Fanfic: Sorte no amor AyA finalizada

Ela balançou a cabeça, como se esperasse que dis­sesse tal coisa. Ele sentia como se estivesse envolvido em algum tipo de jogo de xadrez cósmico.

- Não é difícil, de verdade. É só colocar a tinta no rolo. - Pegou um rolo para demonstrar para ele, movendo-o para cima e para baixo na bandeja. - Estes rolos não deixam a tinta pingar e absorvem somente a quanti­dade certa para cobrir um determinado espaço. - Levan­tando os olhos na direção dele. - Não tem erro.

Seu olhar o desafiava.

Sentiu que parte dele, na verdade, estava se divertin­do com a idéia e se perguntava se o cheiro da tinta não iria impregnar nele. Ao fundo, ele podia ouvir o Blondie cantar “I´m gonna getcha, getcha, getcha..."

- Vou sujar meu terno – continuou Alfonso. Ela esticou as mãos para os lados.

- Sem problemas. Eu tenho um macacão extra. -Apontou com a cabeça para o lado.

Ele nem se preocupou em verificar. Por enquanto, ela detivera sua atenção. Disse a si mesmo que poderia sair dali a qualquer momento que quisesse. Então, por agora, preferiu ficar.

- Você está sempre prevenida.

- Era para o Jaime. - Seus olhos o percorreram dos pés à cabeça. Abriu um sorriso emoldurado por uma aura de triunfo. - Eu diria que você é quase da altura dele, uns dois centímetros a mais ou a menos.

- Que conveniente. - Talvez aquela mulher pudesse ensinar ao velho Tom Sawyer um ou dois truques, pen­sou, divertindo-se, apesar de tudo.

Seu sorriso invadiu-o, dando-lhe entusiasmo.

- Não é mesmo? Está na sala dos fundos, se você quiser experimentá-lo.

Ele não se moveu.

- E por que eu faria isso?

Sua resposta veio sem hesitação. O espaço entre eles parecia ter sido reduzido a nada sem nenhum deles ter dado um passo.

- Para que você possa conseguir outra coisa - disse-lhe.

Ele não estava totalmente certo se ela estava falando da pintura ou se "outra coisa" se referia a um assunto completamente diferente. Só sabia que a química que parecia ser ativada toda vez que estava a menos de três metros dela fazia-se presente, como sempre.

Ela continuou esperando sua resposta. A expressão em seu rosto indicava que ela tinha certeza do que viria. Ele sabia que deveria dar partida e ir embora. Esta seria a coisa certa a fazer. Afinal, não gostava do cheiro de tinta e era um homem ocupado demais para perder tem­po esfregando um rolo numa bandeja de líquido azul.

Finalmente, balançou os ombros e deu as costas para ela. Mas, em vez de ir em direção às portas cobertas de papel, caminhou no sentido oposto, em direção aos fun­dos. Então, iria experimentar algo novo, disse a si mesmo.

Pensou que Anahí deveria ser premiada por tentar queimar etapas e economizar dinheiro. Isto fazia dela uma mulher de negócios decente. Ia de encontro ao que já havia descoberto sobre ela.

E ele tinha mentido para ela. Já havia pintado antes. Ajudara um de seus colegas de quarto a pintar o dormi­tório quando estavam na faculdade. Pintaram uma pare­de só de preto, e as outras três de um branco virginal. Na época, era algo bem radical. Agora, ele achava que fica­ria louco com aquilo.

Encontrou o macacão pendurado na face interna da porta da sala dos fundos. Depois de retirar o blazer e a gravata, vestiu-o por cima da camisa e da calça.

- Você tem razão. - Fechou os botões que cobriam o peito. O macacão estava um pouco apertado, mas não tanto como poderia estar. Ele ainda podia mover o bra­ço. - Seu irmão e eu somos mais ou menos do mesmo tamanho...

Sua voz cessou quando saiu da sala dos fundos e a viu se equilibrar no degrau mais alto da escada. Ela era maluca?

- O que diabos você está fazendo aí em cima?

Ela virou-se devagar para olhá-lo do topo da esca­da. Os cantos de sua boca entortaram-se com humor.

- Vou ter que explicar tudo de novo para você? Es­tou pintando.

- Não, não está - corrigiu-a, zangado de verdade. -Você está correndo o risco de quebrar o pescoço.