Fanfic: LIÇÃO DE VIDA AYA finalizada

Com ainda mais vontade de chorar,  Anahí respondeu:

— Também te amo muito, minha filha.

Então, recordou-se da última coisa que Mia lhe dissera, no passado: "Esqueça-me, mãe. Deixe-me em paz". Depois, xingou-a. E  Anahí gritou e xingou também. A Mãe do Ano. A Mãe Exemplar.

Não foi necessário ir ao psicanalista para descobrir quando o mundo começou a desmoronar a seu redor. Ela já sabia.

Tudo teve início quando perdeu seu quarto filho, seu bebê re­cém-nascido, perfeito, porém morto. Anahí chegou a ver o rosto do bebê, uma linda menina que nasceu com o cordão umbilical enrolado no pescoço.

Os médicos tentaram de tudo para salvá-la, mas sem sucesso. Na época, ninguém a culpou por entrar numa leve crise de loucura, por mergulhar num buraco negro, numa profunda depressão. Afi­nal, todos sabiam que a perda de um filho causava depressão nas mulheres. Contudo, uma pessoa sã e equilibrada acabava superan­do a dor, um dia, por mais que demorasse.

Mas  Anahí nunca conseguiu emergir do abismo em que caíra, e quando poderia ter conseguido já tinha bagunçado tudo de tal maneira, havia feito um verdadeiro caos da própria vida e das vidas das pessoas que a cercavam, que se tornou muito tarde.

Agora, a dor da perda daquele bebê era algo tão distante que nem doía mais. Tinha se tornado apenas mais uma coisa horrível em meio a uma série de outras que ocorreram desde aquele dia fatídico em que  Alfonso lhe entregou os documentos do divórcio.

Ela perdeu o controle e saiu de vez de seu equilíbrio mental e emocional quando descobriu que ele conseguiu obter a custódia das crianças. Então, no dia em que ela, embriagada, se esquecera de ir buscar Miguel depois de um evento escolar qualquer, a escola avisou Alfonso , e ele dirigiu como um alucinado para apanhar o filho esquecido no colégio pela mãe.

E, durante o percurso de automóvel, dirigindo a uma velocidade muito maior do que a permitida por pessoas sensatas, seu marido morreu num acidente. O homem que Anahí ainda amava com todo seu coração faleceu por culpa sua.

De alguma maneira, ela foi capaz de convencer o juiz de que era uma boa mãe, e ficara com os filhos durante um período. Não era verdade, claro, e, quando o juiz descobriu que Anahí bebia e deixava os garotos em casa sozinhos, largados e sem os devidos cuidados, os três começaram a ir das mãos do governo para as dela, e isso aconteceu tantas vezes que os tornou tão confusos e perturbados que não tiveram nenhuma chance de viver com nor­malidade. Por isso, acabaram tornando-se jovens desajustados.

Ali estava sua existência miserável, em poucas palavras. Quão diferente tudo poderia ter sido se eles, de alguma forma, tivessem conseguido superar as dificuldades, se  Anahí recuperasse o equi­líbrio mental?

Anahí ainda via a cena em sua mente:  Alfonso usando aquela roupa ridícula de Papai Noel, a mão estendida, segurando o envelope com o logotipo do escritório de advogado dele, com tanta firmeza que chegou a dobrar no meio. "Não posso mais agüentar", disse­ra-lhe, com um sofrimento intenso. "Quero o divórcio."

Como teria sido se ela tivesse caído de joelhos e suplicado pelo perdão do marido?

 O que seria se pudesse voltar atrás e fazer aquele momento desaparecer para sempre?

Anahí suspirou. E se pudesse voltar no tempo?

— Ah, meu Deus! — sussurrou, olhando no espelho do banhei­ro, muito assustada.

De repente, tudo tornou-se claro e cristalino como as águas de um riacho. Sabia por que estava lá e o que tinha de fazer.

Anahí mirou seu reflexo por mais alguns instantes. O que via era uma mulher determinada, jovem e muitíssimo sincera. Sim, estava decidida. Poderia mudar seu destino.

— Tudo bem, Alfonso Herrera, você pode não me amar agora, mas eu me dou dez dias para fazê-lo mudar de opinião.