Fanfic: LIÇÃO DE VIDA AYA finalizada

Alguns segundos depois, Anahí assistiu, impressionada, sua fi­lha e seu filho entrarem. Sabia como eles seriam quando adultos, por isso aquilo não foi um choque, mas eles pareciam tão normais, tão felizes e saudáveis, tão diferentes dos filhos adultos que vira da última vez!

E todos estavam crescidos. Todos aqueles anos, perdidos de novo. Supôs que deveria estar agradecida, mas sentia-se tristíssima por todos aqueles anos que nunca viveria, por todos aqueles natais dos quais não tinha nenhuma recordação.

Na verdade, mal conhecia aqueles três jovens parados ali, sorrindo-lhe, tão amáveis. Era amedrontador, ao mesmo tempo gratificante demais.

— Mamãe, eu trouxe sua caixinha de lembranças. — Mia se aproximou mais, com um sorriso espontâneo. — Pensei que, uma vez que você não estaria em casa para o Natal, eu poderia trazer um pouco da casa até você.

Anahí olhou para aquilo que a filha colocou em suas mãos. Era uma caixinha de recordações de madeira muito parecida com aque­la cigarreira que ganhara de sua mãe um dia.

Entretanto, essa fora feita pela própria Anahí , cujo primeiro item que guardou dentro foi uma foto sua e de  Alfonso em lua-de-mel. Forrara a tampa com conchinhas que eles pegaram na praia, e o interior da caixa, com veludo vermelho.

Alfonso até mesmo ajudara na confecção da peça, e Anahí prometera guardar ali o primeiro dente de cada um dos filhos e todas as coisas importantes que coubessem ali.

Era uma caixa especial, que Anahí nunca mais vira, nem sequei se lembrara de procurar depois que perdeu o bebê e seu mundo começou a desmoronar.

Sorriu para a filha, a bela garota com cabelos longos e encara-colados e olhos castanhos e brilhantes. Anahí estava impressiona­da. Mia era uma estranha. Bem diferente da mulher destratada e perdida que vira encostada na cabine telefônica de uma esquina.

A jovem estava linda, com um vestido azul de lã e um cachecol colorido enrolado no pescoço. Possuía uma aparência saudável. As unhas, ao contrário de estarem roídas, estavam feitas e pintadas de um rosa discreto, e não existia o menor vestígio de uma mulher vulgar naquele conjunto. Parecia-se muito mais com a criaturinha delicada e carinhosa que fora quando criança.

Anahí pegou a caixa e a fitou por instantes, quase com medo de abri-la e ver seu conteúdo. Temia encontrar lembranças mais pesadas e mais terríveis do que as suas próprias em seu interior. Então, colocou-a, com mãos trêmulas e o coração disparado, sobre o colo. Em seguida, traçou a borda com o dedo, prolongando o momento em que abriria a vida de uma estranha.

Fitou seu marido e os filhos, que a olhavam em expectativa, sem dúvida perguntando-se o que  Anahí esperava para abri-la.

Anahí meneou a cabeça com veemência, espantando a insegu­rança e, por fim, ergueu a tampa, tirando o papel que estava em primeiro plano.

Era o programa do evento da formatura de Mia em artes plás­ticas. Sorriu, porque sua filha estivera tão nervosa naquele dia sobre fazer o discurso de abertura que até passara mal antes de sair de casa para a festividade.

Anahí pestanejou e franziu o cenho. Como sabia daquilo? "Meu Deus, eu estive lá!", concluiu de repente.

Agora podia rememorar com clareza a mecha cor-de-rosa moderna e artística que Mia  fizera nos cabelos para o evento. Con­seguia recordar-se de sua linda filha chorando de emoção quando eles a abraçaram, e do restaurante caro e sofisticado onde foram comemorar. Lembrou-se até mesmo da decoração do estabeleci­mento e do prato que escolheu.

Tomou a folha com as mãos ainda tremendo, como se, lem­brança após lembrança, estivessem ressurgindo na mente, até que viveu aquele dia.

Com uma crescente onda de excitação, apanhou da caixa um pedaço de papel verde cortado em forma de um trevo com purpu­rina dourada ainda colada ali. Aquilo era um projeto de Justin em homenagem ao Dia de São Patrício, do jardim-de-infância. Ela o guardara porque ele tinha chorado muito quando descobriu que a purpurina estava descolando e caindo, e Anahí prometeu manter aquilo porque gostara demais do presente.

Depois, Anahí  encontrou algo que parecia um convite de casa­mento. E permitiu-se uma risada descontraída quando memórias invadiram-lhe o cérebro. Dulce e Cristopher haviam renovado seus votos cinco anos antes. Cristopher sofrerá um terrível acidente de carro e permaneceu em coma por dois dias. Dulce quase enlouqueceu. Ficou frenética, apavorada perante o risco tão grande de morte de seu marido. Se isso acontecesse, ela iria perdê-lo para sempre. E ainda mais apavorada se sentiu por se dar conta, enfim, de quanto amava seu "grandalhão".