Fanfics Brasil - 1- O Primeiro grito A Punhalada

Fanfic: A Punhalada


Capítulo: 1- O Primeiro grito

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O Primeiro Grito



O dia estava marcado. Quinze de Abril de dois mil e onze. Após anos sem dar noticias, a franquia de mais sucesso entre os habitantes da mediana cidade de New Britain estava na sua estréia de meia-noite em todos os cinemas. Pânico quatro já mostrava ser um sucesso absoluto. Cartazes estavam espalhados pelas ruas, folhetos no chão, as pessoas estavam recebendo trotes de alguém com o aplicativo no celular com a voz do assassino ghostface, que perguntava qual era seu filme de terror favorito. Apesar de ser apenas uma franquia de filmes de terror, a cidade parecia estar parada para a estréia. Desde a noticia em que no ano passado, um casal de professores foi morto em sua própria casa por alguém que usava a mesma fantasia do assassino do filme, deixada completamente a vista na cena do crime. Desde aí, New Britain foi considerada a Woodsboro da vida real, e isso só fez a fama do filme aumentar cada vez mais.

Se alguém passasse de carro nos arredores do cinema, poderia ver alguém vestido de ghostface perseguindo, com uma faca de borracha, alguma garota estúpida o bastante para ficar apavorada com aquilo. E assim estava Trish Peterson, a garota mais tímida do colégio New Britain High, que só aceitara ir à sessão de cinema porque todos de sua turma de português iam, e aquele era um momento para ela começar a socializar com as pessoas. Ela podia ser vista na fila de entrada do cinema Olympia, com seu suéter rosa, que não combinava com ela, levando em conta como ela era bonita. Seus cabelos, loiros e longos, balançavam com o vento frio da noite e seus lindos olhos, azuis e inocentes, transpareciam o medo que estava sentindo.

Trish não era a garota mais popular do colégio, nem alguém excluído. Ela simplesmente colecionava suas amizades verdadeiras e passava despercebida, isso quando nenhum jogador de futebol notava que ela era a virgem mais bonita que já viram.

Com os braços, ela se aquecia, e com os olhos, observava tudo ao seu redor. A noite parecia estar bem agitada, mais do que ela estava acostumada, e o fato de estar vendo um filme de terror só piorava as coisas. Quando lembrou dos assassinatos do ano passado, as coisas pioraram. Ela imaginou um louco entrando no cinema para matar alguém, só pra imitar a cena inicial do segundo filme da franquia Pânico, já que isso não impediu alguém, no filme, enlouquecer e matar um casal inocente sem motivo aparente.

Quando seu celular tocou, ela estremeceu. Logo ignorou os gritos histéricos dos fãs desesperados e tirou o celular do bolso. Olhou no visor, era número restrito, e até ficou na dúvida se atendia ou não, mas preferiu achar que esse medo bobo iria atrapalhar mais as coisas. Apertou a tecla para atender e colocou o celular no ouvido direito, logo após pôr seu cabelo loiro atrás da orelha.

- Alô – Ela disse quase num grito, mal conseguia ouvir a própria voz no meio da multidão histérica.

- Qual é o seu filme de terror favorito? – Uma imitação barata de ghostface foi ouvida, estava na cara que era sua melhor amiga Ginger.

- HÁ-HÁ-HÁ! Essa foi a pior imitação de ghostface da década, como você conseguiu fazer sua voz ficar desse jeito, Ginger?

Ginger gargalhou.

– Não sei, bem que a minha mãe disse que eu tinha que fazer aulas de canto. Mas enfim, onde você está?

Trish olhou em volta, apesar de saber exatamente onde estava. Ela leu o banner brilhante da entrada do cinema, onde destacava “Pânico 4” e todas suas sessões.

- Estou no Olympia, tem uma multidão aqui, completamente louca pra ver um cara mascarado correndo atrás de uma garota peituda que luta a perseguição toda, para, simplesmente, morrer segundos depois. Como se isso fosse legal... – Trish bufou.

- Nossa, parece que você está com medo. Não tem nada demais em assistir um filme de terror, pensei que já tivesse superado isso.

- É claro que estou com medo, houveram aqueles assassinatos ano passado que obviamente foram baseados nos filmes Pânico, sem falar que eu me conheço, sei o tipo de garota que sou. Não estou nas mortes iniciais, mas sei que não sobreviveria até o desfecho.

Finalmente a fila começou a andar. As pessoas começaram a entrar, e os gritos só aumentaram. Trish olhou para o começo da fila e notou algumas pessoas conhecidas entrando, mas resolveu dar atenção para sua amiga Ginger no celular.

- Trish, qual é? – Zombou Ginger – Você é a virgem, se você não fosse a protagonista, ninguém mais seria. E não se preocupe, prometo que você não vai morrer esta noite.

- Me sentiria melhor se você estivesse aqui...

- Eu sei, infelizmente tive que servir de babá para o Sr. Van Der Lance poder assistir este filme com a esposa... Droga! – Ginger parecia infeliz, obviamente queria estar na sessão de cinema para acalmar sua melhor amiga do que servir de babá por quarenta dólares pro professor que lhe repetiu de ano.

- Ging, vou desligar! Está na hora de gritar. A gente se vê amanhã. Beijos.

- Certo amiga. Bom filme – Ginger desligou, mas Trish continuou com o celular em seu ouvido por alguns segundos, apenas para ouvir o alerta no final da ligação. Colocou o celular no bolso e entregou seu ingresso para a moça da portaria.

Quando entrou na sala de cinema, percebeu que quase nada estava diferente das ruas. Gente correndo pra lá e pra cá, dezenas de ghostfaces espalhados pela sala, pipoca sendo jogada nas pessoas e, por fim, gente gritando - de medo ou de ansiedade. Trish fitou a sala, tentando se convencer de que realmente foi uma boa idéia assistir a este filme. Ela andou devagar pelo corredor, desviando das pessoas que julgava serem malucas, até encontrar um lugar vazio, ao lado de uma garota altamente branca com cabelos longos e pretos, de fato, lindos.

- Com licença? Tem alguém na cadeira ao lado? – Perguntou Trish, educadamente.

A garota virou-se para ela, e logo percebeu de quem se tratava. Trish suspirou quando notou que estava falando com Amanda Rush, umas das pessoas que conseguia notá-la, mas fazia de sua vida um inferno. Amanda riu maliciosamente para Trish, daquele jeito que sempre fazia antes de cometer bullying.

- Olha só quem chegou, pensei que odiasse filmes de terror... – Amanda olhou Trish de cima pra baixo – Ou que tinha um suéter mais bonitinho.

- Amanda, deixe-a em paz – Sussurrou o garoto da cadeira ao lado, irmão mais jovem de Amanda, Brandon Rush.

- Tudo bem, Brandon, pode deixar – Trish suspirou – Desculpe incomodá-la – Ela deu meia volta e decidiu procurar outra cadeira.

- Cuidado, você pode ser assassinada antes dos créditos iniciais – Gritou Amanda, que foi mais uma vez repreendida pelo irmão ao lado.

- O que foi? Ela é uma aberração. Olha, lá vem a Erin com a pipoca!

Trish andou de cabeça baixa, procurando uma cadeira e acabou dando de encontro com Erin Delaware.

-Oops, desculpe – Pediu Erin e continuou seu caminho.

Por alguns segundos, Trish pensou como alguém tão legal como Erin podia ser a melhor amiga da egocêntrica Amanda. Ela lembrou da ultima feira cultural, quando Amanda fingiu um desmaio e acabou estragando o projeto de Trish que levou duas semanas para ficar pronto. Aquilo era pura maldade.

Trish finalmente encontrou um assento vago e se acomodou, no momento em que a luz desligou e os trailers começaram. Os gritos conseguiram aumentar. O som parecia alto demais, Trish fez uma careta numa cena de susto e, por fim, o filme começou. Como já era de se esperar, começou com um telefone tocando. Era tão clichê, mas ao mesmo tempo era a marca registrada da série. Não podia haver assassinatos sem o telefonema inicial, a não ser que você estivesse num cinema.

Não demorou muito pra primeira morte acontecer, e isso fez Trish fechar os olhos. E pra sua surpresa, a segunda acontecera segundos depois. Mais gritos se ouvia, as pessoas estavam frenéticas e Trish cada vez mais desconfortável com o banho de sangue bem a sua frente. Foi aí que o garoto da cadeira de trás resolveu pregar uma peça. Devagar, ele chegou no ouvido de Trish e gritou. Trish, por sua vez, deu um pulo, acompanhado de um grito mais que histérico.

- Calminha aí, T – Disse Jake, o garoto da brincadeira – Foi só uma brincadeirinha – Ele estava gargalhando, assim como seu amigo Nick ao lado.

- Seus idiotas! – Ela gritou.

- Foi mal T, mas você na estréia de Pânico 4, é pedir por histeria – Disse Nick, enquanto gargalhava.

- Vão pro inferno! – Trish saiu da sala e correu diretamente pro banheiro.

Abriu a porta e deu de cara com as gêmeas Sarah e Samantha Richards. Com um susto, quase que outro grito saiu.

- Ai meu Deus! Você enlouqueceu? – Samantha gritou, ela parecia mais histérica ainda que Trish.

- Me desculpa...

- Calma Manthy – Pediu sua irmã Sarah – Não vê que ela está apavorada?

- Ela me assustou – Indagou Samantha.

- Certo, vamos voltar pra sala. Desculpa Trish – Sarah segurou na mão de Samantha e ambas saíram.

Trish, naquele momento, estava se odiando. Ela nunca havia visto virgem mais medrosa que ela, ou alguém tão problemática no quesito filmes de terror. Com a cabeça baixa, ela entrou numa das cabines e sentou-se, pensando que agora a lista dela estava completa, já que tinha acabado de sofrer bullying cinematográfico. Ela tentou trancar a porta, mas percebeu que a tranca estava quebrada, então segurou a porta com um dos pés, rezando para ninguém vê-la.

Não demorou nem dois minutos ali dentro para fazer o que queria, mas ela continuou lá dentro, se sentindo a garota mais ridícula do mundo por estar com medo de um filme qualquer, por ser virgem, e por não ter um pingo de consciência fashion na hora de escolher um suéter.

Ela suspirou com seus pensamentos a mil, e decidiu sair da cabine e lavar o rosto. Fitou-se no enorme espelho e depois abriu a torneira da pia grossa de mármore a sua frente. Com a mão direita, jogou a água que saia da torneira em seu rosto, com cuidado para não tocar no cabelo, foi quando ouviu um estrondo vindo de uma das cabines. Rapidamente olhou para trás, com um olhar sugestivo, lembrando que aquela era uma típica cena de filme de terror.

Trish abaixou-se, com os joelhos no chão e a cabeça quase encostando no mesmo, só pra checar se tinha alguém na cabine ao lado. Nenhum pé foi visto, nenhum sinal de que tinha alguém ali dentro pôde ser notado.

Em fração de segundos, a porta da cabine ao lado se abriu e lá de dentro, saiu um ghostface completamente fantasiado, com uma faca nas mãos. Com a mesma rapidez que tudo aconteceu, os gritos estrondosos de Trish dominaram o banheiro, antes dela se levantar e sair correndo pela porta. Mas, ele foi mais rápido, segurou pela parte de trás de sua blusa e a jogou no chão, ao lado dos produtos de limpeza. Logo, Trish pegou a vassoura ao seu lado e o acertou, disposta a quebrá-la em sua cabeça. Foi aí que ouviu a voz dele.

- Não! Não! Espera aí, T, relaxa, sou eu!

- Quem?

- Jake – Ele tirou a máscara e sorriu para ela – Surpresa, Quase-Sidney.

- Mas que diabos...! – Ela largou a vassoura só para dar socos no braço e no peito de Jake – Seu idiota! Estúpido! Imbecil!

- Ai, ai! Isso dói, poxa, foi só uma brincadeirinha.

- Vou embora daqui! – Trish saiu, bufando de tanta raiva.

- Ow, ow, T, volta aqui! – Jake gritou, mas vendo que não surtiu efeito, foi atrás dela.

Trish praticamente corria para fora do cinema, ignorando os gritos de Jake que já estava se sentindo um idiota por ter assustado a menina que gostava. Ele parou de correr atrás dela quando encontrou Nick, que logo perguntou o que estava acontecendo.

- Nada, eu assustei Trish pra valer, tenho que ir atrás dela.

- Cara, mas e o filme?

- Dane-se, vou atrás dela.

- Droga – Nick suspirou, derrotado – Eu te levo, vamos pro carro. Mas você fica me devendo essa.

- Fechado – Jake saiu correndo, com o pensamento apenas em Trish.

No estacionamento, os dois entraram no carro, Nick na direção e Jake ao seu lado, que tratou logo de tirar o celular do bolso e ligar para Trish. Nick saiu de lá em alta velocidade, como sempre fazia, mas isso já não estava mais incomodando Jake.

- Cara, até entendo que ela é gostosa, mas não vale deixar a estréia de Pânico 4 pra ir atrás dela – Comentou Nick, com um olhar presunçoso pro amigo.

- Eu fui um idiota, é isso que eu faço. Chamá-la pra sair e levá-la no melhor restaurante da cidade? Não, eu tinha que matá-la de medo, porque de alguma forma na minha cabeça doentia, só assim ela vai me notar. Isso é uma droga – Jake mal tirava os olhos do celular, estava tentando adivinhar os dois últimos números do celular de Trish, que esquecera.

- Ta legal, entendi. Vá em frente, esfaqueie ela. Com certeza ela vai querer fazer sexo com você.

- Engraçadinho... Droga! Não consigo lembrar dos últimos números!

- Isso que dá ouvir ela dando o numero a uma amiga do que pedir – Nick apertou a buzina do carro quando percebeu que o carro da frente estava andando devagar demais – Sai da frente, anão de alto escola! – Ele gritou na janela.

- Muito sutil – Comentou Jake, que parou de tentar adivinhar os últimos números de Trish quando seu celular começou a tocar. Era um numero restrito, ele estranhou – Essa parada de numero restrito é sinistra.

- Não vai atender? Esse toque do Bom Jovi é irritante.

- Alô?

- Alô... – Uma voz sinistra sussurrou ao telefone.

- Quem ta falando?

- Depende, com quem gostaria de estar falando?

- Há-ha! – Jake gargalhou – Entendi, quer saber também qual meu filme de terror favorito, certo?

Nick olhou para ele, com duvida.

- Quem é? – Perguntou.

- Alguém que quer me assustar, tão clichê... Então, senhor “voz estranha”, acho que eu gosto mais de A casa de Cera, é um filme que coincide com seu gosto?

- Como você quer morrer?

- Aí depende, uma facada na barriga é sempre melhor que uma facada no pescoço, se é que você entende o que quero dizer... – Jake riu, e arrancou uma risada também de Nick.

Eles estavam se divertindo, quem quer que fosse o idiota do telefone, tinha conseguido fazer com que Jake e Nick esquecessem um pouco Trish. Jake estava gostando, ele lembrou o quanto esperou receber um trote desse tipo, enquanto invejava as outras pessoas que tinham conseguido. Mas agora, era o momento dele, era como se fosse a vítima, a bola da vez.

- Você gosta de assustar virgens indefesas em banheiros de cinema? – A voz foi curta e grossa.

- O que você disse? – Jake não estava acreditando que a pessoa da voz sabia o que tinha acontecido no cinema, assim ele concluiu que era alguém conhecido, ou Trish.

- Você tem cara de quem gosta de assustar garotas indefesas por quem você é apaixonado...

- Ta legal. Trish, você me pegou, você conseguiu. Não estou mais gostando da brincadeira, e peço desculpas pelo que eu fiz, ta certo?

- É a Trish? – Perguntou Nick, surpreso, já que não era de seu feitio fazer uma brincadeira dessas.

Naquele momento, Jake colocou no viva-voz e Nick começou a prestar mais atenção.
- Eu não sou Trish... – Disse a voz, num sussurro – Mas talvez você possa querer me chamar de anão de alto-escola, acho bastante sutil...

Jake e Nick trocaram olhares duvidosos, que diziam “Como ele sabia que eles haviam falado isso agora a pouco?”. E por alguns segundos, eles ficaram em silencio.

- O que aconteceu? – Perguntou a voz macabra – Ainda estão tentando descobrir os dois últimos números do celular da virgem?

Um frio subiu nas espinhas de Jake e Nick. Quem quer que fosse ao celular, sabia demais, e sabia de coisas que alguém só saberia se estivesse dentro do carro. Jake olhou pro banco de trás, mas não viu ninguém.

- Eu fiz uma pergunta, responda! – Gritou a voz no celular.

- Olha aqui seu filho da mãe desgraçado, não sei como você ta fazendo isso, mas se quiser sua cara inteira pro dia de amanhã, você vai parar com essa palhaçada! – Jake desligou.

Ele colocou o celular no seu colo e suspirou. Nick tentava guiar a direção, trocando alguns olhares entre a estrada e Jake, que parecia atordoado. Assim, o silêncio predominou por tempo demais, ou, tempo suficiente para o medo passar e eles perceberem que era apenas alguém querendo lhes assustar.

- Isso foi estranho pra cacete, cara... – Comentou Nick.

- Apenas... Dirija até em casa, quero ver se Trish já chegou lá...

- Beleza... – Nick deu meia volta, ignorando as probabilidades de um possível acidente com a manobra.

Só que mais uma vez, Jake não estava ligando. Sua cabeça estava recostada no banco do carro, criando várias hipóteses para a brincadeira, porque foi o trote mais sinistro que já recebera.
Não demorou nem dez minutos para chegar à rua da casa de Jake e Trish. Eles eram vizinhos, por onze anos, o que fez a paixão de Jake só aumentar. Quando olhou a árvore no meio da casa deles dois, lembrou a posição das janelas, que ficam de frente para o quarto um do outro.

Lembrou também do mico que pagara quando tinha quinze anos, quando Trish olhou pela sua janela e o viu tentando fazer musculação apenas de cueca, usando a versão de chumbo de uma estátua sua do ghostface.

Nick parou o carro do outro lado da rua, e junto de Jake olhou a porta da casa de Trish.

- Cara, eu sei o que você ta pensando. Já estava mais que na hora de você dizer tudo a ela. Tente explicar o porquê de ter sido um idiota por onze anos.

- Cala a boca, Nick – Jake deu um meio sorriso – Eu vou.

- Cara, to morrendo de fome, posso atacar sua geladeira?

- Vá em frente – Jake jogou as chaves da casa para Nick, que as segurou num reflexo. Ele abriu a porta do carro e saiu, assim como Nick.

Jake andou reto para a porta da casa de Trish enquanto Nick corria para a direita, afim de acabar com todo e qualquer sanduíche que estivesse na casa de Jake.

- Fala pra ela sobre a punheta matinal! – gritou Nick, sem nem olhar para Jake.

Jake deu outro meio sorriso, ainda se sentia tenso com a ligação, e estava tentando tomar coragem para bater na porta da casa da garota que gosta pela primeira vez e logo dizer o que sentia, além de pedir desculpas por tentar começar algo da maneira mais infantil e doentia que pensou.

Ele subiu as pequenas escadas da varanda e deu dois passos até ficar perto o suficiente da porta. Suspirou, assim que bateu na porta. Nada aconteceu, nenhum barulho se ouviu. Mais uma vez ele bateu na grande porta marrom, e olhou para baixo, esperando Trish atendê-lo.

Quando a porta se abriu, ele percebeu que não era Trish, e nem conseguiu disfarçar a decepção ao ver a mãe dela parada em sua frente.

- Olá Jake – Ela disse, toda simpática.

- Oi. Ahn... A Trish está? – Ele fez uma careta, sem saber por quê.

- Ah, não. Ela foi com os amigos na estréia daquele filme... Como é mesmo? Facada 4... Ou algo assim...

- Ah, sim, sei... Eu também estava lá, o problema é que... – Ele pensou nas palavras certas, depois continuou – Ela estava com muito medo, com aquela barulhada toda e acabou saindo correndo... Só queria ver se ela estava bem...

- Oh, entendo. Ela é assim mesmo. Mas ainda não chegou, deve estar na casa da Ginger. Quer que eu avise que você veio?

Jake colocou a mão na nuca e coçou, ele estava tentando não olhar nos olhos da Senhora Peterson, mas percebeu que assim seria pior. Colocou as mãos no bolso e a fitou.

- Não, tudo bem, eu ligo pra ela. E aviso a Senhora depois, pode ser?

- Claro, tudo bem. Boa noite – Ela sorriu e fechou a porta, assim que Jake respondeu seu “boa noite” e deu meia volta.

Ele estava se odiando, e odiando o destino, que não fora bom nem quando ele arrumou coragem pra dizer tudo a ela depois de anos. Sem nem pensar, tirou o celular do bolso e discou o numero de Ginger, mas só o que ouviu foi o recado da secretária.

- Ei, aqui é a Ginger. Você sabe o que fazer.

Antes de ouvir o “bip”, ele desligou. Colocou o celular de volta no bolso e caminhou de cabeça baixa até sua casa. Quando chegou na varanda, notou a porta entre-aberta, amaldiçou o velho costume de Nick de fazer isso. Quando entrou, fechou a porta e deixou seu casaco na mesinha ao lado, quase derrubando o vaso de flores que estava encima dela.

- Nick! Seu filho da mãe, já disse pra não deixar a porta aberta! – Ele gritou. Jake foi até a sala e notou o vaso da mesa quebrado.

- Ah não, Nick! Minha mãe vai me matar! – Ele correu pro chão para juntar os cacos.

Quando terminou, pegou tudo com as mãos e levou até a lixeira da cozinha. Mas chegando lá, notou outra coisa estranha. A porta da geladeira estava escancarada, e uma caixa de leite estava jogando a sua frente, derramando tudo no chão.

- Mas que diabos...? – Sussurrou Jake para si mesmo.

Ele olhou ao redor e gritou duas vezes pelo nome de Nick, mas não obteve resposta. Olhou pra geladeira mais uma vez e depois para a caixa de leite, se perguntando porque tudo aquilo parecia muito suspeito. Então, olhou para o balcão central de mármore da cozinha, notou um notebook todo preto ali encima, que não era de ninguém que conhecia e com certeza nem dele. Aproximou-se dele e deu a volta para ver o que estava na tela. Quando mexeu o mouse para o descanso de tela desaparecer, viu que se tratava de uma filmagem. Mas não qualquer filmagem. A imagem parecia ser de uma mini câmera, e mostrava o carro de Nick.

Ele não entendeu muito bem o que era aquilo e decidiu ver mais. Clicou no ícone “Vídeos gravados” ao lado e viu a filmagem dele e Nick dentro do carro, indo ao cinema. Ele passou mais o vídeo na barra, e chegou até a parte em que ele tenta descobrir os dois últimos números do celular de Trish. O que era aquilo? Alguém os estava filmando? Como assim?

- Merda! – Reclamou Jake, quando percebeu o que estava acontecendo.

Então, o telefone tocou. Jake olhou para ele, encima da pia, que foi o ultimo lugar onde ele deixara da ultima vez que falou. A luz interna estava piscando, e o toque pareceu cada vez mais macabro a partir dos segundos que iam passando.

Jake andou até o telefone, bem devagar, e atendeu, sem nem dizer o “alô”. Apenas uma respiração podia ser ouvida do outro lado da linha, parecia ser um trote bobo.

- Como você quer morrer? – Perguntou a voz macabra pelo telefone, deixando Jake sem ação.

Naquele momento, Jake ouviu um barulho vindo da sala e olhou para a porta que a separava da cozinha. A luz refletiu uma sombra na parede, que fez Jake tremer de medo. Ele abaixou o telefone e decidiu olhar, pra checar quem era. Até que a sombra revelou ser Nick, que estava todo ensangüentado, segurando um dos vários cortes de faca pelo seu corpo. Ele estava mancando, e com sangue saindo de sua boca como se fosse baba. A íris de seus olhos estava tão vermelhas que parecia ser sangue saindo de dentro dos olhos. Jake afastou-se, olhando com nojo, medo, repulsa e desespero para o amigo.

Nick caiu no chão, de joelhos, estava tentando dizer algo, mas era como se suas cordas vocais não funcionassem, só saiam gemidos de sua boca. Ele estendeu a mão para Jake, numa forma de pedir ajuda e Jake se aproximou, mas não sabia o que fazer.

Tudo aconteceu muito rápido, como se fosse tudo reflexo. Alguém vestido de ghostface saiu de dentro do armário de produtos de limpeza da cozinha e correu em direção a Jake com uma faca. Jake, por sua vez, abaixou-se rapidamente, fazendo a faca acertar o armário de cima onde se guarda louças.

Jake rapidamente se levantou e pulou o balcão central, livrando-se de outra quase facada que acertaria suas costas. Como se fosse vento, correu pela porta da sala, a fim de chegar a porta da frente e correr para a rua, mas o assassino também era rápido. Antes que Jake pelo menos pensasse em abrir a porta da frente, ele já estava lá, pronto para mais uma tentativa de esfaqueá-lo. Jake, dessa vez, não conseguiu desviar, e acabou sendo esfaqueado nas costas. Jake estava sentindo a pior dor de sua vida, e o assassino não teve piedade, o puxou pelo cabelo e o jogou na mesa de vidro da sala, quebrando-a.

Jake podia sentir os cacos de vidro penetrando sua costa, mas não queria desistir. Com sua mão direita, procurou qualquer caco de vidro pontudo para poder ter algo com que acertar o assassino, e encontrou. Quando ghostface se abaixou para dar a punhalada final, Jake enfiou o caco de vidro em sua perna e ele caiu pra trás. Com esforço, Jake levantou-se do chão e preparou-se para correr, mas acabou levando uma facada na perna do assassino que ainda estava no chão. Jake caiu ajoelhado no chão e deu um grito de dor, mas conseguiu se levantar. Correu mancando para a porta de vidro ao lado da sala que dava na piscina. Com dificuldade, ele conseguiu rodear a piscina e chegar perto da casa de Trish, mas o assassino estava bem atrás dele, andando, certo de que iria matá-lo.

No momento em que Jake ia gritar por socorro, recebeu outra facada nas costas. Ele podia ver a mãe de Trish pela janela, fazendo comida, e tudo o que queria era que ela o visse e o ajudasse, mas parecia ser tarde demais. Ele continuou correndo, mas recebeu outra facada, ainda nas costas e assim, caiu. Sangue saia de sua boca, ele sentia como se sua coluna estivesse prestes a ser arrancada de seu corpo. Virou-se de peito para cima e fitou o céu escuro, ele pensava apenas em Trish, em como a amava e em como não teria tempo de dizer o que sentia. Ele olhou para o assassino levantando a faca para acertá-lo e finalmente matá-lo, e deu um ultimo grito, antes de ser acertado na boca pela enorme faca.


--


Já era madrugada, duas da manhã. Trish tinha acabado de voltar para casa com Ginger, após uma longa conversa sobre a noite.

- Valeu por passar a noite comigo – Agradeceu Trish, bem em frente a porta de sua casa.

- Ah, você sabe que pode sempre contar comigo – Ginger sorriu – Mas agora tenho que ir, está tarde, e preciso voltar antes que o Sr. Van Der Lance chegue e encontre seus filhos sozinhos – Ela fez uma careta, só de pensar na idéia.

- Tudo bem, a gente se fala amanhã no colégio. Tchau – Trish lançou um sorriso para a amiga, antes de entrar em sua casa.

- Pode deixar que eu me resolvo com o Jake amanhã – Gritou Ginger, da rua.

- Eu sei – Trish deu um sorriso meio bobo e fechou a porta.

Ela ligou a luz e se escorou na porta, de olhos fechados, repensando tudo o que tinha acontecido naquela noite. Estava se arrependendo amargamente de um dia ter achado Jake bonitinho. Mas quando lembrou desse dia, soltou mais um sorriso bobo.

Quando olhou para o chão, viu pegadas de lama num formato estranho e manchas vermelhas perto das pegadas. Ela fez uma cara de nojo, não sabia o que era aquilo, mas resolveu seguir o rastro. As pegadas e, o que parecia ser sangue, tinha um rastro enorme que ia até os fundos do quintal. Trish olhou pela porta de vidro para a casa da árvore e tomou um susto. Jake estava pregado nela, pendurado como Jesus na cruz, completamente ensangüentado enquanto Nick estava embaixo da árvore, jogado no chão. No tronco, um recado escrito em sangue “As mortes iniciais”. Um grito bastou para despertar em Trish uma das coisas que ela mais temia, e seu desespero, que parecia não ter fim


 



Próximo... 2- Pânico Coletivo


 



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Autor(a): joaoliindley

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