Fanfics Brasil - 22 Coração enterno {AyA [finalizada]

Fanfic: Coração enterno {AyA [finalizada]


Capítulo: 22

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Apenas se moveu quando por fim a meteu na cama, mas  despertou com fome quando Marcie e Derek foram vê-la duas horas depois. Sentaram-se todos na cozinha, ao redor da minúscula mesa de café da manhã, enquanto Anahí tomava uma xícara de caldo. Queixou-se e lhe prepararam uma torrada, sem manteiga, e seu estômago acolheu com júbilo o primeiro alimento consistente que tinha comido em quase toda a semana. Elevou a vista do prato e surpreendeu a todos olhando-a; envergonhada, soltou a torrada.


- Por que me olham assim?


- Alegra-me te ver comer - disse Marcie com sinceridade. - Acreditava que te estava morrendo!


- Só tinha a gripe - arreganhou-a Anahí. - Não viu alguma vez alguém gripado?


Marcie ficou pensativa; por fim, encolheu-se de ombros.


- Não. Derek nunca está doente.


Anahí lançou um olhar de irritação ao Derek, que sorriu com amabilidade. Derek sempre era amável, como se se sentisse obrigado a tratar com bondade aos simples mortais. Não, não era uma obrigação... simplesmente, tinha bom coração.


A visita não durou muito, porque Anahí se cansava facilmente. Quando se foram, resistiu a voltar para a cama. Dirigiu-se ao salão e, naquela ocasião, conseguiu ler o jornal. Ficou levantada, por pura força de vontade, até a hora em que acostumava a deitar-se; depois, deixou que Alfonso a ajudasse a ir a sua habitação.


Alfonso saiu para apagar as luzes e comprovar que a porta estava fechada com chave; Anahí estava adormecida quando retornou a seu quarto e começou a despir-se, mas abriu os olhos quando Alfonso apagou a luz e se meteu na cama com ela. De repente, estava completamente acordada e tinha o coração desbocado. Estava muito melhor; não necessitava que ninguém cuidasse dela durante a noite, e era impossível que Alfonso não soubesse. Atraiu-a a seus braços e deixou que apoiasse a cabeça em seu ombro. Roçou-lhe a testa com um leve beijo.


- Boa noite - murmurou.


Ia dormir com ela! Tinha medo inclusive de pensar. Tinha havido indícios de que começava a afeiçoar-se com ela; pensando bem, fazia tempo que não via a expressão lúgubre que indicava que estava pensando em Dulce e nos meninos. Estaria o tempo fazendo o milagre? Se por fim Alfonso estava superando sua dor, seria capaz de voltar a amar, e ela gozava de uma grande vantagem sobre as demais mulheres.


- O que te passa? - perguntou Alfonso com voz sonolenta, enquanto lhe acariciava o braço. - O coração te pulsa como uma locomotiva. Noto-o.


- Esgotei-me - alcançou a dizer Anahí, e apertou o peito ainda mais contra ele. A segurança que achava em seu corpo quente e forte começou a serená-la, e ficou adormecida.


À manhã seguinte, embora tentou convencê-lo de que se encontrava muito melhor e podia ficar só em casa, Alfonso chamou a sua secretária e lhe disse que não iria ao escritório aquele dia.


- Vou ficar - disse a Anahí com firmeza depois de desligar o telefone. – Deixa ver, o que gosta de tomar no café da manhã?


- O que seja! Morro de fome!


Tomou um café da manhã quase normal, e decidiu que a comida era a resposta a todos os problemas. Sentia-se muito mais forte, capaz de andar sem cambalear-se e, além de uma ligeira dor de cabeça e tosses pontuais, encontrava-se bem.


Alfonso trabalhou no salão, dispersando papéis a seu redor, em lugar de no pequeno escritório, como tinha por costume. Anahí sabia que não queria perdê-la de vista, e a idéia lhe agradou muito. Receber mimos tinha suas vantagens.


Por volta das doze do meio-dia, entrou-lhe sono e cochilou na poltrona no que tinha estado lendo. Alfonso elevou a vista, viu que tinha os olhos fechados e se levantou para levá-la à cama. Anahí despertou quando começou a despi-la, mas não protestou quando a obrigou a vestir uma camisola. Ficou dormindo antes de que Alfonso a cobrisse com as mantas.


Dormiu durante quase quatro horas. Despertou para ir ao banheiro, e bebeu vários copos de água; tinha a impressão de que não poderia saciar sua sede. Ainda sonolenta, retornou à cama, e acabava de cobrir-se com o lençol quando a porta se abriu e Alfonso entrou no dormitório.


- Tinha-me parecido te ouvir andar - disse, ao ver que estava acordada. Aproximou-se, sentou-se na borda da cama e lhe tocou o rosto com suavidade. Não havia rastro de febre. Estava quente, mas era o rubor quente do sono.


Anahí se estirou com preguiça; depois se incorporou e lhe pôs as mãos nos ombros para abraçá-lo. Ao estirar-se, o magro tecido da camisola se aderiu a seus seios e, naqueles momentos, Alfonso sentia as suaves curva apertadas contra ele. Estreitou-a entre seus braços e lhe levantou o queixo para beijá-la. Anahí se entregou ao beijo; abriu os lábios para aceitar a intrusão de sua língua. Alfonso seguiu beijando-a, cada vez com mais força, com mais paixão. Com suavidade, tombou-a outra vez na cama e se inclinou ao mesmo tempo que ela, sem cortar o contato de seus lábios. Anahí sentiu como fechava uma mão cálida em tomo a seu seio, e arqueou as costas.


Fazia séculos que Alfonso não fazia amor; o resfriado que tinha precedido à gripe também a tinha incomodado bastante e Alfonso a tinha deixado tranqüila.


- Sim - disse junto a seus lábios, ao mesmo tempo que agarrava a sua camisa. - Por favor, não pare.


- Não pensava fazê-lo - comentou Alfonso com voz rouca; incorporou-se e se despojou da inoportuna camisa. Atirou-a ao chão; levantou-se para desabotoar as calças e as tirou. Anahí o contem-plou com olhos sonhadores, sentindo um formigamento de excitação por todo o corpo.


Alfonso se inclinou sobre ela e lhe tirou a camisola para a dar de presente vista com o corpo esbelto e suave que era só dele. Acariciou-lhe a pele sedosa; por fim, encheu-se as mãos com seus seios e se inclinou para beijá-los antes de lhe lamber os mamilos. Afogando-se em um torvelinho de prazer, Anahí o atraiu para ela, procurando a união de seus corpos.


Quando se levantaram, sentia-se satisfeita em todos os poros da pele, e a satisfação era evidente em seu rosto. Estava radiante, com a pele resplandecente pelas carícias de Alfonso.


Enquanto jantavam, Alfonso não podia deixar de olhá-la. Ele era o responsável por aquele semblante e sabia. Quando Anahí o olhava daquela maneira, algo se agitava em seu peito. Tinha querido transpassar as barreiras de sua reserva para encontrar o ardor de sua paixão, mas tinha encontrado muito mais. A princesa de gelo tinha desaparecido e uma mulher que resplandecia com suas carícias tinha ocupado seu lugar. Estaria apaixonando-se por ele? A idéia gostava. A abnegação de uma mulher como ela não se podia tomar à ligeira. Seu amor encheria de calor seus dias, proporcionaria-lhe um remanso de ternura e segurança, um bálsamo para as amargas lembranças do passado.


Enquanto tomava banho e se preparava para deitar-se, Anahí se perguntou se Alfonso dormiria com ela também aquela noite. Estava tremendo, dominada pelo desejo. Se Alfonso retornasse a seu próprio quarto aquela noite, não suportaria, não depois de ter passado as duas melhores noites de sua vida. Comportou-se como se de verdade se preocupasse com ela, e Anahí tinha vislumbrado o paraíso. Se as comportas se fechavam de novo e ficava fora, não sabia se poderia se recuperar do golpe.


Um toque de nódulos na porta a sobressaltou.


- Vais passar te a noite aí dentro? - perguntou Alfonso, com impaciência na voz.


Anahí abriu a porta e inspirou com aspereza ao vê-lo apoiado na parede, completamente nu. Era assombroso, alto e forte, com uma espessura viril de cachos negros no peito. Respirando com dificuldade, soltou a toalha com a que estava envolto e desprendeu a camisola, mas também o soltou.


- Não acredito que o necessite - disse com voz trêmula.


- Eu tampouco - o regozijo brilhou nos olhos de Alfonso durante um momento, enquanto lhe estendia a mão, mas foi absorvido por uma emoção muito mais intensa quando ela entrou no círculo de seus braços.


Fizeram amor, ficaram adormecidos, e Alfonso não fez nenhum intento por ir-se a sua habitação. Despertou a meia-noite e voltou a possui-la, afundando-se nela antes de que estivesse de tudo lúcida, desfrutando de sua entrega espontânea. Prolongou o ato naquela ocasião, utilizando sua destreza para levá-la pouco a pouco à cúpula do prazer. Anahí estava rodeada de uma nebulosa de gozo enquanto Alfonso lhe acariciava os seios e os lambia da forma que lhe gostava, enquanto a acariciava e a tocava até fazê-la gritar. Suas investidas lentas e regulares a estavam matando; levava-a a beira mesmo da satisfação mas sem ir mais.


Agarrou-se a ele com mãos úmidas e frenéticas, suplicando a liberação. Alfonso a segurou pelos quadris, para não deixar que acelerasse o ritmo, e a beijou em profundidade. Depois, separou os lábios o espaço justo para lhe ordenar com voz grave.


- Diga que me ama.


A resposta do Anahí foi automática; surgiu de uma funda reserva de ânsia primitiva que não podia controlar. Sem pensá-lo, sem nem sequer dar-se conta da importância da pergunta do Alfonso e de sua própria resposta, gemeu:


- Sim, amo-te.


Alfonso se estremeceu, e as suaves palavras desencadearam pequenas explosões que anunciavam a proximidade de sua própria satisfação.


Deslizou as mãos por debaixo dela e a levantou para que recebesse suas profundas investidas.


- Repete-o!


- Amo-te... Lhe... amo... - ficou sem voz, e um grito afogado emergiu de sua garganta. Ao sentir as sensuais convulsões internas que assinalavam o êxtase de Anahí, Alfonso gemeu, apertou os dentes e se entregou a seu próprio prazer.


Estendida sob o corpo pesado do Alfonso, Anahí começou a tomar plena consciência do que havia dito, e um gélido pânico a dominou.


- Alfonso...o que hei dito...


Alfonso levantou a cabeça de seus seios com o rosto marcado pela satisfação.


- Queria sabê-lo. Pensei que me queria, mas queria ouvir lhe dizer isso.


Anahí conteve o fôlego para ouvir o tom possessivo de sua voz.


- Não te importa? - sussurrou.


Alfonso lhe retirou uma luminosa mecha de cabelo do rosto e se entreteve percorrendo o contorno de seus suaves lábios com o dedo.


- É mais do que esperava quando te pedi que te casasse comigo –reconheceu. - Mas seria um estúpido se eu não gostasse. É uma mulher cálida, carinhosa e incrível, senhora Herrera, e quero tudo o que me possa dar.


Lágrimas ardentes e cegadoras afloraram a seus olhos e escorregaram por suas bochechas. Alfonso as secou com suavidade, um pouco comovido pela confiança e a devoção que Anahí lhe oferecia. Detento de uma nova quebra de onda de paixão, e em um intento de consolá-la, voltou a lhe fazer amor.


 


Alfonso já tinha ido ao escritório e Anahí se estava dando pressa para poder abrir a loja a sua hora, mas as lembranças da noite anterior seguiam distraindo-a. Ficava de pé em meio de uma habitação, com o olhar perdido e sonhadora, em lugar de dar-se pressa por maquiar-se ou vestir-se, como deveria estar fazendo. Alfonso não havia dito que a amasse, mas sua intuição de mulher lhe dizia que o desejo que tinha pedido nos cantos mais profundos de seu coração, na escuridão de incontáveis noites, estava fazendo-se realidade. Alfonso começava a querê-la. Um homem não tratava a uma mulher com a ternura e a paciência que ele tinha deixado entrever se não sentia algo mais que certo respeito e agrado. A intimidade de sua vida de casados tinha estendido uma rede que o tinha aproximado dela e os tinha unido. Sentia-se tão feliz, quase cega de puro gozo.


Voltando outra vez à realidade, dirigiu-se à cômoda para tirar um sutiã e acertou a ver a pequena caixa de pílulas.


- Meu Deus! Quase me esquece! - exclamou, e tirou a caixa.


De repente, caiu na conta e a caixa escorregou de sua mão repentinamente frouxa. Tinha tomado a pílula pela última vez no primeiro dia da gripe, embora duvidava que a tivesse assimilado.


Pulou seis pílulas. Angustiada, remexeu na gaveta em busca da bula e a encontrou ao fundo de tudo.


Se saltava mais de três pílulas, devia deixar de tomar, esperar até o quarto dia do seguinte ciclo e começar a tomar outra vez com normalidade. A concepção era improvável, mas não impossível, assim terei que tomar outras precauções para prevenir uma gravidez. Anahí leu as instruções uma e outra vez, tratando de serenar-se. Improvável, mas não impossível. Tentou esquecer as três últimas palavras e se concentrou no tranqüilizador «improvável».


Pensou na cara que poria Alfonso quando o dissesse e em seguida soube que, estivesse bem ou mau, não podia fazê-lo. Era incapaz de lhe dar essa preocupação. A expressão que tinha visto em seu rosto quando a jovem mãe pronunciou o nome do Justin lhe tinha esmigalhado o coração, e ainda recordava o muito que lhe tinha doído que Alfonso rechaçasse seu consolo.


Mas teria que dizer-lhe. A alma caiu aos pés ao compreender que, se teria que tomar outro tipo de precauções, a explicação era necessária. Quando pensou em sua recente compenetração e na possibilidade de que se estragasse, fechou os punhos com dor. «Agora, não. Por favor, agora, não».


Recompôs-se, vestiu-se e conseguiu chegar à loja ao mesmo tempo que Erica, à hora exata de abertura. Não teve tempo para preocupar-se com nada, porque em seguida a loja se encheu de pessoas, algumas, clientes habituais que tinham chegado a conhecê-la e que se passavam para interessar-se por sua saúde. Compraram novelos, botões antigos, material para bonecas, pregos de acabamento. Dava a impressão de que todos seus clientes tinham esperado a que Fios e Ferramentas estivesse outra vez aberta em lugar de ir a outra loja, e a idéia comoveu ao Anahí. Uma mulher miúda e energética de pelo menos oitenta anos lhe levou uma colcha de ponto feita com a lã mais suave, em distintos tons de verde, e insistiu em lhe dar de presente.


Anahí quase chorou, e abraçou à mulher. Tinha estado fazendo colchas de ponto para que Anahí as vendesse, e sabia que o dinheiro que cobrava por elas servia para complementar sua reduzida pensão. Significava muito que empregasse seu tempo e materiais em lhe fazer um presente.


Justo antes do almoço, Alfonso se apresentou na loja. Anahí elevou a vista ao ouvir a campainha e abriu os olhos com surpresa ao vê-lo.


- Vamos a seu escritório um minuto - disse em voz baixa, e Anahí chamou a Erica para que ocupasse seu posto na caixa.


Quando a porta se fechou atrás deles na minúscula habitação que usava como escritório, Anahí o olhou com preocupação.


- O que ocorre?


- Tenho que ir, para ultimar todos os assuntos que deixei pendentes quando deixei para cuidar de ti - um meio sorriso se desenhou em seus lábios. - Lhe poderia haver isso dito aí fora, mas queria te beijar, e tal e como vou beijar te, não deveria fazê-la em público.


Anahí ficou débil e se apoiou em sua mesa.


- Ah, sim? E como vais beijar me? - disse com voz rouca, quase em um murmúrio.


Uma expressão quase predadora apareceu em rosto do Alfonso, que estirou o braço para correr o zíper.


- Nua.


 


Aquela noite, estendida sozinha na cama, tendo saudades do calor de Alfonso mais do que teria acreditado possível, Anahí soube. Foi uma revelação quase telepática, e se levou a mão ao estômago.


- Alfonso, não sabe quanto o sinto –sussurrou na escuridão vazia.


 


 


- Não é a primeira vez que ocorre - disse a doutora Easter-wood com calma. Seu próprio exame médico lhe havia dito tudo o que precisava saber, antes inclusive de que os testes que estavam sobre sua mesa o tivessem confirmado. - Receitei-te a pílula mais suave do mercado; se as datas coincidirem, a concepção é possível se para de tomá-la, como ocorreu em seu caso. A gravidez é um fato.


Anahí estava muito serena. Tinha disposto de várias semanas para acostumar-se à idéia. Não sabia o que ia fazer, mas tinha aceito que albergava uma pequena vida em seu interior e já a amava. Tinha-a amado desde o momento da concepção; o que, a não ser amor, podia sentir por um filho de Alfonso?


- Terá trinta e quatro anos quando nascer o bebê - prosseguiu a doutora Easterwood. - É um pouco tarde, para uma primeira gravidez, mas gozas de boa saúde e não vejo nenhuma complicação, embora queira te vigiar de perto e lhe fazer vários testes ao feto nas distintas fases de seu desenvolvimento. Virá para ver-me duas vezes ao mês, em lugar de uma. Agora mesmo, o único problema que contemplo é que, se o bebê for grande, é provável que terei que te fazer uma cesárea. Tem a pélvis muito estreita.


Anahí a escutava, muito absorta em outros problemas para preocupar-se ainda pelo parto. Ainda faltavam meses para que o bebê nascesse, e havia uma situação muito difícil que devia confrontar quanto antes. Como o diria ao Alfonso? Mais importante ainda, como reagiria ao inteirar-se?


A doutora Easterwood lhe receitou suficientes vitaminas para ressuscitar a um morto e, depois, fez algo insólito. Abraçou-a e lhe deu um beijo solene na bochecha.


- Boa sorte –disse. - Sei que desejava ter um filho fazia tempo.


Sempre. Tinha-o desejado sempre. Seria uma crueldade que tivesse que escolher entre Alfonso e o bebê!


 


O disse aquela mesma noite. Havia sentido uma forte tentação de ocultar-lhe durante o maior tempo possível, de pospor o enfrentamento e desfrutar de cada momento que pudesse com ele, mas sabia que tinha direito de saber. Se o ocultava, custaria-lhe o mesmo, ou possivelmente mais, perdoá-la por isso que pela gravidez. Dizer-lhe não era fácil; tentou-o durante o jantar, mas as palavras se entupiam em sua garganta. Depois de jantar, Alfonso foi a seu escritório para olhar alguns papéis e, passados uns minutos, Anahí se decidiu a entrar. O disse em muito poucas palavras.


Alfonso empalideceu intensamente.


- Como? - sussurrou.


- Estou grávida - manteve a voz serena, e entrelaçou os dedos gélidos para evitar que tremessem.


Alfonso soltou a caneta e fechou os olhos. Passado um momento, abriu-os, e estavam negros, carregados de amargura.


- Como pudeste me fazer isto? –perguntou com aspereza. levantou-se com brutalidade da cadeira e lhe deu as costas; baixou a cabeça e se esfregou a nuca.


A acusação foi uma dolorosa chicotada que a deixou sem fala. Anahí tinha sabido que seria um duro golpe para ele, mas em nenhum momento imaginou que Alfonso pudesse pensar que o tinha feito a propósito, contra seus desejos.


- Sabia o que pensava - tinha os ombros contraídos. - Sabia... mas o fez de todas as formas. Por isso te casou comigo? Para que me fizesse de semente? - deu-se a volta e deixou ver seu rosto distorcido pela dor e a raiva - Maldita seja, Anahí! Esperava que tomasse essas condenadas pílulas! por que não o fez?


Com voz débil, Anahí respondeu:


- Tive gripe. Não podia tomar nada.


Alfonso ficou gelado. Tragou saliva enquanto contemplava a cara branca de Anahí e a agonia que refletia seu olhar. Ao dar-se conta do que havia dito e o muito que a ela devia lhe haver doído, assaltaram-no os remorsos. Ela o amava. Jamais o teria traído deliberadamente. Avançou para abraçá-la, mas Anahí retrocedeu; levantou a mão para freá-lo.


- Fui ver a doutora Easterwood esta manhã - disse, com voz ainda débil e inexpressiva. - Quando tive gripe e não pude tomar a pílula, a interrupção da tomada permitiu que tivesse lugar a ovulação... e a concepção. -Tinha ido ao médico aquele mesmo dia e tinha tido o valor de dizer-lhe imediatamente; amava-o o bastante para confessar-lhe Mas Alfonso tinha reagido descarregando-se contra ela de algo que tinha sido mais culpa dele que de Anahí. Se tivesse se incomodado em pensá-lo, teria sabido que não tinha sido capaz de tomar a pílula; mas o primeiro dia que ela se havia sentido melhor a tinha levado para cama. Teria concebido então, perguntou-se, ou nas demais ocasiões nas que lhe tinha feito amor essa noite? Ao dia seguinte, em seu estreito escritório abarrotado de papéis, com ela sentada na borda da mesa e seu precioso rosto averme-lhado, enquanto ele a possuía de forma brusca, apressada e comple-tamente satisfatória?


- Sinto muito - disse com suavidade, desejando mais que nada no mundo não ter ferido seus sentimentos. Viu a rigidez com a que mantinha a compostura, como se se preparasse contra mais ataque, e uma insólita pena lhe encolheu o coração. Naquele momento, apesar de seu próprio sofrimento e desespero, soube que a amava, e sentiu um desejo entristecedor de suavizar sua dor. Devagar, aproximou-se de novo a ela, e naquela ocasião, Anahí permitiu que a abraçasse.


Envolveu-a com seus braços e deslizou as mãos por suas costas esbelta, tratando de consolá-la. Anahí não estava chorando, e isso o preocupava mais que se estivesse soluçando a lágrima viva, porque o pranto teria sido um escapamento para suas emoções. Tinha o corpo rígido e não o abraçava. Alfonso seguiu lhe acariciando as costas e murmurando palavras de consolo em seu ouvido, até que ela começou a relaxar-se. Pouco a pouco, pôs-lhe as mãos nos ombros. Demorou um tempo em arrancá-la de sua silenciosa comoção. Sem deixar de abraçá-la, tranqüilizando-a com suas carícias, perguntou:


- Marcaste hora já?


Anahí estava confusa, não compreendia muito bem a que se referia.


- A doutora Easterwood quer que a veja duas vezes ao mês.


Alfonso moveu a cabeça.


- Referia-me a marcar hora para... para um aborto - apesar de seu sofrimento, custava-lhe trabalho dizê-lo, e se estremeceu pelo esforço que teve que fazer.


Anahí se afastou com brutalidade e o olhou, atônita.


- Como?


Nesse momento, Alfonso compreendeu que não lhe tinha ocor-rido a solução ao problema, que nem sequer o tinha considerado, e uma sensação fria se apoderou dele. Afastou-se de Anahí; a negrume de seus olhos era um espio de seu inferno interior.


- Não quero que tenha esse bebê - disse com crueldade. - Não o quero. Não quero nenhum bebê, nunca.


As palavras de Alfonso foram como um murro no peito. Anahí tentou respirar, mas não podia. Olhou-o sem vê-lo, com medo de desmaiar-se, até que por fim conseguiu tomar um pouco de ar.


- Alfonso, também é teu filho! Como pode querer... ?


- Não - interrompeu-o, com voz áspera pela dor. - Meus filhos estão mortos. Vi como enchiam de terra suas sepulturas. Não posso voltar a passar por isso. Não posso aceitar outro filho, assim... não me peça que o tente. Aprendi a viver sem eles, sem meus filhos, mas nenhum outro menino poderá nunca, nunca, substitui-los –com o rosto crispado pela agonia, ele também ofegava como se lhe resultasse quase impossível prosseguir.


Lutou por recuperar o controle e ganhou, embora tinha a testa empapada em suor. - Amo-te - disse, com mais serenidade. - Anahí, amo-te. É mais do que sonhei que poderia sentir outra vez. Te amar, te ter, deu-me uma razão de viver, uma ilusão para seguir adiante cada dia. Mas outro filho... não. Não posso. Não tenha o bebê. Se me quiser, não... não o tenha.


Anahí se cambaleou, mas se endireitou com um arranque de determinação. Nenhuma mulher deveria ouvir jamais algo assim, pensou com tristeza. Nenhuma mulher deveria confrontar aquela decisão. Amava-o e, precisamente por isso, amava a seu filho. Compreendia sua angústia, tinha visto seu semblante no enterro de seus filhos e sabia que teria morrido com eles se tivesse podido. Mas saber e compreender não lhe facilitava as coisas.


Olhou-a com pura agonia infernal no olhar e, de repente, tanto seus olhos como suas bochechas estavam úmidos.


- Por favor - suplicou a Anahí com voz trêmula.


Anahí se mordeu o lábio até que se fez sangue.


- Não posso - declarou.






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Autor(a): theangelanni

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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 377



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  • jl Postado em 06/10/2011 - 08:04:42

    Haaaaaain meu pai quase chorei, tão lindo e simples o final, mas tão feliz *--* EEEE quero a proxima *-*

  • jl Postado em 06/10/2011 - 08:04:42

    Haaaaaain meu pai quase chorei, tão lindo e simples o final, mas tão feliz *--* EEEE quero a proxima *-*

  • jl Postado em 06/10/2011 - 08:04:41

    Haaaaaain meu pai quase chorei, tão lindo e simples o final, mas tão feliz *--* EEEE quero a proxima *-*

  • jl Postado em 06/10/2011 - 08:04:41

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  • jl Postado em 06/10/2011 - 08:04:40

    Haaaaaain meu pai quase chorei, tão lindo e simples o final, mas tão feliz *--* EEEE quero a proxima *-*

  • jl Postado em 06/10/2011 - 08:04:40

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  • jl Postado em 06/10/2011 - 08:04:39

    Haaaaaain meu pai quase chorei, tão lindo e simples o final, mas tão feliz *--* EEEE quero a proxima *-*

  • jl Postado em 06/10/2011 - 08:04:37

    Haaaaaain meu pai quase chorei, tão lindo e simples o final, mas tão feliz *--* EEEE quero a proxima *-*

  • jl Postado em 06/10/2011 - 08:04:36

    Haaaaaain meu pai quase chorei, tão lindo e simples o final, mas tão feliz *--* EEEE quero a proxima *-*

  • jl Postado em 06/10/2011 - 08:04:33

    Haaaaaain meu pai quase chorei, tão lindo e simples o final, mas tão feliz *--* EEEE quero a proxima *-*


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