Fanfic: LIÇÃO DE VIDA AYA finalizada

— Ela queria um livro que estava na estante. — Deu um pe­queno soluço. — Então, sem pedir ajuda a ninguém, começou a escalar pelas prateleiras, e a estante veio abaixo, caindo por cima dela. Mas graças a Deus, por um milagre, Mia não sofreu nem mesmo um arranhão...

 Alfonso correu até a filha e a tomou no colo. A garotinha enterrou a cabeça no pescoço do pai e o envolveu os braços.

— Eu estava aqui embaixo, na cozinha. As crianças, lá em cima, brincando — continuava Anahí , emocionada. — De repente, es­cutei uma pancada muito forte, um barulho horroroso, e aí  Alfonso JR começou a berrar que alguma coisa terrível tinha acontecido com Mia. Pude ver que era mesmo sério, pelo tom desesperado dele. Com o coração na mão, corri lá para cima, e tudo o que pude ver foi a estante no chão e o casaquinho cor-de-rosa de Mia  soterrado embaixo daquela coisa imensa de madeira pesada. Não se ouvia absolutamente nada. Ela não chorava, nem se mexia. E... Meu Deus,  Alfonso, eu achei que Mia tivesse...

—Mamãe achou que Mia tivesse morrido—completou Miguel, todo orgulhoso pela importância de estar relatando uma história tão relevante.

— Eu queria meu livro Os Três Porquinhos — Mia murmu­rou, encarando o pai.

— Foi pavoroso. Ela não se mexia, nem chorava. Por que não choraria? — O corpo inteiro de Anahí tremia. — Não houve nada disso não da primeira vez. Não teve esse acidente no passado. Tenho certeza absoluta. Eu teria me lembrado- se algo assim cho­cante tivesse ocorrido. Não consigo entender...

— Do que você está falando, Anahí ? — Alfonso franziu a testa.

— Como assim, não ocorreu no passado? Não estou entendendo uma palavra do que diz.

Mas Anahí não escutava o marido, e apenas continuou balan­çando a cabeça com veemência, parecendo fora de si, o pranto rolando solto pelas faces pálidas, sem se dar conta de que se ex­pressava em voz alta, falando de uma outra vida, ou melhor, da vida atual, cujo futuro conhecia.

Sentia-se como se estivesse cambaleando na beirada de um pe­nhasco alto, sem nada, exceto a escuridão abaixo de si.

Mia não tentara escalar uma estante, nem chegara perto de morrer na primeira vez em que vivera com seus filhos e seu marido. A filha não se acidentara em nenhuma ocasião.

A única diferença entre agora e antes era que, da outra vez,

 Anahí não se encontrava em casa. Estava no bar com Dulce. Entretanto, agora fizera a coisa certa, e Mia quase morreu. No passado, enquanto bebia com a amiga, Jennifer era quem tomava conta das crianças. Talvez Jennifer estivesse brincando com Mia, jogando alguma coisa de tabuleiro, ou talvez alimentando-a cora sucos e biscoitos. Em conseqüência, sua filha ficara entretida com algo mais interessante e não sentira vontade de pegar Os Três Porquinhos de cima da estante, portanto, não se arriscara a tal escalada perigosa.

Qualquer coisa que tivesse acontecido tantos anos atrás não se repetira dessa vez. O fato deu duas informações a Anahí : ela po­deria mesmo mudar o futuro; e aquilo podia não ser tão sensacional quanto gostaria que fosse. A vida poderia não ser perfeita, afinal.

E se Mia tivesse morrido ela estivesse agora sentada no sofá, fitando Alfonso e suplicando para que ele a perdoasse por não ter estado lá, presente, junto da filha, para segurar aquela bendita es­tante antes que despencasse sobre sua menininha?

— Eu estava preparando o jantar — sussurrou, sentindo-se cul­pada e olhando às cegas para a frente. — Caçarola mexicana.

— Mia está bem —Alfonso afirmou.

E a gentileza do marido fez com que  Anahí o encarasse. E ela não viu nenhuma espécie de acusação estampada nos bonitos olhos castanhos. Nenhuma condenação, apenas gratidão por Mia estar sã e salva.

E nesse instante as palavras gritaram dentro da cabeça de anahí, tão alto que ela recuou: "Não foi culpa sua! Não foi culpa sua!".

— Não foi culpa minha — falou, sem querer.

— Não, não foi, Anahí . Nem por um instante achei que fosse. E Anahí se perguntou se ele podia imaginar que ela não estava, em absoluto, falando sobre o episódio de Mia.