Fanfic: LIÇÃO DE VIDA AYA finalizada

Anahí fechou os olhos por um breve instante e respirou fundo.

Esquecera-se de que  Dulce a admirava tanto e que era especia­lista em fazer elogios quando gostava de alguém. Aquilo sempre, fora uma das coisas que  Anahí mais amava na amiga. Tornou a fitar Dulce , com mais intensidade.

— O que vou lhe contar agora é uma coisa inacreditável, Dulce . E com isso não quero dizer que seja algo excitante ou maluco. — Anahí fez uma pausa e repensou. — Bem, é maluco, sim. Quero dizer, é inacreditável, insólito, insondável.

 Dulce , que sempre fora muito curiosa, agora a olhava com extrema ansiedade, como se fosse sacudi-la se Anahí não revelasse aquele segredo absurdo no próximo segundo.

— Eu não sou eu — começou Anahí , sem saber direito como explicar. — Quero dizer, sou eu, mas... — Gaguejou. — Ai, que droga, é muito difícil explicar! Voltei para mim, para este momento.

 Anahí baixou as pálpebras e as comprimiu com força. Aquilo era mais complicado do que imaginara que seria.

Tornando a encarar Dulce , rezava para que a amiga acredi­tasse nela.

—  Três dias atrás, eu era uma mulher mais velha, com um coração fraco e estava morrendo no Centro Médico de West Valley. Agora estou de volta a esta época, outra vez com  Alfonso e com

I meus filhos.

I Se o tema não fosse tão sério e importante, a confusão no rosto de Dulce chegaria a ser cômica. Os olhos ficaram tão arregalados que ameaçavam saltar das órbitas a qualquer momento.

— O Centro Médico de West Valley não está nem mesmo pronto, querida. Ainda nem abriu à população. O que você está dizendo, meu benzinho?

— Sei que é inacreditável e que parece loucura total e rematada. Mas deixe-me contar-lhe a história inteira, e talvez você consiga entender o que estou tentando dizer.

 Dulce apenas assentiu, incapaz de verbalizar uma só palavra, de disfarçar a grande preocupação que começava a afligi-la pela sanidade da amiga.

— Daqui a alguns dias, bem na véspera do Natal,  Alfonso irá me entregar a papelada do divórcio e eu vou enlouquecer, mergulhar numa depressão profunda e irremediável. E se me lembro direito, você me ajudará nesse mergulho.

— O que...

— Deixe-me prosseguir — interrompeu-a Anahí , com delica­deza. Tinha de ir até o fim, antes que sua amiga decidisse interná-la num hospício. — Não a estou culpando, Dulce . Pode acreditar. Sei disso porque já vivenciei o fato. De qualquer forma, no pró­ximo ano, em 20 de maio para ser mais exata,  Alfonso morrerá em um acidente de carro e será por culpa minha. Nesse dia,  Miguel irá à escola fazer um tipo de apresentação para o comitê de professores no teatro escolar, e eu ficarei encarregada de apanhá-lo no final do evento. No entanto, esquecerei da vida aqui com você, bebendo e conversando, e não comparecerei ao compromisso.  Alfonso será informado, por um telefonema da escola, de que  Miguel foi esque­cido e chora inconsolável. Óbvio que  Alfonso pegará o automóvel e correrá para lá, e assim falecerá em um acidente durante o trajeto, ao colidir de frente com um caminhão.

— Que horror! — exclamou Dulce , como se estivesse envol­vida por uma história de ficção.

— Depois disso... — Anahí engoliu em seco — tudo desmo­ronou. Fiquei com meus filhos por alguns meses, mas como estava abalada demais e me descontrolava com facilidade, acabei perden­do a guarda das crianças, e os três foram parar nas mãos do governo numa instituição infantil para adoção. Diversas vezes, consegui levá-los de volta para casa, porém, visto que eu era uma péssima mãe, eles acabavam sempre voltando para a instituição.

Ela parou e, com as costas da mão, enxugou uma lágrima que escorrera através de sua face.

— Antes de mais nada, me perdoe por essa confusão de tempos verbais. É que tudo isso já aconteceu, mas está para acontecer de novo, e eu não sei direito como falar...

Bem, prosseguindo, Mia tornou-se uma garota de programa, Miguel  está preso em uma cadeira de rodas por causa de um acidente caracterizado como homicídio, e Alfonso JR, pela última notícia que tive, ingressou no exército em algum lugar do Centro-Oeste. E eu estou muito próxima de viver na rua, embaixo do viaduto, sem dinheiro, sem família e sem ami­gos. Então, sofro um ataque cardíaco, vou para o hospital e acabo aqui de volta.