Fanfic: LIÇÃO DE VIDA AYA finalizada

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As mãos estavam limpas e macias, as unhas, feitas e pintadas com uma cor discreta, o pescoço, firme e esticado.

— Esse é meu rosto, não acredito! — Riu e mostrou a língua, fazendo uma careta divertida. Continuando a analisar a própria imagem jovem e bela, murmurou: — Bem-vinda de volta no tem­po, Anahí Herrera.

Falou sem pensar, e então de repente o coração disparou e uma gota de suor brotou-lhe na testa. Rememorou a conversa que tivera no hospital com Grace, uma senhora de idade muito curiosa e tagarela. Recordou que Grace lhe indagou se ela gostaria de voltar no tempo, e Anahí chegou a devanear, sonhadora, com tal idéia.

Agora perguntava-se se era aquilo que estava acontecendo. Po­deria ter de fato voltado para trás? Poderia ter recebido uma graça divina que só acontecia em filmes e romances literários? Mereceria uma chance de resgatar o passado e tentar reparar tudo o que fizera de errado?

Confusa demais, Anahí meneou a cabeça, ainda olhando-se no espelho. Não, aquilo não podia ser possível. Ninguém voltava no tempo. Tudo não devia passar mesmo de um sonho. Ou então o céu era muito diferente de como o imaginara um dia.

Levantou a blusa do pijama e gargalhou.

— Lindos seios!

Mesmo após ter dado à luz três filhos... Ou melhor, quatro, cor­rigiu-se com uma pontada de tristeza, seus seios ainda estavam firmes e com aspecto juvenil, a barriga reta e bronzeada.

Olhou para trás, para ver seu traseiro, e deu um tapinha nas nádegas, que balançaram com firmeza. A última vez que as achou atraentes foi... Nossa mal podia lembrar! Devia fazer uns vinte anos.

Encontrando as aspirinas no armário do banheiro onde costu­mavam ficar quando era nova, tomou dois comprimidos, lavou o rosto de novo e penteou os cabelos.

E continuou estudando a própria imagem refletida. Ainda não se sentia pronta para encarar o que quer que estivesse vivenciando ali.

Talvez aquilo fosse uma fantasia provocada pelo efeito de al­guma droga que a senhora a seu lado no leito hospitalar lhe dera, com toda aquela fala interminável sobre voltar no tempo.

Sim, Grace poderia ter lhe dado alguma droga estranha.

Anahí recordava que a senhora segurava sua mão antes que tudo escure­cesse a sua volta.

Anahí cerrou as pálpebras, comprimindo-as bem forte. Evidente que era isso. Só podia ser.

Havia apenas duas possibilidades, decidiu. Estava morta ou in­consciente por estar drogada.

Todavia, se aquilo tudo estava em sua mente, podia muito bem aproveitar a situação. Independente do que estivesse acontecendo, iria saborear alguns momentos prazerosos ao lado de sua família, antes que acordasse ou voltasse à realidade.

Com toda a cautela possível, Anahí saiu do banheiro. Mesmo que nada daquilo fosse real, tornar a encarar Alfonso era o bastante para atemorizá-la até a morte. Isso é, seja não tivesse morrido.

Dirigiu-se à cozinha, caminhando devagar, na verdade, temen­do acordar a si própria, os pés descalços sentindo o frio da lajota que ela mesma escolhera para cobrir o chão de sua casa.

Era uma loucura como tudo parecia tão real.

Chegando à porta da cozinha, parou e quase desmaiou perante a visão de seus amados reunidos à mesa para o desjejum. Justin distraído e deliciando-se com bolinhos de coco; Miguel mastigando os pãezinhos de canela com uvas passas de que tanto gostava; e Mia, sua doce menina, sentada quietinha, esperando-a para que a mãe lhe preparasse um mingau de ovos de dinossauro, segurando com cuidado alguns ovos sobre o colo, orgulhosa de ter conseguido tirá-los da embalagem sozinha e sem quebrá-los.

—  Ovos de dinossauro — a pequena sussurrou assim que a avistou.

— Certo querida. —Anahí se aproximou, pegou os ovos da mão da filha, piscou diversas vezes para dissipar as lágrimas, perguntando-se se deveria praguejar contra aquela fantasia maluca ou se devia agradecer a Deus por estar lhe dando um vislumbre de como as coisas costumavam ser.

Foi para o fogão, a fim de preparar o pedido de sua filha. Estava acrescentando água quente no mingau quando ouviu a voz mas­culina profunda, carregada de impaciência:

— Quer café?

Anahí sentiu um tremor imenso percorrê-la. O coração também disparou com violência. "Alfonso ! Meu Deus, Alfonso!"

Como podia ser?