Fanfic: LIÇÃO DE VIDA AYA finalizada

Sentiu-se o sujeito mais cruel e insensível do planeta. Que coisa, um homem não poderia descer tão baixo quanto ele descera, ser pego de mãos dadas com outra mulher na frente de sua esposa de sua filha! Decidiu com o remorso a consumi-lo.

Abriu a porta, quase desejando que Anahí estivesse na sala de visitas dormindo após ter se embriagado, para que, assim, lhe desse uma boa desculpa para ficar zangado com ela.

Todavia, em vez disso, encontrou-a ali, sentada à mesa da co­zinha com um grande copo de leite batido com chocolate à frente, fitando-o do jeito como costumava olhar para um copo vazio de gim-tônica.

Naquele segundo, Alfonso se deu conta de que sempre a amaria. Era um absurdo que tivesse chegado a imaginar que perdera de vez aquele amor por ela.

Anahí não levantou o rosto quando o marido entrou, e parecia tão frágil e vulnerável que tudo o que  Alfonso teve vontade de fazer foi puxá-la daquela cadeira, tomá-la nos braços e continuar a abra­çá-la até que o perdoasse.

Parando em pé à soleira, ele começou seu discurso:

—Não sei se você vai acreditar em mim, mas eu estava dizendo a  Perla que nós nunca poderíamos ter um caso amoroso — disse Alfonso , calmo e controlado. — E não vou mentir que não estava mesmo planejando ter um caso. Afinal, eu precisava me sentir amado, necessitava me sentir vivo. Mas lhe dou minha palavra de que nem mesmo a beijei. Jamais traí você.

Anahí  engoliu em seco, mas ainda manteve o olhar no copo de leite, como se aquilo fosse a única coisa que estivesse mantendo sua sanidade mental.

— Você a ama? — perguntou tímida.

— Não —Alfonso afirmou, sem a menor hesitação.

Enfim, ela o encarou, os olhos secos, mas repletos de muita dor. e Alfonso sentiu o peito sangrar.

— Ela te ama, Alfonso.

Ele assentiu com um movimento de cabeça.

— Eu sei.

— Quando você estava planejando me entregar a papelada do divórcio? Depois que os dois se juntassem?

Alfonso comprimiu o maxilar de forma visível.

— Algo assim.

— Sempre muito honrado. — Fez um esgar de sarcasmo. Ele não queria, mas a raiva começou a ferver em seu sangue.

— Ouça Anahí , você me deixou de lado, abandonando a mim e a nossos filhos, e transformou minha vida num verdadeiro pe­sadelo por meses. Meses, não! Por dois anos, para ser mais exato. Eu nunca sabia se você estaria em casa quando chegasse do tra­balho ou se desmaiada no sofá, bêbada, com os meninos assistindo à televisão e carentes de seu amor. Não tive um caso, mas conheço uma boa quantidade de homens que teriam tido, se estivessem em meu lugar.

— Oh, perfeito! Então vamos homenageá-lo com uma medalha de ouro por não ter traído sua mulher.

E Anahí se mostrou tão irada como  Alfonso sabia que deveria estar se sentindo.

—Tem toda a razão,Anahí . De fato mereço uma medalha. Você tem vivido aqui conosco pelos últimos dois anos ou não? Ou não se recorda do quanto nós dois estávamos sendo infelizes?

Para surpresa dele, Anahí começou a rir.

Ela meneou a cabeça, rindo de si mesma, de sua situação desa­gradável, da reação que tivera quando vira a cena no restaurante.

Alfonso estava certo. Naqueles dois anos, ela estivera ali, presente, apenas em alguns momentos. Não poderia mesmo ser capaz de se lembrar de quão infelizes eles tinham sido. Suas recordações dos últimos tempos guiavam-na até aquela funesta véspera de Natal, quando o marido lhe pedira o divórcio. No entanto, as lembranças eram confusas, desordenadas, ofuscadas por anos de sofrimento e pelos efeitos do alcoolismo.

Mas como poderia explicar isso a Alfonso? Impossível.

— Saiba que não estou nada orgulhoso de mim mesmo,Anahí .

Mas nos últimos meses senti necessidade de alguém que gostasse de mim, que se importasse se eu ia viver ou morrer. Porque vou não estava fazendo isso.

Ela não argumentou, porque não havia uma única coisa que pudesse falar em sua defesa. Claro, Alfonso não era o anjo que julgara que fosse. Mas também não era nenhum mau-caráter ou traidor. Tudo o que Alfonso tentara fora ser feliz. E merecia isso. Ela apenas esperava que fosse a seu lado.

-— Gomo a moça encarou o fato?

— O quê? —Alfonso franziu o cenho, como se estivesse long perdido em reflexões. Como se a última coisa em que estives pensando fosse a morena.

— Sua namorada. Anahí quase consegui ouvir o ranger dos dentes de Alfonso .

— Ela não é minha namorada. -— Ótimo. Como sua amiga Monera encarou a notícia de que não ia consumar o amor de vocês?

— Nada bem — confessou sincero. Ela sorriu.

— Poderia me explicar por que resolveu terminar tudo com garota?

Alfonso desviou o olhar, parecendo tímido e envergonhado.

—  Quando notei sua mudança, tive uma pequena esperança de que pudéssemos resgatar nossa relação. Contudo, não estava bem certo. Seria uma espécie de jogo seu ou você tinha mesmo mudado?

Ele parou para respirar.

— Mas foi no momento em que você falou sobre o fato de e ter desistido de nós, que compreendi de vez que era cedo demais para desistir.

— Pensa assim de verdade? —Anahí ficou muito séria.

— Não confio em você — declarou Alfonso, e as palavras a atin­giram como um vento forte no coração.

Ele tinha todo o direito de não confiar, Anahí sabia disso, mas mesmo assim machucava ouvir aquilo.

— Contudo, nós tínhamos uma vida juntos, nos divertíamos, éramos felizes. Aliás, muito felizes.

— Éramos sim. Muito felizes — repetiu, soando desesperada demais para seus próprios ouvidos. — Nós nos casamos porque estávamos apaixonadíssimos e pensávamos que nosso amor dura­ria para sempre.

— Éramos apenas duas crianças.

Anahí abaixou os cílios mais uma vez para o copo de leite.

— Ainda me sinto como uma criança. Vivi uma vida inteira e, em meu peito, ainda me sinto como se fosse uma menina. Quero alguém que cuide de mim. Que me beije quando eu estiver ma­goada, que me abrace quando me sentir insegura. Alguém para afastar as coisas ruins. Mas elas não vão embora. Ficam aqui ator­mentando, e nos matam aos poucos.

— Só se é criança quando se acredita que alguém pode fazer tudo melhor do que você,Anahí . Desejar carinho e proteção não faz de você uma garotinha. Querer isso e saber que pode obter é o que faz de você uma adulta.