Fanfic: LIÇÃO DE VIDA AYA finalizada

Sua filha estava mesmo ali, a seu lado, adorável e gorducha, com algumas lindas mechas cobrindo seus olhos escuros.

Anahí riu, deliciada com a maravilhosa sensação de ter a filha nos braços.

— Sim, imagino que eu esteja mesmo chovendo, amor.

— Senti saudade de você — declarou Mia, como sempre fazia quando era garota, até mesmo quando Anahí saía apenas para ir até um outro cômodo e voltava.

Exceto da última vez que viu a filha. Nessa ocasião, Mia não dissera nada, e Anahí não teve nem mesmo certeza de que sua filha a reconhecera.

Vira Mia, sua menina crescida de vinte anos, esperando por um sujeito qualquer, parada numa esquina, encostada, de maneira despojada, contra uma cabine de telefone público, como se fosse cair se a cabine não estivesse lá para apoiá-la.

Anahí recordou-se de ter pensado que deveria ir até Mia e conversar com ela, tentado fazê-la desistir daquele trabalho terrí­vel. Mas, quando caminhava em direção a ela, captou seu reflexo na vitrine de vidro de uma loja e acovardou-se. Ao ver-se, Anahí constatou parecer uma pobre-coitada, uma mulher desgastada, mal-cuidada, com cabelos despenteados e oleosos, as unhas sujas e roídas, usando um moletom largo, manchado e desbotado.

A menina precisava de ajuda, mas quem era ela para dizer a Mia que largasse aquele viver promíscuo? Afinal de contas, com o exemplo que Anahí lhe dera como mãe, não tinha o direito de cobrar nada, e nem mesmo de pensar ou desejar que as coisas pudessem ser diferentes daquilo. Anahí tinha plena consciência de que colhia o que plantara. Então, desviou seu curso no último momento e pegou outro caminho, o coração ferido pela escolha realizada.

— Estou com fome — murmurou Mia, desvencilhando-se do abraço e sorrindo. — Quero comer um ovo de dinossauro!

Anahí sentou-se bem devagar, esperando que seu estômago acompanhasse o movimento do corpo. A cabeça latejou e a visão ficou turva por um instante, mas conseguiu se erguer bem o sufi­ciente.

Mia a pegou pelo dedo indicador e começou a puxá-la em direção à cozinha. E aos filhos, se aquela fantasia toda fosse mesmo precisa. Em direção a Alfonso. Não, não!... Impossível.

— Querida, mamãe tem de ir ao banheiro. —Anahí procurava disfarçar a confusão que sentia. — Vá na frente e espere-me lá. Irei logo em seguida.

— Está doente, mamãe? Precisa de uma aspirina? — Mia se mostrou preocupada.

— Acabei de tomar dois comprimidos para enxaqueca agora mesmo

 — mentiu, tranqüilizando a filha.

Mia sorriu como se tivesse trazido para si mesma a segurança de volta.

— Não demore para descer e fazer meu ovo de dinossauro!

— pediu, antes de correr pelo corredor, e escada abaixo.

— Que loucura, meu Deus!

Anahí fitou as mãos trêmulas. Aliás, toda ela tremia.

O que estava havendo?! Olhou ao redor. Seu quarto era igual a como lembrava. Desorga­nizado, com roupas sujas largadas no chão, casacos deixados no encosto da poltrona e papéis empilhados sobre sua penteadeira, misturados com perfumes e cremes para a pele.

Seria aquilo um sonho? Contudo, um sonho nunca era tão per­feito assim, tão exato, racionalizou. Até mesmo o creme hidratante, que sempre esquecia de tampar no passado, jazia aberto sobre a cômoda.

Além disso, em um sonho, os sentimentos não eram tão reais daquele jeito.

Caminhou com dificuldade até o banheiro, as mãos, uma de cada lado do rosto, porque ainda sentia que sua cabeça poderia explodir a qualquer instante. Ressaca era mesmo uma coisa horrível. Mas será que havia ressaca no céu? Questionou-se mais uma vez.

Dirigiu-se para a pia e abriu a torneira, deixando que a água gelada corresse por alguns instantes, e depois, lavou o rosto, já se sentindo bem mais disposta. Quando mirou seu reflexo no espelho, sorriu, impressionada com a visão que a cumprimentou.

— Olá, Anahí. Há quanto tempo não a vejo. — Lá estava ela, a bela jovem que fora um dia.

Mesmo com olheiras contornando seus olhos, o rimei borrado e os cabelos despenteados, era uma moça de aparência bonita.

O cabelos castanhos tom de canela e meio ondulado nas pontas, os olhos azuis  também, boca e nariz bem-feitos.

Espreitou o espelho, franzindo o cenho, testando o que aquilo poderia fazer-lhe. As rugas haviam desaparecido, assim como as olheiras, bem como a aparência de uma mulher que já tinha visto muita coisa na vida e sofrido bastante.