Fanfic: Nunca te vi, mas sempre te amei {AyA [finalizada]

Capitulo 3

Entrei em meu apartamento e parei, escorada na porta. Observei tudo ao redor, todo o apartamento decorado e mobiliado por profissionais, totalmente impessoal, igual a casa em que cresci. Me senti sozinha ali, naquele lugar vazio e sem nada que lembre quem eu sou realmente, nenhum foto antiga ou um souvenir barato de alguma viagem.

Meu coração deu palpitou, como se me lembrasse de que na casa de Alfonso, havia fotos de sua esposa e filho, estantes com seus livros preferidos, eu não cheguei a ver, mas algo me dizia que sua geladeira estava cheia de guloseimas e de restos de fast-food.

Encostei a cabeça no chão frio e chorei. Eu não tinha ninguém a quem pedir ajuda, eu não possuía amigas e se meus pais soubessem do que acontecera, me trancariam novamente dentro de casa, eles nunca conseguiriam me entender que eu havia perdido minha virgindade com um completo estranho, que sentia falta de um filho que nunca tive e que eu queria estar desesperadamente ao lado daqueles dois. Eu não podia culpa-los, nem mesmo eu entendia o que se passava.

Mas esses não eram meus reais sentimentos, disse a mim mesma, não podiam ser porque ele não sentia atração por mim, era pelo coração de sua falecida esposa que ele estava interessado e saber aquilo machucou ainda mais.

Não sabia como, mas eu adormecera ali no chão em frente à porta mesmo, acordei dolorida e com o rosto inchado de tanto chorar, me perguntando se eu poderia ficar mais patética do que isso, preferi não responder a essa pergunta.

O relógio da mesinha de cabeceira acusava as 6h00 da manhã, desliguei o despertador e sem vontade me sentei na cama, ainda estava com o corpo dolorido por causa das horas dormidas no chão. Fui para a cama na esperança de dormir um pouco, mas quanto mais em bolava de um lado para o outro mais o tempo passava depressa, me alertando que em pouco tempo eu o veria de novo. Eu precisava ficar longe dele, colocar o meus sentimentos em ordem, não os de Dulce, mas as horas passam rápido quando você não quer.

Me arrumei sem pressa aparente, protelando cada tarefa, quando na verdade cada minuto que se passava fazia meu coração pulsar em expectativa e isso me assustava.

Peguei o ônibus e andei uma quadra até a faculdade, novamente como ontem parei nos imponentes portões de entrada, mas dessa vez não era o medo do desconhecido que me parava e sim o de saber o que me esperava se me encontrasse com o Prof. Herrera.

— Parece que alguém madrugou hoje. –Uma voz falou atrás de mim e por uma fração de segundos pensei ser a voz dele.  Me virei aliviada ao encontrar a dona da voz. Maite me cumprimentou com um sorriso. Senti-me aliviada e desapontada ao mesmo tempo por não ser ele.

Queria dizer a ela que o atraso de ontem fora uma exceção à regra, mas desisti, sorri a guisa de cumprimento.

— Bom dia.

— Vamos entrar juntas? –Ela perguntou. Dei de ombros como se estivesse indiferente, mas no fundo me sentindo aliviada por não ter que entrar sozinha e correr o risco de me encontrar com o Prof. Herrera sozinha. Mas por alguma razão cabeças se viravam em nossa direção por onde passávamos, no começou pensei que fosse paranoia de calouro, mas as pessoas realmente estavam nos encarando e quando percebiam que foram descoberta viravam o rosto rapidamente.

— Por que... As pessoas estão nos encarando? –Perguntei com cautela, com medo da resposta. E se eles tivessem descoberto o que havia acontecido na casa do Prof. Herrera?! Meu sangue gelou, agora eu definitivamente não queria saber a resposta.

— Porque... –Maite parou de andar e parecia constrangida. –Elas estão olhando para você... Quer dizer pra nós... Eu...

Ela pegou meu braço com uma força surpreendente e, a palavra certa seria, me arrastou, até um baixo muro que dividia o campus, pra longe dos ouvidos curiosos dos outros alunos que ainda nos observavam disfarçadamente.

— Eu não sou exatamente querida entre as pessoas. –Ela disse com voz baixa. Parecia estar bastante triste.

— Por que? –Perguntei confusa. Maite era a pessoa mais gentil e doce que eu já conhecera. Ela tinha um sorriso tranquilo e estava sempre tão calma. É certo que a conhecia a pouco tempo, mas ela não me parecia se do tipo que procurava briga.

— Eu... Tive alguns problemas no semestre. –Ela mordeu o lábio inferior, insegura e de repente seus olhos se encheram de lágrimas, ela saltou pra cima de mim, me agarrando e chorando desconsolada. –Não odeie também! Quando você souber o que aconteceu, não me odeie!

E ela chorou. Eu me desesperei, não sabia o que fazer exatamente, então fiz a única coisa que via fazerem nos filmes. Fiquei dando palmadinhas em suas costas e dizendo que ia ficar tudo bem. Queria me desvencilhar dela e ir pra aula, mas não conseguiria simplesmente sair e deixá-la aqui chorando.

Demorou, mas finalmente consegui convencê-la a ir pra aula, olhei meu horário e vi que havia perdido a primeira aula de anatomia I, suspirei e fui para o laboratório de matemática esperar a turma, pelo menos eu não me atrasaria para a aula de biomatemática, ri de minha piada sem graça.

A área dos laboratórios ficava em um corredor extenso do segundo andar, que no momento, como era de se esperar, estava deserto. Uma brisa forte soprou de uma janela aberta e eu me aproximei. De lá eu podia ver toda a parte setentrional do campus, podia ver também o lugar em que a pouco eu estivera sentada com Maite, a lembrança fez-me perguntar se ela ficaria bem. Ela parecia tão abalada.

— Um centavo por seus pensamentos. –Mãos se entrelaçaram em minha cintura e meu coração saltou de felicidade ao reconhecê-las.

— Tão pouco valem meus pensamentos? –Perguntei me esforçando pra manter a calma.

— Estou aberto a negociações. –Ele pontuou a frase com uma leve mordida no lóbulo de minha orelha e aquilo foi demais, me afastei rapidamente dele antes que perdesse o controle.

— Não aqui! –Olhei nervosa para os dois lados do corredor como se esperasse que varias cabeças tivessem saído das salas para nos olhar.

Alfonso riu de modo travesso, não se importando nenhum um pouco.

— Vou me lembrar do que disse. –Algo em suas palavras fez soar um alarme na minha cabeça, mas fui distraída pela expressão séria que substituiu a brincalhona em seu rosto. –Anahí, vi você mais cedo, com Maite. –Ele apontou para a janela, sinalizando que havia nos visto dali. –Ela não é uma boa companhia.

— Está se referindo ao que aconteceu no semestre passado? –Perguntei curiosa.

— Ela te contou? –Sua expressão desconfiada dizia que não acreditaria se eu dissesse que sim.

— Não exatamente... Quero dizer, não, mas ela minha amiga. –Ergui o queixo desafiando-o a me contradizer. –E não é o nosso passado que nos define.

— Não. É claro que não. –Ele parou o que estava prestes a dizer,  respirou fundo reconsiderando. –Só tome cuidado.

Ele assanhou meu cabelo com uma mão, deu um sorriso de despedida e saiu, pouco antes do sinal tocar e o corredor outrora vazio se encheu de alunos.

iza2500 - Maratona? Não sei se entendi bem o que quis dizer, me explica.