Fanfic: Sorte no amor AyA finalizada

- Quer pagar quanto?

Alfonso franziu a testa. De perto, ele notou, mesmo den­tro de um macacão, as curvas dela.

-Anahí ?

Ela largou o rolo e deu uma risada, enquanto pegava um pano para limpar as mãos.

- E eu que pensei que você não tinha me reconhecido.

Ele queria que ela parasse de sorrir. Era infinitamen­te mais difícil manter-se de mau humor com ela sorrindo para ele daquele jeito.

- O que você está fazendo?

Ela fingiu ter entendido literalmente a pergunta.

- Bem, vejamos. Macacão, tinta, rolo... vou arriscar um chute e dizer que estou pintando.

- Eu sei que você está pintando. - Mastigando as palavras. - Por que você está pintando?

- Porque sou boa nisso - respondeu convincentemen­te, e seus olhos piscavam ao acrescentar, em um tom leve e tranqüilo - E, você vai gostar desta parte - garan­tiu, segurando-lhe os pulsos para que ele não se mexes­se, um movimento íntimo demais para o seu gosto - por­que eu posso economizar dinheiro com isso.

O franzido em sua testa só se aprofundava, assim como seu mau humor. E, mesmo assim, parte dele admirava aquele entusiasmo. Não que ele fosse admitir isso, é claro.

- Você não tem outras coisas para fazer?

- Muitas - disse ela. - E isso era para estar mais adi­antado, mas meu irmão me deixou na mão. - Olhou para ele e viu que ele necessitava de mais informações. — Jor­ge ficou de aparecer e me dar uma ajuda, mas ele perdeu o foco no último minuto.

Ele jurava que cada frase que saía de sua boca era um enigma para ele. Precisava de um tradutor para en­tender o que ela dizia.

- Perdeu o foco?

Ela tinha uma voz resignada, compreensiva.

- Temo que a libido do meu irmão seja maior que o seu senso de responsabilidade para com as promessas que faz para sua irmãzinha. – Anahí balançou os ombros despreocupadamente por baixo do macacão surrado. - Tal­vez seja melhor assim. Ele é muito desleixado. - E então seus olhos reacenderam-se e olhou para ele como se de repente o visse pela primeira vez. Ele sentiu como se esti­vesse presenciando o nascimento de uma idéia. - Você, por outro lado, provavelmente faria um ótimo trabalho.

Preveniu-se antes que a frase acabasse de sair de sua boca.

- Se você está tentando dar uma de Tom Sawyer para cima de mim, creio que não vá funcionar. - Havia uma centena de coisas que faria antes de concordar em em­punhar um pincel e um rolo.

Inabalável, ela continuou insistindo. Ele percebeu que poucas coisas, além de lugares apertados, abalavam aque­la mulher.

- Pelo que me lembro, Tom Sawyer fingia estar se divertindo tanto que os outros meninos imploravam para que os deixasse brincar e até ofereciam coisas para te­rem o privilégio de caiar a cerca da tia Polly. - Ela abriu bem os olhos, a própria imagem da inocência. Uma ima­gem que não o tocava. - Eu não ousaria tentar conven­cer você a fazer algo com uma mentira.

Ela era uma mulher esperta. Estaria sendo transpa­rente de propósito?

- Não, você usaria de bajulação.

A expressão inocente permanecia intacta.

- De jeito nenhum. Só observação. Você é do tipo competitivo. Gosta de colocar as mãos na massa e precisa supervisionar tudo você mesmo. Pessoas assim são intensas demais para não serem eficientes. Estou certa?

Ele assistiu fascinado ao sorriso que florescia nos lábios dela e logo transferiam-se para seus olhos. Supôs que não eram simples olhos irlandeses que sorriam, como dizia a velha canção, mas olhos mexicanos também es­curos e hipnotizantes.

Achou que tinha que forçar seus lábios a dizer algo.

- Nunca pintei nada em toda a minha vida.