Fanfic: LIÇÃO DE VIDA AYA finalizada

Capítulo V

17 de dezembro

Dulce Maria tinha sido uma amiga muito querida de Anahí . Na verdade, sua melhor amiga, até que as coisas acabaram dando tão errado que seus caminhos se separaram por completo. A partir daí, Anahí deixou de se importar até mesmo de  Dulce não estar mais a seu lado para que pudesse chorar no ombro dela.

A vida de Dulce fora, de longe, muito mais sofrida do que a de Anahí . Ela perdeu a mãe muito cedo e foi criada pelo pai, que, embora tivesse condições financeira para sustentar cinco filhos, não dava a devida atenção a nenhum deles. Todavia,  Dulce tor­nou-se uma arquiteta bem-sucedida, e tinha um emprego bom e estável de longa data.

No entanto, casou-se com um homem bruto e grandalhão, cha­mado Ron, que foi muito bonito no colégio, com músculos fortes e rígidos, mas que, com o passar dos anos, se transformaram em gordura flácida de tanto sofá e excesso de cerveja.

 Cristopher foi criado no subúrbio em condições precárias e não ter­minou sequer o segundo grau. Quando  Dulce o conheceu, ele era instrutor de educação física, mas logo após o casamento aban­donou o trabalho, tornando-se preguiçoso e dependente. Além de não colaborar no orçamento do lar, não cuidava da casa e não dava o mínimo afeto e carinho a Dulce . Passava o dia em frente à televisão, comendo bobagens e bebendo. Era um sujeito insensí­vel, rude e agressivo, mas não batia nela, nem a traía com outras mulheres, e  Dulce só suspirava e dizia: "Pelo menos as crianças o amam".

Com rosto e corpo bonitos e os cabelos tingidos de  vermelhos platinado e mais compridos do que deveriam ser  Dulce atraía toda espécie de atenção dos mais diversos tipos de homens. Vaidosa como era isso era algo de que ela gostava. Contudo, pelo que  Anahí sabia sua amiga nunca traiu o grandalhão, e Anahí tinha uma leve desconfiança de que, apesar de todas as reclamações dela sobre o marido,  Dulce o amava muito mais do que deixava trans­parecer.

Ou isso, ou era mesmo a mais infeliz das criaturas sobre a face da terra, porque não fazia nada para se separar de Cristopher.

As duas costumavam se encontrar todas as quartas-feiras para almoçar, e acabavam ficando juntas, conversando e bebendo até a hora do jantar, e, muitas vezes, além disso. Eram boas de con­versa, entendiam-se muitíssimo bem e adoravam reclamar da vida uma para a outra.

E quanto mais drinques desciam por suas gargantas, mais re­clamações vinham à tona.

 A coisa boa sobre  Dulce era que ela nunca encarava os fatos com seriedade demais, nem costumava julgar, porque a última coisa de que Anahí precisava àquela altura era alguém analisando suas atitudes, criticando-a e agindo como psicóloga.

 Dulce a fazia rir, esquecer de uma vida que ela pensara ter sido engolida pelo destino arrasador.

 Anahí adentrou o estacionamento do Ryan`s Bar e parou o carro na vaga mais próxima à minivan Honda prateada de Dulce , sen­tindo-se muito nervosa perante a idéia de reencontrar sua amiga após todos aqueles anos.

A última vez que vira Dulce , a amiga tinha uma minivan vermelha. "Minha vida se transformou em uma série de minivans", brincara ela, certa ocasião.

 Dulce era também excelente em fazer trocadilhos. Em uma oportunidade, elas tinham combinado de brincadeira, que  Anahí iria anotar num papel todos os trocadilhos de  Dulce e editar um Best seller.

Parada à entrada do bar,  Anahí pensou que seria estranho e delicioso rever Dulce . Claro, a mulher não saberia o que  Anahí fizera. Não poderia imaginar todos os fatos que ocorreram com ela.

 Dulce ainda era sua amiga, sua confidente. As duas nunca deram um fim oficial em sua amizade, porém, depois que Anahí perdeu o bebê, fechou-se em sua tremenda depressão e se afastou de todo o mundo, não conseguindo mais manter contato com nin­guém que a conhecesse, nem mesmo com Dulce , que costumava ser como uma irmã.

Adentrou o bar, a visão se ajustando à escuridão repentina do ambiente, e então procurando por  Dulce à mesa costumeira delas, perto da parede dos fundos.