Fanfic: Alem da Sedução (terminada)
Os quadros de Poncho Herrera provocavam na duquesa de Monmouth uma estranha perturbação, mais do que podia expressar, como se lhe passassem algo suave e úmido pela pele. Aquilo era muito agressivamente sexual para observá-lo sem estremecer, e até sua própria beleza era uma afronta. Horrível, pensou, embora não podia dizer isso sem antes ter ouvido o julgamento de seus pares. Podia ser que eles decidissem que uma opinião deste tipo era pouco sofisticada. O que faria então? Quando percebeu de que apertava as mãos com força à altura da cintura, obrigou-se a relaxar.
Qualquer que fosse sua reação sabia que não devia provocar uma cena.
Mas ainda assim, não podia deixar de olhá-lo. Estava vagamente atenta ao barulho das conversas a seu redor. Aquele quadro, titulado com picardia «O passeio de Godiva», estava causando sensação. Homens e mulheres bem vestidos tagarelavam presas da excitação ou da indignação. Ou de ambos. Murmurava-se «Ruskin disse isto» e «Herrera disse aquilo» e«ouviste o que pede Tatling? Duvido que nem o príncipe pagasse sete mil libras!»
O duque do Monmouth, ao seu lado, deu um coice ao ouvir essa soma.
- Sete mil libras?
Lavínia quase nem o ouviu. Sentia nascer nela uma reação que só podia conter a custa de um enorme esforço, uma fúria que fervia nela na medula dos ossos.
Como se atrevia Herrera a sugerir que havia mulheres que viviam como essa mulher - macho essa Godiva, e esperar consideração da parte de outros? Lavínia sabia que era um fato que não podiam negar. A única queda que ela tinha tido ainda a perseguia.
Os pecados de uma mulher nunca se esqueciam.
Só os homens escapavam às reprimendas.
A suas costas, Derrick Althorp se aproximou a pequenos passos. Tinha-lhe pedido que os acompanhasse com o fim de compartilhar as notícias da última carta de Anahí, esperando, certamente, que as transmitisse a seu pai. Anahí estava ficando mais dócil. Qualquer um que lesse suas cartas podia dar-se conta. Lavínia se sentia agradecida pela prontidão com que Derrick aceitou seu convite, por não mencionar sua vontade de constatar, como ela já o tinha feito, se ainda ficava alguma esperança.
Agora, entretanto, essa robusta presença masculina sua lhe punha os cabelos arrepiados.
Os homens eram uns porcos. E esse quadro estúpido e lascivo não fazia mais que confirmá-lo.
- Hmm - disse Derrick, lançando um olhar pensativo ao redor-, parece-se um pouco com Anahí.
Lavínia se virou para olhá-lo boquiaberta enquanto experimentava uma sensação parecida com centenas de aranhas de patas gélidas que subiam por sua coluna.
Derrick se ruborizou ante seu olhar.
- Eh, quero dizer, ao redor do cabelo, um pouco, e possivelmente a... o nariz. Mas, certamente, não é ela - sentenciou, e se endireitou, inchando o peito-. Anahí jamais se atreveria a posar para algo como isto.
- Não, não o faria - afirmo Lavínia, com tom gélido. Nem sequer lamentou quando ele estremeceu.
Anahí não faria isso. E, o que era mais importante, Anahí não podia. Porque Anahí estava em Gales. Com sua amiga Dulce. Tinham recebido uma carta sua precisamente essa manhã. De modo que não podia ser nem o nariz nem o cabelo de Anahí, nem aquele brilho malicioso em seu olhar. A filha de Lavínia não era nenhuma sereia. Era uma garota louca pelos cavalos. Uma garota louca pelos cavalos, uma garota sardenta...
Que tinha montado escarranchada cada vez que tinha a cadeira adequada... Que estava bastante zangada com seus pais para fazer algo realmente desatinado...
Que no passado já tinha contado com a cumplicidade da Dulce para cobri-la em suas travessuras.
Por todos os Santos.
As aranhas iniciaram a descida pelas costas de Lavínia. Agora respirava muito rápido, incapaz de sossegar-se. Tinha passado um momento desde que se aproximasse para estudar os joelhos de sua filha mas, a menos de que estivesse felizmente equivocada, aquelas articulações nodosas da Godiva eram uma réplica escandalosamente boa dos joelhos de Anahí.
Demorou só um segundo em decidir o que devia fazer.
- Comprarei este quadro - anunciou, com voz muito sonora mais imutável.
Quando seu marido a olhou com os olhos exagerados, ela elevou o queixo e falou com mais autoridade, se cabia.
- É uma obra mestra. Vale cada xelim.
- Estou de acordo em que é boa... -aventurou Geoffrey, mas ela não tinha paciência para escutá-lo. Se Derrick tinha razão, aquilo era um retrato nu de sua filha, não podia dar o luxo de deixá-lo exposto nem um minuto mais. E embora não fosse Anahí, tampouco podia dar o luxo. Alguma outra pessoa podia comentar a semelhança. A situação da duquesa era muito precária para ventilar o mínimo escândalo.
Tinha que comprá-lo e teria que comprá-lo nesse mesmo momento.
- Eu mesma o pagarei - disse, o que deixou Geoffrey escandalizado e sumido em um silêncio absoluto-. O pagarei com a herança de minha mãe.
Com aquele ar de autoridade suprema que tinha exibido toda sua vida, agarrou o retrato pela moldura esculpida e dourado e o separou do cavalete. Ouviu que a costura sob a manga lhe rasgava, mas não a importou mais que o murmúrio de exclamações que encheu a sala.
- me deixe ajudar - disse Derrick. Adiantou-se para agarrar a moldura, mas ela o ignorou.
- Onde está Tatling? -perguntou, por cima do ruído-. Diga-lhe que lhe ofereço oito mil.
O quadro lhe deu no tornozelo enquanto o transportava entre a multidão. Pesava mais do que tinha esperado e era bastante difícil de manipular. Lavínia não pôde deixar de amaldiçoar aquela coisa. Não podia ser Anahí, simplesmente não podia ser.
Mas se era, ela mesma se encarregaria, maldita seja, de que ninguém jamais soubesse.
- Importaria de me explicar por que montaste esse espetáculo tão lamentável? -perguntou seu marido, quando o cocheiro deixou Derrick em sua casa.
O tom de Geoffrey era calmo mas tinha os braços cruzados à altura do peito e um músculo lhe pulsava por debaixo da barba.
Lavínia puxou suas luvas para cima. Sentia o coração apanhado como um pássaro na garganta.
- Não tenho nem idéia a que se refere.
- Não tem nem idéia?
- Nem idéia. Queria esse quadro e o comprei. Com meu próprio dinheiro, devo acrescentar...
- Não é o dinheiro o que me preocupa, Lavínia. Acredito que sabe que é uma alegria para mim comprar o que desejas. O que não entendo é seu comportamento. Parece como se não fosse você mesma desde que Anahí se foi.
- Não seja absurdo, querido. Quem ia ser se não fosse eu mesma?
A risada ligeira com que saudou sua própria frase não convenceu Geoffrey.
- Qualquer que seja o problema que tenha, eu gostaria que me contasse.
- Quão único tenho feito é comprar um quadro.
Ele a olhou fixo um momento, e a sombra de uma inquietação apareceu em seu olhar. Antes que pudesse mencioná-lo, ela se virou. Detestava lhe mentir, realmente detestava, mas era preferível uma mentira que ver seu mundo destruído.
Estava muito vivo a lembrança da mão de Althorp fechando-se em torno de seu pescoço.
Tinha sido idéia de Poncho viajar de navio. Alegava que os trens eram sujos, que todo mundo viajava apinhado e que no continente eram de pouca confiança. Segundo ele, não deixaria de divertir-se durante uma semana no Mediterrâneo, em um cômodo iate comercial.
Sem dúvida isto teria sido verdade se Anahí não tivesse demonstrado ser um marinheiro com pouca sorte. Para sua horrível mortificação, assim que pisou no convés sentiu um espasmo no ventre. Quando o impecável navio arremeteu com seus motores para o canal de La Mancha, não era mais que um trapo miserável e a beira permanente do vômito.
Custava-lhe imaginar algo menos divertido, por não dizer menos romântico, que sustentar a cabeça da amante sobre uma bacia.
Em parte, tivesse desejado que Poncho se desentendesse dela. Em seu lugar, ele tomou sua condição com um aspecto surpreendentemente leve, e até chegou a brincar com a proposta de que viajassem até o Egito em lugar de Veneza, posto que tinha ouvido que as ruas do Cairo eram muito secas.
- Sinto tanto - confessou ela, durante uma pausa do segundo dia que a tinha deixado exausta. Muito fraca para levantar-se e muito marcada para recostar-se, estava sentada no chão de sua pequena mais elegante cabine com as costas apoiada contra o beliche de baixo. Vestia só a camisa e as meias, posto que Poncho lhe tivesse tirado o vestido fazia horas.
Agora ele abriu a escotilha para que entrasse uma rajada de ar frio e lhe pôs uma manta sobre os ombros.
- Não há de que lamentar - disse-. Já sabemos que não faz de propósito.
- Mas eu nunca estou doente. Nunca. Sinto-me muito mal por obrigá-lo a cuidar de mim.
- Sim, já o vejo. -Com uma ameaça de sorriso, Poncho enxugou sua testa com um pano de algodão-. Não deveria preocupar-se. Cuidei de muita gente doente.
Anahí se sentiu inexplicavelmente melhor quando ele se sentou no chão junto a ela. De algum jeito se sentia consolada, como se sua mera presença lhe desse forças. Aquela idéia a punha nervosa. Sabia que não podia se dar ao luxo de ficar dependente de um homem como Poncho.
- Custa-me imaginá-lo como enfermeiro - disse.
- Ah, mulher de pouca fé. -Poncho lhe agarrou o cabelo e o deixou derramar-se sobre a cama a suas costas-. Asseguro que sou uma verdadeira Florence Nightingale para meus amigos. Quando cheguei a Londres a primeira vez e conheci Sebastian e Evangeline, os dois gostavam de beber, mas nunca sabiam quando tinham chegado à última taça. Não poderia contar quantas vezes tive que preparar poções contra a ressaca, nem as horas de gemidos e gemidos que me obrigaram a suportar.
- E eu gemi?
- Nenhuma só vez, querida - assegurou ele, e a beijou na têmpora-. É a doente com melhor caráter que conheci.
Anahí suspirou aliviada, e depois enrugou o nariz.
- Em qualquer caso, é muito desagradável.
- Assim é - reconheceu ele, com uma risada, e a estreitou com um abraço suave-. Mas, olhe desta maneira, digamos que vi o pior de você. Daqui em diante, só pode melhorar.
- Esperemos - disse ela, e sucumbiu ao impulso de apoiar a cabeça no peito de Poncho.
Normalmente, não teria deixado que isso acontecesse, mas o ritmo compassado de seu coração a sumiu em um doce sonho.
No dia seguinte, Anahí se sentia melhor, mas não conseguia ter apetite por temor de não saber se conservaria o ingerido. Detestava sentir-se débil, especialmente estando com Poncho. Mas ele também a entendia e assegurou que não a olhava menos por isso, mas a obrigou a tomar sorvos de chá de hortelã. Anahí não suportava aquele rebaixe, mas desde a conversa do dia anterior, tinha decidido não queixar-se. Ao menos, podia controlar isso. Ao quarto dia, tentou abandonar a cama e perdeu o equilíbrio.
Poncho ficou quase tão pálido como ela.
- Isto é muito - disse, quando a ajudou a voltar para a cama-. Verei se há um médico no navio.
- Poncho, não acredito que necessite um médico.
- É claro que sim, maldita seja - respondeu ele com um bufo e lhe apontou com o indicador ao peito-. Eu a trouxe para esta maldita banheira. O que te acontecer é minha responsabilidade.
- De acordo - disse ela, muito cansada para discutir-, mas prometo que não o culparei se morrer.
- Nem se atreva... -murmurou ele, com voz quase abafada. Ela abriu os olhos, comovida por essa preocupação dele, embora desse vontade de rir.
-Estou fraca somente porque estive deitada muito tempo - disse para acalmá-lo-. Duvido muito que vá perecer por causa do enjôo.
A ele lhe escapou um ruído gutural que reprimiu imediatamente.
- Certamente que não - disse com voz risonha-, só acredito que neste caso seria prudente consultar um médico. Possivelmente se restabeleça mais rapidamente.
O navio era muito pequeno para contratar um médico. Entretanto, Poncho conseguiu um remédio do cozinheiro, uma bebida composta de açúcar, suco de lima e um pouco de sal.
O próprio capitão veio vê-la, uma cortesia que pareceu desnecessária, embora Poncho se mostrasse muito agradecido. Na realidade, sua gratidão era tão fervente que dava vergonha, embora o capitão tomasse com aprumo. Era um homem mais velho, de rosto bronzeado e com um uniforme cinza impecável. Olhou-a nos olhos e fez estalar a língua, como um cacarejo de mamãe galinha.
- Encontro-me bem - disse ela, com voz débil, tentando sentar-se-. Levo vários dias sem vomitar.
- Tampouco comeu - disse Poncho, que olhava por detrás do capitão-. Como pode ver, não é que possa perder muito peso.
- Muito obrigado - disse Anahí, com voz seca, com o qual provocou um sorriso do capitão.
- Farei que tragam um pouco de alcaçuz -disse-. Se o mastigar, o ventre pode se estabilizar o bastante para comer. Depois provaremos com um pouco de sopa e arroz.
Anahí detestava que decidissem por ela como se fosse uma menina, mas conseguiu guardar silêncio.
Quando o capitão saiu, Poncho riu ao olhá-la.
- Tem um aspecto tão feroz, duquesa, que deduzo que, efetivamente, não se encontra às portas da morte.
Ela o olhou com fúria reconcentrada, mas a verdade era que seu esbanjamento de cuidados lhe tinha chegado ao coração.
- me conte um conto - pediu depois de que o arroz se assentou com certa dificuldade em seu estômago. Poncho cheirava a ar fresco, e a chá de hortelã com limão. Havia-se aconchegado junto a ela no estreito beliche e estava sentado com o braço ao redor de suas costas suas longas pernas cruzadas à altura dos tornozelos. Quando falou, o fez com voz precavida.
- Uma história sobre o que?
- Algo. Você e Sebastian. Como era a vida quando eram jovens.
- Não sou muito mais velho que você, Annie. Suponho que um pouco parecido a como era a vida para você. Sabíamos que o mundo era redondo
- Não o dizia nesse sentido. Quero dizer, onde cresceu? Que tipo de jogos jogava? Dava-se bem com seus pais? Ainda estão vivos?
- São muitas perguntas - disse Poncho, movendo-se perceptivelmente sobre o colchão.
- Então, me responda uma. Necessito que me distraiam da digestão.
Ele sorriu ao ouvir suas palavras, embora ela se desse conta de que tinha seus reparos. Sem dúvida não era justo de sua parte, tendo em conta sua própria falta de candura. Ainda assim, não podia resistir sua oportunidade de bisbilhotar.
Poncho a intrigava mais que nunca.
- Muito bem - concedeu ele, finalmente, e acomodou sua cabeça para que adotasse uma posição mais cômoda sobre seu peito-. Posso contar que minha mãe está viva. Meu pai morreu em um acidente de caça faz alguns anos.
- Que terrível para você - disse Anahí, apalpando sua camisa à altura do coração-. Que terrível para os dois.
- Já - disse Poncho, com um som estranho e seco-. O mais terrível que provavelmente não fosse um acidente.
Anahí levantou a cabeça.
- Não quererá dizer que o assassinaram?
Poncho torceu a boca quando esfregou a bochecha de Anahí. Mais que olhá-la, parecia que seus olhos procuravam algo mais à frente. Para o passado, imaginou ela. Pensou que sua mãe não teria amado seu pai o bastante para chorá-lo. Boa coisa desfazer-se dele, parecia dizer com sua atitude, algo que para ela, a menina mimada de papai, era tão impactante como viver o assassinato do pai.
Ao menos aquilo explicava por que ele não queria compartilhar seu passado.
Com uma leve exalação, Poncho deixou cair a mão sobre sua perna.
- O homem que disparou disse que tinha confundido a boina de caça de meu pai com um urogallo. É possível, embora os rumores diziam que meu pai tinha seduzido a sua mulher.
- Ooh - disse ela, sem saber muito bem que atitude adotar diante daquela história tão sórdida. De que tipo de família vinha Poncho?- Seguro que terão investigado.
No rosto do Poncho apareceu um brilho de ironia.
- Suspeito que a polícia não foi tão minuciosa quanto poderia ser com o caso. Nem minha mãe nem a suposta adultera tinham muita vontade de que a verdade saísse à luz. Além disso, dificilmente se poderia dizer que meu pai era uma vítima inocente.
- Entretanto - disse Anahí, sabendo que se metia em terreno pantanoso-, um homem não merece morrer por uma indiscrição.
- Não - conveio Poncho, e o rosto lhe voltou duro com um olhar escuro que ela nunca tinha visto-. Não é por isso.
Com a intenção de consolá-lo, acariciou o músculo tremulo da mandíbula.
- Foi tanto responsabilidade da mulher como de seu pai. Ela não estava indefesa. Poderia ter rechaçado suas insinuações.
- Acredito que seu marido pensava o mesmo. Levou sua mulher para a Austrália assim que se fechou a investigação, como se fossem um par de réus. Certamente - suspirou ele, com uma ameaça de risada-, aquela partida tão rápida poderia ter sido obra de minha mãe.
- Sua mãe é tão dura?
- Dura é uma palavra que nem começa a defini-la. Para ser justos, quase sempre tem razão. Minha mãe tem um agudo sentido da justiça.
- Suponho que isso podia ser incômodo.
- Sim - disse ele, seco, e logo aspirou pela metade como se algo acabasse de ocorrer - Incômodo para ela também, possivelmente. Por muita vontade que ponha nisso, não pode conseguir que o mundo viva segundo suas normas. Seguro que suspeita, de vez em quando, que possivelmente tenha afastado às pessoas que ama.
Anahí abriu a boca para protestar porque ele culpava sua mãe pelas decisões de seu pai. Estava falando de si mesmo. Era Poncho quem se afastou do julgamento de sua mãe.
Antes de decidir que se tratava de um assunto que deveria eludir, lhe sorriu com um olhar cálido.
- Pensava em seus pais, não é assim? Quando me perguntava pelos meus. Preocupa-se que se estivessem vivos possivelmente não aprovariam o que tem feito.
Posto que seus pais ainda estivessem vivos e posto que não houvesse um possivelmente em sua desaprovação, não era isso o que ela pensava. Em lugar de reconhecê-lo, olhou as mãos.
- Possivelmente teriam razão se o desaprovassem.
Poncho deixou escapar um bufo suave.
- Está pensando nas regras da sociedade, as regras que a própria sociedade não respeita salvo quando lhe convém.
- Mas a gente tem que viver segundo um código de conduta! - Assombrada por suas próprias palavras, Anahí levou os dedos aos lábios. Era uma objeção que não tinha querido formular, e que parecia muito apropriada na boca de seu pai.
Por sorte, Poncho não se sentiu ofendido. Com olhar sério, afastou-lhe um cacho de cabelo caído junto à orelha.
- O que é o que sua consciência diz que está bem? Para mim, não está mal orgulhar-se da própria juventude e beleza. Tampouco penso que seja um pecado compartilhar os prazeres da carne com alguém que deu seu consentimento. O pecaminoso é cair na crueldade com o amante, na crueldade e na falta de cuidados.
Ela não pôde responder. Sua razão não discrepava, mas seu coração estava chegando rapidamente à conclusão de que os prazeres e a carne, ao menos para ela, não eram uma questão só da carne. Agradasse-lhe ou não, suas emoções também participavam.
- Pode ser realmente tão simples? -inquiriu, e sua pergunta soou um pouco brusca. Anahí levantou o olhar para ele mais Poncho não a olhou. Uma luz como peneirada pela água, loira como a palha, dançava sobre sua pele e, por contraste, seus traços pareciam muito quietos. Tinha os olhos de cor cinza, sua boca uma linha de rosado outonal. Era um rosto ao mesmo tempo belo e triste.
- Pode ser simples assim - disse-, se nos lembrarmos de que temos que ser sábios.
Quando passaram pela ilha de Córsega, Anahí pôde subir ao convés e ver as estrelas nascendo no mar. A água estava serena, um brilho escuro que se elevava para o céu. Uma só franja de escotilhas iluminava o navio enquanto uma rede de ondas espumosas se afastava para ambos os lados da proa. Poncho a sustentou junto a ele no corrimão dianteiro, lhe dando calor, lhe emprestando seu apoio. Anahí deveria haver-se inquietado ao constatar que desfrutava tanto de sua companhia. Mas, ao contrário, gozava com ele. Aquela viagem a tinha mudado, possivelmente tanto como suas experiências em casa de Poncho. Pela primeira vez desde a infância, tinha crédulo completamente em outra pessoa. Poncho não tinha regulado seus cuidados nem tinha abusado de sua dependência, e aquilo modificava o eixo sobre o qual ela girava. Agora, Anahí vivia o momento, fraca mais serena, como se seu passado tivesse sido apagado como a esteira que deixava o navio. Embora soubesse que era uma ilusão, o passado sempre estava com ela. E em efeito era muito real. Sentiu-se leve e serena, e com uma sensação estremecedora de espera.
Não sabia o que aconteceria a seguir, e ignorava quem acabaria sendo Anahí Portilla.
- Sinto-me como se houvesse tornado a nascer - disse.
Poncho afogou uma risada pensando que era uma brincadeira.
- Espera até que veja Veneza - disse-. Pensará que chegaste ao céu.
Autor(a): annytha
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A brilhante gôndola negra soltou amarras no cais da Praça São Marcos sobre a desembocadura deslumbrante do Grande Canal. O dia estava sereno e a água brilhava como um luminoso espelho corrugado. Olhando os palazzos que se elevavam a ambos os lados, Poncho experimentava essa alegria que só pode inspirar um excesso de beleza. A Serení ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 416
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elizacwb Postado em 21/12/2012 - 15:31:40
amei o final dessa web, amei, que lindos...envolvente, excitante, emocionante, aiai muito boa mesmo
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biacasablancasdeppemidio Postado em 20/12/2012 - 00:55:16
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jl Postado em 20/01/2012 - 16:31:52
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jl Postado em 20/01/2012 - 16:31:51
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jl Postado em 20/01/2012 - 16:31:50
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jl Postado em 20/01/2012 - 16:31:46
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