Fanfic: LIÇÃO DE VIDA AYA finalizada

Capítulo VI

 Alfonso consultou seu relógio de pulso. Quatro e meia da tarde. Em um dia normal, não estaria nem mesmo pensando em ir para casa. Porém, as quartas-feiras nunca eram dias normais.

Às quartas,  Anahí ia almoçar com  Dulce e, na maioria das vezes, não retomava até bem depois do horário em que ele chegava ao lar. Em muitas ocasiões, ela aparecia de madrugada e ia direto para a cama, sem ver ninguém, o que era uma verdadeira bênção.

Se fosse honesto consigo mesmo, diria que o atraso de  Anahí o deixava bem feliz e satisfeito por duas razões. Primeiro, porque já estava dormindo quando voltava, e assim ele não era obrigado a ver a esposa bêbada, cambaleando e discutindo por qualquer motivo. E segundo, porque, quando  Anahí demorava, era ele quem levava a babá de seus filhos embora. Ele e Jennifer tinham se tomado bons amigos, e depois do almoço das duas amigas, era lógico que não poderia deixar que Anahí dirigisse, pondo em risco a segurança da jovem.

Deu asas à imaginação, sentindo aquele fio de esperança que surgira em seu peito nos últimos dias, apesar de seus melhores esforços para mantê-lo trancado no fundo da alma.

Anahí , com absoluta certeza, vinha agindo de modo diferente. Pelo que ele podia contar, ela passara os últimos três dias sem colocar uma única gota de álcool na boca, e vinha se comportan­do... Bem... De maneira muito bizarra.

Mostrava-se doce, amável e carinhosa com as crianças. Dedi­cava-se aos filhos e a casa por tempo integral, cozinhando, lim­pando, organizando tudo, e, o mais esquisito: sempre alegre e bem-humorada.

Não reclamara de nada, uma única vez. Até mesmo com ele parecia estar o tempo todo, tentando uma reconciliação. Era como se  Anahí houvesse perdido a constante vontade de discutir e esti­vesse lutando por um relacionamento pacífico.

Como era possível que uma mudança tão drástica e radical ti­vesse ocorrido de uma hora para outra?, perguntava-se Alfonso , in­trigado. Ela estaria fingindo com algum objetivo obscuro em men­te, ou mudara de verdade?

Alguma coisa que  Alfonso desconhecia acontecera, algo muito sério devia tê-la abalado, tirando-a daquele abismo negro no qual mergulhara nos últimos dois anos. Ele só não sabia o que era.

E, de fato, temia descobrir, e mais ainda crer na modificação súbita de sua mulher, porque, se todas aquelas atitudes novas não passassem de um jogo de Anahí , seu coração se despedaçaria de novo.

Era mais sábio não alimentar esperanças.

Por outro lado, seria tão maravilhoso se ela tivesse mesmo su­perado todas as dores e voltado a ser sua adorável Anahí ... Se eles pudessem ser felizes de novo...

 Alfonso reprimiu-se. Não queria se iludir. Não podia se iludir.

Deu mais uma olhada no relógio, cerrando os punhos com força, até que doessem, antes de pegar o telefone.

— Ei, Mac, estou encerrando o expediente por hoje. Tenho de sair mais cedo, porém, vou levar algum trabalho para fazer em casa.

— Fez uma pausa para escutar a voz do outro lado da linha.

— Sim, certo. Vejo você amanhã.

 Alfonso encheu de papéis sua maleta de executivo de couro preta e sabia, bem no fundo, que não olharia para uma única folha da­quelas até a manhã do dia seguinte, quando tornasse a abrir a porta de seu escritório.

Era sempre assim. Pelo menos, às quartas-feiras dos últimos dois anos tinha sido. Ele ia para o lar antes de Anahí , levando serviço, não encontrava sua esposa, e quando ela chegava embria­gada antes de o marido ter adormecido, era briga após briga, e não havia a menor concentração para lidar com suas tarefas.

Quando  Alfonso entrou em casa vinte minutos depois, soube de imediato que algo tinha acontecido. E era ruim.

Seus filhos tinham chorado, pois seus olhinhos estavam verme­lhos e inchados, e Anahí , sentada no sofá, segurava Mia  contra o peito e a embalava com carinho, as lágrimas escorrendo pelas faces sem parar. Sua expressão era de puro desespero.

— O que houve por aqui? — Alfonso quis saber, tentando conter a raiva e o medo que o invadira.

—  Mia quase morreu! — adiantou-se  Alfonso JR, esfregando as pálpebras.

— Foi morta. Mia quase foi morta, papai — corrigiu-o Miguel, com a voz embargada.

—Quero saber exatamente o que houve! — Alfonso quase gritava, sentindo-se à beira do descontrole.

 Anahí levantou o rosto para ele, e o pavor estampado nele quase cortou o coração de Alfonso.