Fanfic: CANCELADA
Todos na pacata cidade conheciam a história da poderosa e monarca família Saviñon. Conheciam, com detalhes, a elegante vida que a esposa do monos archon possuía. Conheciam, ainda com mais detalhes, a vida das esbeltas filhas do governador. Não era de se surpreender, pois estas mesmas eram endiabradas e viviam metidas em cantos sujos aos quais seus pais nunca sonhariam em encontrá-las. Disfarçadas de anjos, verdadeiros diabos. Carnais, ousados, proibidos, sensuais. As pequenas sabiam qual efeito surtiam, e sabiam como poderiam se aproveitar de cada curva ou cada mero e pequeno detalhe de seus preciosos corpos sobre qualquer homem que prezasse a sua sexualidade.
Era engraçado, a certo ponto, vê-los desejando-as com os olhos, implorando por atenção, por um segundo no céu; ou no inferno.
Era ainda mais engraçado ver como o efeito de Claudia e Blanca não me afetava em nada. Elas eram maravilhosas e não precisavam de minha simples opinião para chegar àquela conclusão. Eu era homem, tinha certeza daquilo, mas não era pelo fato de não encontrar algo realmente especial - e que valesse - nelas que me considerava menos viril.
Os olhos e olhares delas, por mais que ardessem em chamas por descobertas, por paixão, eram frívolos, tristes, despedaçados. Com aqueles olhares, com aqueles gestos ensaiados, eu conseguia desvendar a verdadeira face oculta da família perfeita Saviñon.
Conseguia, para a minha infelicidade, adivinhar facilmente como o mar de rosas que supunham ser a vida daquelas duas almas perdidas, era na verdade, um mar de espinhos.
Como não podiam se ferir ainda mais, como não podiam serem puxadas ainda mais para baixo, desperdiçavam o resto da magia que possuíam procurando a felicidade, o amor, mesmo sabendo que nunca o encontrariam.
Para tão belas moças, criadas em uma família com boas condições e tão consagrada, as pobres meninas se transformavam, pouco a pouco, em cinzas. Desgastavam-se, destruíam... Morriam. O brilho diminuía, os sorrisos escureciam, os rebolares pausavam, as estrelas caíam.
Homens, animais tão imbecis a ponto de se preocuparem demasiado com o que possuem entre as pernas e tão desconexos do mundo real. Tão egocêntricos, tão nauseantes, tão brutos. Desejando somente uma noite de prazer, um gemido ao pé do ouvido, um agrado em seu íntimo. Carentes de elogios, de carinhos, de pura luxúria. Homens, seres tão nojentos, que se dizem tão amantes, tão apaixonados por mulheres, quando na verdade são apaixonados pelo próprio ego, pela própria virilidade.
Eu parecia ser o único, naquele dia de verão exageradamente quente, socado em uma mesa suja de boteco, a enxergar como as pequenas adoráveis estavam desconfortáveis. Fui, creio eu, o único a enxergar através da fumaça seca dos cigarros acesos, como a mais velha, Claudia, apertava com força a madeira gasta da mesa entre os dedos brancos, revirava os olhos amendoados e levava o copo de água imundo até a boca, procurando afastar o mal- estar que sentia. - Porcos imundos. - rugi entre dentes.
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Voltei minha atenção ao meu próprio copo de cerveja, a qual já perdera a graça, e roguei pragas em todos aqueles imbecis que as cercavam, que as tocavam, por não terem o menor senso de noção do que se passava ao redor. - Um copo de aguardente, por favor.Movi um pouco o meu rosto para poder mirar os cabelos castanhos sed ...
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