Fanfic: LIÇÃO DE VIDA AYA finalizada

Anahí inclinou a cabeça.

— Então por que espera que eu creia em você agora?

— Porque eu nunca minto.

— Sim, claro. Você e Bill Clinton.

Então Anahí estendeu as mãos para pegar Mia dos braços dele, e Alfonso transferiu-lhe a filha, sem uma única palavra ou gesto de protesto.

— Por todo esse tempo, venho pensando que nosso casamento acabou por minha causa. Eu estava preparada para assumir a culpa toda. Desejando assumi-la. Mas agora, vejo com clareza que não sou a única culpada. Você desistiu, Alfonso. Desistiu de nós dois. Preferiu me trocar por outra. Ajudou a destruir nosso casamento e me destruiu por dentro.

—Anahí , eu...

— Não adianta negar,Alfonso! Talvez se você tivesse apenas me dado um pouco mais de tempo... Se não estivesse tão ocupado procurando uma nova namorada, nós poderíamos ter salvado nossa relação.

Ele pareceu ter sido atingido pelo que escutou dela.

— Nosso casamento não está destruído,Anahí . Ela tornou a encará-lo, incrédula.

— Se é assim, por que está com toda a papelada do divórcio pronta para me entregar? Diga! Pode me explicar isso?!

Ele ficou tão perplexo que Anahí quase riu. Devia estar se perguntando de que forma ela podia saber daquilo. Mas não a questionou.

— Nenhuma resposta? O homem que não mente não tem ne­nhuma resposta para me dar?

—Mamãe?—resmungou Mia, aconchegando o rostinho con­tra o pescoço dela. — Estou com frio...

— Tudo bem, meu amor. —Alfosno se recriminou por estar dis­cutindo diante da filha. Olhou para o marido. — Estou encerrando nossa conversa. Por ora.

Ela começou a se afastar, e ele a deixou ir sem protestar.

Alfonso as observou até que Anahí  estivesse fora de vista, antes de baixar a cabeça e fitar o asfalto, como se aquilo pudesse lhe fornecer algum tipo de sabedoria.

Sua mulher nunca acreditaria que ele estava ali naquela mesa, colocando um ponto final num quase caso amoroso. Uma semana atrás, seu almoço com Perla podia ter acabado de um jeito muito diferente. Como, por exemplo, num quarto de motel. Entretanto, naquele restaurante, Alfonso lhe disse que nunca deixaria Anahí e que jamais se separaria de sua família.

Ele pensara sobre o assunto dia e noite, mal conseguindo tra­balhar e passando grande parte das noites em claro. E decidira dar uma segunda chance a Anahí e a si mesmo.

Não poderia pedir o divórcio nesse momento. Não quando ela lhe dera tanta esperança nos últimos dias. Não quando era tão óbvio que Anahí vinha tentando dar o melhor de si para fazer tudo certo. Para reconciliar-se.

Anahí não bebia mais, dedicava-se por inteiro aos filhos e ao lar. E quanto ao marido? Sem dúvida procurava reconquistá-lo.

E Alfonso não podia mais negar a si mesmo que estava adorando tudo aquilo. A simples esperança de ser feliz de novo ao lado dela preenchia todo seu ser de imensa alegria.

O fato era que Anahí estava certa. Ele desistira dela, do ca­samento deles. E agora teria de descobrir uma maneira de re­conquistá-la.

E logo, antes que fosse tarde demais.

Já passava das nove da noite quando Alfonso chegou em casa e estacionou seu Honda na garagem. Permaneceu ali por alguns mi­nutos, relutante em abrir a porta para o ar frio do lado de fora, e para o ar gélido que decerto encontraria do lado de dentro.

A residência parecia normal, a árvore de Natal ainda brilhava através da janela da frente e as luzes externas estavam acesas.

Entretanto, Alfonso não sabia com o que depararia quando girasse a maçaneta.

Até imaginava o que devia esperar: uma garrafa de alguma bebida alcoólica vazia e uma respiração de sono pesado vinda do sofá. Talvez fosse muito tolo, mas não achava que Anahí fosse estar em coma por causa de vinho.

— Só há um jeito de descobrir — murmurou e seguiu avante.

E ia programando o que dizer, as negações, as explicações. O fato era: havia traído Anahí uma centena de vezes, se traição fosse no coração. Traíra-a em pensamento, em sentimento. E tinha se convencido de que Perla era o que ele precisava, uma pessoa livre, descomplicada e despreocupada, que não necessitava de ninguém para sustentá-la. Uma cura rápida para o mal que vinha sofrendo.

Era difícil resistir a uma jovem que o amava. E Perla se apaixonara por ele. Alfonso estava certo disso, e até mesmo chegara a crer que nutria sentimentos fortes por ela também...

Até que Anahí entrou no restaurante e Alfonso viu aquele olhar de puro sofrimento no rosto dela. Não! Corrigiu-se, se fosse ho­nesto consigo mesmo, teria que admitir que não fora apenas ao ver a esposa ali aquela noite que concluiu que não amava Perla. Chegara a tal conclusão alguns dias antes, aos poucos, conforme notava a mudança repentina de  Anahí e a esperança crescia em seu peito.

Porém, fora naquele segundo que ela os vira juntos, que Alfosno teve certeza absoluta de que ainda amava Anahí , e nunca deixara de amá-la. Sua mulher ficou devastada, magoada, ferida, com rai­va, e ele não podia acreditar que fora canalha o bastante por fazer isso com ela.

E naquele momento Perla voltou a ser o que sempre fora para ele: uma garota interessante, alguém que o fazia se sentir bem, importante, amado, desejado. Contudo, nada mais do que isso.

E agora, pensava Alfonso , sentindo-se o pior dos homens, não só machucara o coração de sua mulher como também o de Perla . Magoara profundamente duas pessoas que não mereciam aquilo.

Podia repetir para si mesmo centenas de vezes que Anahí tam­bém o magoara, o devastara, o destruíra, e que por isso merecia qualquer coisa que lhe acontecesse. Todavia, ao vê-la olhando-o com expressão de pura melancolia e desapontamento, foi como se ele tivesse tirado o brilho da vida dela.

A dolorosa cena insistia em voltar à memória de Alfonso. Anahí segurando as sacolas de compras de Natal em um dos braços e Mia no outro...