Fanfic: Casando-se Por Vingança

Alfonso Herrera atravessava o saguão de cabeça baixa. Estava atrazado e franzia a testa, bastante preocupado com a reunião da qual participaria para notar a surpresa das pessoas que o reconheciam ao passar acompanhado por um pequeno séquito.
Um som despertou sua consciência feito um raio e o fez erguer a cabeça. Ficou paralisado, cada pensamento em sua mente sendo completamente apagado pelo que seus olhos negros viram.
Ela estava há poucos metros de distância, saindo de um elevador. Suas entranhas se reviraram como se tivesse dado um incrível mergulho. Mal podia acreditar. Fazia anos que não colocava os olhos nela, mas, ainda assim, o leve e indistinto som que fizera fora capaz de deixá-lo imóvel, como se seu cérebro não fosse capaz de registrar que ela estava bem ali, em carne e osso!
Ela não o notara porque maninha a cabeça baixa, os maravilhosos cabelos loiros presos no alto da cabeça em um daqueles nós irritantes, sempre o desafiando a soltá-los.
Era o que faziam naquele instante, atiçando os nervos de seus dedos a se movimentarem, enquanto algo mais potente se sobressaltava em outra parte de seu corpo.
Anahi...

O nome impregnou seus sentidos com uma forte e complicada mistura de ódio e prazer. Três anos atrás a expulsara de sua vida sem pestanejar, para depois passar o ano seguinte descontando sua amargura em qualquer um que ousasse desafia-lo.
Fosse por negócios ou prazer, ele jamais tivera escrúpulos. Ela trabalhara para ele, conquistara seu respeito. Nenhuma mulher, antes ou depois, recebera tamanha confiança. Ela vivera em seu apartamento e compartilhara de sua cama. Atualmente, ele dormia sozinho; outras “atividades físicas” eram realizadas em qualquer outro lugar.

Na verdade, ela o despojara de muitas coisas, não era surpresa que estivesse fervendo de ódio.
Mas, Dio, ela parecia bem. Mesmo usando um insípido terninho cinza, que parecia ser um numero maior, ela atormentava-lhe os sentidos com o que ele sabia estar escondido sob camadas de roupas baratas.
Semelhantes as usadas antes de transforma-la em uma magnífica beldade.
Aquele sentimento estranho agitava seu peito, causando uma pontada de desconforto ao lembrar que ela tinha deixado tudo para trás quando a mandara embora.

Ela andava em sua direção com a cabeça inclinada, como se estivesse tão ocupada com os próprios pensamentos quanto ele. Seus olhos se estreitaram enquanto a observava se aproximando. Uma fina camada de suor eriçava sua pele enquanto esperava que os olhos emoldurados por cílios dourados se erguessem e revelasse o vivido par de olhos verdes, que logo ficariam tão escuros de espanto quanto os dele.
Queria vê-la assustada. Precisava disso tanto quanto um homem possuído por um desejo febril precisada de outro corpo junto ao seu.
Será que ela estava trabalhando na Hannard? Será que, involuntariamente, fizera a bela e traiçoeira Anahi Puente pagar novamente pelo que lhe causara?

Cerrou os dentes brancos na expectativa de que ela erguesse a cabeça. Já estava bem próxima a ele. Seus nervos estavam prestes a explodir. Ela esbarraria nele em questão de segundos! A ansiedade rosnava dentro dele feito um lobo pronto a atacar.
Ela parou repentinamente. Todo aquele turbilhão de sentimentos o engoliu completamente ao imaginar que ela pressentia sua presença.
- Não, Nicky. Não adianta tentar se soltar da minha mão. Sabe que a mamãe não vai deixar.
Como um homem que sobrevive a uma tempestade e cai em um redemoinho, Alfonso baixou o olhar. Se tinha ficado atordoado quando a vira, nada se comparava à experiência que teve ao enxergar o menino, em roupa de sarja, que lutava para se libertar da mão dela.

Os cabelos pretos e ondulados ornavam o rostinho bonito. Um par de olhos escuros encarava a mãe com determinação.
Nicky, ele pensou.
Nicolo, concluiu então.
O filho dela se chamava Nicolo.
Bem ali no saguão da Hannard, Alfonso Herrera, o prático homem de negócios, o manipulador frio e insensível, quase desmoronou por completo.
A “desgastante fase dos dois anos”era um rotulo bem adequado no que dizia respeito ao seu filho, Anahi lamentou enquanto lutava para segurar a mão do menino com firmeza. Se lhe desse uma oportunidade, ele sairia causando confusão aonde quer que fosse. Caso se distraísse por um segundo, ele se tornaria um perigo a si mesmo.

- O parque – ela disse, usando o local para atiçar o lado mais complacente do filho – Se for um bom menino, poderemos ir até o parque.
- Macacos – ele respondeu.
- Não – Anahi retorquiu com firmeza – Os macacos moram no zoológico. O parque é mais perto.
- Gosto dos macacos.
- Tenho um bem aqui na minha frente – ela riu – Se ficar bem comportado hoje, veremos os macacos amanhã...
- Ele é meu.
A voz áspera como lixa fez os pelos de nuca de Anahi se arrepiarem. Tremeu, e seu sangue ameaçou congelar antes mesmo que erguesse a cabeça e se deparasse com os olhos negros que a encaravam com franca hostilidade.

Seu coração saltou no peito, quase parando. Era como encarar seus piores pesadelos, pensou ao observar o ameaçador homem de cerca de 1.90m. Os cabelos e olhos negros, o terno escuro que cobria os músculos bem definidos, mesmo os sapatos pretos e brilhantes, tudo parecia indicar que o demônio viera cobrar suas dividas.
- Não ... – foi tudo o que conseguiu dizer, incapaz de acreditar que Alfonso, dentre todas as pessoas a que mais odiava no mundo e que desejava jamais ver de novo, estivesse parado bem ali.
- Madre di Dio, é sim! – Alfonso tentou controlar a fúria em suas palavras.
Anahi piscou, ainda atordoada demais para perceber que ele não entendera o significado daquela vaga negação. Então, ela observou os olhos dele se dirigirem ao filho e se incendiarem com uma fúria maior.