Fanfic: Alem da Sedução (terminada)

jl rapídos eles não? que venha mais então.
besos e gracias pelo comentarios!!!

Ao que parece, não. Poncho agora mesclava
suas cores, olhando-a através de olhos entrecerrados, para logo concentrar-se
na tela. Ela sabia, da noite anterior, que para ele ela quase deixava de ser
uma pessoa assim que começava a trabalhar. Sua concentração a fascinava e também
acalmava seus nervos. Afinal, como podia sentir-se envergonhada quando seus
seios ou coxas eram simplesmente um objeto mais que pintar?

- Espera! -exclamou, quando ele elevou o
pincel. Ele franziu o cenho, intrigado, mas ela não podia lhe deixar fazer
essa-. Tem que conseguir um arreio diferente. Lady Godiva era uma mulher nobre.
Tampouco estaria mal um cavalo de verdade.

- Pelo visto, tem o prurido da perfeição,
né? -disse, divertido-. Não se preocupe, duquesa. Isto não é mais que um
esboço. Para ver se minha idéia funciona. Se funcionar, comprarei um arreio. E
um cavalo, embora quem sabe onde o faremos posar.

- Um cavalo branco - insistiu ela, que
tinha claro a lembrança da lenda.

- É uma convencida - disse ele, e rindo
afastou uma mecha de sua longa cabeleira.

Na segunda-feira, Poncho a levou a uma
costureira em Princess Street. Para alívio de Anahí, não se tratava de um lugar
que a alta sociedade freqüentasse, nem sequer uma oficina propriamente dita,
senão uma casa particular onde se levavam a cabo as tarefas de costura. A
proprietária era uma velha mulher enrugada, com um forte sotaque parisiense.
Tinha as mãos frias enquanto tomava medidas de Anahí, ao mesmo tempo em que
fazia estalar a língua. A Anahí recordou tanto à costureira de sua mãe que, temendo
que as duas mulheres se conhecessem, optou por não abrir a boca.

Enquanto isto acontecia, Poncho esperava
em uma pequena sala. Como todo cavalheiro, não se atreveu a sugerir que
observaria enquanto a vestiam nem deu instruções além de um vago «lhe dê o que
necessita».

Isto apresentava um problema. Embora Anahí,
apesar de sua falta de interesse, sabia perfeitamente o que necessitava a filha
do duque de Monmouth, não tinha nem idéia do que necessitaria uma criada
convertida em modelo de artista.

Quando se viu obrigada a sugerir algum
objeto, pediu três vestidos de inverno normais e comuns, vários conjuntos de
roupa intimas e dois pares de meias de seda. Possivelmente estas últimas não
eram necessárias, mas nem sequer Anahí podia acostumar-se com essa lã tão
barata.

Depois de fazer sua seleção, tudo foi
submetido à aprovação de Poncho. Aquele procedimento provocou em Anahí uma
sensação estranha, como se tratasse de uma amante, e não de uma empregada.
Aquele sentimento não a agradou, mas supôs que a conclusão que a anciã tinha
chegado era compreensível.

Poncho não manifestou desconforto algum.
Como se dar o visto de aprovação ao enxoval de uma mulher fosse coisa de todos
os dias, estudou os desenhos e os tecidos. Anahí ficou tensa quando franziu o
cenho até unir as sobrancelhas por cima do nariz. Pergunto-se se, em meio a sua
ignorância, não tinha pedido muito, mas ele se limitou a esfregar o queixo e
assentir. Depois olhou à anciã encurvada.

- Recorda essa cor púrpura que me
mostrou?

- Certamente - disse ela, com seu sorriso
de comerciante-. Uma preciosa seda aveludada.

- Queríamos algo assim para um vestido de
noite. Com os ombros descobertos e pouca anquinha. Mas deixo a você o estilo.
Já sabe o que eu gosto.

- É claro que sim - conveio a costureira-,
E possivelmente com uma capa em conjunto?

Poncho se virou para olhar Anahí, um
movimento rápido e elegante que tomou por surpresa. Seu olhar era pormenorizado
e suave.

- Um casaco de verdade, acredito. Com um
excelente forro. Um tweed escuro. Cor chocolate se tiver. Ou verde chinês. E
com lapelas de veludo. Lapelas negras.

- Muito bem - disse a anciã. Pelo modo
como inclinou respeitosamente a cabeça, era evidente que entendia que Herrera
tinha acabado.

Anahí não falou até que a criada os
conduziu até a porta.

- Necessito um vestido de noite?

- Pode ser que sim - disse ele, uma
expressão divertida que não delatava o que pensava. Anahí teve que lutar contra
uma ameaça de pânico. Oxalá não tivesse a intenção de passear em público. Quão
último desejava era que a vissem antes que sua perdição fosse absoluta.

- E um casaco? - adicionou, quando ele
assobiou para chamar uma carruagem.

- Isso vai necessitar. O que tem está
muito puído.

Ajudou-a subir os degraus da soberba
carruagem de quatro rodas, suas maneiras impecáveis como o de qualquer filho de
família nobre. Anahí, já tinha reparado nessa elegância dele. Alguém o tinha
instruído para que atuasse desta maneira? Teria contratado um tutor para que o
educasse? Possivelmente como artista, aqueles maneiras ajudavam a atrair uma
clientela mais rica.

Herrera se acomodou diante dela no
assento em frente e esticou as pernas longas e magras até o outro lado.

- Se sentir-se estranha aceitando esta
roupa, pode deixar tudo quando tiver acabado o trabalho. Certamente - disse,
Sorrindo como um moço travesso-, é tão pequena que não poderia a assentar bem
em ninguém.

Anahí sentiu um gozo inesperado e quente
no peito. Pelo visto, preocupa-se comigo, pensou. E não quer que sinta que me
converti em objeto de sua caridade. Que amável! E que divertido, posto que era
tão desnecessário. Seu pai podia comprar cem vestidos de veludo e não sentiria
falta de em um xelim.

Levou a luva à boca para conter essa
risada interior.

- Obrigado - disse, e se viu obrigada a
virar o rosto para a janela-. É muito amável.

Aquilo era algo mais que uma travessura,
certamente, mas Anahí já começava a perguntar-se quanto tempo poderia continuar
com esse emprego.

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