Fanfics Brasil - Capítulo 19 Alem da Sedução (terminada)

Fanfic: Alem da Sedução (terminada)


Capítulo: Capítulo 19

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Poncho tinha a intenção de deixar a cama, mas ficou sentado na borda com os cotovelos sobre as coxas e atesta apoiada nas mãos. A noite espreitava no exterior, uma noite sem lua e úmida. Passou o dia dormindo. Quão único tinha posto eram as mesmas calças negras que usava a noite em que Anahí se foi. Queria tirá-la Também queria comer, lavar-se e apagar o abajur que alguma alma caridosa tinha deixado na mesa de noite de pau-rosa


Certamente, a chama não demoraria a apagar-se posto que só teria que recortar a mecha.


As calças pensou, e sua mente começou lentamente a dar ordens para realizar as tarefas que queria levar a cabo. Vestiria o robe, o robe que ainda cheirava a Anahí, e desceria sigilosamente à cozinha vazia.


Tinha passado um braço pela manga quando apareceu uma sombra no vão da porta que dava ao salão.


A sombra era Sebastian. Tinha uma bandeja em que Poncho viu uma garrafa e duas taças.


– Pensei que não demoraria a despertar - disse Sebastian, e deixou a bandeja de prata cinzelada aos pés da cama. Poncho viu que continha uma garrafa de conhaque, junto a um prato de fruta e queijo, e sentiu uma retorção no ventre.


Sebastian se endireitou e lhe lançou uma ameaça de sorriso, percorrendo-o lentamente com o olhar. De repente, dando-se conta de sua nudez, Poncho passou o braço pela segunda manga e fechou o robe marrom.


– O que quer? –perguntou, com voz brandamente rouca.


Sebastian serviu uma taça e a estendeu até que Poncho a agarrou.


– Eve e eu pensamos que possivelmente necessitava um pouco de diversão. Conhecemos um jovem tenor na ópera a outra noite. Veio para jantar. Um jovem intrépido - disse, inclinando a cabeça a um lado–. Possivelmente gostaria de nos ajudar a fazê-lo cantar.


O arrebatamento em Poncho foi mais reflito que desejo. Com uma sensação de desapego, recordou como era entregar-se a essa mescla de extremidades, tantas que não se podiam contar, como era converter-se em um corpo sem alma, esquecer-se na risada da bebedeira e de uma calidez sem rosto.


Por desgraça, também recordava como era desconcertante captar o olhar de um estranho nas soleiras do prazer e como sentia um de vazio quando o prazer se desvanecia.


Aparentemente, Sebastian leu essas criticas em sua expressão. Cobriu- a mão de Poncho ao redor da taça com seus próprios dedos.


– Se preferir, podemos mandá-lo de volta para casa. E sejamos só nós três.


Entretanto, a idéia de estar a sós com Sebastian e Eve era ainda pior, como entrar voluntariamente em um poço de areias movediças de que acabava de escapar.


– Estou muito velho para esses jogos – disse sem querer ferir os sentimentos de seu amigo.


Sebastian deixou cair a mão. Cruzou os braços e ficou olhando Poncho como um marinheiro que tenta medir a força da tormenta no céu.


– Com o tempo, terá que me perdoar - disse–. Afinal, quantos amigos tem neste mundo? Evangeline, Anna e eu. A isso se reduz mais ou menos. E não adicione Farnham, velho amigo, paga-lhe muito para saber se realmente lhe cai bem.


Mas Poncho não tinha intenção de acrescentar Farnham. Tinha estado a ponto de acrescentar Anahí. Poderia ter sido uma amiga, tempo atrás. Ao menos, pensou que assim poderia ter acontecido. Mas o tinha deixado. Tinha-o usado. Tinha fingido que o amava, mas aquilo era uma mentira. A mentira mais cruel.


Acaso não era essa a verdade?


A dor lhe pulsava sordidamente entre as sobrancelhas mais desta vez não elevou a mão para esfregar-se. Não tinha nada claro, nem sequer a raiva que tinha sentido contra ela quando partiu. E se ele se equivocou? E se em meio de sua dor e humilhação tinha pronunciado acusações que não eram verdade?


E que importava isso agora? Anahí tinha ido. Acabou-se. Não poderia havê-la conservado a seu lado embora ela o tivesse amado. Uma jovem como Annie, ou como Anahí, necessitava um homem em quem confiar. Um marido. Um herói. Um pai responsável para seus filhos. Poncho já tinha demonstrado que ele não podia com isso.


– Poncho - disse Sebastian, que não deixava de observá-lo–, sinto muito por ter tentado seduzi-la. Sinto sinceramente.


Poncho sacudiu a cabeça.


– Não importa. Não se pode culpar um gato por perseguir os ratos.


– Possivelmente, mas pode culpar um homem. Tinha direito a esperar algo mais de mim.


Poncho só atinou a dar de ombros. Todo o resto daquela noite lhe era indiferente.


– Já sabe-disse Sebastian, com uma amabilidade que não era habitual nele–, não teria funcionado entre você e Anahí, a longo prazo, não. As mulheres como ela não dão a seus maridos a liberdade que necessitam os homens como nós.


Poncho guardou silêncio, e se limitou a olhar as profundidades fulgurantes do conhaque iluminado pela luz do abajur. As faíscas douradas se pareciam com os olhos de Anahí. Sentiu que o coração retorcia no peito. Não queria continuar bebendo, nem queria comer. Em realidade, nem sequer estava seguro de poder mover-se.


O vapor que subia da banheira em finas espirais prateadas nublava sua visão das paredes revestidas de ladrilhos marrons e brancos. Era um desenho geométrico. Grego, pensou ele, um subir e descer quadriculado que o convidava a fechar os olhos.


Poderia dormir aqui mesmo, pensou, e deixou que suas pálpebras fechassem.


Despertou ao sentir umas mãos que tentavam tirá-lo da água.


– Idiota - disse Evangeline–. Pretende se afogar?


A seu lado, Cris a ajudava, e Poncho pensou que sua presença devia ser um sonho. Se fosse, era um sonho condenadamente desagradável. Quando obtiveram que Poncho se apoiasse neles, arrastaram-no ao outro lado da sala e o deixaram cair sobre uma cadeira.


Evangeline sacudia a cabeça olhando-o, e sua camisa salpicada de tinta, agora molhada pela água do banho, lhe grudava ao corpo.


– Já pode ir - disse Cris, com voz firme–. A partir de agora, eu cuidarei dele.


Poncho observou não sem surpresa que Evangeline assentia com um gesto da cabeça e se retirava.


Tinha começado a adormecer quando Cris lhe lançou uma toalha sobre as pernas.


– Não sei que segue fazendo aqui - espetou o menino, exasperado–. Esses depravados não podem ficar com as mãos quietas. –Poncho se afundou ainda mais na cadeira empapada.


– São meus amigos - disse.


– Bem, enganariam a qualquer um.


– Você não os entende.


– Na realidade - disse Cris, com um tom de voz que a Poncho recordou a sua mãe–, não acredito que eles entendam você. De fato, nem sequer estou seguro de que entenda a si mesmo. Do contrário, não teria deixado que o que mais queria lhe escapasse das mãos.


Contra sua vontade, a raiva começou a limpar Poncho do matagal que embotava sua cabeça.


– Suponho que agora me dirá que deveria ter lutado por ela.


– Nada disso - disse Cris, negando com a cabeça–. Ela é muito boa para tipos de sua índole.


– Seguro que isso explica por que me mentiu.


– E você não mentiu a ela?


Os olhos de Poncho eram duas franjas de implacável aço azulado. Irritado por chamar sua atenção, levantou-se na cadeira.


– Ela me usou - disse, falando com toda a claridade possível–. Nunca me amou.


– Ah –disse Cris– para um homem que vive de seus olhos, parece-me que está bastante cego.


– Ela só tentava escapar de um matrimônio que não... –Em lugar de continuar com seu argumento, do que nem sequer estava seguro, Poncho se levantou e ajustou a toalha ao redor da cintura. Fez uma careta ao sentir que lhe fraquejavam os joelhos, e passou junto a Cris para o quarto–. Não tenho por que explicar isto você. Tem quinze anos. Não tem nem a menor idéia do que se trata.


– Não me julgue por sua própria estupidez. Sei mais sobre o amor que você.


A voz o seguia. Poncho se deteve e se virou na soleira da porta para atalhá-lo.


– Ah, sim?


Cris se ruborizou, mas se manteve firme.


– Sei que alguém não se rende só porque a pessoa que ama resulta ser imperfeita. Sei que alguém não finge não amar uma pessoa só porque assim resulta mais fácil. Sei que alguém não se esconde sob as mantas porque lutar pelo que importa exige um esforço. Anahí tinha razão ao voltar para junto de sua família. É um desastre!


– Para ela não era um desastre. –Poncho, que agora estava completamente acordado, deu-se com o polegar no meio do peito–. E eu mudei. Ela me fez mudar.


– Bem, não se pode dizer que tenha feito um bom trabalho. Assim que tem por diante um desafio, volta para seus antigos hábitos.


Poncho teve que tragar uma maldição que nenhum menino de quinze anos devia escutar.


– me deixe em paz – murmurou e se dirigiu tercamente à cama. Cris o agarrou pelo braço antes que se metesse nela.


– Se eu fizesse o que merece, o deixaria só. Não sabe o que perde estúpido bode. Há muita gente que estaria feliz de ter um filho como eu.


Poncho o teria ignorado, mas tinha intuído as lágrimas em sua voz, o orgulho que queria acreditar, mas não conseguia de todo. Tudo o que ele dizia era verdade. Cris era um menino brilhante e valente, Deus, sim que era valente, não só por ter vindo até Veneza por seus próprios meios mais também por dizer o que pensava, embora fosse plenamente consciente de que suas palavras seriam pisoteadas. Ele não era resultado dos pecados de seu pai. Era um presente, uma segunda oportunidade sobre a qual ele se empenhou em cuspir.


Assim como ao final se empenhou em cuspir sobre Anahí. Deixou escapar um longo bufo, com um sentimento de asco pela degradação a que tinha chegado. Como é natural, Cristopher pensou que esse som lhe estava destinado, porque se afastou como se a pele de Poncho o tivesse queimado.


– Não - disse Poncho, para detê-lo–. Tem razão. Sou um estúpido bode e você é o filho do qual um homem deveria estar orgulhoso.


Cris ficou boquiaberto. Apesar de toda sua valentia, dava a impressão de que não esperava aquela concessão de Poncho. Poncho viu a si mesmo sorrindo, como se algo em seu interior se iluminasse, algo delicado mais que estava ali, como um brilho do sol visto pela extremidade do olho. Pôs a mão no ombro de Cris, e o esfregou com o polegar. Aquele sentimento em seu coração se fez mais intenso, e não era só luz mais também calor. Sentiu que agora os joelhos o sustentavam.


E se aquilo que mais tinha temido era precisamente o que podia salvá-lo?


Cris quis dizer algo, mas Poncho elevou a mão para detê-lo. Tinha que falar destas coisas enquanto as tivesse claras na cabeça.


– Há algo que tenho que dizer, algo que está em idade de saber.


– Sim? –perguntou Cris, de repente com um brilho de cautela no olhar.


– Não sei se isto o fará sentir melhor ou pior. Me acredite, não trocará em nada o que lhe devo.


– Simplesmente me diga.


– Eu não sou seu pai.


Cris ficou olhando.


– Não é... Mas se é igual a mim!


– Porque sou seu irmão.


Cris se aproximou com passo vacilante da cama. Movendo-se como um velho, ajoelhou-se junto ao colchão. A colcha de veludo, antigamente vermelho vivo, agora só um rosado desbotado, estava recolhida ao seu redor. Quantos dramas se teriam vivido nessa cama? Quantos corações quebrados?


– Então, seu pai... seu pai era meu pai –balbuciou. Elevou a vista, com um amontoado de emoções encontradas pintadas no rosto–. A vovó não sabe nada disto?


– Não, e não estou seguro de que queira contar-lhe.


Cris fez uma careta, como imaginando sua reação. Se pensasse em suas restritas normas de conduta, a marquesa não era uma mulher que alguém quisesse enganar.


– Se não é meu pai – disse, fazendo uma pausa para morder o lábio–, então não tinha razão ao me zangar contigo por não me haver tratado como um filho.


Com gesto precavido, Poncho se sentou na cama junto a ele.


– Tinha todo o direito de estar zangado. Pensava que era seu pai. Diabos, se eu mesmo me preguei à mentira. Algum dia direi por que. Neste momento, quão único tem que saber é que sua mãe era minha melhor amiga. Só por isso, eu deveria ter sido parte de sua vida.


– E então, por que não foi? Se sabia, por que se manteve afastado?


Tinha acertado em cheio. No coração de seus fracassos. Não tinha justificação. Quão único podia lhe oferecer era a verdade.


– Tinha vergonha –disse– por ter decepcionado sua mãe. Eu era jovem e tinha medo, era egoísta e quanto mais tempo estava longe, mais difícil me resultava voltar e me enfrentar você. Eu não gostava de você quando era pequeno. Não era mais que uma pessoa estranha e grande, e suponho que lhe dava medo. Era mais fácil sentir-me culpado que fazer o que sabia era correto.




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Autor(a): annytha

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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 416



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  • elizacwb Postado em 21/12/2012 - 15:31:40

    amei o final dessa web, amei, que lindos...envolvente, excitante, emocionante, aiai muito boa mesmo

  • biacasablancasdeppemidio Postado em 20/12/2012 - 00:55:16

    preciso de leitoras .. web com cenas hot http://www.fanfics.com.br/?q=fanfic&id=19720

  • jl Postado em 20/01/2012 - 16:31:52

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  • jl Postado em 20/01/2012 - 16:31:51

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  • jl Postado em 20/01/2012 - 16:31:46

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