Fanfic: Manhã de outono {AyA [terminada]

As duas meninas cavalgaram envoltas por um silêncio amigável. Anahí fitava as colinas verdes,
já coloridas pelos tons do outono; ao longe, as árvores começavam a assumir a coloração levemente dourada, que logo passa­ria
a um laranja brilhante, vermelho e, por fim, vinho. O ar estava limpo e fresco,
e os campos já estavam sendo revirados, esperando pelas plantações da primavera.

— Isso não é delicioso? — perguntou Anahí, respi­rando
profundamente. — A Carolina do Sul deve ser o estado mais bonito do país.

— Você só diz isso porque nasceu aqui — implicou Dulce.

— É verdade. — Ela puxou as rédeas e se inclinou para a frente,
apoiando os braços na sela e observando a água prateada que corria pelo rio
Edisto.

— Você sabe quantas plantações de arroz havia em Charleston antes
da Guerra Civil? — murmurou, lembrando-se de livros que havia lido sobre as
grandes plan­tações, com seus belos campos e diques.

— Lamento, Any, mas não sou tão apaixonada por História como você. Às vezes, até me esqueço em que ano foi a guerra de 1812.

Anahí sorriu para a amiga e todo o ressentimen­to que nutria
desapareceu. Afinal, Dulce não podia fazer nada em relação ao que sentia por Alfonso. Dulce não era culpada por Anahí sentir essa
atração tão desmedida por ele.

— Vamos cavalgar pela floresta — disse repentina­mente, guiando
Sundance. — Adoro o cheiro do rio, e você?

— Eu também — concordou Dulce. — Estou logo atrás de você.

Alfonso foi jantar em casa essa noite, um fato tão raro que suscitou comentários.

— Não há mais mulheres disponíveis? — implicou Christopher, sentado à mesa, provando a caçarola de frango da sra. Johnson.

— Christopher! — Maude o repreendeu, com olhos
desaprovadores, interrompendo a ação de levar um garfo cheio de frango à boca.

Alfonso arqueou a sobrancelha para o irmão. A blusa azul esportiva estava um
pouco aberta no pescoço; para Anahí, ele estava vibrante e perigosamente atraente.
Precisava se concentrar ao máximo para não olhar para ele.

— Você já teve a sua quota essa manhã — observou Alfonso secamente.

— Foi por isso que me arrastou para o
escritório
an­tes que eu pudesse aproveitar a companhia das garotas? — riu Christopher.

— Eu precisava da sua ajuda, irmão.

— Claro. Da mesma maneira que Sansão precisava de uma manada de cavalos
para ajudá-lo
a derrubar as pilastras.

— Eu queria ressaltar — começou Maude gentilmen­te — que a sra. Johnson passou uma hora
preparando esse frango, que está delicioso, e vai acabar azedando no meu estômago. Anahí lançou um olhar divertido para a tia.

— Você devia ter tido filhas — sugeriu. Maude olhou para
Alfonso, e logo para Christopher.

— Não tenho tanta certeza. É muito difícil imaginar Alfonso usando saia e
salto alto.

Ao rir, Anahí engasgou com o purê de batata, e Christopher precisou
aproximar-se e dar-lhe tapinhas nas costas.

— Que bom que Anahí acha algo engraçado — dis­se Alfonso, naquele tom frio que
ela tanto odiava. — Ela não estava bem-humorada hoje de manhã.

Anahí tomou um gole de café e seus olhos verdes fulminaram-no,
do outro lado da mesa.

— Não lembro de ter falado com você, Alfonso — mur­murou.

— Não — ele concordou. — Estava ocupada demais esbravejando
para me cumprimentar educadamente.

Como ele podia ser tão cego?

— Com licença — disse, com arrogância —, mas não esbravejo.

Ele levou a xícara de café até aos belos lábios, sem |tirar os olhos do rosto de
Anahí. Havia algo duro e obscuro neles que a enfurecia.

— Esforce-se um pouco mais, querida — desafiou-a calmamente.

Suas feições delicadas se endureceram.

— Não tenho medo de você — disse, forçando um sorriso.

Ele a fitou intensamente, contraindo um canto da boca.

— Posso lhe ensinar a ter.

— Basta, crianças — interrompeu Maude, indicando, com os
olhos voltados para Anahí, exatamente a quem se referia. — Esse é o momento da refeição, lembram? A indigestão faz mal para a alma.

Christopher suspirou ao provar a musse de limão.

— Isso nunca os impediu antes.

Anahí amassou o guardanapo, colocou-o ao lado do prato e
levantou-se.

— Acho que vou tocar um pouco de
piano, se nin­guém se opuser.

— Não por muito tempo, querida, ou Alfonso
não
vai conseguir dormir — aconselhou Maude. — Lembre-se que ele tem que acordar às cinco da manhã para ir ao aeroporto em Charleston
apanhar os Leeds.

Anahí sorriu graciosamente para Alfonso.

— Claro — disse com a voz doce. — Ele precisa dor­mir tranqüilamente para descansar sua beleza.

— Pelo amor de Deus, você está pedindo... — disse Alfonso, com uma voz que a
deixou arrepiada.

— Vá, menina! — aconselhou Christopher, empurrando-a
na direção
da sala de estar. Ele a acompanhou e fechou a porta com um suspiro exagerado,
apoiando-se nela.

— Ufa! — respirou, rindo com os olhos. — Não abuse da sorte, querida. Tem sido
muito difícil
conviver com ele
nesses últimos
dias e, hoje de manhã, ele fez um leão parecer um bichinho de estimação.

— Não é sempre assim? — ela resmungou.

— É — admitiu ele. — Mas se você mencionar a se­cretária dele, pode acabar tendo úlceras.

Ela o fitou enquanto se encaminhava para o piano.

Sentou-se e aqueceu os dedos.

— Se ele quer secretárias bonitas, que não saibam datilografar, é problema dele. Agora, fique quieto,
Christopher. Estou cansada de ouvir falar de Alfonso.

Ela começou a tocar o segundo concerto para piano de
Rachmaninoff, enquanto Christopher a fitava, pensativo, por um tempo longo
demais.