe de ódio?

- Mas preciso te informar que vou embora do México - Ele continuou.
Eu me virei rápido pra ele, abandonando todo o fingimento.
- Vai embora? - Perguntei, minha voz baixinha.

Era a primeira vez que o olhava de perto desde a nossa briga, desde aquele dia horrível em que dissemos coisas que machucavam até agora só de lembrar...

Seus olhos estavam inchados e sua aparência era péssima, parecia exausto. Eu sabia que minha aparência não era muito melhor do que a dele...

- Vou. Recebi um convite para participar de um programa lá nos EUA e aceitei. Acho... acho que é melhor eu ficar longe daqui - Seus olhos encontraram os meus, demonstravam uma enorme tristeza.

Lagrimas escorreram pelo meu rosto e eu me apressei a secá-las, ele me deu as costas e colocou as mãos na cabeça parecendo lutar contra algo dentro dele.

- E a Lara? - Perguntei, minha voz tão fraca e baixa que fiquei surpresa que ele tenha me ouvido.
- Virei sempre que puder para ve-la. E ligarei todos os dias. - Ele voltou a se virar, seus olhos não procuraram mais os meus - Confio em você e sei que cuidara muito bem dela.
- É claro que cuidarei! - Respondi.

Ele balançou a cabeça afirmativamente.
O silêncio que se seguiu foi um dos mais longos que já passei perto dele. Minha vontade era de esquecer todos os nossos problemas e correr para abraçá-lo. Mas eu sabia que não podia fazer isso, as coisa snão funcionavam assim.
Então era isso? Ele iria embora, nunca mais ficariamos juntos.
Eu não conseguia acreditar... uma dor insuportável me atingiu, era pior do que qualquer dor física.

Ele não me deu tchau, nem sequer me olhou...
passou por mim e segundos depois ouvi a porta bater informando que ele se fora... da casa e da minha vida...

- Dona Dulce?

Rosa me chamou, me trazendo de volta daquelas lembranças tão tristes...
Eu sequei o canto dos meus olhos quando percebi que estavam molhados, suspirei tentando me acalmar.

- Hum... Oi. - Respondi ainda meio afetada.
- Então, posso ir? A senhora quer mais alguma coisa?
- Ah não, pode ir sim. Obrigada por cuidar da Lara. Nos vemos amanhã. - Respondi.

Rosa se foi e eu ainda fique alguns minutos parada ali sozinha, perdida em meus pensamentos e sentimentos....