Fanfic: CANCELADA
Em típica cena clichê, choveu naquele dia, no dia do enterro da filha mais velha dos Saviñon, a primeira de três meninas... Eu diria a primeira de três demônios.
Abraçada a mãe, Blanca parecia a mais inconsolável de todos ali presentes, chorando compulsivamente agarrada a um lencinho branco, que contrastava com sua veste negra.
Fernando Saviñon mantinha-se neutro enquanto a mulher desandava a sua frente, foi quando uma mais nova, de cabelos vermelhos e olhos amendoados o abraçou que toda a atenção voltou-se para ele. O terceiro demônio havia chegado...
Dulce María Saviñon. A mais nova das herdeiras.
Mas nem por isso a mais santa, a diferença de Dulce para Blanca e Claudia, é que as mais velhas há tempos assumiram a face de endiabradas, os olhos sempre brilhando para o perigo, sempre em busca de novas fantasias tentando encontrar o que hoje quase não se existe - o amor. Enquanto Dulce não, mantendo-se mais reservada ela faz pose de anjo, com os cabelos vermelhos batendo contra o vento e os olhos amendoados brilhando pelo desconhecido, ah quem a vê pensa ser a visão do paraíso - mas Dulce pode levá-lo do paraíso ao inferno em um segundo.
Sua diferença é agir nas sombras, sorrateira, não escancarada como as irmãs.
Talvez isso lhe garanta um destino diferente do de Claudia - ou talvez um pior ainda.
Dulce era no mínimo irreverente, quando a poeira da morte de Claudia - e as infinitas fofocas sobre o que teria acontecido com tão boa moça - passou e tudo começou a voltar aos eixos, Dulce voltou a desfilar pelas ruas de cidade tão pequena, então, obviamente, não era difícil conseguir as atenções.
Homens se igualavam a gatas no cio quando Dulce rebolava - e ela tinha plena noção dos efeitos que causava. E o sorriso diabólico em seus lábios avermelhados só demonstrava o quanto ela gostava da sensação... Era como se lhe desse poder.
Batendo com o copo imundo sobre o balcão eu pedi mais um trago daquela bebida amarga, o gorducho com óculos sujos me encarou e fazendo cara feia encheu o copo. Um gole.
Os risos começaram altos e eu me virei para ver, só podia ser, as irmãs Saviñon vinham entrando, uma de braços dados a outra, Dulce jogava o cabelo para trás emitindo uma gostosa gargalhada enquanto Blanca vasculhava o lugar atrás de sua próxima tentativa frustrada.
Acho que esse é o grande objetivo da vida de Blanca, quase todas as noites aqui está ela, sempre olhando para homens diferentes em sua incansável busca. Talvez se ela parasse de procurar tanto ficaria menos frustrada, quero dizer, homens gostam de ir atrás das mulheres - ser seduzido por uma Saviñon por uma noite pode ser motivo de glória, mas para o resto da vida vira motivo de chacota.
E também, quem sabe se ela se frustrasse menos um pouco do brilho voltaria a seus olhos - que por sinal encontravam-se cada dia mais opacos. E nesse momento surgia a grande diferença com Dulce, digo, todas as irmãs cresceram juntas, mas só Claudia e Blanca escancararam a vida que preferiam levar - mesmo que o senhor Fernando, papai delas não tenha muita noção disso . E assim só as duas perderam o brilho, quero dizer... Eu vi Dulce crescer nessa cidade - todos nós vimos - e enquanto Claudia e Blanca perdiam o brilho, Dulce tornava-se cada vez mais endiabrada.
Parei para encará-la e ali estava, com os olhos brilhando de um motivo desconhecido Dulce gargalhava ao aumentar o som para logo começar a rebolar.
A estrela de Claudia havia se apagado de vez. Blanca caminhava pelo mesmo caminho... Mas Dulce mantinha-se inatingível.
- Mais uma vez aqui - a voz dela penetrou como um doce veneno.
Prévia do próximo capítulo
De fato Blanca e Claudia em nada me afetavam, e eu não me achava menos homem por isso, mas quando o assunto era Dulce, era impossível não pensar nela. Mas eu preferia me conter, não como os porcos imundos dessa cidade que só de olharem para as irmãs Saviñon começam a acariciar o que possuem entre as pernas como gatas no ...
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