Fanfic: Promessa Duradora (terminada)

Não era a primeira vez que ouvia aquele tom de voz, recordou Alfonso: Justo antes que golpeasse aquele cretino jogador com uma cadeira, Anahí tinha falado com o mesmo tom, preciso e artificialmente calmo. Entretanto, um homem não podia aceitar que sua esposa lhe desse ordens.

McKinnely escolheu esse momento para colocar bruscamente seu cavalo ao mesmo tempo de Shameless, que deu alguns passos atrás e se afastou protestando. Alfonso sentiu uma intensa dor nas costelas machucadas, por isso, em lugar da exclamação de surpresa e aborrecimento que pretendia, não conseguiu mais que exalar um afogado gemido.

Olhou com ódio para McKinnely.

- Não se meta nisto!

- Nada me agradaria mais, mas não seria um bom vizinho se deixasse que essas costelas machucadas  o obriguem a irritar a sua mulher sem necessidade alguma.

Alfonso viu Anahí afastando-se para o estábulo, muito erguida, como esperando que caísse sobre ela em qualquer momento.

- Nada de irritá-la; o que vou fazer é esquentar o traseiro.

McKinnely o olhou com gesto irônico.

- E quando diz que vai fazer isso?

- Farei que tudo volte ao normal.

Esta vez, o olhar de Puma foi de compaixão.

- Não faz muito que te conheço e certamente sinto muito por saber sobre ti, mas... decepciona-me descobrir que é tão estúpido - disse, movendo a cabeça de um lado a outro com gesto triste.

- Quando curar minhas costelas me recorde que temos um encontro atrás do estábulo.

Puma tirou uma bolsa pequena e atou um cigarro. Alfonso teve que esperar que o colocasse entre os lábios para obter uma resposta:

- Não pense que me importaria me encontrar ali com você - disse, avaliando a Alfonso com um olhar- Estamos bastante igualados.

Acendeu o cigarro e exalou a fumaça antes de continuar:

- Não posso dizer o mesmo de Anahí e você.

- A forma em que trato Anahí é problema meu.

- Compreendo que o que acontece entre o casal é assunto privado, e certamente defendo isso, mais se pensa ir por aí ordenando Anahí uma fileira de asneira, ela se rebelará.

- Colocá-la a salvo não é nenhuma estupidez.

Puma atirou o fósforo ao chão, que ficou fumegando sem perigo no meio do pó.

- Colocar Anahí em uma jaula de ouro é uma necessidade sua. Esperar que ela se contente com isso é uma completa estupidez.

- As damas não domam cavalos.

- Anahí não foi criada para ser uma dama. Olhe a seu redor, homem - disse Puma, abrangendo com um descritivo gesto as montanhas e as selvagens terras que os rodeavam - Isto não é Boston nem São Francisco. Anahí nasceu e cresceu aqui. Claro que pode comportar-se como uma dama, mas segue sendo uma Portilla, indomável por natureza, que odeia as regras. Uma parte dela será sempre assim, diferente e selvagem.

Alfonso passou a mão pelo rosto. Embora não desejava escutá-lo, seu sentido de justiça dizia que havia muito de verdade nas palavras de Puma, enquanto que seu lado mais primitivo estava já de caminho à cidade para comprar um vagão carregado de algodões para envolver neles a Anahí e conseguir que estivesse a salvo.

- Disse que podia te pedir o que fosse como pagamento do que me devia - continuou Puma.

Alfonso chiou os dentes. Sabia que aquilo aconteceria.

- Pensa atar-me as mãos com minha própria honra?

Os lábios de Puma desenharam um muito breve sorriso.

- Não só isso, mas também te atar como um cão e que além disso que abane o rabo.

- Darei o que seja.

- Se for no estábulo e dizer a sua mulher que não pode adestrar ao cavalo, ela resistirá; então acabaram discutindo inclusive no dormitório.

Puma deu uma funda tragada no seu cigarro. A brasa brilhou um momento e voltou a fazer-se tênue.

- As rixas podem voltar-se muito desagradáveis - continuou.

Alfonso contemplou como Anahí acabava de desencilhar ao Sir Prince.

- Suponho que não poderia lhe reprovar o que fizesse.

- As mulheres não têm muito mais arma que apelar - conveio Puma.

Alfonso recordou a promessa de obediência que tinha arrancado de Anahí. Enquanto ela não tinha conseguido nada dele.

Puma deu uma última tragada no seu cigarro e o jogou no chão.

- Se como resultado de sua resistência a obedecer se voltar intratável não terei mais remédio que te matar, o qual seria uma pena porque parece um homem bastante agradável.

Alfonso soltou uma gargalhada, da qual se arrependeu imediatamente ao notar uma terrível dor nas costelas, e seu «te Atreva a tentá-lo» soou bastante mais lastimoso que desafiador.

- Preferiria não ter que fazê-lo, mas as mulheres sabem como voltar loucas aos homens, se empenharem.

Alfonso se perguntou se Puma estava se referindo a sua relação com Emily.

- Não o proibirei, dou minha palavra.

- Suponho que isso bastará - disse Puma, endireitando-se na cadeira ao ver que a porta do estábulo se fechava detrás de Anahí - Quer que eu conte o que vem ser um farrapo?

- Não, por Deus! Apenas se limite a me ajudar a entrar em casa. Com um pouco de sorte ela ficará ruminando seu aborrecimento no estábulo e poderemos avaliar os danos antes que chegue.

- Por que achei que começaria a chiar?

- Não quero que se preocupe.

Puma guiou seu cavalo para a direita, o fez rodear o curral e soltou uma risada.

- Então, não pensa contar que caiu em uma armadilha?

- Não é algo de que me sinta muito orgulhoso - grunhiu Alfonso.

- Estava muito bem planejada - disse Puma, olhando para o caminho por onde tinham chegado - Como todas as que vieram acontecendo durante este último ano e meio. A bala que te feriu e a correria do gado não foram nenhum acidente.

- Eu sei.

- E, se não disser a verdade, o que é o que pensa contar para explicar-lhe tudo isso?

- Direi que caí do cavalo.

Se a risada anterior de Puma tinha sido irritante, a aberta gargalhada que soltou nesse momento era um insulto.

Alfonso se sujeitou as costelas e atirou das rédeas para que Shameless seguisse ao Buck. Assim que sanassem suas costelas, ele e seu vizinho teriam que esclarecerem umas quantas coisas, e se isso levantava um pouco de pó, muito melhor.