Fanfic: LIÇÃO DE VIDA AYA finalizada

Aproximando-se do leito de Mia, acariciou-lhe os cachos sedosos, cobriu-a e deu-lhe um beijo amoroso na testa. A menina sorriu-lhe antes de fechar os olhos e adormecer quase que de imediato.

Em seguida, foi até a cama de Miguel, que continuava sentado, e abraçou-o apertado mais uma vez.

— Mamãe, você está me sufocando — reclamou, mas quando Anahí o afastou de si, o menino ria, e pulou de volta em seu pes­coço, enlaçando-a por mais alguns instantes.

— É só porque eu te amo demais, meu docinho — murmurou Anahí , tentando não soar muito melodramática.

— E eu, mamãe? Você também me ama muito? —Alfonso JR quis saber, embora ela achasse que eleja adormecera.

Anahí foi até ele.

— Muito, muito, muito! Tanto que nem sei quanto — brincou e deu-lhe mais um beijo, engolindo com dificuldade o imenso nó que se formara em sua garganta. — Vocês são os melhores filhos do mundo.

Ela cerrou as pálpebras para bloquear a imagem deles como adolescentes, quando estavam tão perdidos e distantes dela, com suas tatuagens e piercings e a frieza nos olhos de todos.

Cobrindo os dois meninos, Anahí saiu do aposento e fechou a porta, rezando para Deus, que esquecera que existia, e pedindo que quando acordasse na manhã seguinte ainda estivesse ali. Em sua casa. Com Alfonso e com os filhos. Seu lar e sua família. Era só isso o que desejava. Era só isso que queria que fosse sua verdade.

Sua realidade.

Ficou parada à soleira, escutando uma ou outra palavra dos meninos, até se certificar de que haviam adormecido.

Uma vez que o silêncio reinou por completo, ela resolveu ir encontrar Alfonso , ciente de que o marido estaria em seu escritório, lendo. Fugindo. Trancando-se num mundo particular.

Nunca pensara sobre o fato por esse prisma, mas agora dava-se conta de que era isso mesmo o que ele vinha fazendo durante todos aqueles anos: fechando-se para poder suportar a existência ao lado dela.

Notando que a porta do escritório se achava entreaberta, Anahí entrou devagar.

— Olá... — cumprimentou tímida.                                     

Alfonso estava sentado em sua poltrona de couro verde-musgo de espaldar alto, as pernas esticadas e os pés apoiados no banquinho que fazia parte do jogo. O brilho do abajur suavizava um pouco as feições marcadas que  Anahí observara quando ele saíra da sala.

Ao ouvir sua voz, Alfonso endireitou-se, não se importando em esconder a irritação que sentia por estar sendo interrompido.

— O que você está lendo? —Anahí sabia que o provocava. De uma coisa recordava-se bem: como irritá-lo. Era especialista nisso.

Alfonso respirou fundo, revelando aborrecimento.

—Anahí ... vá para a cama.

— Não estou cansada — disse ela e caminhou, com lentidão, alguns passos até o adorável sofá de couro preto, bem na frente dele.

Então, ficou assistindo-o ler por alguns bons cinco minutos, a atenção de Alfonso tão fixa nas páginas do livro que tinha nas mãos, que Anahí soube que fazia um enorme esforço para não erguer o olhar.

— A leitura está boa? — questionou, decidida a entabular con­versação.

— Trata-se do último livro de Grisham. É muito bom, sim. — Mas ele não lhe deu nem mesmo uma rápida olhada.

— Há anos não leio um livro. — E só então Anahí se deu conta de que, para seus próprios ouvidos, aquilo soava mais como uma confissão.

Só o que vinha lendo ultimamente eram alguns jornais descar­táveis e as etiquetas de alerta atrás das garrafas de bebida que diziam que o consumo excessivo de álcool poderia causar sérios danos à saúde. Como se ela não soubesse!

— Você estava lendo um livro uma noite dessas —Alfonso afir­mou, ainda sem fitá-la.

Anahí gaguejou.

— Eu... Quis dizer que... Faz muito tempo que não leio um bom livro.

Ela o observou tentando ignorá-la, buscando concentrar-se nas páginas próximas ao rosto, e perguntou-se se deveria mesmo ir para a cama, conforme seu marido sugerira. Mas o caso era que não sentia sono, nem cansaço. Nem um pouco. Pelo contrário, havia anos não se sentia com tanta energia como naquela ocasião. Décadas. Era aquele sangue novo correndo em suas veias que a fazia ver que ainda recordava muito bem de como era a sensação de ter um homem a sua frente, nu a seu lado. Dentro de seu corpo.

Anahí exalou um longo suspiro, tomada, de súbito, por uma volúpia ardente.