Fanfic: Garota Perfeita
— Estamos ocupadas — Celeste diz a Perry, toda metida. — Tente não tropeçar na calça
quando andar, Bozo.
— Tente não confundir seu Q.I. com sua idade — Perry diz a Celeste, dirigindo-me
novamente um aceno de cabeça e então se afastando com seu andar de malandro.
— Depois! — digo a Perry, encolhendo-me com o tom de desespero em minha voz. Irritada,
pergunto a Celeste: — Por que tem de ser tão cruel com ele?
— Ele é cruel comigo.
— Você foi cruel primeiro.
— Ora, e por acaso estamos no jardim-de-infância? Quem liga para Perry? Afinal, ele não é
seu namorado, Ruthie — afirma Celeste. — Eu não tenho de gostar dele.
Engulo em seco.
— Ele é meu amigo.
— Seu colega. Só porque vocês foram amiguinhos de infância não quer dizer que tenham de
ser amigos agora.
O que eu poderia dizer? Não tinha coragem de contar à minha melhor amiga que estava
oficialmente apaixonada por Perry Gould. Ela não consegue enxergar a alma de poeta dele
como eu consigo. E, se eu contasse a Frankie sobre esse meu novo sentimento por Perry, ela
imediatamente contaria a Celeste. E é por isso que Frankie será sempre a melhor amiga
número dois.
Mas, sobretudo, porque nenhuma das minhas amigas entenderia o que aconteceu na noite
da última sexta-feira. Particularmente porque eu mesma não entendo.
3
Fazia um calor delicioso lá fora, numa daquelas noites que antecedem o verão e que nos
deixam malucos porque as férias estão quase chegando, mas ainda não passamos pelas
provas finais. É como se estivéssemos loucos por liberdade, mas não conseguíssemos nos
soltar. Ainda não.
— Olhe isso aqui — disse Perry.
Estávamos na parte plana do telhado da casa dele — como sempre —, matando tempo.
Perry observava as estrelas pelo telescópio gigantesco que a mãe dele comprara com as
economias de quase dois anos. O aparelho estava voltado para o breu do céu, fixo em seu
tripé. Quanto a mim, eu pensava em como a vida pode ser determinada por um acidente.
Não no sentido de uma "batida de carro". No sentido de "sem querer". Onde você mora, por
exemplo. E o fato de que uma vida totalmente anormal tem de ser a sua vida porque isso foi
tudo que lhe foi dado.
— Ruthie, olhe isso aqui — repetiu Perry.
— É melhor que seja legal — eu disse. As estrelas e os astros, para mim, são uma perda de
tempo. A menos, é claro, que estejamos falando de Orlando Bloom.
Agachada, pressionei a ocular contra meu rosto.
— Está vendo? — perguntou Perry, entusiasmado.
— Estou vendo um ponto branco.
— E isso mesmo! — Ele se aproximou de mim. — Vega! E a estrela mais brilhante no
Triângulo de Verão.
Olhei, dando de ombros.
— Consegue ver a Épsilon de Lira bem ao lado dela? — ele perguntou. — Consegue?
Ora, então agora eu estava procurando dois pontos? Afastei meu olho do telescópio e
perguntei a Perry:
— Você às vezes pensa em como seria diferente se morasse no Alasca, na Califórnia ou em
Nova York?
— Essa é uma estrela dupla, Ruthie — ele disse. — Não dá para ver sempre.
— É isso que estou dizendo! Como pode ver quem você é de verdade quando está preso na
vida de outra pessoa?
Perry revirou os olhos. Já tivéramos essa discussão antes.
Nós dois havíamos sido apanhados numa cilada maternal. Ambos filhos únicos. Ambos sem
pai. O pai de Perry foi embora com uma terapeuta de shiatsu de Dover quando ele tinha 2
anos. Meu pai... bem, este nunca existiu. Mamãe me escolheu da mesma forma como se
escolhem lençóis.
— Quero os verdes para combinar com a colcha. Mas eles têm de ser do tamanho certo,
porque precisam se ajustar ao que já tenho.
Autor(a): rafakulling
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