Fanfics Brasil - Capítulo 21 Promessa Duradora (terminada)

Fanfic: Promessa Duradora (terminada)


Capítulo: Capítulo 21

592 visualizações Denunciar


 


     Mataria-o! Anahí colocou as luvas, ajustou-se o pequeno chapéu e fez uma careta ao notar que o espartilho lhe machucava o flanco. Estava mais que justificado matar a seu marido, por obrigá-la a voltar a ficar aquele instrumento de tortura, mas, além disso, aquele dia ia matar Alfonso por escapulir do rancho e largar-se à cidade como um ladrão, com Aaron e Puma. Sua relação estava apoiada na sinceridade, e se seu marido pensava que ia deixar que a sujasse com furtivas medidas protetoras estava muito equivocado.


Abriu a porta, e o frio vento gelou o nariz. Suspirou, tirou o xale e recolheu seu casaco de lã. Quando já se dispunha a fechar a porta se deteve e reconsiderou sua idéia. Uma mulher tem que estar preparada. Procurou seu saquinho de mão, fechou-o, baixou os degraus e montou na cela. Sauzal protestou com um sopro ao ter que sair em um dia como aquele.


- Isso diga a Alfonso! - disse-lhe, fazendo estalar as rédeas sobre seu lombo - Agora limite a me levar até a cidade.


O cavalo cruzou o pátio, e ela suspirou. A esse passo chegaria muito tarde para o jantar, e não digamos para fazer raciocinar a seu marido. Clint saiu do estábulo, tirou-se o chapéu e perguntou:


- Vai a esta hora até a cidade?


- Sim, se é que consigo que Sauzal avive o passo.


No rosto do Clint se desenhou um lento sorriso, tão descarada e desenvolvida como sua própria personalidade. Deu uma palmada na anca ao cavalo e disse:


- Odeia o frio com toda sua alma.


- Pois terá que agüentar.


- Suponho que acabará compreendendo.


- Isso espero. - suspirou ela - Obrigado por enganchá-lo.


- Não há de que.


De repente a expressão de Clint se voltou séria, e começou a dar voltas ao chapéu com o preguiçoso ritmo que Anahí associava já com aquele homem. Viu-o girar três voltas completas antes de escutar:


- O chefe estava estranho esta manhã. Em vez de bom dia parecia estar dizendo adeus. Os moços e eu nos estivemos perguntando se pensava você trazê-lo de volta.


- Trarei-o de volta, grite ou esperneie, de uma peça ou em quatro partes.


O vaqueiro elevou a vista e torceu a boca enquanto seus olhos se comprimiam ligeiramente.


- Você perdoe, senhora, mas o velho Sam me disse que, quando você prometesse algo devia lhe perguntar se era a senhorita Portilla ou a senhora Herrera que falava.


Anahí endireitou os ombros e sujeitou com mais força as rédeas. Elevou a vista para os Guardiões, deixando-a vagar depois pela planície. Olhasse para onde olhasse, tudo era território Portilla, adquirido a base de sangue e sacrifício, e o seu não era o menor deles. Mas se tinha acabado o sacrificar-se por aquelas terras. Seguiriam sendo delas, mas graças a sua inteligência, não a seu sacrifício. Já tinha havido muitos sacrifícios, tanto por sua parte como pela de Alfonso.


Quando voltou a olhar ao homem que estava diante dela, Anahí identificou por fim o estranho sentimento ao que tinha estado tentando pôr nome durante semanas: confiança. Como se aquela sensação estivesse aguardando ser reconhecida para ocupar o lugar que pertencia, lhe meteu nos ossos e estendeu sua força por todo o corpo até chegar a sua voz. Sorriu e olhou para o caminho que levava a cidade:


- Diga ao velho Sam que vou de caça, e que não penso retornar com as mãos vazias.


Clint ficou completamente imóvel pela primeira vez, olhando-a com grande atenção.


- E quem será o caçador, senhora?      


- Serei eu mesma, senhor Clint - disse ela, estalando as rédeas ao tempo que estalava a língua para fazer que Sauzal ficasse em marcha - Quem esperava que fosse?


Clint se voltou a colocar o chapéu. Quando Anahí passou junto a ele, sorriu e assentiu ligeiramente:


- Darei o recado com muito prazer, senhora.


- Obrigado.   


Sua segurança durou até que chegou à cidade e viu a multidão que se apinhava frente ao saloon. Então se transformou em exasperação. O que teriam feito agora aqueles loucos?


Deteve a charrete frente ao banco. Todos estavam tão atentos à confrontação que estava tendo lugar que ninguém se fixou nela. Anahí pensou que se ficava esperando que alguém a ajudasse a descender-se congelaria em seu assento até a primavera, de modo que se sujeitou as saias e saltou da charrete. O pé esquerdo escorregou ao pisar em um gelado rastro de carro. Endireito-se, comprovou que seu meio doido seguia intacto e avançou por entre a multidão, a tempo de ouvir dizer ao xerife:


- Essas são umas acusações muito graves, Herrera. Você tem alguma prova?


- Tem você minha palavra.          


Aquela era a voz de Alfonso. Dura, tensa e carregada de tal segurança que a seu redor se levantou um murmúrio. Umas enormes costas envoltas em um casaco negro obstaculizavam sua visão. Deu-lhe alguns pequenos golpes com o dedo. O homem trocou de postura, mas não se afastou.


- Sinto que você não seja capaz de solucionar os problemas do rancho, mas asseguro que eu não tenho nada que ver com isto.


A voz do Aaron era igualmente reconhecível, e tão segura de si mesmo como a de Alfonso.


- Exatamente.


Anahí notou que arrepiavam os cabelos da nuca, como uma advertência. Aqueles homens tinham saído do rancho tão unidos como dois amigos sobre uma pilha de desperdícios, e agora Alfonso estava soltando aqueles provocadores «Exatamente» como se estivesse enfrentando a um veado de doze pontas. O que podia ter acontecido?


- Diga-me, Aaron - continuou Alfonso - Quando pensa levar seu gado a ferrovia?


- Não atreverá a me culpar por tentar tirar um benefício! - exclamou Aaron - Os empregados da ferrovia têm que comer, e se o Rocking C não vai poder aproveitá-lo, não vejo por que não deveria fazê-lo o Bar B.


- Que estranho que estivesse você ali no momento adequado!


Aquele acento miserável pertencia ao McKinnely. Já sabia que tinha que estar por ali. Teriam tramado algum retiro contra Aaron entre Alfonso e ele? Voltou a tentar chamar a atenção do homem que tinha diante, mas foi como golpear um muro.


- Sinto muito, mas eu também penso - murmurou o xerife, claramente incômodo - É muita casualidade que Herrera tenha esses problemas e que você seja o que se beneficie disso.


Anahí tirou um dos alfinetes e o cravou ao homem que tinha diante. O homem soltou um uivo e pareceu compreender a indireta. Por fim pôde abrir-se passo para o centro da aglomeração, a tempo para ver como Aaron elevava as mãos com gesto de impotência.


- O Bar B é o segundo rancho maior da área. No passado trabalhamos cotovelo com cotovelo com o Rocking C. Quem melhor para dar um passo adiante e cobrir o espaço? Teriam preferido que fosse um forasteiro o que o aproveitasse?


Esse era um bom argumento. Muito, muito bom.


- Anahí!                     


Deu um suspiro para ouvir o grito de Alfonso. De repente, todos os olhos se voltaram para ela. Apelando a toda a calma que pôde reunir, voltou a sujeitar o chapéu com o alfinete e dirigiu a Alfonso seu melhor sorriso, tal como correspondia a uma esposa.


- Olá, senhor Herrera.


- O que está fazendo aqui?


- Disse que viria - disse, sorrindo, ato seguido às demais damas presente - Já sabem como são os homens. Andam sempre com tantas pressas que nunca têm tempo para esperar que alguém se prepare como é devido.


Várias damas assentiram, concordando. Algumas solteironas reservaram sua opinião. Por seus cenhos franzidos, Anahí suspeitou que tinham visto como cravava o alfinete do cabelo no traseiro do enterrador. Miseráveis!


- Muito bem! O que é que você propõe? - quis saber Alfonso.


Tampouco tinha por que ser tão desconfiado, pensou.       


- Só queria saber de onde vem tanta animação.


- Do rancho.


Ela sorriu, paciente.


- Mas então teria perdido isso...


Alfonso grunhiu por toda resposta. Aaron se colocou a seu lado, protetor:     


- Eu sim que me alegro de que esteja aqui, Anahí. Seu marido está agindo movido por um mal-entendido.


Ela elevou a vista até o atraente rosto de Aaron e procurou expressar tão somente curiosidade:


- Ah, sim?


O xerife Mulden deu um passo adiante. Era um homem maior, tímido diante qualquer mulher que não fosse à viúva Foster: ela trabalhava e tinha excesso em protegê-la como se fosse um cão defendendo o último osso que ficava no mundo. Saudou-a elevando o chapéu:


- Senhorita Portilla...


- Senhora Herrera - fizeram coro Anahí e Alfonso ao mesmo tempo.


O pobre xerife avermelhou até a raiz de seus brancos cabelos.


- Lamento muitíssimo o equívoco, senhora Herrera.


- É natural, xerife Mulden; o senhor Herrera e eu estamos há muito pouco tempo casados.


Para conseguir ruborizar-se, tal como corresponde a uma jovem donzela, Anahí teve que pensar nas escandalosas coisas que tinha feito com seu marido a noite anterior.


- Sim, bom...isso é parte do problema. O senhor Ballard é um destacado membro de nossa comunidade. O senhor Herrera, que também possui uma respeitável fama, está formulando acusações contra o senhor Ballard que, se quiser que lhe diga a verdade, são bastante difíceis de acreditar.


- Que classe de acusações?


- O senhor Herrera acusa ao senhor Ballard de afundar o Rocking C.


Maldição. Anahí se voltou para o Aaron.


- Como chegou Alfonso a essa conclusão?


- Asseguro a você que não tenho a menor idéia.


Ela olhou fixamente aqueles olhos azuis e desejou acreditar. Por todos os anos que tinha sido seu único amigo, por todos os sonhos infantis que compartilharam, desejava acreditar o que lhe estava dizendo, mas ali estava o tic de sua pálpebra: estava mentindo.


- Não o entendo.


Aaron lhe deu alguns tapinhas na mão que fizeram que os olhos de Alfonso lançassem dardos envenenados.


- Não tem por que entendê-lo.


Anahí agradeceu educadamente a preocupação que Aaron demonstrava e seguidamente voltou a abrir caminho para o centro da discussão com um singelo:


- Mesmo assim acredito que devo fazê-lo, se é que queremos resolver esta desafortunada situação.


- Certo! - disse alguém de entre a multidão.


Uma rápida olhada fez saber que era o enterrador, esfregando o ponto no que tinha parecido o alfinete. Suspirou. Havia dias nos que não valia a pena levantar-se da cama.


- Ouçamos a opinião da senhorita Portilla sobre o tema! - acrescentou o homenzarrão.


- É a senhora Herrera! - corrigiu Alfonso por cima da cabeça de sua esposa, sem fazer caso ao comentário do enterrador; entretanto, o xerife Mulden não parecia ter a mesma idéia.


- Venha, John, não ande tomando partido - lhe aconselhou o xerife - Agora mesmo, quão único temos aqui é um mal-entendido.


- Não é nenhum mal-entendido - disse Alfonso com seu rouco acento miserável - Durante os últimos dois anos, Aaron Ballard esteve fazendo tudo o que podia para afundar o Rocking C e assim poder ficar com ele.


Alfonso trocou de postura, e Anahí viu então que tinha as pistolas prontas para desembaiar. Deus Santo! Era aquilo uma pantomima ou não?


- O que está dizendo? - conseguiu dizer, apoiando-se no Aaron com o que esperava que parecesse a comedida expressão de angústia própria de uma dama.


Precisava prolongar aquilo um pouco até saber o que estava acontecendo em realidade, e a única opção que lhe estava permitida a uma mulher respeitável era fazê-la parva.


- Digo que, quando um homem começa a aproveitar-se das mulheres, roubar gado e envenenar os poços, alguém tem que dar um passo à frente e lhe exigir que pare com isso.


Aaron deixou de lhe dar tapinhas na mão quando Alfonso estava à metade de frase. Olhou a seu redor, revestindo-se de sua superioridade como se fosse uma capa. Anahí tinha visto fazer aquilo toda a vida, sempre que desejava fazer-se com o controle da situação. Era um gesto impressionante em um homem de sua estatura. Estava tão entusiasmada olhando-o que esteve a ponto de cair quando Aaron deu um passo para a direita. Seu amigo a segurou ao vôo e a sujeitou até que conseguiu recuperar o equilíbrio, e depois continuou a discussão.


- E é isso o que está fazendo agora? - perguntou a Alfonso.


Ato seguido deu outro passo para a direita, movendo-se para os espectadores que havia a seu redor, e continuou:


- Aqui, na rua, diante toda a cidade? Dar um passo à frente?


Alfonso não deu a menor amostra de compartilhar o desgosto de Aaron por aquela falta de sentido da oportunidade. Limitou-se a sorrir, apoiar as costas contra a ombreira da porta, cruzar um pé por detrás do outro e assentir.


- Isso é o que parece.


Aaron se voltou para a Anahí.


- Lamento que tenha que sofrer esta humilhação publica, Anahí.


- Não teria que estar sofrendo nada se tivesse mantido o traseiro onde eu disse - murmurou Alfonso.


A multidão emitiu um murmúrio de desaprovação diante aquela falta de respeito. Anahí franziu o cenho. Acaso aquele homem tinha pensado fazê-la se sentir humilhada para que partisse? Pois se era assim, ela tinha outros planos.


- Por que está fazendo isto aqui, em pleno centro da cidade?


- Esse inseto que é tão próximo a você está decidido a apoderar do Rocking C. Embora você e todos outros habitantes desta cidade possam pensar que é um espírito puro, eu vi claramente como é em realidade.


Alfonso acabou a frase fazendo um gesto com a mão para a direita de sua esposa. Aproximar-se? Aaron estava se afastando dela a toda pressa. Ao segui-lo com a vista teve que conter um grito ao ver que Rodrigo estava a menos de dois passos de Aaron.


- E como sou? - perguntou-lhe Aaron a Alfonso com um sorriso de superioridade.


O sorriso que Alfonso lhe devolveu refletia a mesma superioridade arrogante.


- Um desumano traidor, covarde e filho de uma má mãe, isso é obvio.


- Não há nenhuma necessidade de insultar! - interveio o xerife Mulden.


Se aquele homem pensava deter a confrontação, Anahí podia haver dito que economizasse saliva: Quando Alfonso colocava algo na cabeça não havia quem o detivesse.


Aaron não parecia ser menos teimoso, já que disse:


- Eu adoraria deixar a discussão, xerife, mas acredito que o senhor Herrera não parece muito disposto a permiti-lo.


Alfonso jogou o chapéu para trás e se encolheu de ombros.


- Olhe você!


Aquilo estava ficando feio. Anahí se voltou para seu marido.


- Não tem provas - lhe recordou.


Sem provas não podiam fazer nada, além de humilhar-se em público. Olhou-o fixamente, tentando convencê-lo para que deixasse como estava até que dispusessem delas. Entretanto, Alfonso não pareceu compreendê-la.


- Tenho as provas suficientes para saber que não haverá modo de que esteja a salvo até que esse homem descanse a dois metros clandestinamente.


- Essas são umas palavras muito duras - disse o xerife Mulden.


- É a vida que é dura - disse Alfonso, endireitando-se; olhou a seu redor e continuou - É obvio, eu não teria que andar procurando provas falsas contra Ballard se Rodrigo, aqui presente, queira confessar.


Nunca escasso de palavrório, o grito de «Está louco!» do Rodrigo foi tão instantâneo como a fileira de impropérios que soltou a seguir. Anahí moveu a cabeça de um lado a outro: tivesse sido melhor que fugisse, porque, enquanto estava ocupado chiando, Aaron lhe aproximou e lhe sujeitou os braços, torcendo-lhe para as costas.


- Olá, Rodrigo - lhe disse ao mesmo tempo, em um tom bastante cordial.


Vermelho de ira e lutando por largar-se, Rodrigo pediu a gritos uma explicação.


- Sim - faço coro o xerife Mulden - Acredito que já é hora de que haja, já que começou você por acusar ao senhor Ballard e agora tem a este homem imobilizado como um bezerro.


Alfonso se separou da parede junto à que estava. Alguém empurrou Anahí, e deixou de ver seu marido. Deu um passo à diante, tentando não perder o que estava acontecendo.


- Minhas desculpas pelo ocorrido, Xerife. Precisava fazer um pouco de hora enquanto aguardava.


- E sua idéia de fazer um pouco de hora é alvoroçando a toda a cidade? - quis saber o xerife Mulden, com cara de poucos amigos.


- Está como uma maldita cabra! - protesto Rodrigo.


Ao xerife Mulden não fez nenhuma graça aquela interrupção, como pôde ver-se por seu cenho franzido.


- Agradecerei que fique bem caladinho, Rodrigo. Para atender às pessoas me apóio na quantidade de vezes que desfrutei da companhia do sujeito em questão, no calabouço. Os que não me prejudicam as noites de sábado são os primeiros.


Entre a multidão se ouviram umas risadas nervosas. Rodrigo era um habitual na diminuta prisão. O xerife Mulden se voltou de novo para Alfonso.


- Dizia que estava esperando algo, filho?


- Isso.


Anahí aguardava com a mesma espera que todos outros. O xerife Mulden trocou de postura.


- Pensa em ir ao grão antes do almoço?


- Não seria nada mal que você fosse um pouco mais depressa, sim - conveio Aaron.


Anahí não podia vê-lo, mas estava quase segura de que a razão de que sua voz soasse tão tensa era devido a que Rodrigo estava lutando para tentar libertar-se. Aos valentões não está acostumado a gostar de que lhes submetam ao mesmo trato que eles revistam dispensar.


- Estavam me esperando! - gritou Puma de um lugar indeterminável a costas da Anahí.


Como em uma cena bíblica, a multidão se dividiu em duas partes, e Puma passou a pouca distância dela, levando um ferro de marcar, uma bolsa com algo em seu interior e um ar severo e decidido. Anahí o seguiu com o olhar até que se deteve frente Alfonso, que lhe perguntou:


- É isso o que eu acredito que é?


Puma sacudiu a bolsa.         


- Se referir a isto, é puro veneno, o típico que verteria alguém em um manancial se tivesse em mente causar algum dano.


O grito afogado que os pressente deixaram escapar em uníssono provocou uma ligeira brisa. A pessoa que Anahí tinha à esquerda voltou a empurrá-la. Cravou-lhe o cotovelo para defender-se, sem afastar a vista do drama que se desenvolvia diante dela.


O xerife Mulden assinalou outros objetos que Puma levava na mão.


- Poderia ver esse ferro de marcar?


Puma o lançou pelos ares, e o xerife o apanhou ao vôo. Examinou-o brevemente e depois franziu o cenho.


- Onde encontrou isto, moço?


Puma assinalou com o polegar por cima do ombro. 


- Estava escondido sob a manta de viagem do Rodrigo, no hotel.


Todos os pressente começaram a especular sobre o acontecido, e o que começou sendo um murmúrio se converteu em uma molesta gritaria que logo que deixava distinguir algumas palavras e frases da conversação que estavam mantendo o xerife, Alfonso, Aaron e Puma; entretanto, os protestos de inocência do Rodrigo afogavam uma e outra vez as partes que Anahí mais desejava escutar, ou eram os comentários da multidão os que o impediam. O pouco que pôde tirar limpo foi que os homens estavam fazendo mesmo a multidão, perder o tempo em vãs especulações, quando a pessoa que tinha as respostas estava ali mesmo, frente a eles.


Por fim, incapaz de conter a frustração que sentia, Anahí gritou:


- Maldito seja! Alguém pergunte a ele por que fez isso!    


A multidão escolheu esse preciso momento para ficar em silêncio, com o qual a ninguém ficou a menor duvida sobre quem tinha dado aquela ordem. Pois bem, que desembuche!


As reações dos aludidos foram diversas: o xerife e Aaron a repreenderam com um olhar carrancudo; Puma lhe dedicou seu sorriso do meio lado e Alfonso se limitou a dizer «Suponho que poderíamos fazê-lo, sim», como se sua esposa acabasse de lhe aguar a festa.


- Se não se importar, filho, eu me encarregarei de fazer as perguntas - interveio o xerife.


Alfonso lhe cedeu o papel de interrogador com um galante gesto. O xerife aceitou o convite e se voltou para o Rodrigo.


- Tem alguma explicação para tudo isto?       


- Não tenho nenhuma explicação para nada!


Anahí seguia sem poder lhe ver o rosto, mas seu tom era de mau humor.


- Não sei como terão chegado essas coisas sob minha cama, mas que estou bem seguro é de que eu não enveneno um gado de qualidade, maldita seja, nem disparei a ninguém!


A multidão se recolocou para ver melhor, mas Anahí não se moveu com eles, distraída pelo asco que tinha expresso a voz do Rodrigo ao falar de envenenar um gado de qualidade. Dizia-o de verdade; Anahí estava tão segura daquilo como de que o maldito espartilho lhe estava fazendo um arranhão. Saltou sobre a ponta dos pés, tentando atrair a atenção de Alfonso, mas o enterrador aproveitou sua distração para colocar-se diante dela, com o qual apenas pôde ver foi um primeiro plano de sua jaqueta negra de lã. Comprovou que seguia tendo o alfinete do chapéu no local e depois tentou localizar um espaço entre a multidão.


- Está dizendo que não espantou o gado, nem lhes trocou as marcas? - quis saber o xerife Mulden.


- E tampouco aterrorizou a minha esposa?


Aquela era a voz de Alfonso. Reconheceria aquele acento miserável em qualquer parte. Pelo cuidado que pôs em pronunciar claramente as palavras soube que estava furioso.


Moveu-se um pouco para a direita, mas o espaço ao que se dirigia se fechou ao mesmo tempo que Rodrigo gritava:


- Marquei umas quantas cabeças, dispensei algumas vaga, mas isso é tudo!


O direto «Eu não opino do mesmo modo» que se ouviu era de Aaron.


- Está bem, aporrinhei um pouco à senhorita Portilla, mas só até que se casou com ele. Depois já não tinha muito sentido.


Deus! Aquela era uma forma de explicar muito interessante, pensou Anahí. Entretanto, Alfonso não captou aquela sutileza.


- Incomodar a minha esposa foi um tremendo engano!


- Essas contas já estão saldadas! - uivou Rodrigo.


O desespero de sua voz fez que Anahí se perguntasse se Alfonso estaria avançando para ele.


- Se queremos esclarecer isto... - interveio Puma - Disse ao Clint que fosse procurar ao homem da ferrovia.


Clint tinha que ter cavalgado como alma que leva o diabo para chegar à cidade antes que ela. Perguntou se haviam tornado a encarregar que cuidasse dela e se a teria seguido logo que deixou o rancho, escolhendo o atalho que ela não podia tomar ao ir em sua diligencia.


- Do que servirá isso? - perguntou o xerife Mulden, interrompendo suas reflexões.


- Pode esclarecer quem lhe disse que o gado do Rocking C estava doente - assinalou Aaron.


A multidão voltou a trocar de lugar e, por um breve instante, Anahí pôde espionar Rodrigo, Aaron e a metade do rosto de Alfonso. Aaron estava fazendo todo o possível para manter Rodrigo preso. Alfonso esboçava um sorriso que não pressagiava nada bom, e Rodrigo... bom, ele simplesmente parecia desesperado.


- Eu não falei com nenhum homem da ferrovia! - bramou Rodrigo - Soltem-me, malditos!


- Acredito que esperaremos que a testemunha do senhor Herrera chegue aqui antes de fazê-lo, filho - disse o xerife Mulden em tom amável.


Anahí voltou a saltar sobre as pontas dos pés. Deu alguns toques com o dedo ao enterrador, mas não se moveu. Como não tinha esperanças de conseguir que Alfonso a visse, decidiu gritar:


- Pergunte por que depois de minhas bodas com Alfonso já não tinha sentido me perseguir!


- Isso! - gritou alguém; Anahí pensou que podia ser Millicent - Por que era tão importante casar-se com ela?


A pessoa que estava detrás a Anahí voltou a empurrá-la. Girou sobre seus calcanhares para lhe dizer umas quantas lindezas, mas ao vê-la ficou gelada: Derrick!


- Eu posso responder a isso - disse Derrick em voz baixa, atraindo ela para si com tal força que o alfinete do chapéu lhe caiu da mão - Eu estava pagando uma boa quantia para atrair você a meus braços.


Ato seguido a girou bruscamente e lhe tampou a boca com a mão para afogar seus gritos.


Anahí olhou freneticamente a seu redor em busca de ajuda, mas suas anteriores vacilações a tinham deixado para o final da aglomeração de gente. A menos que fosse certo que Millicent tinha olhos na nuca, ninguém percebeu que Derrick a levava dali, que era o que lhe parecia que estava tentando pela forma em que retrocedia.


O coração lhe saía do peito e seus batimentos do coração a ensurdeciam. Ou seja, que ela tinha razão, Derrick era o cérebro do assunto! Tinha utilizado Rodrigo, ao Aaron e a ela mesma, mas o plano e em pô-lo em prática haviam partido dele! Mordeu a mão que a afogava ao tempo que Rodrigo gritava:


- Derrick James me pediu que a assustasse para parecer assim mais atraente, porque queria acelerar sua conquista!


Derrick ofegou entre dentes e afastou a mão dolorida. Não era tão abastecido como Alfonso, mas sim veloz como o raio. O «por quê?» que Anahí tentava pronunciar ficou afogado quando logo que tinha saído de sua garganta, como também seu grito de dor quando voltou a apertá-la contra si, cravando o espartilho na cintura. Entretanto, descobriu que não precisava chiar para atrair a atenção da multidão: depois do grito de Rodrigo, todos começaram a procurar à nova estrela daquele drama. Em uma nova cena bíblica, a multidão trocou de postura ao uníssono, procurou a seu redor e se dividiu em dois assim que localizou a sua presa.


Pela primeira vez, Anahí pôde ver claramente o rosto de Alfonso. Sua expressão não era nada servil: além da súbita e consternada compreensão do que estava ocorrendo, seu gesto mostrava também certa acusação para ela. Sem dúvida, a seu modo de ver, o fato de que ela estivesse ali era como um convite que Derrick tomasse como refém. Anahí respondeu a aquela muda acusação com um irado olhar.


- Solte-a, trapaceiro!         


O tom de Alfonso era tão grave que mais parecia um grunhido. Anahí nunca o tinha visto tão frio, tão perigoso.


- Não espere poder sair daqui com vida! - exclamou Puma, ao mesmo tempo que Aaron gritava «É um homem morto!».


Derrick afastou a mão, que Anahí havia tornado a morder, e replicou:


- E uma merda!


Anahí tomou fôlego entrecortadamente, e esta vez dirigiu seu irado olhar para Aaron:


- Não é momento de fazer ameaças!


- Ocorre um momento melhor? - perguntou Alfonso despreocupadamente, levantando uma sobrancelha ao tempo que se separava da porta e colocava as mãos junto a suas pistolas.


De repente Anahí notou o frio canhão de uma arma contra sua têmpora. Tragou saliva dificultosamente.


- Sim.


Apertou forte o saquinho que levava na mão, fechou os olhos e começou a rezar.


- Afastem-se! - gritou Derrick à multidão, fazendo-a girar de um lado a outro para assegurar-se de que todos vissem a pistola.


Sua outra mão passou pela cintura e segurou sua garganta, apertando-a contra o peito. Seguidamente apontou um momento a pistola para Alfonso, para voltá-la para fincar em seguida contra sua têmpora.


- Você arruinou tudo! - gritou a Alfonso, que estava ali de pé, com a pistola desencapada e uma fria determinação no rosto - Poderia ter conseguido o rancho, minha vingança e Anahí, se você não tivesse aparecido por aqui.


- Certamente que não! - protestou Anahí, tentando desembaraçar-se da mão do Derrick sem consegui-lo - Por muito desesperada que estivesse, não teria podido suportar a um inútil esbanjador como você!


- Fecha o bico, Anahí! - gritaram Aaron e Alfonso ao mesmo tempo.


Não podia ver o rosto do Aaron, mas os olhos de Alfonso eram um muro cinza, tensos e preocupados. O antebraço de Derrick contra sua garganta lhe dificultava enormemente a fala, mas desejava deixar aquilo bem claro:


- Não penso calar a boca! É minha reputação que este homem está sujando!


- Vou sujar muito mais que sua reputação se não fechar a boca, maldita seja! - grunhiu Derrick.


Não, não ia fazer isso, e ela sabia. Ao menos até que tivesse podido afastar-se de toda aquela multidão. Recolheu na mão o cordão de seu saquinho e fechou a boca. Derrick começou a retroceder. Anahí supôs que as pessoas se apartava ao vê-lo, porque não diminuía o passo. Uma vez tropeçou, e a levou junto até que conseguiu endireitar-se de novo. Tentou debater-se, mas o que conseguiu foi perder o equilíbrio e que ele voltasse a arrastá-la.


- Pelo amor de Deus, Anahí, não resista! - ouviu que dizia Alfonso.


 



Compartilhe este capítulo:

Autor(a): annytha

Este autor(a) escreve mais 30 Fanfics, você gostaria de conhecê-las?

+ Fanfics do autor(a)
- Links Patrocinados -
Prévia do próximo capítulo

Sem fazer o menor caso do conselho, ela tentou apartar o braço do Derrick de sua garganta, mas foi como tentar tombar uma árvore. Como Alfonso lhe havia dito uma vez, seu peso não era nada comparado com o de um homem. Procurou entre a multidão algum sinal de que fosse resgatá-la, mas não achou nada tranqüilizador: Todos os ho ...


  |  

Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 927



Para comentar, você deve estar logado no site.

  • annytha Postado em 13/01/2012 - 20:05:22

    desculpam pela demora pra posta, tava outra vez sem net, mas ja estamos quase no final dessa web, logo teremos surpresas aqui, assim tambem como novas historias!!!

  • jl Postado em 22/12/2011 - 16:08:41

    Essa web me cansa as ezes de ler.... é muito blá blá blá neh, mas De certo que foi o rodrigo mesmo U_U

  • jl Postado em 22/12/2011 - 16:08:40

    Essa web me cansa as ezes de ler.... é muito blá blá blá neh, mas De certo que foi o rodrigo mesmo U_U

  • jl Postado em 22/12/2011 - 16:08:39

    Essa web me cansa as ezes de ler.... é muito blá blá blá neh, mas De certo que foi o rodrigo mesmo U_U

  • jl Postado em 22/12/2011 - 16:08:39

    Essa web me cansa as ezes de ler.... é muito blá blá blá neh, mas De certo que foi o rodrigo mesmo U_U

  • jl Postado em 22/12/2011 - 16:08:38

    Essa web me cansa as ezes de ler.... é muito blá blá blá neh, mas De certo que foi o rodrigo mesmo U_U

  • jl Postado em 22/12/2011 - 16:08:38

    Essa web me cansa as ezes de ler.... é muito blá blá blá neh, mas De certo que foi o rodrigo mesmo U_U

  • jl Postado em 22/12/2011 - 16:08:37

    Essa web me cansa as ezes de ler.... é muito blá blá blá neh, mas De certo que foi o rodrigo mesmo U_U

  • jl Postado em 22/12/2011 - 16:08:37

    Essa web me cansa as ezes de ler.... é muito blá blá blá neh, mas De certo que foi o rodrigo mesmo U_U

  • jl Postado em 22/12/2011 - 16:08:36

    Essa web me cansa as ezes de ler.... é muito blá blá blá neh, mas De certo que foi o rodrigo mesmo U_U


- Links Patrocinados -

Nossas redes sociais