Fanfic: Sorte no amor AyA finalizada

Capítulo 11

Alfonso permaneceu quieto enquanto ela falava, estudando-a. Podia ver que ela estava revivendo o acidente a cada palavra que dizia.

Ele não podia imaginar experimentar aquela espécie de medo aterrador. Ele circulava entre lugares - gran­des, pequenos, embaixo de prédios e em sacadas no últi­mo andar de arranha-céus - sem qualquer sentimento de ameaça iminente, sabendo que nada irá acontecer para desencadear um ataque.

Você é realmente tão diferente?, uma voz sussurrou, do nada.

Era certo que lugares não o amedrontavam. Mas a idéia de arriscar seu coração, de acabar, de alguma for­ma, naquele abismo escuro e vazio sem a pessoa amada, deixava-o em pânico.

Aprisionavam-no assim como a aprisionavam.

Talvez não fossem tão diferentes, afinal. Uma com­paixão dominou-o.

- Eles já vão chegar - prometeu de novo, agora mais delicadamente.

Fitou-o com os olhos da criança que ela fora um dia.

- Não, não vão. - Sua voz em pouco superava um sussurro. Lutava outra vez para conter a histeria. Para encarcerar o pânico que enterrava suas unhas dentro dela, tentando sair. - Se todo o prédio está apagado, vai levar muito tempo até que cheguem aqui para nos ajudar.

- Respire, Any. Droga, respire. Bem devagar e firme. Dentro, fora. Você sabe respirar, não sabe?

Olhos arregalados, Anahí viu as quatro paredes à sua volta. Sentia que elas estavam se fechando.

Puxou o ar para os pulmões, rezando para não passar vergonha na frente de Alfonso.

Tarde demais.

- Sei que sou uma adulta - começou devagar, como se preparasse o terreno para si mesma, algo sólido sobre o qual pudesse construir. Mesmo fazendo isso, um senti­mento de futilidade transparecia. - Está tudo na minha cabeça. Mas eu não posso... não posso...

Ele segurou sua mão, antes que ela chegasse verbal e mentalmente a lugares a que nenhum dos dois queria que ela fosse.

- Conte-me sobre você.

A ordem inesperada deixou-a desarmada. Ela piscou.

- Como?

- Conte-me sobre você - insistiu. A comunicação homem-mulher de alguma maneira tinha extrapolado sua bar­reira. Tentou lembrar de conversas que tivera quando Virginia e ele estavam se conhecendo. - Você foi à formatura do segundo grau? Participou do time de líderes de torcida?

Atônita, Anahí encarou-o como se tivesse ficado lou­co. E, então, ele ouviu um som gratificante. Apesar da prega entre suas sobrancelhas, ela começou a rir.

Alfonso não lembrava de ter escutado um som mais ado­rável.

- Eu pareço ser do tipo que é líder de torcida para você? - perguntou incredulamente.

- Não sei dizer. - Ao falar, encontrava-se passando os dedos por entre os cabelos dela. Eram bastante macios de tocar, como parecia ser o resto de seu corpo. - O que sei é que você parece o tipo de garota que todos no colé­gio notariam.

- E notavam. - Anahí suspirou, repentinamente can­sada. Fechou os olhos momentaneamente. Mas logo rea­briu-os, como se temesse que, se não ficasse de olho, as paredes fossem esmagá-la. - Mas pelas razões erradas.

Quando a fitou de forma inquisidora, percebeu que teria que elaborar mais. Você abriu a porta, agora tem que entrar.

- Estava desesperada para bloquear meus medos. Claustrofobia, dentre outras coisas. - Deixou a frase no ar, meio relutante em entrar em detalhes.

Pensou que ela havia terminado, quando Anahí dis­se despojadamente, dando de ombros.

- Alguns são bêbados sórdidos. Eu era uma feliz. A palavra "bêbado" causou um aperto em seu peito.