Fanfics Brasil - Para que servem os poetas(DyC)

Fanfic: Para que servem os poetas(DyC)


Capítulo: 4? Capítulo

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Infeliz demais para pensar em outra coisa senão no trabalho a ser feito, com um desespero que pelo menos lhe tirava a imagem de Dulce da cabaça. O seu rosto dolorido, na despedida. O seu choro, enquanto acusava " foi tudo mentira entre a gente" e aquela palavra mentira mentira mentira o machucava tanto que era melhor mesmo trabalhar, carregar e limpar do que ficar parado um instante, ouvindo eco da palavra latejando na cabeça e machucando o coração. Com o correr dos dias, arrumou-se uma rotina de tarefas e uma quase-camaradagem entre Christopher e o patrão. A esposa dele, Adélia, pouco aparecia no armazém. Eram os dois homens que dividiam as tarefas de vender, arrumar, servir, no começo, o comerciante tenteou saber mais da vida de seu empregado. Até sondou o rapaz, se ele pretendia conseguir matricula na escola noturna. Mas, quando as tentativas de conversa esbarrarem em monossílabos e dar de ombros, Tonhão se revelou feliz conversador. Gostava de falar. O tempo todo. E não só sobre suas caridades ou sua fé ou sobre como ajudava os conterrâneos. Pouco se importava se o garoto estava ouvindo.
A cantinela de Tonhão compassava o dia-a-dia: narrava casos da Bíblia, historias familiares do nordeste, historias de assombração(que terminava chamando de bobagem, do tempo em que não tinham colocado Jesus no coração). Uma das historias mais repetidas era de como dele, Tonhão, tinha resolvido se casar com Adélia, a mulher gorducha que Christopher havia conhecido no dia da chegada.
-Eu já era um homem feito, tinha aprontado muito, bebia e bagunçava, mas foi ver a Delinha pra jurar aqui no coração: é ela. Eu sabia. E é engraçado, conhecia a menina a vida inteira, tinha feito farra com os irmãos mais velhos dela, mas nunca bateu coisa nenhuma antes. Foi no baile junino, no dia de são Pedro, que a coisa aconteceu. A Delinha apareceu no baile com uma prima, a prima era assim alta, meio branca, bonita, bem mais bonita que a Delinha. Mas meus olhos se grudaram mesmo na Delinha. Eu sabia, menino sabia sim: era ela a mulher da minha vida. De nunca mais esquecer. Naquela mesma noite eu pedi pra Delinha casar comigo. Se ela esperava eu conseguir dinheiro em São Paulo, se depois eu mandava ela vir, se ela vinha. E ela falou que sim. Doze anos de casados. A gente acabou virando crente, mas fosse com a religião que fosse, eu sei. Num ia ter outra mulher na minha vida. Pena que Deus não mandou filho.
Christopher ouvia a conversa do patrão sem saber se apreciava ou desgostava dela. Era um ruído, como se o radio estivesse ligado. Às vezes se ligava em alguma narrativa bíblica ou caso pitoresco. No mais, distraia-se enquanto espanava latas de conservas ou conferia a entrega de mercadoria. Mas, na hora em que o gorducho falava da esposa, ah, nessa hora Christopher se sentia incomodado. Não por causa da dona Adélia, que ele mal via, mas pelo tom de voz, pela certeza que Tonhão colocava em sua fala naqueles momentos. Seus olhos brilhavam quando ele dizia da fé absoluta em saber que Delinha era a "mulher da vida dele". E Christopher sempre acabava lembrando de sua Dulce.
De como tinha traído seu sentimento, como havia fugido na praça, sem jamais dizer para ela o que jurava todo dia em seu coração: eu te amo.
"Filho querido: Que Deus te proteja e a teu pai. Aqui eu e os meninos vamos levando, com a graça de Deus. Como está o José, melhorou? O trabalho não é muito puxado pra um menino da tua idade? Sabem quem perguntou por tu? A filha da Blanca, a Dulce. Queria até saber teu endereço, disse que ia escrever. Eu falei que tu ta fazendo serviço de homem, dando conta do recado direitinho".
Christopher chorou com a carta não mão. A única vez que chorou, naqueles três primeiros meses em que trabalhava com Tonhão. Numa hora em que pôde ter o quartinho só para si, o pai já podia caminhar e tinha ido dar uma volta à noite. O filho desconfiava que essas voltas noturnas acabavam em algum bar mais escondido na favela, onde o pai fiava pinga que depois ia colocar na conta do Tonhão, arrancando alguns trocados "por conta" do serviço do filho. Christopher deveria reagir contra isso. Deveria forçar o pai a arrumar trabalho e parar de beber, se já estava mais forte. Mas não reagia. Nunca reagia.
Só chorou. Naquela noite, chorou com amargor de quem esvazia todas as dores pelas lagrimas, todo o cansaço do trabalho, as injustiças do salário que nunca chegava em dinheiro, só ia para mãe ou ficava no DÉBITO da conta com seu Tonhão. Chorava o amargor de ter um pai inútil e cada vez mais dependente dele.


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Autor(a): nanda

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E chorou, principalmente, pela perda de sua Dulce, a sua mulher, aquele que ele sabia que deveria ser dele para sempre, mas estava perdida."Mainha, num dá meu endereço pra ela. Nunca. Aqui é feio, mainha, aqui é ruim. Mas eu vou agüenta mainha. Só num dá pra endereço pra ela...", ele pensou. E escreveu uma carta ...


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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 2



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  • Mirian Postado em 24/07/2007 - 09:00:28

    Nossa pobre Christopher, que so foi assumir seu amor depois de muito sofrimento...ja terminou a historia neh? muito legal...e diferente...bjo

  • bely_dyc Postado em 22/07/2007 - 20:06:39

    oiee! eu lia essa web em um forum! gosto muito dela! continua postando, bjoss!


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