Fanfic: Ti Ti Ti

Cena começa de fora do ateliê de Jaques onde as modelos estão entrando
pela porta da frente.

Jacques: Não, não por aqui não! Por trás, por trás!
Vão se preparar para o desfile vamos! Cadê o motorista? Quem é o responsável,
aliás, o irresponsável por esse atraso?

Jaques vira e vê
Ariclenes

Jacques: Ariclenes Martins!

Ariclenes: Em carne e osso, André Spina!

Eles ficam cara a cara e
depois começa uma briga com os dedos.

Ariclenes: Quanto tempo, André Spina!

Jacques: Ariclenes Martins, quem te viu quem te vê, hein?
Então agora você ta trabalhando de motorista, é? Para quem se dizia o rei da
cocada preta você não parece ter ido muito longe! (Ri debochadamente)

Ariclenes: Re, re, re! Então quer dizer que este aqui é seu
ateliê?

Jacques: É, é! Gostou?

Ariclenes: Adorei! É uma mistura de rococó com ruínas gregas!
Eu nunca vi coisa tão cafona em toda minha vida!

Jacques: Ariclenes, o que te mata é essa tua inveja!

Ariclenes: Inveja! Você que sempre teve inveja de mim!

Jacques: Eu? Inveja? E por que que Jacques LeClair teria
inveja de um coitado feito você?

Ariclenes: Você sabe que eu, que eu nunca esqueço da sua cara
de ódio quando eu fui o primeiro a ganhar a loteria nesse país, e também lembro
da sua cara quando eu saí do Belenzinho montado naquela Ferrari espetacular!

Jacques: Eu também me lembro da sua cara quando você voltou
pro Belenzinho com uma mão na frente e outra atrás! A cara que você fez quando
voltou para aquela vilazinha ordinária!

Ariclenes: Vilazinha ordinária da qual você saiu também!

Jacques: Saí sim! Mas para nunca mais voltar! Olha pra mim e
olha pra você, Ariclenes Martins! Olha onde eu estou e olha onde você está!
Agora eu estou montado na grana, cheguei ao topo!

Ariclenes: Que topo? Que topo? Que topo o quê? (Rindo) Um salãozinho mixa desses com
meia dúzia de perua brega é? Topo é o Carlos Brielle que tem até loja em Nova
Iorque!

Jacques: Brielle está onde ele está, viu?

Ariclenes: Sabe para você o que significa o mundo da moda?
Isto aqui! (Faz um zero com os dedos) Zero!

Jacques: Olha Ari, eu vou mandar o garçom servir um
carapezinho para você, viu?

Ariclenes: Vai! Vai pela sombra! Vai capacho de rico!

Jacques: Quê que é? Se manda daqui, ô capacho de ônibus
Penha-Lapa!

Jacques dá as costas e entra
no seu ateliê

Ariclenes: Vai André! Você vai ver o espetáculo que vai ser o
seu desfile!

Cena muda para Belo Horizonte. Na casa do Julinho e Osmar. Osmar está
com a porta aberta e seu pai Gustavo está de fora. Julinho está na sala.

Gustavo: Posso entrar!

Gustavo entra

Julinho: Boa noite, doutor Gustavo! Bem vindo a nossa casa!
Eu sou o Julinho! (Estende a mão)

Gustavo olha com uma cara
fechada para ele e o cumprimenta

Osmar: Que surpresa, pai! Não esperava que o senhor viesse
até aqui!

Gustavo: Eu não tinha opção já que você não atendia meus
telefonemas!

Osmar: Aconteceu alguma coisa com a mamãe?

Gustavo: Você não parece está se importando muito com isso!

Osmar: Quando ela foi operada eu corri para São Paulo. Que
diabos o senhor ta me cobrando? Depois de ter me expulsado feito um cão
sarnento naquele hospital!

Gustavo: Sua mãe quer ver você, Osmar!

Osmar: Ela já está curada do câncer, a doença já foi
superada eu não tenho mais nada que fazer naquela casa!

Gustavo: Osmar! Osmar, Osmar! A quimioterapia não tem sido
nada fácil não! Sua mãe não se alimenta direito, não dorme direito, ela ta
muito fraca e fala em você dia e noite! Eu jamais viria por vontade própria, se
eu estou aqui é porque sua mãe precisa de você!

Osmar: Isso é chantagem!

Julinho: Pega leve, Osmar!

Gustavo: Eu preferia que essa conversa fosse só entre nós! É
possível?

Osmar: Não, não é possível!

Julinho: Olha na verdade, eu tenho umas coisas pra fazer lá
em cima, vocês dois fiquem a vontade, ta bom?

Julinho sobe as escadas, mas
para ao lado da parede sem ser visto por eles, para escutar

Osmar: Por que você tratou o Julinho desse jeito?

Gustavo: Eu não tenho o porquê tratar bem desse rapaz! Ele
não é nada meu!

Osmar: Mas é meu! É meu companheiro, é meu parceiro, é
meu...

Gustavo: Eu não vim aqui falar sobre a sua vida particular
não, eu vim trazer um recado da sua mãe! E você goste ou não goste você vai ter
que se juntar a mim e ao seu irmão e dá todo carinho e afeto que a sua mãe está
precisando!

Osmar: O que você espera que eu faça?

Gustavo: Que você seja mais discreto! Ela não pode saber que
você...

Osmar: Que eu vivo com outro homem, é isso? É?

Gustavo: Osmar! A sua mãe habita um mundo a parte, um mundo,
um mundo de fé! Aonde não existe esse tipo de anormalidade!

Cena muda para Renato e Marcela conversando.

Renato: Como é que é? O que você falou?

Marcela: Eu falei que eu to grávida, Renato! Eu falei que eu
to grávida! Eu to esperando um filho, um filho seu! Isso não é maravilhoso,
olha eu não ia te contar hoje, só ia contar amanhã depois que eu pegasse o
resultado do exame! Só que foi me dando um nervoso, eu falei: “Eu tenho que
falar para ele porque senão eu vou morrer”!

Renato está com uma cara de
decepção e chorando

Marcela: Que foi Renato? Parece que cê não gostou da notícia
que eu te dei? Olha é um pouco cedo para a gente começar a pensar nessa
criança! Eu sei, eu sei que não são as melhores condições para a gente ter esse
filho, Renato! Mas se tem uma coisa que não vai faltar para essa criança, é
amor! É muito amor!

Renato: Para!

Marcela: O quê?

Renato: Chega desse teatrinho ridículo! E levar uma vida
pobre e feliz! Eu já saquei! Eu sei que você sabe de tudo!

Marcela: Sei de tudo o quê?

Renato: Sabe que eu sou um cara rico! Você sabe que meu pai
é uma das maiores fortunas de BH!

Marcela: Como é que é?

Renato: Para de bancar a sonsa garota! Vem cá, você tá
pensando o que, hein? Você tá pensando que é a primeira a tentar me dar o golpe
da barriga? Esse truque é mais velho que andar para frente!

Marcelo: Espera aí, Renato! O quê que ta acontecendo? Eu não
to entendendo! O que você está dizendo?

Renato: A gente transou uma única vez sem tomar cuidado!
Porque você garantiu que tava no seu período fértil!

Marcela: Mas eu tava mesmo! Renato, eu não sei como isso foi
acontecer! Só que aconteceu!

Renato: Você fez tudo de caso pensado! Engravidou de
propósito, sua portunista! Eu caí que nem um pato, né? Eu que fui o imbecil! Eu
que fui um cretino de acreditar que você era diferente das outras! Mas não!
Você é igualzinha!

Marcela (Emocionada): Peraí, então! Cê
não é nada daquilo que cê disse! Cê é rico?

Renato: Sou! Renato Villa! Filho de Giancarlo Villa, dono
de um grupo empresarial do mesmo nome! Por que eu to te falando tudo isso,
hein? Você deve ter puxado a minha ficha completa!

Marcela: Espera aí, Renato, espera aí! Quem mentiu para mim
foi você! Por quê que você fez isso? Para quê você falou que era pobre? Por
quê?

Renato: Para saber se você gostava de mim de verdade!

Marcela (Chorando): NÃO! Agora quem não acredita
em você sou eu! Cê tava pouco se lixando pro que eu sentia Renato! Cê tava
pouco se lixando! Para você eu era qualquer uma que você pega, usa e depois joga
fora! É isso que você fez comigo!

Renato: Não vem querer inverter o jogo que eu não caio
nessa não!

Marcela: Deve ter sido muito engraçado! Cê levar numa
conversa uma pobretona burra feito que nem eu! Só que agora chega! Chega! Nunca
mais cê vai me vê!

Marcela indo embora Renato a
pega pelo braço

Renato: Espera!

Marcela: Me solta!

Marcela sai chorando

Renato: Eu não acredito!

Cena volta para São Paulo. No ateliê de Jacques Le’clair, no backstage. Onde estão arrumando as
modelos para desfilar. Mabi e Valquíria estão lá também.

Cabeleireiro: Não vai dar tempo de arrumar o cabelo de todas!

Maquiador: E a maquiagem? To quase desistindo!

Mabi: Então vamos fazer uma coisinha bem cline!Um
pozinho, um delineador e um brilhozinho nos lábios!

Valquíria: Que isso, Mabi? Não tem nada de cline no ateliê do
papai!

Mabi: Então, ta na hora de inovar!

Jaqueline entra

Jaqueline: Oi! Oi! Oi! Posso ajudar?

Maquiador: Quem te chamou?

Jaqueline: Oi?

Mabi: Gostei do seu cabelo! Que tal você ajudar a pentear
as meninas?

Jaqueline: Ai adoro pentear! Adoro pentear! (Pega uma modelo e começa a arrumar o
cabelo dela junto com o cabeleireiro) Eu tive uma coleção de perucas e
apliques. É, mas, meu marido tacou fogo! Depois que eu bati o carro no
estacionamento do aeroporto!

Thaísa entra

Thaísa: Mãe! O quê que você tá fazendo?

Jaqueline: Não tá vendo, filha? To ajudando a pentear as
moças!

Thaísa: Ai, mãe! Vem aqui! Vem aqui!

Thaísa puxa Jaqueline prum
canto

Thaísa: Se liga mãe! Esse desfile vai babar! O barco vai
afundar, vamos embora daqui enquanto há tempo!

Jaqueline: Thaísa! Eu não criei você para abandonar o barco!
Não fuja da raia, filha, ai, ai, ai, ai! Quê isso? Vai se veste! Não fica me
olhando com essa cara!

Thaísa: Mãe! Por quê que você tá fazendo isso?

Jaqueline: Não faz pergunta difícil, Thaísa! Ajuda alguém,
ajuda alguém! Ahh, aquela moça passando mal! Vai! Ajuda filha faz alguma coisa!

Cena muda para o ateliê do Jaques Le’clair, mas na parte que vai
acontecer o desfile.

Jaques: Por favor, por favor! Desculpe o contratempo! Em
poucos instantes, o espetáculo vai começar!

Pessoas: Ahh, até que fim! Nossa!

Júlia puxa Jacques para
conversar

Júlia: Mas afinal, por que esse motorista demorou tanto?

Jacques: Por que é o meu desafeto! O Ariclenes do
Belenzinho, ta lembrada?

Júlia: Ahh, meu Deus! Mas filho, vocês continuam inimigos
depois de tantos anos?

Adriano que estava ouvindo
interrompe

Adriano: Acho que eu sei de quem vocês estão falando! Podem
deixar, por que amanhã mesmo eu ligo para a  agência e faço a caveira desse sujeito!

Jacques: Ai mamãe!

Cena muda para o backstage do
desfile de Jacques. Jaqueline está arrumando as modelos.

Jaqueline: Linda, linda e linda!

Thaísa: Mãe! Eu acho que aquela modelo ali tá grávida!

Jaqueline: Grávida? A agência não mandaria uma modelo grávida!

Modelo dois: Ela tá enjoando porque  se encheu de pastel de bacalhau!

Modelo cinco: Eu não comi pastel! Só dois sanduíches de
mortadela!

Valquíria: E agora sua bestalhona? Como é que vocês pensam que
vão desfilar com o estomago estufado? É impossível!

Jaqueline: Impossível é uma palavra que não existe no
dicionário de Jaqueline Maldonado. Senta aqui, querida. (Pega a modelo cinco e senta ela na cadeira) Nós vamos ter que agir
e rápido! Vai, vai ,vai! Levanta a cabeça, vambora!

Jaqueline pega o cabelo para
arrumar, mas a modelo dá uma crise de vômito e vai ao banheiro

Jaqueline: Alguém acode!

 Cena muda para Belo Horizonte. Onde Osmar e Gustavo estão conversando.

Osmar: O que seria uma visão de lar perfeito pra você,
hein pai? Uma família de comercial de margarina? Toda certinha! Aí eu venho e
acabo com a visão do lar perfeito!

Gustavo: Osmar, me poupe desse seu número de vítima! Eu
nunca reprimi você! Você sempre fez da sua vida o que sempre quis! Você teve
toda a liberdade!

Osmar: Eu queria ser livre! Eu queria ser acolhido! Eu
queria ser aceito! Eu queria ser amado!

Gustavo: Eu estou aqui em nome da sua mãe, encarecidamente
pedindo para você voltar!

Osmar: Eu vou, mas às minhas condições, pai! Já ta na hora
da mamãe saber a verdade!

Gustavo: Sua mãe ta muito desabilitada, Osmar!

Osmar: Que passa o que ela passou! Que venha um monte de
pedra e volta, ela vê as coisas de outra forma, pai!

Gustavo: Você tem o direito de fazer da sua vida o que você
quiser! Mas a gente não é obrigado a agüentar! Se nós não somos os pais que
você gostaria de ter, você também ta longe de ser o filho que nós desejávamos!
Sua mãe tem a religião dela, tem os preconceitos dela! Enquanto ela estiver
doente você vai ter que respeitar! Eu comprei duas passagens para São Paulo
amanhã cedo!

Osmar: Só posso ir a noite! Eu tenho trabalho e não posso
desmarcar!

Gustavo: Que trabalho tão importante é esse, Osmar?
Certamente não é nada que vale a remuneração!

Osmar vai até a porta e a
abre

Osmar: A gente se vê em São Paulo!

Gustavo: Eu espero você!

Gustavo sai. Julinho vem e
abraça o Osmar

continua...