Fanfic: Alem da Sedução (terminada)
Farnham o deixou dormir até meio-dia,
momento no qual sem dúvida este tinha perdido a paciência com a desordem que o
rodeava. A véspera tinha sido bastante desastrosa. Tinha tido que tirá-lo de
sua cama só para mudar aquela moldura quebrada do duque de Monmouth. Ele não
tinha querido acudir, mas se alegrava de que Farnham o tivesse obrigado, embora
depois tivesse tido que estar sentado uma hora no quartel de polícia, esperando
para dar a descrição de um homem cuja pista duvidava sinceramente que alguém
fosse seguir. A polícia de Londres não podia distrair-se investigando delitos
que não tinham tido lugar. Os policiais tampouco ficaram muito contentes quando
ele se negou a revelar o nome da vítima. Ele não entendia por que esperavam que
o fizesse. Sabiam tão bem quanto ele que podiam despedir uma criada por razões
mais absurdas que por ter a má sorte de ter sofrido uma agressão.
Poncho se perguntava se Farnham o
deixaria dormir se soubesse que seu amo era um herói.
Decidiu que não merecia a pena averiguar,
e tampou os olhos quando o mordomo abriu as cortinas. Aquela precaução nem
sequer era necessária. A névoa perdurava, agora flutuando junto às janelas.
Poncho lançou um grunhido, embargado pela
tristeza daquela visão. Detestava o inverno em Londres. Morrer na forca seria
preferível a ter que despertar em um dia assim.
- trouxe café - disse Farnham-. E o
jornal.
- Poncho se levantou.
- O que? Não há mais cartas de minha mãe?
Farnham negou com a solenidade de quem
não conhece o sarcasmo.
- tivemos alguma visita? Uma jovem não
muito alta? Cabelo encaracolado e loiro. Pode ser que tenha estado interessada
em posar. -Embora Poncho não esperasse realmente que aquela jovem mudasse de
opinião, a resposta de Farnham não deixou de decepcioná-lo.
- Não, senhor - disse este-. Mas veio um
jovem procurando trabalho.
Pelo tom pausado e sem inflexões de
Farnham, Poncho supôs que este se propôs ajudar. Com toda sua formalidade e
esmero, seu mordomo também era um homem sensível.
- Podemos lhe dar algum trabalho?
-perguntou Poncho, arrumando a colcha sobre o colo.
Farnham depósito a bandeja antes de
responder.
- O jardineiro já é um homem entrado em
anos, e a senhora Choate poderia lhe dar trabalho na cozinha durante o inverno.
- Acha que poderia nos roubar?
- Não, senhor. Falava surpreendentemente
bem. Deve ter freqüentado uma escola nacional. Disse que seus pais trabalham na
fábrica de gás, perto do Regent`s Park.
Poncho fez uma careta. As duas grandes
chaminés do outro lado do parque contribuíam para engrossar a capa de sujeira
que agora invadia Londres. As condições de trabalho eram atrozes. Ninguém que
tivesse visto as gravuras de Dourei sobre as feitorias do St. Lambeth podia
duvidar. Como um dos círculos do inferno. Doze horas ao dia, sete dias por
semana. Não estanhava que um menino quisesse esfregar panelas em lugar de
seguir os passos de seus pais.
Depois de descartar este desagradável
pensamento, tomou um gole do café amargo que Farnham tinha servido. Aquela
potente bebida infundia um prazer que nenhuma depressão podia apagar. A senhora
Choate tinha suas virtudes, sem dúvida e, entre elas, seus excelentes pepinos
japoneses, mas Farnham preparava um café digno de um homem.
- Então, contrato-o, senhor?
- Mmm? -disse Alfonso, que seguia absorto
no café.
- O menino. Quer que o contrate?
- Não vejo por que não - disse Alfonso, -
dando de ombros. Quando a senhora Choate voltar da casa de sua irmã, suponho
que desfrutará se tiver alguém a quem mandar.
- Muito bem - disse Farnham, e entregou o
jornal recém engomado. E quando percebeu que o mordomo continuava ocupado no
quarto, suspeitou que se preparava para um de seus sermões morais.
- Sim? -disse, sem incomodar-se em
dissimular sua irritação.
- Se não se importa, senhor...
- E se me importasse? -balbuciou Alfonso.
- Segundo minha experiência - seguiu
Farnham-, alguma atividade física leve, ou possivelmente uma visita a um amigo,
faria muito mais para levantar seu ânimo que esta... esta letargia.
- Acontece que esta letargia me agrada -
disse Alfonso, entrecerrando os olhos-. Quanto a meu estado de ânimo, é uma
conseqüência inevitável de meu dom.
- Estou seguro de que lhe resulta cômodo
pensar assim, senhor, mas...
- Farnham - disse Alfonso, para
adverti-lo de que a ira de seu senhor estava a ponto de revelar-se.
Como qualquer soldado veterano, o mordomo
sabia quando retroceder.
- De acordo, senhor - disse-. Estarei no
quarto da despensa, se me necessitar.
Assim que fechou a porta, Poncho tirou a
bandeja e afastou as mantas. Podia ser que discutir com seu mordomo não fosse
equivalente às vinte voltas ao redor da casa que contemplava Farnham, mas tinha
instilado um pouco de calor nas veias.
Acabou de beber o café enquanto se
vestia. Hoje vestiria calças em lugar de uma túnica. Escolheu uma camisa limpa
e engomada, e depois franziu o cenho diante da fileira de exóticos casacos que
penduravam em seu armário. Prescindiria de casaco. E também prescindiria de
calçado. Não tinha intenção de ir a nenhum lugar, e ninguém viria visitá-lo.
Entretanto, podia ser que tivesse
suficiente energia para mandar uma nota a seu administrador. Averiguar se
tinham encomendado algum novo trabalho. Que não daria Poncho por uma viagem a
Paris! Possivelmente não amanhã, mas dentro de uma semana, quando estivesse
totalmente recuperado.
Muito preguiçoso para abotoar-se, desceu
pela escada com a cauda da camisa batendo contra seus quadris.
- Mais carvão! -pediu quando caminhou
descalço sobre o gélido mármore do salão de entrada.
Pela extremidade do olho viu uma sombra
que passava em direção a cozinha. Não podia ser Farnham, porque não se deteve.
- Você, aí - chamou-. O menino novo.
A sombra ficou congelada e depois se
voltou muito a seu pesar, mas não se aproximou. A figura desajeitada daquele
menino inspirou um humor nostálgico. Nem recordou ter tido essa idade, ser todo
pernas e cotovelos e ataques de acanhamento. Se é que era acanhamento. Essa
maneira do menino de afundar a cabeça entre os ombros o fez pensar que
possivelmente esperava algum tipo de reprimenda.
- Acostuma-se ao trabalho sem problemas?
-perguntou, com voz mais amável.
A sombra murmurou algo que provavelmente
significava sim.
- Não tem por que ter medo de nós -
assegurou Alfonso-. Sei que Farnham é um pouco rigoroso, mas se tentar fazer o
melhor que possa, sempre poderá contar com ele.
- Sim, senhor - disse o menino, e começou
a afastar-se pouco a pouco-. Vou procurar o carvão que pediu.
O barulho da aldrava que de repente
escutaram na porta não mudou sua intenção de escapulir-se.
Maldito seja, pensou Alfonso. Não se pode
ensinar a ninguém hoje em dia.
Como um presente inesperado para seu
estado de ânimo, a figura que viu na porta arrancou imediatamente um sorriso.
Era a criada do dia anterior. Uma viva
mancha de cor que destacava em meio a névoa, vestia um casaco de tweed horrível
sobre um vestido cor laranja espantoso. Tinha a saia manchada e os babados da
barra se arrastavam como se os tivessem pisoteado. Na realidade, poderia ter
acontecido assim. Tanto o casaco como o vestido penduravam de sua proprietária
como um saco. A noite anterior não lhe tinha parecido tão baixa de estatura.
Agora, Nem observou que se tratava de uma jovem diminuta, não somente de baixa
estatura, e sim diminuta. Seu tamanho não era o único traço que não tinha
apreciado cabalmente à luz da lanterna.
Não podia ter ignorado suas sardas mas
seus olhos de uma cor interessante, tinham toda a luz que faltava ao dia
O que pôde ver de seu cabelo por debaixo
de seu cachecol marrom tecido à mão, era bastante notável tinha acreditado que
era loiro, mas não se esperava aquela mescla incendiária de vermelho e dourado.
Agora, ondulado pela umidade reinante, estava tão encaracolado e denso que
parecia vivo. Como o rocio dos contos de fadas, umas gotas diminutas penduravam
dos cachos de cabelo.
Apesar de seu aborrecimento, Poncho ardia
de desejo de ter à mão suas pinturas.
- Não me diga que Farnham a seguiu e a
convenceu que venha me liberar deste dia tão triste - disse a beira da risada.
- Perdão - disse a visitante, tendo-se
muito erguida. Jamais tinha visto uma mulher tão bem erguida. Parecia um
pequeno soldado com os ombros jogados para trás e a mandíbula para diante.
Observou que seu nariz era arrebitado, como com uma pequena bola na ponta,
diria um pedaço de argila deixado ali por esquecimento. Retroussé teria dito um francês, mas a palavra não transmitia seu encanto. Tinha uma face de
seu rosto cheio de sardas, manchada com um pouco de cinza. Que rosto, pensou
ele. Que rosto mais maravilhosamente inesquecível.
Lástima que não podia dizer o mesmo de
seu nome.
- me desculpe - disse, procurando em sua
memória-. É evidente que vieste por iniciativa própria. Quer entrar e me contar
o que quer? Eu não gostaria que uma jovem dama passando frio na porta de minha
casa.
Chamá-la de dama bem podia ser um
exagero, porque nenhuma dama que se apreciasse viria sozinha a casa de um
cavalheiro. Entretanto, Poncho tinha descoberto que à maioria das mulheres, sem
importar quão humildes fossem, agradava-lhes que as tratassem de damas. A menos
que fossem damas, pensou irônico, recordando como se excitava Amanda Piggot com
esse apelativo tão comum dele. Mas não tinha desejo algum de ofender esta
jovem, sobre tudo quando tinha ido para conceder seu mais fervente desejo.
Apesar de sua cordialidade, seu convite
pareceu projetar certa tranqüilidade. Possivelmente não era uma jovem tão
mundana como tinha pensado. Depois de uma leve valorização, passou a seu lado e
entrou no calor relativo de seu lar.
- Faz um pouco de frio, é verdade -
concedeu ela. Tinha uma voz grave, quase como a de um jovem. Um pouco de
estábulo misturado com um pouco de casa dos amos. Esta pensou, divertido, tem aspirações.
Era evidente que seus móveis tinham chamado sua atenção. Anahí passeou pela
sala circular por debaixo da abóbada, detendo-se observar a estátua de um
esbelto gato egípcio. Era um tesouro esculpido em basalto e usava um colar de
ouro e lápis-lazúli no pescoço. Com a mão, enluvada em uma lã verde basta,
tocou as suaves patas dianteiras.
Virou-se e, por um breve instante pareceu
tão altiva como o gato. Uma pequena duquesa pensou ele, com um sorriso generoso
que não pôde dissimular.
- Quero saber - perguntou com aquela mesma segurança-, se ainda busca
uma modelo.
Autor(a): annytha
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Incapaz de resistir, ele começou a dar voltas a seu redor. Colheu com a mão um extremo de seu cachecol e começou a desenrolá-lo enquanto dava voltas a seu redor. Ela deixou escapar uma ligeira exclamação de surpresa, mas não resistiu, conservando o olhar fixo em seu rosto enquanto ele desvelava lentamente sua majestosida ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 416
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elizacwb Postado em 21/12/2012 - 15:31:40
amei o final dessa web, amei, que lindos...envolvente, excitante, emocionante, aiai muito boa mesmo
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biacasablancasdeppemidio Postado em 20/12/2012 - 00:55:16
preciso de leitoras .. web com cenas hot http://www.fanfics.com.br/?q=fanfic&id=19720
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jl Postado em 20/01/2012 - 16:31:52
AAAAAAAAAAAAAAAAAA que lindo *-* se casaram finalmente *-*
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jl Postado em 20/01/2012 - 16:31:51
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jl Postado em 20/01/2012 - 16:31:50
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jl Postado em 20/01/2012 - 16:31:50
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jl Postado em 20/01/2012 - 16:31:49
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jl Postado em 20/01/2012 - 16:31:46
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