Fanfic: UM PEQUENO FAVOR AYA finalizada

Sabia que era um homem temperamental e nunca entendera como Pauline o tolerava. Mas era agradecido por ela continuar com ele. Teria de dar a ela um aumento ou mandá-la em um cruzeiro ou algo parecido. Sua devotada secretária era insubstituível, e ele não queria perdê-la.

De repente, de algum lugar atrás de si, escutou o choro de um bebê dentro do avião.

Gabriel!

Como um bobo, se virou no seu assento na primeira classe para olhar. Algumas filas atrás, viu uma mulher segurando um bebê em seu ombro. A criança estava usando um babador, e a mulher batia nas costas dela para tentar acalmá-la.

A visão fez Alfonso se sentir arrependido, e ele virou para frente de novo e tentou afastar a imagem de sua cabeça. Droga, um dos motivos que viera nessa viagem era para tentar não pensar mais em Anahí e Gabriel. Mas devia saber que era uma idéia burra. Todos os lugares, tudo fazia com que se lembrasse deles dois.

A última semana fora pior do que poderia imaginar. Nunca sofrerá tanto em toda sua vida. Nem quando encontrou os papéis de sua adoção e descobriu a verdade sobre seu nascimento.

Na noite em que saíra da casa de Anahí, não esperara sentir esse tipo de tristeza que estava pesando sobre seus ombros. Esperara se sentir um pouco mal por um ou dois dias, depois sua cabeça esqueceria e ele perceberia que estava aliviado de ter se dissociado dessa situação familiar que criara ficando com Anahí.

Infelizmente, não acontecera da forma como esperara. Até agora, não sentira nada parecido com alívio. Desejava ver Anahí. Queria abraçá-la, fazer amor com ela, como fizeram antes. Queria ver o pequeno Gabriel, colocá-lo em seu peito e beijar seu rostinho macio.

― Senhor?

Sentiu tocarem em seu ombro, olhou para cima e encontrou uma jovem com cabelo encacheado preto se inclinando sobre ele. Por uma fração de segundo, o rosto de Anahí se formou na sua frente.

― Senhor, desculpe incomodá-lo. Gostaria de beber alguma coisa antes de decolarmos? Um refrigerante, água, uísque ou uma Coca, talvez?

Alfonso mentalmente despertou e olhou para a comissária de bordo. Era uma jovem muito bonita com um grande sorriso e olhos que brilhavam para ele. Em uma outra época, teria se aproveitado da situação. Mas hoje, a mulher não despertava o menor interesse nele. Sentia-se vazio e morto por dentro e sabia que esse vazio não seria preenchido apenas com um rosto bonito.

― Não, obrigado ― disse ele. ― Mas poderia me dizer quando vamos decolar?

― Acredito que vamos decolar em breve.

Ela continuou pelo corredor de passageiros, e Alfonso soltou um suspiro. Não tinha dúvidas, pensou ele de forma sombria. Era um homem arruinado.

Duas horas depois, o avião de Alfonso aterrissou no aeroporto RIO-Fort Worth International. Como só tinha uma mala de mão, caminhou direto para o terminal externo e começou a procurar seus pais na multidão. Os dois tinham insistido em pegá-lo no aeroporto em vez de deixá-lo pegar um táxi para casa no norte do Rio. Graças a Deus, encontrou a mãe bem rápido e chamou-a por cima das cabeças de muitos meninos barulhentos que estavam tentando passar para o outro terminal.

Onde estavam os pais desses pequenos monstrinhos? Nunca, sob nenhuma circunstância, permitiria que Gabriel se comportasse com tanta falta de educação em público.

Não se preocupe, Alfonso. Não será responsabilidade sua ensinar a Gabriel boas maneiras e respeito. Algum outro homem entrará na vida de Anahí para ajudá-la a guiar o menino até se tomar um homem.

― Alfonso! ― gritou sua mãe, animada.

Ela veio na sua direção, e Alfonso aumentou seus passos para atravessar a bagunça dos meninos e encontrar a mãe.

― Oi, mãe. Você está ótima. ― Ele deu um abraço forte e um beijo no rosto da mãe, enquanto ela sorria para ele com uma alegria que o deixava até com vergonha de si mesmo.

― Deus, é tão bom vê-lo de novo. ― Ela beijou-o também, depois se virou para o marido que estava atrás deles. ― Ele não está lindo, querido?

Pedro Calloway abriu um sorriso ao se aproximar e pegar a mão do filho. Com um aperto firme, Alfonso cumprimentou o pai. Então, no último momento, antes de soltar a mão dele, algo fez Alfonso se aproximar mais e dar um abraço no pai.

― É bom vê-lo, pai.

Pedro, um homem alto e robusto com cabelo grisalho, bateu no ombro de Alfonso com claro afeto.

― É maravilhoso tê-lo em casa por alguns dias, filho. ― O homem mais velho desviou o olhar de Alfonso e olhou para a esposa, e mesmo sem que nenhum dos dois dissesse nenhuma palavra, Alfonso podia ver que eles se comunicavam em silêncio, como casais faziam depois de estarem juntos por tantos anos. E ambos estavam expressando sua surpresa pelo cumprimento caloroso de Alfonso. A idéia deixou Alfonso se sentindo um pouco estranho, então se abaixou e pegou a bolsa de couro perto de seu pé.

― Bem, se vocês dois estão prontos, vamos sair daqui ― sugeriu ele. ― Esse vôo não foi fácil.

― Estávamos começando a nos preocupar ― disse Ruth enquanto os três iam na direção da saída mais próxima. ― Principalmente depois que ficamos sabendo que o vôo estava atrasado por causa de raios. Já não confio nesses aviões com o tempo seco, muito menos com uma tempestade.

― Bem, aqui está ele são e salvo, querida. Pode parar de roer as unhas ― implicou Pedro.

Ruth riu ao dar os braços para Alfonso.

― Seu pai está implicando comigo ― disse ela. ― Ele sabe que eu não conseguiria roer essas coisas de acrílico nem se tivesse dentes de aço.

A mãe de Alfonso estava sempre vestida de forma elegante com roupas femininas, e o cabelo e a maquiagem estavam sempre impecáveis. Ela era o epítome da dama de Rio, e Alfonso não podia deixar de pensar em como ela e Anahí eram diferentes na aparência externa, mas como se pareciam nas questões do coração. Ambas eram mulheres amorosas, carinhosas que colocavam as necessidades das outras pessoas na frente das suas. Quantos homens no mundo tinham a sorte de serem amados por mulheres assim?

Ei, Alfonso. Você não sabe se Anahí chegou a amá-lo. Ela fez amor com você. Mas aquilo pode ter sido apenas sexo. E mesmo se foi amor, você estragou. Você mostrou a ela o cafajeste egoísta que é.

Graças a Deus, sua mãe começou a conversar, e Alfonso foi forçado a afastar os pensamentos infelizes de sua cabeça. Mas mais tarde, enquanto iam para a casa dos Calloway, a vozinha acusadora dentro dele continuou aparecendo.

Dois dias depois, no domingo de manhã, Anahí foi à missa com Gabriel, depois foi tomar café da manhã na casa dos pais. Não vira ninguém de sua família desde que Alfonso saíra de sua casa e que o pavor crescia dentro dela. Mesmo duvidando que algum destes soubesse o quanto ela e Alfonso tinham compartilhado nessas últimas duas semanas, sabia que sua mãe tinha decidido juntar os dois.

A idéia era suficiente para fazê-la gemer alto. Se sua mãe soubesse como ficara íntima de Alfonso, ficaria chocada. Ficaria mesmo? Sua mãe não era puritana. Sabia como era amar um homem com todo seu coração. E era assim que amava Alfonso. Tinha de encarar o triste fato.

Quando Anahí entrou na cozinha da casa de seus pais, ficou surpresa ao encontrar as duas irmãs sentadas tomando café da manhã. Maite e Dulce se levantaram para cumprimentá-la com um beijo e um abraço.

― Deixe-me pegar Gabriel ― disse Maite, já pegando o bebê do colo de Anahí. ― Nossa, ele está crescendo muito. E tem os olhos tão espertos. Acho que ele realmente está nos vendo.

― Ele provavelmente está vendo tudo que vocês, suas meninas tagarelas, estão fazendo ― implicou José da cabeceira da mesa, onde tentava ler seu jornal de domingo.

― Ah, papai. Que feio ― repreendeu Dulce. ― Suas filhas sempre foram calmas e educadas.

Enquanto Maite se sentava com Gabriel cuidadosamente aninhado em seus braços, José abaixou o jornal e riu.

― Calmas e educadas? Querida ― ele chamou a esposa. ― Escutou a sua filha? Talvez devamos pegar alguns vídeos antigos.