Fanfic: Nunca te vi, mas sempre te amei {AyA [finalizada]

Capitulo 5

Ouvia vozes exaltadas ao meu redor, queria pedir para ficarem quietos, mas não conseguia falar. Alguém ergueu minha cabeça e me forçou a engolir algo. Minha cabeça latejava, mais fraco do que antes, mas ainda incomodo. Não queria abri os olhos, a realidade do que havia acontecido penetrando aos poucos na minha mente. Eu havia esquecido de tomar meus remédios.

Não só uma vez, mas por quase cinco dias. Desde a cirurgia eu precisava tomar remédios em horários específicos, para controlar a pressão, imunossupressores e uma infinidade de outros que deviam ser ingeridos religiosamente no mesmo horário, mas desde que eu fora embora da casa de Alfonso eu não conseguia me lembrar de comer e muito menos que horas eram e qual remédio deveria tomar.

Eu já devia esperar por isso, pensei deprimida, me rendendo. Abrindo os olhos devagar e me deparei com o rosto de uma mulher a centímetros do meu.

— Você acordou! –Ela me agarrou me abraçando tão forte que eu tive dificuldades para respirar.

— Quer tentar matá-la de novo Mirajane? –Ouvi a voz de Alfonso no fundo e congelei. Meu coração pulou de alegria em meu peito, havia tanto tempo que eu não o via, que ouvir sua voz foi como um bálsamo.

— Que coisa cruel para se dizer Alfonso. –A enfermeira, pelo que eu deduzi pelo jaleco, me soltou e  mirou Alfonso fazendo um biquinho infantil. –Eu só cometi um simples engano.

— Mira, simples engano é quando uma pessoa confunde mais com mas, confundir pressão alta com ataque cardíaco e querer usar o desfibrilador quando o coração nem parou é considerado assassinato culposo. Para sua sorte estamos em uma faculdade de medicina. –Alfonso falou sério e sua voz estava tão dura que até mesmo eu tive medo, apesar de sua raiva não estar sendo direcionada a mim, mas longe de estar com medo a enfermeira fez mais um biquinho triste e se agarrou ao pescoço dele.

— Mas eu já pedi desculpas. –Ele afastou o rosto do dela, mantendo uma distância segura. –Alfonso, não é todo dia que eu recebo um paciente, por alguma razão as pessoas tendem a evitar vir à enfermaria.

— Me pergunto o porquê. Vá avisar ao médico que ela já acordou. –A enfermeira fez mais uma lamuria, mas saiu da enfermaria.

Logo que ela saiu Alfonso sentou na cadeira ao lado da minha cama, me observando. Era impossível adivinhar no que ele estava pensando.

— E então? –Ele perguntou por fim quando eu permaneci calada.

— Então... O que? –Rebati.

— Não perguntarei como você tem passado porque obviamente não tão bem já que se esqueceu de tomar seus remédios. –Seu rosto duro e frio alertava que algo estava borbulhando por debaixo daquela camada calma.

Eu não sabia o que dizer, por isso fiquei calada, mas ele pareceu considerar aquilo como um desafio e ficou me encarando com seu olhos cor de mel até que eu finalmente desisti.

— Como está Caio? –Fiz a pergunta que me atormentava a dias. Era a primeira coisa que me vinha à mente todos os dias quando acordava e a ultima antes de dormir.

— Todos os dias pergunta por você e quando voltará para casa.

— Ah. –Saiu quase como um gemido de dor. Essa não a resposta que eu esperava ouvir. Queria que ele dissesse que Caio estava bem, que estava sorrindo e feliz.

— Como está minha paciente? –Um homem calvo e barrigudo entrou saltitando na enfermaria, eu o reconheci como sendo um dos professores da faculdade eu não sabia seu nome e tampouco a disciplina que ensinava.

Alfonso se levantou dando espaço para o professor corpulento medir minha pressão.

 — Ainda está um pouquinho alta. –Disse ele por fim. – Mas nada com o que se preocupar se continuar tomando seus remédios em dia. Foi muita negligência de sua parte parar de tomar os remédios mocinha. –ele disse tão sério que senti que deveria me desculpar.

— Sinto muito.

—Mas esse galo. –Ele cutucou um calombo particularmente doloroso em minha testa. –Não vou poder te prescrever um analgésico para ele mocinha, não com a sua pressão tão alta. Vai servir de lembrete. –Ele me alertou sério, mas depois sorriu bondosamente.

— Não vai acontecer de novo Edgar. –Alfonso disse sério, olhando para mim.

Depois de Alfonso garantir que iria cuidar de mim o professor Edgar me deu alta e eu já caminhava para os portões da saída quando algo puxou minha blusa.

— Para onde pensa que vai?

— Para casa. –Olhei pra Alfonso desafiadoramente.

— Mas não vai mesmo. Dá última vez que te permiti escolher você quase morreu.

— Você faz parecer como se eu tivesse feito de propósito. –Afinal de contas eu andava com todos os meus remédios na bolsa que mais parecia uma farmácia ambulante, ele não podia me acusar de ser tão negligente assim. Podia?

— E quem me garante que não? Você tem histórico de depressão?

— Não eu não tenho! E não seja tão egocêntrico por pensar que eu tentei me matar só porque não estou contigo, não sei se você se lembra, mas quem foi embora fui eu!

— É. Lembro-me perfeitamente.

Vi uma sobra de tristeza passar fugaz por seu rosto e meu coração se contraiu com sua dor e senti um enorme desejo de abraça-lo, mas me contive no ultimo segundo, eu não podia confiar em mim mesma, eu nem ao menos sabia se o que eu sentia por Alfonso eram sentimentos de Dulce ou meus. Dei um passo atrás, me afastando mais dele, como se aquela pequena distância pudesse esclarecer meus dilemas.