Fanfic: LIÇÃO DE VIDA AYA finalizada

 Alfonso baixou o olhar para o pavimento asfaltado limpo, notou as pilhas de folhas e neve acumuladas nas laterais e chegou à conclusão de que um dos filhos do vizinho viúvo e idoso deveria ter aparecido por ali.

Contudo, em seguida avistou um boneco de neve, completo, com chapéu e cachecol, nariz de cenoura, e se deu conta de que Jennifer, a babá de seus filhos, deveria ter estado tomando conta das crianças o dia inteiro.

Jennifer não era funcionária fixa de Alfonso e Anahí , mas sempre que necessário era a ela que eles recorriam. Algumas vezes, Anahí a chamava apenas para se livrar das crianças.

Jennifer tinha vinte e quatro anos, era colombiana e fora morar nos Estados Unidos com os tios, a fim de estudar medicina. O sonho dela era tornar-se pediatra, uma vez que adorava crianças. Era uma moça alegre, delicada e carinhosa. E cuidava muito bem dos filhos de Alfonso. Melhor até do que sua esposa, a própria mãe dos três.

Mia tinha grande admiração pela babá e gostava de usar as roupas dela, pintar o rosto com a maquiagem de Jennifer, enfim, adorava imitá-la. Jennifer até mesmo ensinava algumas palavras em espanhol para Mia, que se deliciava quando conseguia pro­nunciá-las direito. Alfonso chegava a ficar contente pelo fato de a filha querer imitar Jennifer, com a esperança de que ela seguisse o exemplo da babá, e não o da mãe, que era péssimo.

Aproximando-se da frente da residência, Alfonso notou, através da grande janela aberta, que uma árvore de Natal fora montada e se achava repleta de luzinhas brancas e coloridas. Apesar de seu humor não estar nada bom, aquela imagem iluminou sua alma e fez brotar uma pequena semente de felicidade dentro de seu peito.

Então ele viu Mia e  Alfonso JR acenando-lhe, excitados, e um sor­riso relutante abriu-se em seu rosto carrancudo. Apesar de tudo, era bom estar em seu lar, ao lado dos filhos que tanto amava.

— Olá! — cumprimentou a todos quando entrou, e seus dois filhos mais novos correram para abraçá-lo.

— Mamãe preparou lasanha! — contou Mia. — Que gostoso!

— Droga! — murmurou Alfonso JR, fazendo uma careta de repulsa.

— Lasanha. Jura? — Incrédulo, Alfonso viu Anahí sair da cozinha e entrar na sala, um enorme sorriso iluminando  as feições.

Por um momento, Alfonso esqueceu-se por completo de que a vida deles se transformara naquele pesadelo.

— Olá, Alfonso querido — sussurrou, com extrema doçura. — Embora eu não faça lasanha há séculos, imaginei que deveria ten­tar. E o molho de tomate seco, seu favorito, está quase pronto.

— O cheirinho está delicioso — comentou ele, sem pensar.

— Você deveria ver a árvore que Miguel montou na escola. Foi feita de guias de tevê. Alguma vez fez isso quando era garoto?

— Não que eu me lembre. — Alfonso estudava a esposa, tentando avaliar se ela estava tão sóbria quanto parecia.

— Sabe como é? Você dobra as páginas do guia, e depois cola umas nas outras e pinta tudo com spray dourado. — Anahí gesti­culava para tentar fazê-lo imaginar melhor. — Nunca fez isso?

Alfonso meneou a cabeça, pensando em como Anahí estava es­tranha, diferente... E ainda por cima, cozinhara!

— Quem varreu o caminho de entrada?                          

— Nós. Fizemos tudo juntos. — Anahí  não parava de sorrir-lhe, como se não tivesse estado nervosíssima naquela mesma manhã, como se eles não tivessem tido uma de suas piores brigas na véspera.

— E nós construímos o boneco de neve, papai. Você reparou nele lá fora, quando chegou?—Alfonso JR mostrava um brilho excitado nos olhos. — Só que mamãe não nos deixou pular em cima dele depois e destruí-lo. Ela disse que, se fizéssemos isso, você não teria a chance de ver nossa obra de arte.

O menino deu uma risadinha.

— Mas agora que você já viu, será que, depois do jantar, po­demos brincar com ele e jogar bolas de neve um no outro?

— Não, papai, não deixe! — choramingou Mia, puxando uma das pernas da calça de Alfonso. — Adoro o boneco de neve. Não quero que Alfonso JR o destrua!                                  

Alfonso agachou-se na altura da filha e segurou-lhe as duas mãozinhas num gesto apaziguador.

—Não se preocupe minha bonequinha. Nós não vamos destruir o boneco de neve. Se Alfonso JR quer destruí-lo, ele pode construir um outro só para si, e então transformá-lo em paçoca de gelo!