Fanfic: Sorte no amor AyA finalizada

Como Sherlock Holmes descobrindo sua pista prin­cipal, o rosto de Dulce acendeu-se.

- A-ha.

- Sem a-ha, Dul. Estava no elevador com Alfonso Herrera. Você sabe o que penso dele.

Dulce ficou em silêncio por um instante.

- Você se lembra de ter lido Macbeth na faculdade? Anahí balançou a cabeça. Não gostava do tom de

voz de Dulce. Ou do rumo daquela conversa.

- Não, sinto muito, com exceção da formatura, não lembro muito da faculdade.

- Havia nele um trecho sobre Lady Macbeth. Algo sobre ela protestar demais.

Anahí fingiu que o trecho - e a insinuação - nada significava para ela. -Acho que vou ter que ler qualquer dia desses.

- Sim - concordou Dulce. - Você vai.

- Vamos almoçar - chamou Anahí, tentando intro­duzir outro tópico. - Estou faminta.

Dulce retirou sua bolsa de uma gaveta.

- Certo, vamos pegar o elevador.

Só aquela palavra já trazia de volta todos os detalhes íntimos de sua viagem com Alfonso, e sentiu-se ruborizar.

Anahí olhou o relógio. Parecia que o ponteiro dos minutos estava grudado no lugar, só se movendo quan­do ela desviava o olhar. Mas se movia. Movia-se para além do horário em que Alfonso dissera que chegaria.

Para encontrá-la. Por causa do relógio.

Era terça-feira. Onde ele estava? Era controlado de­mais para se atrasar e, mesmo assim, estava atrasado.

Ou não viria mesmo.

Virando-se, alcançou o telefone atrás do balcão, para depois largá-lo. Não era seu papel ligar para ele. Foi ele que escolhera o dia e a hora.

A frustração tomou-a enquanto vagava, incansável.

Não havia mais panos de proteção, ou sinais de uma loja em transição. Os mostruários de vidro estavam to­dos no lugar, as prateleiras virgens aguardando para en­trar em contato com as jóias únicas que ela exibiria.

A loja estava a poucos dias da inauguração. Tentando desesperadamente não se entregar aos sentimentos que foram despertados naquele elevador escuro, dedicou-se a aprontar a loja. O que envolvera pedir favores a contatos que fizera, negociando com estofadores, vidraceiros, e uma série de pessoas de quem precisava para botar o lugar em ordem. Todo o seu equipamento de design fora entregue na noite anterior. O cofre que ela instalara no dia seguinte ao do encontro no elevador agora guardava as pedras pre­ciosas que precisava ter à disposição.

O sistema de segurança tivera um custo extra, já que solicitara que fosse instalado imediatamente. Mas as pedras estavam seguras. Tudo ali era de primeira.

Estava exausta, dormindo nem cinco horas por noite, mas cada hora, cada inconveniente valiam a pena. Esta­va pronta.

Anahí olhou o relógio novamente, resmungando. Onde estava ele?

Queria mostrar tudo a Alfonso, para lhe provar que era uma mulher de negócios tão competente quanto ele. Que­ria impressioná-lo, pensou. Como uma adolescente que­rendo se exibir para o cara que detivera sua atenção. Que fizera seu coração acelerar.

Anahí  esfregava as mãos, cravando as unhas nas pal­mas enquanto andava, com os olhos nunca distantes das portas de vidro. Aguardando uma batida.

Maldição, era uma adulta, planos de impressionar um homem não combinavam mais com sua cabeça.

Eles não estavam em sua cabeça, pensou, lutando contra o crescente nervosismo, estavam em seu coração, e este era o problema.

Ela permitira que ele chegasse lá.

O que diabos havia de errado com ela? Não sabia aonde coisas como aquela levavam? A lugar algum. Não a ela, pelo menos. O que ela esperava, afinal?