Fanfic: Para que servem os poetas(DyC)
-Não, Dulce. É adeus;
- Então tu nunca gostou de mim. Foi tudo mentira entre a gente. Não é, Christopher?- as lagrimas.
-Fala, homem! Uma vez na vida, fala!
Lágrima grossas rolando pelo rosto da moça e que coragem Christopher tinha de tocar naquelas lagrimas? Que jeito de dizer que ele podia dizer de amor, não podia prometer volta, nem sabia por que tinha de ir ou o que teria de fazer, ah, se ele tocasse no rosto de Dulce ainda ia destrancar o choro do seu peito, e "homem não chora", ele tinha de ser um homem e não dizer a verdade, dizer "amor" em vez de "adeus".Então Christopher se levantou do banco da praça e foi depressa descendo a rua, o gosto de despedida foi azedando na boca, falando adeus para as ruas, pessoas, casas, o sabor do medo no beijo para mãe, o aperto no abraço do irmão Normilson, "cuida de tudo, agora tu é o hominho da casa", ele disse para o menino de nove anos. E o afago no cabelo do caçula, o João, com dois anos de idade e sequer conhecido pelo pai, que partira pra cidade grande depois de deixar a mulher de barriga.
O pai. No ônibus, seguindo para o sudeste, tanto tempo Christopher pôde sofrer em silencio e pensar no pai. Nas poucas palavras da carta registrada(as palavras sempre eram poucas, em sua família, gente calada, gente triste)...
E dessa vez:
Deus proteja a todos. Alexandra, manda Christopher pra São Paulo. Estou doente. Tem problema de dinheiro, prometi que o filho ajuda. Christopher vai trabalhar no meu lugar. José.
Poucas palavras, feito telegrama. E a passagem, assim marcada para dali a semana, dez dias. O tempo suficiente para a mãe, Alexandra, se consumir em choro silencioso e olhares suplicantes para o filho. Christopher ia. Para onde? São Paulo. Onde estava o pai. O pai doente. Que doença afinal? Aquela ruim, de que nunca se deve dizer o nome? Trabalho, o pai falava de trabalho, de problema de dinheiro, que trabalho ia ter, para um menino de quinze anos? E por que o filho ia resolver os problemas, a pressa em ficar no lugar do pai?
Mais de trinta horas de viagem.Christopher sentia o corpo dolorido de ficar tanto tempo sentado, sentia o gosto de fome na boca- o pouco de dinheiro que mainha lhe havia arrumado tinha acabado no jantar da véspera. Mas havia curiosidade...tanta gente ali pela rodoviária. Rostos, cabelos, caras feias, o cheiro forte de multidão e de fumaça, essa a primeira impressão que são Paulo lhe dava.
- Tu é que é o Christopher? Filho do José?
Um homem estranho, baixote e gorducho, rosto redondo como a lua, sorria para o rapaz. Christopher confirmou com a cabeça, os olhos rondando em busca do pai.
O estranho deu-lhe uns tapinhas nas costas, pegou a mala. Indicou com o braço o rumo, seguiram por entre tanta gente, o homem indicava a escada rolante, Christopher não soube o que fazer, nunca na vida tinha visto uma escada rolante.
-Sobe aí que ela anda
- Ela o quê?
-Anda. A escada anda. Vai, menino!
O menino que existia em Christopher se divertiu com a novidade. Sorriu até o primeiro andar, olhos fixos no mecanismo que desdobrava a escada e o conduzia. Pensou em perguntar se podia ir de novo, mas o homem de cara de lua não sorria mais, então Christopher achou melhor não falar.
Quem falou mais foi o homem, depois de instalados num ônibus que seguia da rodoviária para um dos bairros da periferia da cidade.
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Autor(a): nanda
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-E aí...primeira vez em são Paulo? O que tu ta achando?O que poderia achar? Via prédios cinzentos, ruas cinzentas e céu cinzento. Via multidão feia e pobre o trajeto até a periferia só lhe revelou mais seus palacetes e shoppings e prédios luxuosos, para o migrante de quinze anos ela só daria sua face cinzenta, em ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 2
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Mirian Postado em 24/07/2007 - 09:00:28
Nossa pobre Christopher, que so foi assumir seu amor depois de muito sofrimento...ja terminou a historia neh? muito legal...e diferente...bjo
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bely_dyc Postado em 22/07/2007 - 20:06:39
oiee! eu lia essa web em um forum! gosto muito dela! continua postando, bjoss!