Fanfic: Sorte no amor AyA finalizada

- É o que dizem.

Ele ergueu o pé o máximo que pôde, encaixando-o na grade. Anahí separou as pernas, firmando-se no lu­gar quando ele deixou seu ombro e se pendurou na pare­de. Havia um vão entre o teto e as paredes. Ele enfiou os dedos lá. Movendo-se centímetro por centímetro, con­seguiu alcançar o alçapão.

Apoiando-se em uma mão, empurrou a tampa com a outra. Foi necessário um pouco de esforço, mas final­mente abriu. Alfonso deslizou-a para o lado. Abrindo espa­ço suficiente para sua passagem, impulsionou-se para cima com os braços.

Observando cada um de seus movimentos, Anahí prendeu a respiração. Viu-o desaparecer pelo buraco. Ficou sozinha por uns instantes. Só, em um pequeno es­paço. Assim como estivera por todos aqueles anos no passado. Transpirava ao longo de toda a espinha. Podia sentir sua blusa grudando nas costas.

Maldição, não entre em pânico. Não vai ajudar nem um pouco, insistia consigo mesma.

Anahí obrigou seus pés a se deslocarem até que esti­vesse embaixo da abertura que o alçapão encobria. Entor­tou o pescoço. Não havia nada além de escuridão lá fora.

- O que você está vendo?

- Nada.

- Nada? - A decepção ressoou dentro dela como ba­daladas fúnebres.

- Nada - repetiu ele. - Nenhuma luz, nem mesmo frestas iluminadas entre os andares. Nada mesmo. - O que, até onde podia ver, só poderia significar uma coisa. - Parece que houve alguma queda de energia no prédio.

Sua respiração quase ficou presa na garganta. - Você acha que afetou toda a cidade?

- Provavelmente, só a gente - disse a ela na voz mais calma que podia fazer.

Ele olhou para dentro do elevador. Ela estava certa. Ele tinha que fazer algo.

- Olha, vou ver se consigo alcançar o andar de cima.

- Não! - Seu grito repentino surpreendeu-o. As pa­lavras que se seguiram, mais ainda. - Não me deixe.

Ela não estava sendo racional.

- Anahí, eu...

- Não me deixe - repetiu, com uma urgência cres­cente na voz.

Ele concluiu que não havia como saber o quão alto teria que subir para que pudesse encontrar a saída. E, se a deixasse, não saberia dizer em que condições a encon­traria. Tomou sua decisão.

- Tudo bem, chegue para trás - ordenou. - Estou des­cendo.

Ela foi para a parede oposta, encostando-se nela. Anahí prendeu a respiração novamente ao vê-lo pular de volta. Encolheu-se quando ele aterrissou.

- Você está bem?

Descera de mau jeito sobre o tornozelo. Testando-o, disse.

- Vou sobreviver. - E olhou para suas roupas. - Só não sei se meu terno vai.

Ela tentou sorrir, mas não conseguiu completamen­te. O espaço ao seu redor ficava cada vez mais apertado.

- Você não consegue permanecer limpo quando es­tou por perto, não é mesmo?

- Parece que não. - Ambos deram um salto quando o telefone tocou. Alfonso atendeu. - Alô?

- Alô? E o elevador número sete? - uma grave voz masculina retumbou em seu ouvido.

Alfonso olhou o certificado afixado atrás do vidro. Ele autorizava o funcionamento do elevador. Comprimiu os olhos para enxergar o número.

- Sim. Estamos parados.

- Os outros elevadores também. - O técnico soava simultaneamente sobressaltado e resignado. - Estamos sem energia no prédio. Vocês vão ter que agüentar firme.

Anahí estava logo atrás dele. Desesperada, tomou o telefone dele e gritou.

- Quanto tempo?

- Não sei. Estamos trabalhando o mais rápido possí­vel. - Houve uma pausa, como se o técnico estivesse calculando o tempo. - Duas horas, talvez mais.

- Duas horas? - Seus olhos esbugalhavam-se à me­dida que a claustrofobia ameaçava tomar cada centíme­tro quadrado dela. Ela podia senti-la roubando-lhe o ar, fazendo-a engasgar.

- Não há o que fazer - o técnico informou-a. Alfonso olhou-a e ela devolveu-lhe o fone.