Fanfic: Alem da Sedução (terminada)
- Pararei -disse- quando você decidir vir.
Aquela última palavra a sacudiu, como uma lança suave e quente. Ela conhecia o sentido da palavra «vir» para referir-se ao clímax e, sem dúvida, não se tratava sozinho de «vir». A excitação tinha tingido Poncho no rosto e lábios, que agora se separavam para respirar. Ao ver esse rosto tão belo o coração deu um tombo. A seu lado, ela era um monstro horrível e cheio de sardas.
- me diga que virá - disse ele, agora mais suave, mais rouco-. Diga-me que virá e conhecerá meus amigos.
- Não sei por que quer que vá.
- Já disse isso. -Elevou uma mão para acariciar sua face-. Eu não gosto de ir sozinho.
- Alguma vez foi sozinho? -murmurou ela, recordando a noite que ele tinha entrado em seu quarto cheio de fumaça, quando tinha pego o sexo e o tinha esfregado enquanto ela olhava.
Os olhos de Poncho brilharam sob a luz de gás, suaves jóias cinza. Possivelmente eram janelas, mas só abertas a um mistério maior. Suas pupilas eram escuras, negras como o azeviche.
- Às vezes. Às vezes minhas necessidades são tão urgentes que não podem esperar. Mas logo me dá vontade de estar com alguém.
- Com alguém?
Alisou-lhe a testa com o polegar.
- Quero que esse alguém você seja, Anahí. Acredito que esta altura já sabe.
Antes que ela pudesse responder, ele a soltou e se levantou, recordando quão alto era, quão magro e fibroso. Apesar de ter lavado os dedos, ainda ficavam pequenas manchas de pintura nas unhas. Era uma imperfeição sem importância. Suas mãos eram tão mais formosas quando ficavam nelas rastros de seu ofício.
- Amanhã à noite - disse-. Sairemos às sete. Antes minha cozinheira era criada de quarto. Estou seguro de que estará encantada de ajudá-la com o vestido.
Ela deveria ter rechaçado suas ordens. E, mais importante ainda, o risco de sair deveria ter anulado o deleite sublime que sentia nas extremidades. Em troca, fraquejava em corpo e alma, afundou-se na cadeira e ficou admirando aquela figura que agora se afastava.
Tinha um traseiro pequeno e firme, e seus músculos se esticavam com cada movimento de seus passos. Com uma disposição que a surpreendeu, Anahí o imaginou manobrando por cima dela.
Estou a sua mercê, pensou.
Se ele decidisse possuí-la agora, ela não teria a vontade para impedir-lhe.
Esse fatalismo tinha desaparecido na noite seguinte, provavelmente porque Anahí não tinha visto Poncho em todo o dia e porque agora era capaz de armazenar resistência. Em lugar de fazê-la posar, tinha-a deixado para que se banhasse e se polisse e, como dizia ele, que fizesse aquilo que faziam as mulheres. Anahí entendeu isto como a insensatez que era. Não tinha nenhuma dúvida de que Poncho sabia perfeitamente o que faziam as mulheres.
A senhora Choate, a antiga criada de quarto, revelou-se como uma valiosa colaboradora, e não só a ajudou a cingir o vestido cor púrpura mais também arrumou o penteado em um coque muito na moda. Seus longos cachos, por uma vez úteis, não requeriam nenhum tipo de tratamento para adornar sua testa.
- Ainda conservo minhas habilidades - disse a senhora Choate quando Anahí expressou sua admiração com o resultado-. Em caso de que algumas delas necessite.
Anahí se absteve de perguntar quantas vezes tinham necessitado. Sabia que a resposta só conseguiria deprimi-la. Com o ânimo embaciado por aquela idéia, declinou a oferta da senhora Choate para lhe empoar as sardas.
- Teria que me empoar toda - disse-. Deixaria marcado tudo o que toque.
- Suponho que tenha razão - disse a cozinheira com um suspiro. Juntas examinaram seu reflexo no espelho lascado. Anahí se sentiu estranha vestindo-se naquele quarto humilde, estreito e precário, como se agora tivesse aumentado o perigo de que a assinalassem como impostora.
O vestido de veludo, embora ousado, era tão adulador como qualquer objeto que tivesse escolhido sua mãe. O corpete era intrepidamente baixo, embora devesse sê-lo se tratasse de realçar o pouco busto que tinha. Seguindo a moda, a saia era Lisa na frente e, atrás, ficava recolhido em uma cascata de dobras. Depois de ter passado os últimos dias despida quase sempre, Anahí jamais se deu conta do carcerário que era a indumentária feminina moderna. Os laços por debaixo da saia impediam que esta se desdobrasse e sua estreiteza dificultava o andar, especialmente ao ter que arrastar aquela cauda de leque. Até o peso do vestido parecia pomposo. Apesar disto, não podia lamentar-se de que o corte lhe fosse tão vantajoso.
Possivelmente não fosse a beleza que Poncho afirmava, mas, meu Deus, estava tão elegante vestida com esses trapos como jamais o estaria. Essa noite sentia-se uma mulher diferente. Não era a mulher que tinha sido tampouco a mulher que tinha pretendido ser, e sim alguém completamente diferente.
Alguém que podia seduzir um homem pensou, e estremeceu com aquela idéia como se fosse uma profecia.
Poncho parecia satisfeito com os resultados.
- Supera todas as marcas - disse, quando a viu descendo as escadas de mármore.
Anahí nem sequer escutou a adulação. Ficou sem fôlego ao vê-lo metido em seu fraque. Agora que Poncho se vestiu como os homens que ela conhecia normalmente, teve uma idéia mais precisa de sua figura. Os ombros, que mantinha bem erguidos, eram largos, os quadris magros como as de um bailarino. Seu colete, quase tão apertado como o corpete dela, brilhava com seu azul pavão bordado com flores chapeadas. Nenhum homem que ela conhecesse teria se atrevido nem morto a vestir algo tão estridente, mas em Poncho assentava bem. A cor lhe emprestava uma tintura azulada a seus olhos cor prata. Penteou-se para trás e aquelas ondas de cabelo tentadoras e evidentes, caíam-lhe pelas costas, e seu tom avermelhado brilhava como se o tivesse tratado com óleo.
- Deixaste-me cega - disse ela, com um sorriso torcido.
Ele colocou os polegares sob as lapelas e inchou o peito.
- Não posso deixar que me eclipse.
- Como se isso fosse possível - disse ela, mas não havia amargura em sua voz, só o gozo da cumplicidade de suas brincadeiras e a agradável surpresa de sua elegância vestido de etiqueta. Não recordava ter tido um escolta tão atraente em toda sua vida.
Deslocaram-se até a festa em uma carruagem pequena e fechada, conduzido pelo jardineiro e puxada por um cavalo tão velho e lento que só poderiam havê-lo alugado por piedade. A noite era úmida e não havia lua, e o torpe pangaré avançava assustando-se com tudo o que se movia, incluídas as lamparinas que balançavam na boléia do carro para iluminar o caminho. Por sorte, não tiveram que ir muito longe, só algumas ruas ao norte até uma fileira de casas elegantes perto do campo de críquete do Middlesex.
Poncho ia sentado ao seu lado no único assento e, naquele espaço estreito, seu aroma se mesclava com o dela. O efeito era o de uma droga. Anahí reprimiu com muita dificuldade o impulso de apoiar a cabeça em seu ombro e fechar os olhos.
Quando se detiveram, pôs o braço sobre a manga de seu flamejante casaco verde. Apesar de sua determinação de manter-se serena, o pulso de Anahí começava a acelerar.
Perguntou-se se Poncho tinha intenção de beijá-la.
- Acredito que deveria a advertir - disse ele-, que meus amigos às vezes são um pouco selvagens. Não é que tenham má intenção, mas se algum deles diz ou faz algo que a incomode, diga-me e eu me ocuparei de que a deixem em paz.
Anahí o olhou com grandes olhos, enquanto se perguntava o que queria dizer Poncho com «selvagem». Seguro que não falava de libertinagem. Nem tampouco de atos licenciosos, nem depravações. Quão «incômoda» poderia sentir-se? Obrigariam-na a revelar sua falta de vivencia?
Terei que cuidar minhas reações, pensou, e não o deixar ver se algo me escandalizar.
Poncho, que possivelmente era a causa mesma do estado do Anahí, percebeu seu nervosismo, e aproximou os lábios para lhe beijar o cenho franzido. Sua voz era como um murmúrio aveludado na escuridão.
- Já sei que sabe cuidar de si mesma, mas me sentiria honrado se confiar em mim.
Suas palavras a acalmaram ao mesmo tempo em que aumentaram sua cautela. Que atraente era, e que diferente dos homens que tinha conhecido. Estava ainda meio aturdida quando ele a ajudou a descer da carruagem à calçada. Poncho ofereceu suas mãos enluvadas e a manteve colhida com firmeza, inclusive depois de ter descido.
- Quero esclarecer -advertiu- que tenho a intenção de reclamá-la só para mim.
Depois dessa breve declaração, conduziu-a ao longo de uma pequena parede de tijolo até uma pitoresca porta de madeira, desenhada para parecer-se com uma cabana campestre, com tabuas da mesma viva cor azul que o colete do Poncho. A porta se abriu antes que ele batesse.
Caiu sobre eles um jorro de luz e se perfilou a forma voluptuosa de uma mulher. Usava um vestido gasoso e ondulante que parecia um vestido informal de tarde ou um exótico negligé. Anahí teve a sensação que a aquilo que se chamaria «artístico», ao estilo dos pré-rafaelitas. A mulher era mais alta do comum, mas não imponente, tinha o cabelo castanho e o rosto ovalado mais encantador que Anahí tinha visto. Seus olhos eram tão azuis que roçavam o púrpura. Poderia ter posado como Madonna se não fosse pela exuberância de sua boca e porque tinha os lábios pintados de cor vermelha papoula.
Esta mulher pensou Anahí, tão assombrada como desconcertada, parece uma autêntica devoradora de homens.
- Poncho! -exclamou aquela aparição, abrindo seus braços brancos e suaves-. Pensávamos que não chegaria nunca.
O casal se abraçou como velhos amigos, melhor, como velhos amigos íntimos, juntando as faces e sorrindo mutuamente.
Embora tentasse dissimular, Anahí ficou tensa. Não entendia por que Poncho a traria para casa de uma velha amante quando claramente tinha a intenção de seduzi-la. Seus costumes eram tão diferentes dos dela? Ou possivelmente essa diferença se devia à idéia que Poncho havia feito dela, e porque não via nela à filha de um duque, e sim uma pobre criada.
Finalmente, depois do que pareceu uma eternidade, ele se separou de sua anfitriã.
- Anna - disse com voz cálida-, como sempre me rouba o fôlego.
Anna lhe deu uma palmada no ombro e virou para Anahí, com um enorme sorriso.
- Você deve ser a amiga deste desavergonhado especialista em galanteios.
- Annie Puente - disse ela. Pelo visto, Anna não dava a impressão de esperar de sua parte nenhuma inclinação nenhuma reverência, de modo que Anahí não se inclinou. Na realidade, nem sequer estava segura de poder consegui-lo, porque as costas haviam se posto rígida como um pau.
Anna lhe sorriu como se não houvesse tal rigidez.
- Adiante - disse, e a tomou amavelmente pelo cotovelo-. Todos estarão encantados de conhecê-la.
Uma criada muito bêbada segurou o casaco e Anna mesma se encarregou das luvas. Esse gesto bastou a Anahí para saber que o ambiente daquela noite seria informal. E o certo é que a conduta dos convidados confirmou suas suspeitas. Em diferentes cantos de um salão de tons cor terra, havia três casais, além de Anahí e Poncho. As outras duas mulheres, uma loira e a outra morena, estavam sentadas no braço da cadeira de seus acompanhantes e se reclinavam contra eles com toda familiaridade.
Só aquela atitude teria bastado para provocar sufoco a sua mãe.
Dois dos homens eram pintores como Poncho. Sebastian Locke era um tipo loiro e alto. Exibia cavanhaque e tinha certa veia sarcástica. Sua acompanhante, que apresentaram só como «Lovey» a garota do figurino, deduziu Anahí, era gordinha e loira, e tinha tendência a rir sem motivo. Gerald Hill, o segundo pintor, era mais baixo e parecia mais formal. Tinha as bochechas rosadas e a atitude defensiva de um homem cujo orgulho se sente ferido com facilidade. A Anahí pareceu muito mais interessante sua acompanhante. Chamava-se Evangeline. Era uma mulher magra mais de busto proeminente e tinha um rosto angular e chamativo, possivelmente porque tinha o lado esquerdo ligeiramente mais alto que o direito. Aquela anomalia a fazia digna de observar, certamente, e não como se fosse um espanto. Era uma mulher atraente mais mal vestida, com cores que, inclusive aos olhos de Anahí, não lhe assentavam nada bem. O estilo de seu vestido cor argila era muito masculino, de gola alta e tão plano que dava um ar agressivo, como se quisesse desafiar os outros a admirá-la. Embora estivesse sentada junto a Gerald Hill, não parava de lançar olhares a Sebastian Locke.
Eis aqui uma mulher, pensou Anahí, que não aprendeu a dissimular seus caprichos.
O último cavalheiro, Leopold Vandenberg, era mais velho que os outros. Assim que Anahí o viu, a maioria de seus temores se dissiparam. Aquele homem parecia a essência de todo o conservador. Vestia com sobriedade e tinha uma barba espessa e grisalha. Nenhum alfaiate, por caro que fosse, podia dissimular sua cintura avultada, sinal inequívoco do indivíduo de idade média que era Vandenberg. Embora seu olhar fosse amável e seu rosto inteligente, não se podia dizer que fosse um homem atraente.
Não teria que ser um gênio para deduzir que Vandenberg era o banqueiro. Além disso, Anahí descobriu surpreendida que era o amante da simpática Anna. Pensou que possivelmente deveria tê-los imaginado como casal, posto que a encantada Anna pareceu a Anahí uma mulher prática.
Quando acabaram as apresentações, Sebastian Locke lançou um olhar tão descarado ao seu vestido que Anahí se sentiu como um objeto em uma vitrine.
- E bem, querido amigo - disse a Poncho-, vejo que nos estiveste ocultando algo.
- Certamente que sim. -Poncho respondeu com voz distendida, ao mesmo tempo em que agarrava Anahí pela cintura com um gesto protetor-. Conhecendo seus costumes dissipados, qualquer homem em pleno juízo faria o mesmo.
Autor(a): annytha
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galera desculpa a demora pra posta, tou tentando fazer isso o mais rapido que possa, mas ainda tou me recuperando e é uma luta e tanto, não sabem como odeio fica sem net, mas logo voltamos ao normal, so peço que continuem lendo e comentando ok, ainda temos muitas aventuras pra viver. besos as todas! - Isso é um disparate - disse Locke, sem dei ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 416
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elizacwb Postado em 21/12/2012 - 15:31:40
amei o final dessa web, amei, que lindos...envolvente, excitante, emocionante, aiai muito boa mesmo
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biacasablancasdeppemidio Postado em 20/12/2012 - 00:55:16
preciso de leitoras .. web com cenas hot http://www.fanfics.com.br/?q=fanfic&id=19720
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jl Postado em 20/01/2012 - 16:31:52
AAAAAAAAAAAAAAAAAA que lindo *-* se casaram finalmente *-*
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jl Postado em 20/01/2012 - 16:31:51
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jl Postado em 20/01/2012 - 16:31:50
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jl Postado em 20/01/2012 - 16:31:50
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jl Postado em 20/01/2012 - 16:31:46
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