Fanfic: - Fora da Lei - AYA ♥ [adp]

Aquela noite, quando Alfonso retornou a seu apartamento em Vitória, cidade em que estava trabalhando, Anahí virou na cama durante horas, preocupada com Tippy Moore e a estranha reação de Alfonso à notícia de que ia protagonizar o filme. A modelo parecia fasciná-lo só por suas fotografias, e isso era bastante óbvio para ela. Embora tenha sentado Anahí sobre seus joelhos e a consolasse por suas cicatrizes, tratava-a de maneira impessoal. Nunca a havia ultrapassado disso, apesar dos esforços da própria Anahí.

Recordou aquele sábado, cinco anos atrás, quando sua vida mudou de forma drástica. Ainda podia sentir o cheiro do sangue e do couro, sentir o chicote nas costas...

Entre uma e outra onda de dor, ouvia uma voz grave e áspera amaldiçoando sem parar. O curral estava poeirento porque não tinha chovido, e Anahí tinha fibras de feno em seu cabelo loiro alvoroçado. Estava caída de barriga para baixo, com a blusa em farrapos. O sangue saia dos cortes profundos de suas costas. Ouviu golpes fortes e gemidos em um lugar próximo, seguidos de um bater de porta. Um minuto depois, notou que alguém se ajoelhava a seu lado.

—Anahí, pode me ouvir? —perguntou Alfonso com aspereza no seu ouvido.

Ela entreabriu os olhos. Custava-lhe ver com nitidez, mas recordou que Alfonso Herrera era a única pessoa que a chamava por seu nome completo. Todo mundo a chamava Annie.

—Sim? —era aquela sua voz? Soava fraca e tensa. O sol brilhava com tanta intensidade que não conseguia abrir os olhos.
—vou ter que te levantar, e você sentirá dor. Se prepare.

Anahí engoliu saliva. Tinha as costas em carne viva. A blusa se aderia à pele rasgada e sentia como o sangue esfriava ao empapar o tecido. Cheirava estranhamente a metal.

Alfonso deslizou os braços por baixo das pernas de Anahí e em torno da sua caixa torácica com tanto cuidado como pôde. Levantou-a, tratando de não tocar a carne machucada, e notou a pressão de seus pequenos seios nos músculos quentes de seu peito. Estava soluçando, tratando de afogar o som enquanto a dor a transpassava.

—E... papai? —perguntou em um fio de voz.
—Está no abrigo dos arreios —disse com aspereza—. E ali ficará até que cheguem os agentes do xerife.
—Não —gemeu Anahí—. Alfonso não. Não pode fazer que... detenham-no. Mamãe está doente e não pode se ocupar do rancho. Eu tampouco posso...
—Já está detido. Sou Texas ranger — lhe recordou—. Mas disse ao capataz que avisasse à delegacia de polícia pela rádio de meu carro. Eles Já vêm para cá.
—Quem dirigirá nossa parte do rancho? —repetiu, ainda perplexa pelo que tinha ocorrido de maneira inesperada. Seu pai tinha um histórico de comportamento agressivo quando se embebedava. De fato, Ellie, a mãe de Anahí , estava inválida porque Tom Portillo a tinha empurrado pela escada em um ataque de raiva quando bêbado e ela tinha quebrado a pélvis. As cirurgias de urgências não a tinha curado por completo e, para piorar, tinha os pulmões débeis.

—Eu me ocuparei do rancho, de sua parte e da minha —disse com aspereza, e seguiu caminhando—. Não se mova, céus.

As lágrimas escorregavam pelas pálidas bochechas de Anahí. Alfonso a olhava com os lábios apertados. Além das roupas em farrapos, o seu comprido cabelo loiro estava manchado com seu próprio sangue ressecado. Alfonso amaldiçoou entre dentes, e só se interrompeu quando a ambulância se aproximou a toda velocidade pela estrada de acesso do rancho.

Maude, a roliça governanta, retorcia as mãos no alpendre. Deu um passo para frente, com o cabelo alvoroçado.
—Minha pobre menina—soluçou—. Alfonso, ela ficará bem?

—Sim. Mas Não posso dizer o mesmo do Tom. Se ela não o denunciar, eu o farei.

Uma mulher miúda, de cabelo loiro salpicado de cinza, saiu coxeando ao alpendre dianteiro envolta em uma velha bata de flanela. Começou a chorar ao ver sua filha

— Ficará bem. Volta para a cama, Ellie —disse Alfonso e, para ela, sua voz era suave—. Eu cuidarei dela.
—Onde está Tom? —perguntou com voz trêmula. O tom do Alfonso trocou.
—Encerrado no quarto dos arreios.

A mulher fechou os olhos e se recostou no poste.